Existem diversos estudos sobre a evolução da produtividade do trabalhador brasileiro e todos eles revelam que a produtividade está estagnada desde o início dos anos 1980s.
A
principal consequência da estagnação da produtividade é a desaceleração contínua
do crescimento potencial do pais causada pelas fortes limitações em tecnologia,
educação e eficiência.
Existem
muitas explicações para a derrocada da produtividade, mas são raras as citações
da decadência da engenharia no Brasil como uma das causas raiz da baixa
competitividade empresarial e governamental no Brasil.
O marco
da derrocada na engenharia no Brasil ocorreu no início dos anos 1980s, quando o
engenheiro Odil Garcez Filho perdeu o emprego e abriu uma lanchonete na avenida
Paulista chamada "O Engenheiro que Virou Suco".
As
pesquisas mais atuais revelam que menos de 10% dos formandos no país são
engenheiros, enquanto na China ultrapassam 30% e a média mundial é mais de 20%.
Recentemente,
o ministério da educação divulgou a lista de ofertas de bolsas de estudo do
Prouni e 13,8 mil são para os cursos de administração, 13,2 mil para direito,
11,3 mil para pedagogia e 8,6 mil para engenharia civil.
O censo
de 2022 revelou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados e apenas 518 mil
engenheiros. Como uma grande parte destes engenheiros trabalham no mercado
financeiro e assemelhados por conta do salário melhor é fácil perceber que o
Brasil vive muito mais de litígios do que de inovações.
As
inovações que vieram para o Brasil após os anos 1980s foram projetadas e
desenvolvidas em outros países, e por isto chegaram ao nosso território com
problemas de adaptação aos nossos usuários.
A
derrocada da engenharia nacional que levou para o mercado financeiro o melhor
da nossa engenharia impediu e está ainda impedido a solução dos problemas de
adaptação dos usuários com as tecnologias.
Este é um
dos principais motivos do porquê a produtividade do trabalhador brasileiro
pouco ou nada avançou desde o início da década de 1980.
Sempre
que uma tecnologia precisa ser adaptada para o nível cultural dos trabalhadores
brasileiros, o processo não anda, pois os melhores engenheiros abandonaram a
engenharia em busca de melhores oportunidades de emprego em outros setores da
economia e não foram encontrados no mercado nacional engenheiros capacitados
para adaptar a tecnologia.
Existem
milhares de exemplos das consequências para a produtividade do trabalhador
brasileiro causadas pela escassez de mão de obra qualificada de engenharia disponível
no mercado.
Um dos
casos mais gritantes do mercado privado, ocorre no comercio eletrônico em que o
cliente é bombardeado com mensagens tipo a encomenda saiu do centro de
distribuição A e foi entregue para a transportadora, ou a sua entrega será
feita amanhã até as 21 horas, ou a entrega será feita amanhã entre 16 e 21
horas, ou estamos atrasados para entregar as 21 horas e vamos fazer a sua entrega
até as 23 horas, ou mensagens semelhantes.
Todas
estas mensagens são absolutamente inúteis para os clientes, pois não informam o
que o comprador quer saber que é quando a encomenda será entrega.
Informações
sobre o fluxo ou sobre horários amplos em nada ajudam o consumidor que fica “preso”
durante um dia todo para receber a sua compra.
Este tipo
de processo sem o devido tratamento da sua efetividade pela engenharia alavanca
fortemente a perda de produtividade do mercado nacional.
No setor público,
as perdas são materiais e de tempo das pessoas. Eu presenciei um caso de
solicitação da carteira nacional de identidade em que o cidadão passou pelos vários
estágios.
O último
foi a captura das digitais e da assinatura. Para capturar as digitais foram
feitas várias tentativas sem sucesso, mas depois de muito tempo uma funcionou. O
tablet que capturava a assinatura falhava sem que o cidadão visualizasse o que foi
digitalizado.
O resultado
foi a produção de uma carteira com assinatura ilegível após quase um mês de
espera e necessidade de um novo agendamento para fazer a segunda via.
Tanto a escolha
de equipamentos inadequado, quanto o processo de validação pelo funcionário
humano seriam revistos por engenheiros qualificados que facilmente perceberiam
que em caso de falha o funcionário do governo deveria alertar o cidadão e fazer
uma nova captura de informações.
O
processo como um todo para receber após quase dois meses a carteira nacional de
identidade foi marcado por seleção pobre de equipamento ou de manutenção do
mesmo e da falta de atuação do funcionário ao ver uma falha visível na captura
da assinatura.
Importantes
recursos financeiros foram gastos em tecnologias inadequadas e uma significativa
perda de tempo do cidadão e sociedade ocorreu pela falta de um processo de
atuação do funcionário público.