terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Produtividade e Engenharia

Existem diversos estudos sobre a evolução da produtividade do trabalhador brasileiro e todos eles revelam que a produtividade está estagnada desde o início dos anos 1980s.

 

A principal consequência da estagnação da produtividade é a desaceleração contínua do crescimento potencial do pais causada pelas fortes limitações em tecnologia, educação e eficiência.

 

Existem muitas explicações para a derrocada da produtividade, mas são raras as citações da decadência da engenharia no Brasil como uma das causas raiz da baixa competitividade empresarial e governamental no Brasil.

 

O marco da derrocada na engenharia no Brasil ocorreu no início dos anos 1980s, quando o engenheiro Odil Garcez Filho perdeu o emprego e abriu uma lanchonete na avenida Paulista chamada "O Engenheiro que Virou Suco".

 

As pesquisas mais atuais revelam que menos de 10% dos formandos no país são engenheiros, enquanto na China ultrapassam 30% e a média mundial é mais de 20%.

 

Recentemente, o ministério da educação divulgou a lista de ofertas de bolsas de estudo do Prouni e 13,8 mil são para os cursos de administração, 13,2 mil para direito, 11,3 mil para pedagogia e 8,6 mil para engenharia civil.

 

O censo de 2022 revelou que o Brasil tinha 2,5 milhões de advogados e apenas 518 mil engenheiros. Como uma grande parte destes engenheiros trabalham no mercado financeiro e assemelhados por conta do salário melhor é fácil perceber que o Brasil vive muito mais de litígios do que de inovações.

 

As inovações que vieram para o Brasil após os anos 1980s foram projetadas e desenvolvidas em outros países, e por isto chegaram ao nosso território com problemas de adaptação aos nossos usuários.

 

A derrocada da engenharia nacional que levou para o mercado financeiro o melhor da nossa engenharia impediu e está ainda impedido a solução dos problemas de adaptação dos usuários com as tecnologias.

Este é um dos principais motivos do porquê a produtividade do trabalhador brasileiro pouco ou nada avançou desde o início da década de 1980.

 

Sempre que uma tecnologia precisa ser adaptada para o nível cultural dos trabalhadores brasileiros, o processo não anda, pois os melhores engenheiros abandonaram a engenharia em busca de melhores oportunidades de emprego em outros setores da economia e não foram encontrados no mercado nacional engenheiros capacitados para adaptar a tecnologia.

 

Existem milhares de exemplos das consequências para a produtividade do trabalhador brasileiro causadas pela escassez de mão de obra qualificada de engenharia disponível no mercado.

 

Um dos casos mais gritantes do mercado privado, ocorre no comercio eletrônico em que o cliente é bombardeado com mensagens tipo a encomenda saiu do centro de distribuição A e foi entregue para a transportadora, ou a sua entrega será feita amanhã até as 21 horas, ou a entrega será feita amanhã entre 16 e 21 horas, ou estamos atrasados para entregar as 21 horas e vamos fazer a sua entrega até as 23 horas, ou mensagens semelhantes.

 

Todas estas mensagens são absolutamente inúteis para os clientes, pois não informam o que o comprador quer saber que é quando a encomenda será entrega.

 

Informações sobre o fluxo ou sobre horários amplos em nada ajudam o consumidor que fica “preso” durante um dia todo para receber a sua compra.

 

Este tipo de processo sem o devido tratamento da sua efetividade pela engenharia alavanca fortemente a perda de produtividade do mercado nacional.

 

No setor público, as perdas são materiais e de tempo das pessoas. Eu presenciei um caso de solicitação da carteira nacional de identidade em que o cidadão passou pelos vários estágios.

 

O último foi a captura das digitais e da assinatura. Para capturar as digitais foram feitas várias tentativas sem sucesso, mas depois de muito tempo uma funcionou. O tablet que capturava a assinatura falhava sem que o cidadão visualizasse o que foi digitalizado.

O resultado foi a produção de uma carteira com assinatura ilegível após quase um mês de espera e necessidade de um novo agendamento para fazer a segunda via.

 

Tanto a escolha de equipamentos inadequado, quanto o processo de validação pelo funcionário humano seriam revistos por engenheiros qualificados que facilmente perceberiam que em caso de falha o funcionário do governo deveria alertar o cidadão e fazer uma nova captura de informações.

 

O processo como um todo para receber após quase dois meses a carteira nacional de identidade foi marcado por seleção pobre de equipamento ou de manutenção do mesmo e da falta de atuação do funcionário ao ver uma falha visível na captura da assinatura.

 

Importantes recursos financeiros foram gastos em tecnologias inadequadas e uma significativa perda de tempo do cidadão e sociedade ocorreu pela falta de um processo de atuação do funcionário público.