O artigo “O agonizante momento das boas
práticas” (http://istbrasil.blogspot.com.br/2015/02/o-agonizante-momento-das-boas-praticas.html, acessado em 17/02/1025) revelou erradamente
que as melhores práticas como ITIL, COBIT estão agonizando no Brasil. O
inexistente não pode agonizar. Na dura realidade nacional, as melhores práticas
sequer nasceram no Brasil, por isto elas não podem estar agonizando.
O artigo acerta quando cita que existem ilhas
de excelência. O Brasil sempre foi capaz de produzir ilhas em um oceano de
mediocridade. Tal fato não é novidade, pois elas existem em diversos campos.
Isto acontece porque existem setores da economia brasileira que não contam com
a proteção governamental e por isto precisam competir intelectualmente contra os
tubarões turbinados do resto do planeta (por mais inesperado que possa parecer,
estas firmas brasileiras competem e vencem os gigantes).
Aliás, a proteção governamental é o
exato motivo para o não nascimento das melhores práticas no Brasil. A sociedade
nacional gosta e aprova monopólios do estado ou que estejam sob o controle
dele. Este segmento que é majoritário no Brasil entende que o político de
plantão é capaz de resolver cada um dos problemas dos milhões de brasileiros.
Esta forma de agir e pensar gerou como consequência empresários e gestores com preocupações
apenas de aparência com as melhores práticas. É o tradicional modelo parnasiano
nacional onde a forma ou melhor aparência tem mais importância que o conteúdo.
Neste contexto, os constantes fracassos
da economia nacional são simplesmente esquecidos a cada eleição onde
invariavelmente surge um novo “gênio” salvador da pátria. Tivemos tantos
exemplos que seria injusto citar só alguns. O mais famoso foi o Fernando Collor
de Melo.
Se os fracassos são esquecidos e as
perdas absorvidas pelos pobres do Brasil então porque as empresas iriam atrás
de melhores práticas? Alguém se lembra da reserva de mercado em informática e
dos bilhões entregues para grandes e ricos bancos donos das empresas de TI?
São raros os que lembram e posso
garantir que muitos profissionais de TI defendem medidas similares de reserva
de mercado sem sequer conhecer o estrago realizado no passado. Quais empresas
daquela época sobreviveram? Existe uma indústria de informática brasileira?
Lamento dizer, mas o resultado do monopólio controlado pelo estado brasileiro
foi perda e atraso. Não foram alguns centavos, foram dezenas de bilhões
perdidos.
Para que fazer o esforço em melhores
práticas se é possível ficar pendurado no governo grátis e tirar dos milhões de
pobres para dar para uns poucos ricos? O Brasil navega há muito tempo no oceano
do monopólio e concentração de renda. Vou citar dois casos antigos e um atual
para mostrar que nada mudou na forma de pensar na renda e trabalho na sociedade
brasileira nos últimos 40 anos.
Nos anos 1980 ficou famoso o caso Grupo
Coroa Brastel. Garanto que este escândalo é desconhecido ou esquecido pela
maioria da população brasileira. O dono do grupo foi convencido pelo governo da
ditadura militar para a compra de uma corretora falida. Ele era milionário e
bem sucedido empresário à época. Ele tinha à sua disposição os melhores
conselheiros sobre melhores práticas. Ele ignorou todos os avisos e números
negativos e atendeu aos apelos do governo. Pouco tempo depois quebrou e morreu
pobre. Ele esqueceu as melhores práticas, pois entendia que seria favorecido
com poderes de exclusividade por ter ajudado o governo. Quem perdeu?
Trabalhadores, investidores e pobres.
Também nos anos 1980 ficou famosa a
frase “Plante que o João garante”. Nunca na história da agricultura nacional o
resultado foi tão negativo. Na mesa do brasileiro muitas coisas faltavam e
outras eram mais caras todos os dias. Neste momento nasceu a inflação galopante
no Brasil. Quem perdeu? Os trabalhadores que tiveram seu salário arrochado em vários
momentos. Quem mais perdeu? Os investidores. Muitos foram embora e não voltaram
mais. O Brasil já teve fábrica da GE por exemplo
Mais recentemente temos o escândalo do
petrolão da empresa estatal Petrobrás que atua em regime de reserva de mercado
ao comprar conteúdo nacional. Lembro que a governança da Petrobras já foi
elogiada por centenas de profissionais de TI do Brasil. A governança da empresa
foi exaltada como modelo em diversos congressos e seminários. Claramente ela
gastou muito dinheiro em melhores práticas. Em 2015, foi estimada uma perda de
quase 90 bilhões por perdas de corrupção, erros estratégicos e falhas
operacionais. É muito difícil entender como tantos “especialistas” de
governança de TI conseguiram elogiar vigorosamente a consistente adoção de
melhores práticas para tecnologia de informações pela Petrobrás e encontrar uma realidade onde os sistemas de informações não detectaram perdas de dezenas de
bilhões?
O petrolão deixa claro um dos principais
motivos do não nascimento das melhores práticas de TI no Brasil. Claramente, o
país é extremamente carente de profissionais qualificados. Na era do
conhecimento quem não tem conhecimento não tem nada. Quem perdeu com o petrolão?
Os pobres do Brasil e os trabalhadores dos fornecedores da Petrobras.
Mais uma vez a reserva de mercado e
monopólio estatal geraram perdas enormes para o Brasil. Quem sabe em 2030 o
país se recupere. Até lá será mais uma década perdida.
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