“Outros
argumentam que a própria meta de redução das diferenças carece de sentido. No
entender destes, o que realmente conta é a diminuição da pobreza na qual estão
imersos milhões de patrícios. Afinal, se eles conseguissem alcançar um nível de
vida decente, as fruições da parcela dos muito ricos seriam irrelevantes. O
raciocínio parece sensato. Talvez não seja.”. Fonte: Desigualdade à
brasileira, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/maria-herminia-tavares-de-almeida/2019/09/desigualdade-a-brasileira.shtml, acessado em
19/09/2019.
O
Marcelo Neri inventou uma matemática para provar que o Brasil passou por ciclo
de redução da desigualdade e pobreza no governo do PT. Entendo que a afirmação "O
raciocínio parece sensato. Talvez não seja." precisa ser vista pelo
pragmatismo dos números.
Para
tal vamos imaginar o país BRZ com dois habitantes. Cidadão A e B. A linha de
pobreza individual é de 70. A tem renda de 60 e B de 50. B tem renda de 83% de
A, logo a desigualdade é de 17%. O país CK ofereceu uma ajuda de 11 que o
governo do BRZ pode usar como quiser. Isto significa que ele pode criar um dos
seguintes cenários.
1.
Elevar
a renda de A para acima da linha da pobreza. Neste caso a desigualdade aumenta.
A outra consequência é que A passa a consumir quantidade adequada de calorias e
aumenta a sua produtividade. A riqueza nacional aumenta incrementalmente e
existirá um momento onde B terá renda acima da linha da pobreza.
2.
Eliminar
a desigualdade. A e B tem renda de 60,5. Ambos abaixo da linha da pobreza.
Ambos sem consumo adequado de calorias. Ambos com baixa produtividade. Neste
caso ocorre a perpetuação da pobreza. Nunca A e B terão renda acima da linha da
pobreza, pois não geram aumento de riqueza.
3.
Governo
não faz nada. Recusa ajuda. Fica esperando uma oferta de ajuda que tire A e B
ao mesmo tempo da linha da pobreza e que reduza a desigualdade que existe entre
eles. Esta ajuda pode não chegar nunca.
A
China escolheu o primeiro caminho e por isto está enfrentando aumento da
desigualdade durante o ciclo de eliminação da pobreza.
O
Brasil escolheu o terceiro caminho onde expoentes da linha do Marcelo Neri
filosofam sobre a desigualdade e a pobreza só aumenta.
Em
um país onde o salário mínimo nominal é de mil reais e o salário mínimo real é
de três mil reais é muito fácil criar a distorção onde existe uma forte
desigualdade entre uma pessoa que recebe renda mínima (3 mil) e uma pessoa que
recebe renda abaixo do mínimo (1 mil).
É
evidente que existe enorme desigualdade entre um bilionário e a renda mínima de
três mil (333 mil vezes). Também é óbvio que a ordem de grandeza desta
desigualdade é de igual gravidade ao caso onde a renda é de 10 mil (100 mil
vezes). Na prática, ter desigualdade de 300 mil ou de 100 mil representa a
mesma doença social. A questão aqui é que apesar do Gini o estilo de vida do 10
mil é bom.
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