Em
uma recente troca de mensagens com alguns profissionais que considero de alta
qualificação, eu percebi como a cultura do atraso está sedimentada no comportamento
brasileiro. O assunto começou com uma chamada para um evento. Não vejo problema
algum em uma chamada de congresso polêmica. A questão chave da chamada é que
ela é polemica e verídica. A chamada expressa uma real condição do mercado de
tecnologia de informações e comunicações. Os treinamentos dos fundamentos do ITIL
entraram no ciclo de redundância.
Um
estudo do Gartner de 2015 embasava a chamada. A primeira manifestação da
cultura do atraso ocorreu na localização do estudo. Quando citei a existência
do mesmo, inexistiu a utilização de ferramentas de busca como o Google. Em uma
rápida pesquisa eu encontrei um texto em inglês que citava o estudo realizado
em 2015. Em 2016, as pessoas não podem depender de terceiros para localizar uma
informação. A internet oferece um tamanho conjunto de conhecimento que basta
fazer uma pesquisa razoavelmente elaborada que serão encontradas as respostas
desejadas.
O
meu amigo Bob que é na minha opinião o principal evangelizador do Service Desk
no Brasil protagonizou dois momentos da cultura do atraso. O primeiro ocorreu quando
ele recomendou um treinamento ultrapassado com argumentos redundantes. Quando
li o texto no blog dele eu lembrei imediatamente do ministro mais atrasado de
todos os tempos do Brasil que defendia que o país não utilizasse tecnologias
para preservar atividades que desapareceram no mundo inteiro (para alguns ir
para traz e preservar atividades redundantes e caras é melhor do que ir para
frente e lucrar com tecnologias que demandam por elevada quantidade de mão de
obra qualificada).
A
postagem “Curso ITIL Foundations ainda é válido?” (http://www.4hd.com.br/blog/2016/11/09/curso-itil-foundations-ainda-e-valido/,
acessado em 11/11/2016) é o típico caso de defesa do atraso. Se o blogueiro continuar
nesta linha em pouco tempo ele vai escrever um texto defendendo a importância
dos cursos de datilografia para quem usa máquina de escrever mecânica. O
segundo momento do atraso foi expressado nas seguintes frases:
1.
Que
adianta lhes falar sobre coisas que não têm condições de absorver?
2.
Essa
é a realidade de empresas do Brazil (sim, muitas bem-sucedidas)
Em
primeiro lugar as empresas que operam como se estivessem em 1980 ou 2000 estão
longe de qualquer tipo de sucesso. Muitas das empresas citadas como bem-sucedidas
apresentam graves problemas de passivos e são inviáveis em mercados
competitivos. Muitas das firmas que foram citadas pelo blogueiro não entregam as
suas promessas. Será que para o Bob estas organizações são vítimas da evolução
do conhecimento?
No
meu ponto de vista, elas não pobres coitadas que não conseguem viver no ano de
2016. Estamos apenas falando de pessoas que estão com a cultura do atraso sedimentadas
no seu modelo mental. Chamar tais empresas de bem-sucedidas é sem sombra de
dúvida um espanto de otimismo.
O
resultado da cultura do atraso é nos fatos e não nos achismos. É muito fácil
observar os danos da cultura do atraso no Brasil. Em 2014 a atuação era
praticamente nula no Brasil das empresas Uber e AirBnB. Em 2016 estas empresas
estão derrotando no mercado brasileiro através de competição justa e honesta os
que vivem sob o lema: "Que adianta lhes falar sobre coisas que não têm
condições de absorver?"
Em
dois anos os que não tinham condições de absorver os conhecimentos existentes
em 2014 estão argumentando como vítimas de um grande complô mundial para tentar
salvar o pouco do que foi chamado pelo evangelizador do Service Desk de negócio
bem-sucedido. Para os que acham que não existem perdedores com a cultura do
atraso, eu serei o portador da notícia ruim. Eles existem e são chamados de
brasileiros. Vinte por cento do faturamento gerado no Brasil no transporte de
pessoas e hospedagem (Uber e AirBnB) é exportado sem pagar impostos e taxas.
Não é à toa que os governos estão em condição vexatória em 2016. Em outras palavras estamos falando de perdas
de arrecadação. É fácil ver o ridículo que está acontecendo no Brasil.
