terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Quanto custa a destruição da engenharia no brasil?


Foi afirmado que a Samarco gerou prejuízos de aproximadamente vinte bilhões de Reais entre 2015 a 2017. Antes da tragédia de Mariana a empresa era lucrativa. Em 2014, o lucro foi de R$ 2,8 bilhões.
Fonte: O atraso bárbaro mata e custa caro, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/01/o-atraso-barbaro-mata-e-custa-caro.shtml, acessado em 30/01/2019.

Nos últimos anos o Brasil vem colecionando recordes negativos. Os mais recentes estão explicitados nos seguintes artigos: “Percepção da corrupção aumenta, e Brasil tem pior nota em ranking desde 2012” (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/01/percepcao-da-corrupcao-aumenta-e-brasil-tem-pior-nota-em-ranking-desde-2012.shtml,) e “Tragédia com barragem da Vale em Brumadinho pode ser a pior no mundo em 3 décadas” (https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/01/29/tragedia-com-barragem-da-vale-em-brumadinho-pode-ser-a-pior-no-mundo-em-3-decadas.htm).

Em setembro de 2018 uma auditoria assegurou a segurança da barragem e em janeiro de 2019 ela foi rompida. Um dos engenheiros recebeu prêmio em 2018 por projeto de gestão de risco de barragem. Fonte: Engenheiro que atestou estabilidade de barragem já ganhou prêmio por segurança, https://www.folhape.com.br/noticias/noticias/brumadinho/2019/01/29/NWS,94771,70,1370,NOTICIAS,2190-ENGENHEIRO-QUE-ATESTOU-ESTABILIDADE-BARRAGEM-GANHOU-PREMIO-POR-SEGURANCA.aspx.

A tragédia ocorrida em Brumadinho mostra com muita clareza o resultado da destruição da engenharia no Brasil. Uma das formas para localizar desaparecidos em catástrofes é o celular. Ele emite tanto ondas de calor como ondas de Rádio Frequência (RF). A união destas duas informações facilita a localização das pessoas. É possível medir as ondas de calor com os analisadores de infravermelho e as ondas de RF com os analisadores de espectro de frequência.

O Brasil precisou da ajuda de Israel para realizar estas atividades. Os israelenses começaram os trabalhos na segunda feira dia 28 de janeiro. A tragédia ocorreu na sexta-feira dia 25 de janeiro. Infelizmente a bateria dos celulares dos desaparecidos estava muito enfraquecida quando as buscas usando tecnologias modernas foram iniciadas. Fonte: Celular pode ajudar a achar vítimas de Brumadinho; bateria no fim é entrave, https://noticias.uol.com.br/tecnologia/noticias/redacao/2019/01/28/celular-pode-ajudar-a-achar-vitimas-de-brumadinho-bateria-no-fim-e-entrave.htm.

Muitos familiares ligaram insistentemente para os desaparecidos entre os dias 25 e 28. Estas ligações apressaram o processo de descarregamento das baterias dos celulares. Em nenhum momento foi alertado para os moradores, a importância da manutenção da carga da bateria dos celulares para a localização das pessoas.

A atividade de localização que já era de enorme dificuldade ganhou um grau extra de desafio pelo descarregamento das baterias. Se as tecnologias modernas de localização estivessem disponíveis no território nacional, na própria sexta feira dia 25 elas poderiam ter sido utilizadas. É possível que o número de sobreviventes fosse maior e a tragédia fosse menor.

Mais uma vez a destruição da engenharia no Brasil levou o país para um resultado triste. Espero que um dia, as lições sejam aprendidas e o Brasil acorde para o século XXI.

É muito preocupante ver um laudo aprovando a segurança da barragem em setembro de 2018 e encontrar a tragédia de janeiro de 2019. Seria muito importante esclarecer o que significa a aprovação da segurança. Também é de fundamental importância explicitar quais parâmetros foram utilizados para a conclusão.

A realidade dos fatos mostra que existe algo estranho neste angu. É preciso aumentar a transparência dos laudos de segurança e manter a comunidade ao redor da barragem informada sobre como e quando são realizadas auditorias de segurança.

É hora de levar o Brasil para o século XXI. A tecnologia Blockchain pode ser utilizada para criar um livro razão descentralizado que armazene todas as auditorias de segurança das barragens. Estas informações devem ser usadas para criar um seguro contra acidentes nas barragens cujos beneficiários seriam a comunidade. O seguro deve cobrir as perdas materiais e as perdas de lucro cessante pela inviabilização do negócio. O Blockchain seria usado para determinar o risco de segurança e o valor do seguro pago pela mineradora.

