Produtividade
Total dos Fatores
Toda
vez que o Brasil entra em crise ou em recessão profunda os temas produtividade,
custo Brasil e flexibilização das leis e benefícios trabalhistas entram em
ebulição na pauta da agenda nacional. Desde os anos 1980 estes três assuntos
estão sendo discutidos e até o ano de 2016 inexistem respostas concretas e
realistas.
Apesar
do gigantesco volume de conversas inexistem acordos e consensos. Sugestões
antigas são reapresentadas com novos formatos e são proferidos à exaustão discursos
catastrofistas como “O Brasil vai quebrar sem as reformas (previdência social,
leis trabalhistas e legislação tributária)”. Na pratica o discurso focado no
medo não vem gerando consenso na sociedade. Como já ocorreu no passado, muito está
sendo dito e nada acontece. As pessoas simplesmente “não compram” as propostas que
são apresentadas como solução dos problemas nacionais. Em outras palavras, o
Brasil entrou em “loop” nos aspectos relacionados com a produtividade da
economia.
A
leitura do artigo do principal evangelista do Service
Desk
no Brasil
intitulado “Zeus e a Produtividade: sua capacidade divina de assumir várias
formas” (http://www.4hd.com.br/blog/2016/03/23/zeus-e-a-produtividade-sua-capacidade-divina-de-assumir-varias-formas/, acessado em
28/03/2016) revelou que apesar de antigo, o conceito da Produtividade Total dos
Fatores (PTF) ainda não foi incorporado nas conversas. O meu primo de Porto
Alegre que resolveu recentemente embarcar no iate da produtividade vai reclamar
e protestar.
Como
todos sabemos a produtividade é o quociente entre o resultado alcançado e o
esforço realizado considerando os recursos utilizados. Muitos simplificam esta
equação considerando no denominador apenas os esforços e recursos físicos.
Esquecem de levar em conta os valores imateriais. O resultado deste
esquecimento é que muitos concluem que para aumentar a produtividade é preciso
ou aumentar os resultados alcançados (por exemplo através de aumento de preços)
ou reduzir a quantidade do esforço físico realizado considerando os recursos
utilizados. A apresentação de apenas duas possibilidades é uma falácia que vem
sendo repetida por muitos há muitos anos.
É
preciso considerar o capital intelectual ou conhecimento na equação da
produtividade. A PTF entra no jogo porque o capital intelectual faz muita
diferença. Para exemplificar porque a produtividade total dos fatores pode
representar até 60% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país
vou desvendar um caso bem simples e comum. Eu e o meu vizinho temos uma
propriedade rural. A comparação de cada um dos átomos físicos destas duas
fazendas e dos recursos para a produção revela absoluta igualdade. No entanto,
apesar das igualdades físicas o meu vizinho termina a preparação do terreno um
mês antes do que eu.
É
fácil perceber que a produtividade dos esforços e recursos utilizados impacta o
resultado final da produtividade. O meu vizinho consegue este resultado
superior porque ele mapeou todo o terreno e planeja antecipadamente cada ação
da sua preparação. Como eu não tenho este capital intelectual ou conhecimento eu
saio para o campo com o trator com um determinado garfo e no meio do trabalho
descubro que naquele pedaço do terreno eu preciso de um garfo diferente. Isto
me obriga a retornar e trocar de garfo. Eu perco muitas horas realizando este
procedimento. O meu vizinho que conhece em minucias o perfil do terreno, planeja
as suas ações para sempre sair de casa com o garfo certo conectado no trator. O
conhecimento faz toda a diferença para a produtividade.
O
artigo “Produtividade e Armadilha do Lento Crescimento” (https://fernandonogueiracosta.wordpress.com/2015/04/14/produtividade-e-armadilha-do-lento-crescimento/, acessado em
28/03/2016) revelou que o Brasil padece do mesmo mal que vem fazendo a minha
fazenda ser menos produtiva que a do meu vizinho. Os exemplos revelam que não
sou o único que esqueceu da produtividade total dos fatores. O artigo “Baixa
produtividade da construção compromete remuneração do trabalho” (http://www.fiesp.com.br/observatoriodaconstrucao/noticias/baixa-produtividade-da-construcao-compromete-remuneracao-do-trabalho/, acessado em
28/03/2016) revela o problema da baixa produtividade na construção civil no
Brasil.
No
texto foi afirmado que entre 2000 e 2013 a produtividade do trabalho na
construção civil ficou estagnada. Ou em outras palavras, considerando toda a
evolução tecnológica que ocorreu no período, a produtividade da mão de obra foi
negativa. Os trabalhadores não conseguiram conquistar benefícios de
produtividade com as novas tecnologias introduzidas na construção civil. Em
2013, cada trabalhador da construção civil brasileira gerou valor agregado de US$
18.900. O valor médio dos 29 países analisados foi de US$ 57.800. Como
consequência da estagnação de uma produtividade que era baixa, a remuneração do
trabalhador brasileiro é a menor entre os 29 países avaliados. Em outras
palavras a menor remuneração gerou como resultado o pior valor agregado.
A
conclusão final é que o Brasil apresenta um dos maiores custos e preços para o
metro quadrado da construção civil (Em 2015, ocupou a 39ª posição na listagem
dos metros quadrados mais caros do mundo. Fonte: EUA lideram ranking das ruas
com o metro quadrado mais caro do mundo, http://gq.globo.com/Prazeres/Poder/noticia/2015/11/eua-lidera-o-ranking-das-ruas-com-o-metro-quadrado-mais-caro-do-mundo.html, acessado em
28/03/2016) por causa da baixa produtividade da mão de obra e dos recursos
utilizados.
