O artigo “O caminho da métrica perfeita nos centros de suporte” do Roberto Cohen (http://www.4hd.com.br/blog/2015/11/11/o-caminho-da-metrica-perfeita-nos-centros-de-suporte/, acessado em 17/11/2015) foi muito feliz ao abordar o valor da importância do objetivo de uma medição. A falta de um objetivo claro e concreto faz com que todos os esforços para construir índices e indicadores sejam jogados no lixo.
Parece óbvio (mas aparentemente não é) que o objetivo de qualquer medição deve ser claro, transparente e comunicado. Por exemplo, para medir a obesidade de uma pessoa é possível usar ou uma balança para o peso em quilos ou uma fita métrica para o tamanho da circunferência em centímetros da barriga e de um conjunto conhecido de métricas. Através das comparações é possível determinar o índice de obesidade da pessoa. No entanto, este indicador está sujeito a falhas por conta do elevado grau de variabilidade do chamado conjunto conhecido de métricas. O indicador porcentagem de gordura corporal oferece um resultado muito mais preciso sobre o nível de obesidade da pessoa.
A grande questão que precisa ser respondida é qual é o objetivo da medição. Para a maioria dos casos o médico pode usar a balança ou fita métrica para decidir prescrever uma dieta para o seu paciente. O modelo funciona bem. No entanto, existem casos onde este modelo de medição conduz para conclusões erradas. Um bom exemplo deste fenômeno está expresso no artigo “Diminui a desigualdade no Brasil, mas cresce no Sudeste, diz IBGE” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1705824-desigualdade-cai-em-2014-com-alta-de-renda-dos-mais-pobres-diz-ibge.shtml, acessado em 17/11/2015) sobre a redução da desigualdade no Brasil.
No artigo, foi apontado que entre 2014 e 2013 existiu uma redução da desigualdade no país do rendimento do trabalho e tal resultado deveria ser comemorado como resultado positivo, pois os Brasil ficou mais igualitário. Se olharmos os números com atenção vamos claramente perceber que inexistem motivos para comemorar. Entre 2014 e 2013 a renda do trabalho dos 10% mais pobres aumentou 4,1% enquanto a renda dos 10% mais ricos diminuiu 0,4%, e a renda dos 1% mais ricos caiu 3,4%. Ao olhar para estes números, muitos vão afirmar que ocorreu uma redução da desigualdade em 2014.
Existem várias mentiras contadas por estes números. A redução da renda do trabalho dos chamados 1% mais ricos (cerca de dez vezes o salário mínimo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, DIEESE) revelou o país estava entrando em recessão e que no futuro próximo a renda dos mais pobres seria afetada negativamente. O aumento da renda do trabalho dos 10% mais pobres é um aspecto positivo. No entanto, ele esconde que a renda em 2014 foi de R$ 256 na média mensal e ela é cerca de 15% do salário mínimo do DIEESE.
A medição da desigualdade esconde uma realidade perversa no Brasil que é que a renda do trabalho é muito. A renda de apenas 256 Reais na extremidade inferior mostra que o trabalho está sendo inviabilizado no país. É um valor muito baixo para o trabalho de um mês em relação a renda mínima necessária para sobreviver no país. A parcela da redução da desigualdade resultante da redução de uma renda dos 1% mais ricos mostra apenas que o Brasil está promovendo a precarização do emprego e trabalho.
O restante da redução da desigualdade pelo aumento da renda dos 10% mais pobres não representa motivo algum de comemoração, pois é um aumento em cima de uma base muito baixa. Quando olhamos em valores absolutos a redução da desigualdade da renda do trabalho (Em 2013 a diferente entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres era de 7.183 – 246 = 6.937 e em 2014 a diferença era de 7.154 – 256 = 6.898, ou seja, a diferença era de aproximadamente 6,93 mil e caiu para aproximadamente 6,90 mil) fica claro que o resultado alcançado é absolutamente medíocre.
O Brasil não está avançando na direção do progresso. O que o país está fazendo é inviabilizando o trabalho. Este é o motivo porque é preciso ter em mente o objetivo do indicador citado pelo Roberto Cohen. Reduzir a renda de todos os trabalhadores para zero certamente torna o indicador da desigualdade altamente igualitário. Infelizmente ele resulta na eliminação do trabalho no pais. A redução da desigualdade deve ser bancada pelo aumento da renda dos 10% mais pobres em um patamar bem acima do aumento da renda dos 10% mais ricos. Só assim o indicador tem significado relevante para a economia nacional.