Plano de continuidade é frescura?


O artigo “Clientes perdem acesso a US$ 190 mi após morte de dono de bolsa de criptomoeda” (https://www1.folha.uol.com.br/tec/2019/02/clientes-perdem-acesso-a-us-190-mi-apos-morte-de-dono-de-bolsa-de-criptomoeda.shtml, acessado em 14/02/2019) revelou que o falecimento do fundador da bolsa canadense de criptomoedas QuadrigaCX fez com que 115 mil clientes perdessem o acesso a 190 milhões de dólares. Os clientes da QuadrigaCX estão experimentando o amargo sabor do fracasso do seu plano de continuidade do negócio.

O falecimento do fundador da empresa gerou uma corrida para a retirada em massa do dinheiro investido gerando assim graves problemas de liquidez para e empresa.

Como a maior parte dos recursos investidos estava armazenado em carteiras frias, que somente o fundador conhecia, o resultado foi a perda de acesso de $190 milhões. A estratégia de segurança da empresa era manter um volume baixo de criptomoedas armazenado nas carteiras quentes conectadas na internet e armazenar a maior parte dos recursos financeiros nas carteiras frias que são desconectadas.

A ausência do plano de continuidade levou ao fracasso todo o planejamento do negócio. É absolutamente inviável o mecanismo onde uma pessoa guarda as senhas dos processos de negócio sem que exista uma forma da sua recuperação por causa da incapacitação ou ausência provisória ou definitiva do guardião. Não é aceitável no mundo dos negócios que o guardião das senhas viaje sem criar um mecanismo de recuperação das senhas e estabelecer as suas condições de utilização.

Caso ocorra o falecimento do fundador ou presidente da empresa, é preciso anunciar a sua morte o mais rápido possível. Esperar um mês para fazer o anúncio não foi uma revelação responsável e gerou uma infinidade de especulações. A empresa que vivia grandes dificuldades por causa da perda da senha viu-se em um cenário piorado por causa do efeito manada gerado pela comunicação inadequada.

Como a empresa não tinha um plano de mitigação do risco, a organização agiu com total irresponsabilidade e imprudência. O plano de continuidade do negócio é o resultado do planejamento do gerenciamento dos riscos. As determinações e procedimentos que a organização executar quando um desastre ocorre facilitam a mitigação dos riscos. Uma organização séria tem o dever de planejar os desastres para evitar a perda de dinheiro ou a paralização das suas operações.

O plano da continuidade do negócio define os sistemas, dados e informações que a organização deve proteger, determina qual é a política de backup e proteção contra perdas de alguns dados específicos, declara como e onde a empresas recuperará a sua operação normal depois de um desastre, explicita o nome das pessoas, departamentos e times que são responsáveis pela execução das ações constantes no planejamento depois de um desastre especifico e revela como o teste do plano será realizado.

O planejamento da continuidade do negócio é de fundamental importância para as novas Fintechs que estão trabalhando com criptomoedas. Os investidores nas moedas virtuais estão por característica de construção expostos a um nível elevado de risco. Por causa disto, as atividades operacionais das bolsas de moedas criptografadas devem ser realizadas com extrema responsabilidade através de processos e procedimentos transparentes que ofereçam um elevado nível de garantia da confiabilidade da operação.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Atraso, atraso e mais atraso


No plano de recuperação, ao qual a Folha teve acesso, a varejista atribui suas dificuldades financeiras a uma série de fatores: crise da economia brasileira, falta de abastecimento pelos fornecedores, dificuldades com a implementação de um novo sistema tecnológico e escassez de crédito bancário. Fonte: Saraiva propõe a credor pagar em 15 anos só 5% da dívida, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/02/saraiva-propoe-a-credor-pagar-em-15-anos-so-5-da-divida.shtml, acessado em 06/02/2019.

Pela primeira vez no Brasil, uma empresa relaciona de forma direta, clara e explícita as suas dificuldades financeiras com os seus sistemas computacionais.
Foi afirmado que consta no plano de recuperação da livraria Saraiva que as suas dificuldades financeiras estão relacionadas com as dificuldades com a implementação de um novo sistema tecnológico.

A empresa explica os seus constantes prejuízos através de três fatores externos e um interno. Em relação aos fatores externos as empresas nada podem fazer. Elas apenas reagem a eles. Infelizmente a pobreza intelectual das corporações brasileiras alcançou patamares extremamente elevados. Elas são incapazes de reagir corretamente aos fatores externos.

