O governo federal do Brasil iniciou o
seu novo mandato em 2015 com mais uma proposta "genial". No artigo “Shoppings já acionam geradores em horário
de pico de consumo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/206656-shoppings-ja-acionam-geradores-em-horario-de-pico-de-consumo.shtml,
acessado em 04/02/2015) o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que
quer que os shoppings centers usem mais energia de gerador e mudem horários de
funcionamento.
O primeiro problema da “genialidade”
proposta é que estes geradores foram dimensionados para suprir eventuais falta
de energia. Eles não servem para operações rotineiras e prolongadas. O segundo
aspecto é o agravamento do efeito estufa pela queima de combustível fóssil. A
questão do horário é uma facada em uma economia que já está fortemente ferida. Considero
impressionante que em apenas meio ano após a copa do mundo de futebol, o Brasil
(que realizou a copa das copas. Será?) enfrente restrições de energia elétrica. O
governo federal não declarou em 2014 para os “pessimistas de plantão” que a
oferta de energia era abundante?
A única coisa com algum sentido do
discurso do ministro foi o plano para lâmpada Led. Infelizmente ele é mais
discurso do que fato. Seria bom o atual governo rever suas estratégias. Este
preâmbulo permite destacar a importância da economia dos aplicativos no nosso
estilo de vida atual. Para quem não sabe a economia dos aplicativos é definida
como a utilização em larga escala de aplicativos móveis como canal de
relacionamento entre as empresas e os consumidores ou entre empresas e
funcionários, parceiros e fornecedores
Já existem exemplos concretos da
presença dela no nosso dia a dia. Ao comprar uma televisão, estabilizador de
energia, geladeira, carro e etc. os usuários recebem aplicativos que permitem
configurar e monitorar o equipamento adquirido. Em pouco tempo os consumidores
ficam dependentes destes aplicativos que controlam desde o consumo de energia
elétrica até a rotina de manutenção dos equipamentos com agendamento automático.
Neste caso, a economia dos aplicativos participa do processo de pós-venda dos
fabricantes e fornecedores. Os aplicativos oferecem informações valiosas sobre
o perfil de utilização e permitem explorar importantes oportunidades de
negócio. As informações sobre utilização e manutenção geram dependências pela excelência
e são extraordinárias ferramentas para a fidelização dos clientes.
Existem também os aplicativos que
funcionam na etapa de pré-venda de alguns produtos como a lâmpada Led mencionada
pelo ministro. A comparação da lâmpada led com a fluorescente e incandescente
mostra que é preciso fazer cálculos bem acima do nível trivial para revelar as
suas vantagens e benefícios para o consumidor. O preço de varejo mostra que ela é
bem mais cara que a lâmpada incandescente, mas gasta muito menos energia e gera muito menos calor.
Nas altas temperaturas brasileiras a
geração do calor das lâmpadas incandescentes é combatida pela refrigeração do
ar condicionado, ventiladores e etc. Este consumo extra de energia elétrica só
ocorre por causa do calor gerado pelas lâmpadas incandescentes, portanto este
custo também deve entrar na comparação das lâmpadas. Vendedores e consumidores
comuns tem muita dificuldade para calcular todos os fatores e o aplicativo é uma
excelente solução como ferramenta de vendas e tomada de decisão. Existe uma
enorme quantidade de equipamentos que tem a mesma característica de
complexidade de avaliação do custo e benefício que a lâmpada led.
Como efeito de comparação é possível afirmar
que uma lâmpada de 100 Watts incandescente produz a mesma quantidade de luz de
uma de 23 Watts fluorescente compacta e de uma de 14Watts Led. Apenas a lâmpada led não produz calor. A lâmpada led converte 95% da energia consumida em luz e
dura em média entre 30 e 50 mil horas e a lâmpada incandescente converte apenas
10% da energia consumida em luz e dura em média mil horas.
A grande quantidade de variáveis da
equação do benefício é o principal motivo pelo qual a família de aplicativos de
pré-venda de lâmpadas led vem crescendo tanto. A distorção das informações é
tão intensa que existe uma enorme janela de oportunidades abertas para a
economia dos aplicativos. Os aplicativos de chame táxi como “Easy Taxi” são
exemplos de como as aplicações de pré-vendas já estão presentes no nosso dia a
dia.
A sharing economy ou consumo colaborativo
ou economia colaborativa é extremamente favorecida com a economia dos
aplicativos na etapa de pré-venda. O consumo colaborativo ocorre quando as
pessoas compartilham a utilização de um bem comum. O compartilhamento pode
ocorrer por causa de horários de utilização diferenciados por causa da
sazonalidade, por necessidades complementares e etc.
Um sério candidato para o consumo
colaborativo no futuro é o carro particular. Em pouco tempo as pessoas estarão
compartilhando carros e garagens através de aplicativos. Esta imensa base de
informações poderá ser utilizada pelos governos para políticas públicas da
ocupação do espaço nas cidades. A necessidade de otimização do consumo de
energia no Brasil destacada pelo ministro de Minas e Energia do Brasil deve
fazer parte do dia a dia porque a água é um recurso finito e escasso.
Infelizmente apenas na crise o atual governo acordou para a ênfase de eliminar
as perdas e desperdícios do consumo de energia elétrica.
A economia dos aplicativos é sem sombra
de dúvida um elemento chave para direcionar a população para a otimização dos
seus gastos energéticos. A governança da TI verde pode ser facilitada
pelos aplicativos de pré-venda, pós-venda, compartilhamento e otimização. É
evidente que não tem sentido algum gastar bilhões de reais na iluminação
pública por led se dentro das casas e empresas existe um gasto de energia
elevado e desnecessário via televisores de tubo de raios catódicos, portais
de Internet de cores claras e iluminadas, caixas eletrônicos que estão ligados
e não funcionam, eletrodomésticos que produzem mais calor que o necessário, computadores com fontes de alimentação de baixa eficiência e etc.
Um exemplo da área de Tecnologia de
Informações e Comunicações deixa bem claro o enorme espaço que existe para
reduzir o consumo de energia sem racionamentos ou maiores sacrifícios da
população brasileira. Um típico datacenter nacional tem Power Utilization
Efficincy (PUE) de 2,4. Lembro que o PUE é a razão entre o consumo total do
datacenter (inclui refrigeração, iluminação e etc.) pela energia consumida
pelos equipamentos de tecnologia. O melhor PUE possível é 1,0. Um PUE de 2,4 significa
que os datacenters que são centrais de computadores que consonem muita energia
estão consumindo 2,4 Watts por hora para uma necessidade de apenas 1,0 Watt
por hora. Elas estão transformando em calor inútil, ou seja, desperdiçando
quase 60% da energia paga. Numa economia em ajuste como a brasileira em 2015
com crise de água e energia isto significa que estamos jogando no lixo muito dinheiro
e energia elétrica. A economia dos aplicativos está ai para resolver vários
desafios brasileiros. Seria bom ver o ministro Eduardo Braga acordar para ela e
criar mecanismos para solucionar o grave problema nacional de energia elétrica.
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