quarta-feira, 25 de abril de 2018

Brasil sem novidades e inovações


O Brasil cometeu nos anos 1980 um grave equívoco em relação as novidades (algo que não existe até então) e inovações que perdura até os dias de hoje. A justiça nacional, estimulada por um processo trabalhista impetrado por um grande banco, interpretou a CLT de tal forma que os direitos intelectuais e autorais de uma novidade pertencem aos proprietários das ferramentas utilizadas pelos funcionários no seu desenvolvimento.

Após o estabelecimento deste marco jurídico várias empresas incluíram no contrato de trabalho cláusula que determinava que todos os desenvolvimentos e invenções realizados pelos funcionários eram propriedade autoral e intelectual da organização. A justiça trabalhista brasileira simplesmente aboliu neste entendimento o conhecimento dos pesquisadores, engenheiros e etc. como fator produtivo. Para os espertos era justa a decisão de tudo dar para as empresas.

É evidente que o desequilíbrio das regras do jogo em favor das empresas gerou consequências. Acabou o ciclo de proatividade dos funcionários na oferta de sugestões de soluções. Os colaboradores adotaram postura reativa. Ou seja, a empresa passou a ter a obrigação de identificar todas as oportunidades, forças, ameaças e fraquezas e direcionar o caminho das soluções. Uma grande parte do potencial inovativo nacional foi perdido nesta canetada da corte.

Entretanto, o marco jurídico não foi a única presepada brasileira. Os anos 1980 foram marcados pela revolução causada pelos microcomputadores. A grande mudança ocorreu na velocidade dos acontecimentos. O ciclo de vida de uma novidade que era de décadas despencou para anos.

A economia do Brasil que entrou cambaleante nos anos 1980 passou a sofrer com a obsolescência dos seus produtos exportáveis. Como resultado a crise nacional se agravou com passar dos anos da chamada década perdida. Os economistas brasileiros não entenderam o fenômeno e adotaram como solução o corte de custos. A política recessiva cortou drasticamente posições da engenharia e como consequência as novidades e inovações minguaram. O resultado foi crescimento do déficit público e da balança de pagamentos, aumento explosivo da inflação, desemprego generalizado e elevado, perda de produtividade e empobrecimento. Ou seja, uma crise maior ainda.

Nos anos 1990 a reengenharia foi adotada como solução dos cada vez mais graves problemas nacionais. Alguns tiveram a brilhante ideia de demitir os funcionários acima de 40 anos de salários maiores e contratar jovens de 20 anos de ordenados baixos. O resultado de um marco jurídico irrealista, da destruição da engenharia nacional e do preconceito contra o cabelo branco foi a criação nos anos 2000 de um sistema inibidor das novidades e inovações. Ao perceber que serão demitidos após os 40 anos, os profissionais jovens iniciaram um ciclo de elevada rotatividade na sua carreira profissional.

Como eles ficavam poucos anos na empresa, os funcionários não eram cobrados pelos resultados dos projetos de médio e longo e estes eram tocados à exmo. Apenas as iniciativas de curtíssimo prazo eram interessantes para os novos entrantes no mercado de trabalho. É evidente que tal movimentação deprimiu ainda mais as novidades e inovações. Tudo era copiado e improvisado.

A consequência destes equívocos foi a derrocada para praticamente zero do nível de criação de novidades. O Brasil virou a pátria xerox de baixa qualidade, ou seja, só copiava. Copiava mal, com atraso e de forma muito mais cara.
O resultado econômico é de fácil percepção. A produtividade do brasileiro é muito menor. Competitividade pobre gera renda medíocre. Em 2017 a renda média do brasileiro foi de R$ 2.178. O salário mínimo calculado pelo Dieese em dezembro de 2017 era R$ 3.585,05. É muito fácil perceber que o país é incapaz de gerar um volume riqueza suficiente para que a renda dos trabalhadores seja compatível com uma família de quatro pessoas.

Nos Estados Unidos, os direitos intelectuais e autorais das novidades pertencem as pessoas responsáveis pelo desenvolvimento. As empresa tem o direito de uso das novidades. Por isto eles tem a cultura de criação.

Além dos problemas citados anteriormente, ainda existe a questão da falta de confiança de um brasileiro no outro. Recomendo a leitura do livro A Cabeça do Brasileiro do Alberto Carlos Almeida para maiores detalhes. No Brasil, o medo do chefe ou colega roubar a ideia é tão grande que as pessoas simplesmente não as expressam. Não existem dúvidas que o Brasil deu todos os passos na direção da armadilha da renda insuficiente.