Os aspectos externos (crise da economia brasileira, falta de abastecimento pelos fornecedores e escassez de crédito bancário) impactam toda a economia nacional. São condições gerais do ambiente de negócio brasileiro. É evidente que o impacto destes três fatores nas empresas é diferente. No entanto, todas as empresas foram impactadas e muitas produziram resultados positivos. Livrarias concorrentes da Saraiva produziram lucros enquanto ela era deficitária.

Isto significa que vale a pena aprofundar o entendimento do único fator interno declarado no plano de recuperação como determinante da dificuldade financeira da livraria (dificuldades com a implementação de um novo sistema tecnológico).

Em diversos momentos eu invadi os cursos ministrados pelo profeta Bob. Em algumas invasões eu tomei a palavra do brilhante instrutor e apresentei situações (em uma ou duas o Bob estava presente comigo) onde a livraria Saraiva perdeu dinheiro e vendas por falhas do seu sistema computacional. Não é um ou outro caso. Eu presenciei mais de dez situações. Não eram falhas pontuais, pois vinham ocorrendo por anos.

Quem lê o plano de recuperação da livraria Saraiva imagina que o fator interno “dificuldades com a implementação de um novo sistema tecnológico” é um caso pontual resultante de erros de uma implementação de um sistema. Eu tenho presenciado falhas nos sistemas computacionais da livraria desde o ano de 2010. Quase uma década. Não é um problema circunstancial. É um problema estrutural.

Eu já escutei conversas entre os vendedores da loja do Shopping Paulista, onde foi dito que não adianta ligar para o suporte, pois eles nunca resolvem o problema. A solução oferecida pela central de atendimento para os vendedores e funcionários das lojas é o tradicional desliga e liga computador, roteador e etc.

Em nenhum momento existe uma pesquisa das causas das falhas e das dificuldades operacionais dos usuários com os sistemas de suporte aos negócios. O meu amigo Bob, ficaria de cabelos em pé (se ele tivesse cabelos) com a realidade da central de atendimento.

Não adiantou nada investir em melhores práticas, contratar serviços de terceiros com dezenas de certificações. O resultado final foi muito pobre. Considerando que livrarias como livraria da Vila e Martins Fontes foram lucrativas enquanto a Saraiva foi deficitária fica claro que o fator interno foi determinante para o resultado operacional.

As escolhas da livraria Saraiva para a contratação de capital intelectual para a sua organização de tecnologia foram as piores possíveis. A empresa gastou tempo e dinheiro com pejotinhas certificados e não foi capaz de implementar corretamente os novos sistemas de tecnologia.

Muitos me perguntam sobre qual é a importância do Service Desk em uma empresa. Em geral os técnicos ficam decepcionados com a minha resposta, pois enfatizo a questão do capital intelectual que gera lucro (produtividade) e minimizo os bits e bytes.

Existem os que desejam respostas mágicas sobre como fazer a empresa reconhecer a importância da central de atendimento. Não existem mágicas. É preciso trabalhar na direção de encontrar respostas relevantes para o negócio. A maioria está mais preocupada em articulações de baixo valor agregado como reduzir a quantidade de incidentes ou diminuir o tamanho da fila de espera.

O resultado de tais políticas é o de sempre. Perda em cima de perda. Prejuízo em cima de prejuízo. Falência em cima de falência.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sim. Sim é o emprego


A pesquisa “How machines are affecting people and place” realizada por “the Metropolitan Policy Program at the Brookings Institution” (https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2019/01/ES_2019.01_BrookingsMetro_Automation-AI_Report_Muro-Maxim-Whiton-FINAL.pdf, acessado em 29/01/2019) revelou que os empregos que existem em 2019 relacionados com a preparação de alimentos, produção industrial, administração de escritório, transporte, limpeza de edifícios comerciais, manutenção, instalação e reparo de produtos e etc. tem elevada probabilidade de extinção nos próximos onze anos.

É importante destacar neste ponto do texto, que não estou advogando a favor de profetas e profecias. Temos que entender que o estudo é apenas uma avaliação das probabilidades da ocorrência de alguns dos cenários futuros projetados.

A leitura correta da pesquisa é que existe uma elevada probabilidade (acima de 70%) da possibilidade de a Inteligência Artificial eliminar estes empregos nos Estados Unidos até o ano de 2030. Não existem certezas sobre como a sociedade estará se comportando nas próximas décadas e nem é possível fazer afirmações categóricas sobre como o mundo será em 2030.