Os
números gritam algumas revelações. A primeira é que o aumento do preço de venda
do metro quadrado da construção civil ocorrido nos últimos anos, não gerou
aumento da produtividade. Ou seja, os que acreditam que podem aumentar a
produtividade pela majoração do numerador da equação estão equivocados. A
segunda revelação é que a redução do denominador através de baixos salários e
benefícios para a mão de obra também não é capaz de aumentar a produtividade.
Os números do Brasil da construção deixam bem claro que as propostas para
flexibilização das leis e benefícios trabalhistas não são condição necessária e
suficiente para aumentar a produtividade. É preciso ir além das atuais
propostas para tirar o país da recessão.
Tenho
certeza que o primo de Porto Alegre vai estrilar, mas já está na hora de ir
direto ao ponto. É de fundamental importância qualificar os serviços de Tecnologia
de Informações e Comunicações (TIC). Uma grande parte da evolução tecnológica
da construção civil entre 2000 e 2013 está relacionada com TIC. Não podemos
fazer mais do mesmo e afirmar que a produtividade da mão de obra da construção
civil não avançou por causa apenas da qualificação dos trabalhadores. Uma
grande parte desta estagnação é consequência direta das falhas dos sistemas de
TIC e da baixa qualidade dos serviços do Service Desk.
No
dia 30 de julho 2015, eu estava no Shopping Frei Caneca na cidade de São Paulo.
Ao resolver tomar um café as 10 horas na loja Starbucks eu descobri que a mesma
estava com o seu sistema TIC inoperante e as vendas estavam interrompidas
porque não existia uma previsão para o seu retorno. Como não foi a primeira vez
que presenciei tal situação eu resolvi pesquisar o impacto das
indisponibilidades de TIC na produtividade brasileira.
Eu
selecionei os seguintes artigos para exemplificar os problemas: “Brasileiras
perdem US$ 18 milhões com indisponibilidade de aplicações”, http://computerworld.com.br/brasileiras-perdem-us-18-milhoes-com-indisponibilidade-de-aplicacoes, “Site e caixas
eletrônicos do Itaú ficam fora do ar após queda de sistema”, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1666808-site-e-caixas-eletronicos-do-itau-ficam-fora-do-ar-apos-queda-de-sistema.shtml?mobile, “Black Friday 2014
frustra quem esperava evolução do e-commerce brasileiro”, http://idgnow.com.br/blog/circuito/2014/11/29/black-friday-2014-frustra-quem-esperava-evolucao-do-e-commerce-brasileiro/, “Caixa diz que
sistema voltou ao normal e vai abrir 1 hora antes nesta sexta”, http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/11/06/caixa-abre-uma-hora-mais-cedo-nesta-sexta-por-causa-de-falha-no-sistema.htm, acessados em
28/03/2016). Todos os casos mostram que as falhas de TIC reduziram a
produtividade dos trabalhadores. Não são casos de falta de qualificação da mão
de obra do negócio.
O
caso da loja Starbucks do Shopping Frei Caneca em 30 de julho 2015 revelou
também como as práticas empresariais adotadas no Brasil estão reduzindo a nossa
produtividade. O Brasil não tem a exclusividade de falhas nos sistemas de TIC
que impedem a abertura do caixa de uma loja. Isto também acontece nos Estados
Unidos. No entanto, a cultura empresarial norte americana é bem diferente da
brasileira. No nosso caso, a indisponibilidade fez com que os funcionários
avisassem os clientes que a loja estava fechada. Nos Estados Unidos, a atitude
é bem diferente. Mesmo com o sistema inoperante a loja é aberta e os clientes
são atendidos. Isto ocorre basicamente por três motivos.
O
primeiro é que se o cliente não for atendido ele vai acabar indo para uma outra
loja (no meu caso eu escolhi a Kopenhagen) e existe o risco do cliente gostar
dos produtos e serviços recebidos e deixar de ser seu consumidor. O segundo
motivo é que ao processar manualmente todos os atendimentos, a loja é capaz de
quantificar exatamente quanto ela perde por causa de uma falha de um sistema de
TIC. Fica claro para os gestores qual a relação entre o custo e benefício para
investimentos em segurança de TIC. O terceiro motivo é que não existe nada mais
frustrante na cultura americana do que ir ao trabalho e ficar sem fazer nada
por causa de um computador. Ao escolher pela operação normal. os trabalhadores
não ficam ociosos e sem motivação. É frustrante estar no trabalho e
simplesmente não poder fazer nada por causa de uma falha de um equipamento.
No
Brasil, a escolha pelo fechamento da loja não é capaz de motivar os
funcionários para serem proativos (justificar para o patrão que devem trabalhar
mesmo sem condições de cobrar os clientes) porque eles não têm perspectiva de
longo prazo na empresa. Se o cliente mudar para a Kopenhagen, isto não é um
problema, porque quando o Starbucks começar a sofrer com a falta de clientes
eles estarão trabalhando em uma outra empresa. Ou em outras palavras, a
política empresarial brasileira desfavorece o crescimento da produtividade.
É
bastante claro que é possível evoluir muito em termos de ganhos de
produtividade sem a realização de reformas estruturais na economia (elas são contestadas
por muitos trabalhadores). Existem soluções mais simples e óbvias que podem ser
realizadas. Basta olhar para os países mais avançados e copiar. No caso das
falhas de suporte dos sistemas de TIC, existe um enorme espaço que as empresas
de tecnologia podem ocupar. No entanto, elas precisam olhar com mais atenção a
questão da qualificação e acabar com o preconceito contra o cabelo branco.
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