·
Porto
Alegre: presos são algemados a lixeiras, http://noticias.band.uol.com.br/cidades/rs/noticia/100000830369/presos-são-algemados-em-lixeiras-na-capital,presos-sao-algemados-em-lixeiras-em-porto-alegre, acessado em
11/11/2016
·
Rio
virou um "filme de terror", diz moradora sobre colapso financeiro, http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/11/09/rio-virou-um-filme-de-terror-diz-moradora.htm, acessado em
11/11/2016
·
Em
fim de gestão, Haddad reduz entrega de leite para crianças, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/10/1825957-em-fim-de-gestao-haddad-reduz-entrega-de-leite-para-criancas.shtml, acessado em 11/11/2016
Os
grandes estados e cidades estão até cortando o leite de crianças, porque um dia
no passado alguém assumiu como verdade que: “Essa é a realidade de empresas do
Brazil (sim, muitas bem-sucedidas)”. Outra forma de ver o resultado da cultura
do atraso é a análise dos desperdícios de recursos e de dinheiro. O artigo “Empresas ainda erram na contratação
de serviços de telecom” (http://cio.com.br/gestao/2016/11/09/empresas-ainda-erram-na-contratacao-de-servicos-de-telecom/, acessado em
11/11/2016) revelou que milhões de reais são jogados no lixo no Brasil pelas
empresas todos os anos, porque inexistiu o entendimento do conhecimento do ano
de 2016 e prevaleceu o conhecimento do ano de 1980. O artigo “Brasil deixa a
desejar no nível de maturidade de análise de dados” (http://cio.com.br/opiniao/2016/11/14/brasil-deixa-a-desejar-no-nivel-de-maturidade-de-analise-de-dados/,
acessado em 14/11/2016) revelou que as centenas de milhões de reais investidos
em ferramentas de Enterprise Resource Planning (ERP) estão sendo
desperdiçados pela falta de conhecimento das pessoas em estruturar e analisar os
dados. O custo das horas de auditoria pode ser fortemente reduzindo com as medidas
simples e gratuitas do conhecimento do ano de 2016.
O
artigo “Pesquisa da Deloitte aponta prioridades tecnológicas para 2017 no
Brasil” (http://cio.com.br/noticias/2016/11/09/pesquisa-da-deloitte-aponta-prioridades-tecnologicas-para-2017-no-brasil/, acessado em
11/11/2016) revelou que é urgente eliminar a cultura do atraso na economia nacional.
Em 2020 quando novas perdas vierem, muitos dos que são considerados bem-sucedidos
pelo Bob proclamarão as famosas frases da cultura do atraso e vão tentar se passar
por vítimas do avanço do conhecimento humano. O artigo “Uber prepara lançamento
de serviço de entrega de comida em São Paulo” (http://idgnow.com.br/mobilidade/2016/11/11/uber-prepara-lancamento-de-servico-de-entrega-de-comida-em-sao-paulo/, acessado em
11/11/2016) revelou que a empresa Uber vai atacar um novo nicho de mercado no
Brasil.
Uma
empresa bem-sucedida é aquela que lucra dentro da lei. Não precisa de esquemas
para burlar as leis trabalhistas. Um exemplo de empresa realmente bem-sucedida é
o Facebook que ganha dinheiro com as postagens gratuitas dos brasileiros [Quanto
dinheiro o Facebook ganha com você (e como isso acontece), http://tecnologia.uol.com.br/noticias/bbc/2016/11/10/quanto-dinheiro-o-facebook-ganha-com-voce-e-como-isso-acontece.htm,acessado em 11/11/2016). Como
para alguns operar como se estivéssemos em 1980 é o ideal, a empresa Facebook
tinha que ser americana e faturar bilhões. No conceito econômico da cultura do
atraso ser bem-sucedido é lucrar um ou dois centavos ou ter prejuízo de alguns
milhares de reais.
Quando
alguém argumenta que leu em e-mail dúvidas sobre templates de OLA e SLA,
ferramentas de chat, profiles de desktop, etc. e por causa concluiu que o
patamar de evolução é parecido, é sinal que o assunto está definitivamente perdido.
Felizmente a afirmação que o meu argumento de previsibilidade e eliminação de
incertezas de ferramentas de governança como COBIT e ITIL não é dos melhores vem
do lado de quem defende a cultura do atraso. Eu prefiro estar do mesmo lado do David
Breitgand que é um reconhecido pesquisador da IBM, que afirmou em um evento na
Suécia em maio de 2014, que o gerenciamento da capacidade não é mais necessário
para as empresas usuárias de nuvem elástica.