Depois de três anos de demissões, foram criados cerca de 530 mil empregos com carteira assinada em 2018
(Após 3 anos de demissões, Brasil cria 529 mil empregos com carteira assinada em 2018, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/apos-3-anos-de-demissoes-brasil-cria-529-mil-empregos-formais-em-2018.ghtml).

Os profissionais mais buscados no mercado brasileiro em 2018 foram alimentadores de linha de produção, faxineiros, auxiliares de escritório, serventes de obras, atendentes de varejo e etc. (Veja as profissões que mais geraram empregos formais em 2018 e as que mais perderam vagas, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/veja-as-profissoes-que-mais-geraram-empregos-formais-em-2018-e-as-que-mais-perderam-vagas.ghtml).

É fácil perceber que as ocupações mais demandadas pelas empresas brasileiras estão todas na categoria de elevada probabilidade de eliminação pela Inteligência Artificial (IA) nos próximos anos. Não encontramos na lista das dez profissões que mais geraram empregos nenhuma ocupação na categoria de baixa probabilidade de eliminação pela IA.

O artigo “Robôs ameaçam 54% dos empregos formais no Brasil” (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/robos-ameacam-54-dos-empregos-formais-no-brasil.shtml) revelou que trinta milhões de vagas de trabalho formal podem deixar de existir até o ano de 2026.

Os que forem aos jogos olímpicos de 2020 encontrarão hotéis operados por robôs (Empresa planeja abrir mais 8 hotéis operados por robôs em todo o Japão, http://www.portalmie.com/atualidade/curiosidades/2018/02/empresa-planeja-abrir-mais-8-hoteis-operados-por-robos-em-todo-o-japao/).

A eliminação destes empregos não causa grande impacto no mercado de trabalho japonês, porque em geral estas atividades são rejeitadas pelos trabalhadores. O real problema será quando as redes internacionais de hotéis que estão presentes no Brasil decidirem robotizar.

A eliminação destas posições do mercado formal impactará a geração de empregos no mercado informal, pois os empregos informais são mais facilmente automatizados.

No Brasil, os debates sobre o emprego estão ocorrendo em uma camada bastante distante do problema real. Ainda existem conversas sobre a CLT e acessórios desnecessários.

O 13º salário foi a oficialização do bônus de final de ano que existia no mercado brasileiro nas primeiras décadas do século XX. O doutor em economia, Alexandre Schwartsman (foi diretor do Banco Central) definiu com precisão a questão. “O 13º nada mais é do que uma “poupança” disfarçada feita ao longo do ano: em vez de distribuir seu salário anual em 12 parcelas, o pagamento é feito em 13, das quais duas no final do ano” (Previdência não 'injeta dinheiro na economia'; como é hoje, concentra renda, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/alexandreschwartsman/2019/01/previdencia-nao-injeta-dinheiro-na-economia-como-e-hoje-concentra-renda.shtml).

Se os benefícios previstos na CLT fossem realmente bons, os trabalhadores desempregados dos Estados Unidos (existe desemprego por lá também) estariam entrando no mercado de trabalho brasileiro.

Foi afirmado que Danilo Brack nunca viu uma onda migratória de brasileiros como a dos últimos dois anos. A maioria arrisca a travessia pela fronteira do México. Muitos têm mestrado e doutorado. Fonte: Mais brasileiros com crianças buscam os EUA, https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/ae/2018/06/mais-brasileiros-com-criancas-buscam-os-eua.html.

A realidade mostra que os americanos não buscam os benefícios da CLT brasileira e os brasileiros estão entrando ilegalmente para os Estados Unidos (correndo risco de vida) em busca de empregos sem os benefícios da CLT.

A crise econômica brasileira não foi causada pela CLT. Os afinados com os fatos e números da macroeconomia brasileira já leram com a devida atenção o artigo “O aumento salarial de R$ 3” (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/01/o-aumento-salarial-de-r-3.shtml).

O rendimento médio do trabalho cresceu R$ 3 no ano de 2018, ou seja, gerou impacto marginal zero nas despesas salariais das empresas.  Mais ainda, o ano de 2018 foi um dos raros anos onde a taxa real de juros (Selic) e a taxa de inflação estiveram abaixo da casa dos 5%.
Os custos salariais (CLT) foram praticamente iguais, o trabalho informal (sem os benefícios da CLT) cresceu espetacularmente, o custo do dinheiro caiu e a inflação foi muito baixa e mesmo assim o crescimento do PIB e PIB per capita em 2018 foi ridiculamente baixo.

