Não
e difícil perceber que a crise hídrica em São Paulo é um assunto muito maior do
que banhos e carros lavados. É uma grave crise econômica que pode levar o
Brasil inteiro para a bancarrota. A água é o principal insumo para a vida
humana e a falta dela já fez populações inteiras mudarem e certamente vai fazer
de novo.
A
crise da forma que está sendo conduzida pelo governo federal, estadual e municipal
pode levar o Brasil para o posto de maior catástrofe humana da história da
humanidade. É um assunto de altíssima gravidade que vem enfrentando a
mediocridade política dos partidos nacionais. A falta de água ao afetar a
indústria e agricultura paulista vai gerar desemprego e alta dos preços no país
inteiro. Uma enorme pressão inflacionaria está no ar. Qual investidor internacional
escolheria o Brasil como destino dos seu dinheiro em quadro de elevado
descontrole financeiro com risco real da maior cidade do pais ter que ser
evacuada às pressas por falta de água? Quem vai manter o seu dinheiro no Brasil
em um cenário de tamanha precariedade?
É
preciso que as autoridades encontrem um caminho antes que o caos seja
consumado. Os episódios de segurança da cidade de Itu por falta de água mostraram
que a população está impaciente. A repressão policial seria um desafio enorme
pelo tamanho da população afetada.
Um
racionamento regional rigoroso em excesso como o proposto de 5 dias sem água por
2 com água levaria para uma migração entre regiões e pode gerar uma situação de
caos maior ainda. É preciso que o governo organize as medidas em linha com as
necessidades e consequências. O amadorismo precisa sair de campo.
É preciso profissionalizar e acertar de primeira.
Muitos
estão atribuindo para o governo do estado de São Paulo e para a Sabesp a
responsabilidade pela crise hídrica. Falam-se nas perdas, falta de investimento
e etc. Mas será que o problema é tão restrito? É possível afirmar que existem
outros atores no circo de horror da crise hídrica.
O
péssimo código florestal promulgado em 2012 além de ser questionável do ponto de
vista constituição brasileira, permitiu uma tamanha devastação da floresta
amazônica que mudou o ciclo de chuvas da região sudeste do Brasil. Será que é
mera coincidência que após o código florestal de 2012, os estados do sudeste
estejam enfrentando os seus piores momentos na história de escassez de chuvas? Vários
estudos sérios relacionam a devastação Amazônia com a redução das chuvas no
sudeste. Já está na hora do país entender que ele não tem capacidade para ser o
celeiro do mundo. Destruir a floresta amazônica para produzir soja ou gado é um
ato de uma burrice incomensurável.
A
obra do Aldo Rebelo no código florestal não foi a sua única contribuição para a
crise hídrica. Alguém acha que é mera coincidência que os estados que mais
receberam turistas na copa de 2014 estejam correndo risco de racionamento de
água? São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os destinos da maioria dos
turistas na copa. Turistas que consumiram muita água sem preocupação alguma de
economia. Nenhuma cartilha do ministério dos esportes pedia que estes turistas
economizassem água. Enquanto eles gastaram rios de água, a população que mudou
de hábitos e economizou muito ficou a ver navios. Milhões de litros de água
foram gastos com turistas e obras civis para a copa do mundo.
Qualquer
ser humano capacitado teria trocado as cidades sedes em função da crise hídrica
que já existia em 2014. Faltou bom senso e capacitação. Infelizmente a conta da
falta de capacidade do governo federal em relação a crise hídrica vai ser paga
pela população de São Paulo.
O
governo federal ofereceu e vem oferecendo mais uma contribuição para aumentar a
crise hídrica em São Paulo. O programa minha casa, minha vida incentiva a
verticalização das moradias. No lugar onde moraram uma ou duas famílias agora
moram graças aos programas centenas de famílias. O programa em nenhum momento
se preocupou com a mudança do perfil do consumo de água nos financiamentos. O
planejamento foi inexistente. Mudou-se completamente o perfil de consumo na
região abastecida pelo reservatório da Cantareira sem que existisse
contrapartida de investimento na captura da água. O sistema Cantareira depende
de chuvas em Minas Gerais o que mostra o tamanho da irresponsabilidade nestes
financiamentos. É óbvio que o programa deveria centralizar o atendimento em
regiões de captação de água mais fácil e em torno de um equilíbrio na
verticalização.
Quando
pensamos que o circo dos horrores da crise hídrica de São Paulo está completo,
percebemos que existe mais um ator. O prefeito Fernando Haddad decretou o fim
da inspeção veicular na cidade de São Paulo. Será mera coincidência que as
maiores temperaturas da história da cidade ocorreram depois do fim da inspeção
veicular? As ilhas de calor formadas pela poluição dos carros aumentaram a
sensação térmica do calor e elevaram o consumo de água pelos paulistas. Será
que é mera coincidência que as maiores temperaturas da história da cidade de
São Paulo ocorreram ou durante o período de suspensão do rodízio de carros ou
imediatamente após? Claramente as chuvas de janeiro de 2015 não conseguiram
dispersar as nuvens de poluição geradas pelos carros sem inspeção veicular e
reduzir o efeito de ilha de calor.
O
estado de São Paulo concentra mais de 20% da população brasileira em um espaço menor
que 3% do território nacional. A água não é o único recurso escasso no estado.
Recursos como ar, moradia, mobilidade e etc. também são escassos e vão acabar
caso não exista um completo replanejamento da ocupação do território Paulista. Para
não ficar apenas com o dedo na ferida é importante oferecer algumas sugestões
para permitir que o estado não vire um deserto e derrube a economia do Brasil.
A
primeira e mais óbvia e a paralisação de todas as obras para novas moradias no
estado. O governo federal precisa assumir os prejuízos causados pela sua
irresponsabilidade de financiar moradias sem planejamento de água. A segunda e
mais importante medida é a intensificação da utilização da água de reuso. Todos
os lugares públicos incluindo instalações privadas como shoppings, estádios de
futebol, escolas, clubes e etc. devem utilizar apenas água de reuso.
·
Reduzir
drasticamente a captação de água pela indústria e agricultura. Obrigando o uso
exclusivo de água de reuso. Liberar a captação de água apenas para o essencial.
Produção de bebidas como cerveja e refrigerantes deve ser suspensa
no estado até a normalidade hídrica.
·
Suspensão
de todos os eventos em 2015 que não sejam essenciais como carnaval formula 1
corridas de rua etc. Tolerância zero para o consumo não essencial de água.
·
Transformação
de todas as instalações de residenciais e comerciais para a utilização de
apenas de água de reuso nos sanitários. Água de reservatório deve ser destinada
apenas para o consumo humano.
·
Determinar
que bares e restaurantes usem apenas pratos e talheres descartáveis eliminando
assim a necessidade de lavagem. Incentivar via impostos que o mesmo ocorra nas
residências.
·
Aumentar
o preço da água para desincentivar o seu desperdício.
·
Incentivar todos que possam mudar temporariamente ou definitivamente do estado.