quinta-feira, 16 de outubro de 2014

INOVAÇÃO X MODELO DE NEGÓCIO

Muita gente fala e escreve sobre a falta de investimento em inovação no Brasil. Muitos destacam que a inovação nacional sofre do mal crônico da falta de dinheiro e este aspecto é a principal justificativa para que o país inove tão pouco. Com a esperança de resolver o problema do dinheiro, os especialistas em empreendedorismo estão viajando frequentemente para a região do vale do silício nos Estados Unidos para captar dinheiro para as inovações brasileiras.

Estas pessoas realmente acreditam que desta forma vão destravar as restrições e conseguirão alavancar as inovações brasileiras. Infelizmente, estes profissionais insistem em ignorar que muitas das empresas inovadoras nasceram com um capital financeiro muito baixo. Também é fácil perceber que os fundadores destas companhias eram na maioria das vezes pessoas comuns. Os casos mais recentes da Alibaba e Facebook ou os menos recentes da HP, Apple, Microsoft, Google e etc. exemplificam como pessoas sem formação universitária e dinheiro conseguiram criar negócios inovadores.

Em uma conversa recente com um importante empresário nacional sobre a produtividade, percebemos que existe uma dificuldade estrutural nas corporações nacionais de todos os portes.  Quando comparamos a riqueza gerada por um funcionário em uma empresa americana com uma brasileira fica nítido que existe um profundo abismo.  As melhores empresas americanas no indicador lucro por funcionário tem uma diferença acima de cem vezes neste índice em relação as melhores companhias brasileiras. A explicação mais usada para esta diferença colossal é o nível de educação.

No entanto, mesmo na situação de exagero extremo de avaliação da educação, o resultado de cem vezes é inconsistente.  Quanto o nível educacional americano pode ser melhor que o brasileiro? Com profundo exagero é possível imaginar que a educação do americano é três vezes melhor. Em outras palavras é impossível explicar a diferença de geração de riqueza por funcionário através apenas da educação. O resultado geração de riqueza do trabalho de um americano com nível básico de educação é maior que um brasileiro especializado com MBA ou mestrado e doutorado. Claramente o nível de educação não consegue explicar totalmente a diferença na geração da riqueza empresarial.

É preciso desvendar este mistério. A análise do modelo de negócio para o capital intelectual das corporações oferece um excelente conjunto de métricas para o entendimento da abissal diferença de riqueza gerada pelos funcionários americanos e brasileiros. No caso americano, o modelo de negócio incentiva as contribuições individuais e coletivas dos funcionários para a melhoria contínua do negócio. As corporações americanas estabeleceram regras para um relacionamento de longo prazo entre a empresa e colaborador com recompensas financeiras e monetárias sustentáveis.  As pessoas estão envoltas em um ambiente colaborativo onde as ideias individuais são compartilhadas e evoluídas gerando assim um importante capital intelectual coletivo. A confiança é a base do modelo que privilegia a relação de longo prazo.  As pessoas desenvolvem as suas carreiras nas empresas e com isto colhem os resultados dos trabalhos por muitos anos.

Uma forma fácil de entender a consequência da confiança e relacionamento no resultado do negócio é através do exemplo a seguir. Todos os dias as empresas de todos os portes enfrentam uma infinidade de pequenos desafios. Normalmente, os funcionários atentos e capacitados reconhecem estes problemas e identificam inovações que os resolvem. Quando existe uma gestão corporativa que valoriza o relacionamento de longo prazo as pessoas apresentam voluntariamente propostas de melhorias.  Elas fazem isto porque colhem (por diversos anos) monetariamente e financeiramente os resultados das inovações.  Quando as corporações tem práticas de relações instáveis de curto prazo e demissões dos funcionários após os 40 anos de idade, as pessoas continuam enxergando inovações que resolvem os problemas e melhoram o resultado do negócio. No entanto, elas são desconfiadas e resistentes e não as apresentam de forma voluntária.

Elas tem total certeza que não vão participar do resultado do seu trabalho. Um ambiente em que não existe confiança entre os funcionários e entre os colaboradores e a empresa inibe a inovação. Este é o principal motivo porque o Brasil inova tão pouco em relação aos Estados Unidos, Europa, Coreia Japão e China.

O modelo de negócio americano para o capital intelectual humano favorece um relacionamento de longo prazo em que todos colhem os frutos do seu trabalho por muitos anos. O modelo brasileiro é baseado no aqui e agora e o curtíssimo prazo resulta na adoção apenas de paliativos. É como tomar remédio contra dor de cabeça todos os dias sem analisar a sua causa. As empresas estão perdendo competitividade porque escolhem vender o almoço para comprar o jantar e repetem esta prática em todas as refeições.  O resultado final é a sub nutrição.


Dinheiro nenhum é capaz de resolver o grave problema da falta de confiança. Os funcionários não apresentam sugestões porque sabem que vão trocar de emprego em dois ou três anos. Neste contexto, as inovações só aparecem quando são compradas.  E neste caso, elas custam muito dinheiro. Como a maioria das empresas nacionais não tem recursos, a consequência é a carência da inovação.