O Marcos Lisboa ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda afirmou: “No Brasil, alguns insistem em elixires milagrosos, como juros para baixo, câmbio para cima e proteção à produção doméstica. Pois bem, a taxa de juros está no seu menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em 2018 e temos mais proteções contra a importação de bens manufaturados do que qualquer país da OCDE. A indústria, no entanto, patina e a produtividade continua estagnada” (Hermanos, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2019/01/hermanos.shtml).

É fácil perceber que o resultado do crescimento do PIB em 2017 de cerca de 1,4% e de aproximadamente 1,7% para o PIB per capta é medíocre. A pejotização cresceu como nunca em 2018 e mesmo assim o crescimento do PIB foi pífio. Foi afirmado que existe elevada correlação entre a volta da atividade econômica e os empregos CLT (Com trabalho precário, população ocupada atinge maior nível da história, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/com-trabalho-precario-populacao-ocupada-atinge-maior-nivel-da-historia.shtml).

A conclusão é que a CLT não foi a causa da crise econômica brasileira. O Brasil viveu em 2018 um ano de Selic baixa, de câmbio desvalorizado e de elevado nível de proteção contra produtos importados. Como citado anteriormente também viveu ano de crescimento praticamente nulo dos salários e de alto nível de pejotização. Se com todas condições macroeconômicas favoráveis o resultado foi pobre, isto significa que o problema não está relacionado com a CLT.

Qual é o real problema da economia nacional?

Foi afirmado que nos últimos quatro anos, 4 milhões de empregos informais foram criados no país, ou seja, 40% da população ocupada de 91,2 milhões de pessoas (País ganhou 4 mi de trabalhadores informais nos últimos 4 anos

A afirmação do Lisboa (a produtividade continua estagnada) revela todo o mistério. O Brasil vem avançando fortemente na pejotização, mas está estagnado (ou melhor dizendo está negativo) na produtividade do trabalho realizado.

A degradação do mercado de trabalho foi tamanha que em 2018 chegamos à seguinte realidade: dez trabalhadores dos Estados Unidos geraram a mesma riqueza que 50 trabalhadores brasileiros ou que dez trabalhadores da Alemanha geraram a mesma riqueza que 40 trabalhadores brasileiros ou que 10 trabalhadores do Chile geraram a mesma riqueza que 18 trabalhadores brasileiros.

É muito simples encontrar no varejo brasileiro exemplos onde a produtividade do trabalho é negativa. Um caso que é repetido em larga escala aconteceu comigo recentemente. Eu toquei o meu purificador de água com idade de dois anos por um novo. O antigo quebrou e o conserto era o preço de um novo. No dia 11 de janeiro de 2019 ele foi instalado. No dia 17 de janeiro a empresa ligou dizendo que a validade de um ano do filtro tinha vencido e queriam agendar visita do técnico para a sua troca.

Eu expliquei que eles instalaram um purificador de água novo na semana passada e, portanto, a validade do filtro não estava vencida. No dia 18 de janeiro de 2018 eles ligaram de novo falando a mesma coisa do dia anterior. Eu desliguei e bloqueei os dois números.

No dia 29 de janeiro, eles ligaram novamente perguntando a data da ultima manutenção do aparelho. Quando respondi que é um aparelho novo de instalação recente, a voz do outro lado respondeu que sabia deste fato e insistiu na pergunta sobre ultima manutenção. Respondi que a pergunta não tinha sentido, deliguei e bloquei mais este número.

Claramente a empresa tem um sistema de controle que não funciona e o telemarketing oferece coisas inúteis para os clientes. Foram três ligações cujo resultado foi negativo. Apenas aborreceram o cliente. Apenas gastaram dinheiro.

A empresa gastou tempo, dinheiro e recursos para fazer algo inútil. É um caso apenas, mas na Internet existem milhões de casos semelhantes nos sites de reclamações. Quando inexiste inteligência, a produtividade é mínima ou nula ou negativa.

Não é difícil entender porque a pejotização degradou tanto a produtividade do trabalhador brasileiro. Um funcionário pejotizado realiza apenas a atividade que foi contratado sem maiores questionamentos. Apenas realiza. Não importa para ele se a atividade agrega ou não valor para o negócio. Ele é pago para realizar, apenas isto.

O resultado do seu esforço é totalmente irrelevante para ele. Em muitos casos, o pejotizado não tem nenhuma ideia da consequência das suas atitudes (veja exemplo à seguir). Se qualquer coisa der errado na execução das atividades, ele simplesmente troca de trabalho (é desligado ou deixa emprego por conta própria).

Em São Paulo, foram presos os dois engenheiros terceirizados "que atestaram a estabilidade da barragem", segundo a PF (Polícia Federal). Fonte: Juíza diz que era possível evitar tragédia em Brumadinho (MG), https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/01/29/juiza-decisao-barragem-presos-funcionarios-vale.htm

Caso o pejotizado receba uma oferta de trabalho melhor ele simplesmente abandona a atividade atual e começa novo trabalho. Não existem compromissos de longo prazo (no máximo apenas alguns poucos dos pejotizados cumprem o aviso prévio de 30 dias previsto no contrato. Eles o fazem com péssima vontade de trabalhar e produtividade mínima. A grande maioria é dispensada do cumprimento do aviso prévio).

O caso do segurança pejotizado do Carrefour é típico da falta de compromisso do trabalhador com a empresa (Caso Carrefour: morte de cachorro mobiliza ONGs, famosos e internautas, https://www.metropoles.com/brasil/caso-carrefour-morte-de-cachorro-mobiliza-ongs-famosos-e-internautas). O Carrefour perdeu milhões com o boicote. Toda a perda financeira que ocorreu foi consequência da atuação do seu segurança pejotizado que gerou a motivação do boicote. A perda de produtividade do negócio foi gigantesca.

É fácil perceber que o segurança pejotizado escolheu realizar uma ação de valor agregado nula para o negócio (atacar o cachorro) e ignorou a realização da ação de valor agregado positiva (manter a segurança do hipermercado). Enquanto ele mudava o foco da sua atividade, o local ficou com a sua segurança prejudicada. A produtividade do trabalho do segurança caiu para o negativo com tal decisão.

É muito interessante notar que inexiste um caso similar de um funcionário CLT. Sabe porque não existe tal situação envolvendo um trabalhador CLT?

A resposta é bem simples. Ele sabe que a sua renda futura de médio e longo prazo depende do sucesso do negócio. Em outras palavras, o foco dele é realizar atividades de valor agregado positivo para o empreendimento. Todas as ações de valor agregado nula ou negativa são ignoradas pelos CLTs.

Eles sabem que sentirão no bolso as consequências das suas decisões pobres. Este é real motivo do porque a produtividade do CLT é maior que a do pejotizado. Também é o motivo da economia do país estar despencando ladeira abaixo. O mercado privado está trocando maior produtividade por menor por causa da promessa de um menor custo aparente (os custos invisíveis escondidos são gigantescos).

O genial resultado da troca do lucro pelo prejuízo pode ser visto nos estados brasileiros. Até 31 de dezembro de 2018 três estados decretaram calamidade financeira. Até o dia 22 de janeiro de 2019 este número cresceu mais de 100%.

Em apenas 22 dias quatro estados decretaram calamidade financeira. Quantos estados brasileiros decretarão calamidade financeira até a data de 31 de dezembro de 2019?

A vida inteligente no Brasil precisa debater como aumentar a produtividade do trabalho urgentemente. O crescimento do PIB é o resultado do crescimento da população com o crescimento da produtividade média do trabalhador.

Como nos últimos anos o crescimento da população é de aproximadamente a 1% ao ano e o da produtividade média é de cerca de - 1% ao ano (é negativo) isto significa que a produtividade média do trabalhador precisa sair da casa de -1% para 2% ao ano para que o país cresça aproximadamente 3% ao ano. Não parece ser um esforço enorme, mas o nosso histórico mostra uma gigantesca dificuldade. Lembro que com crescimento de 3% ao ano, o Brasil demorará mais de um século para erradicar a pobreza.

É preciso fazer alguma coisa antes que a crise de segurança do Ceará seja um caso nacional. Um terço dos jovens presos no Ceará acusados dos crimes contra o patrimônio é menor de 18 anos (1/3 dos capturados por suspeita dos ataques no Ceará é adolescente, https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/01/14/13-dos-capturados-por-suspeita-dos-ataques-no-ceara-e-adolescente.htm).

Não é coincidência que desemprego desta faixa etária esteja acima 25%. Sem emprego, o crime organizado captura estes jovens desempregados. O Brasil está criando condições que inviabilizam o trabalho honesto no território nacional.