segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Olhar para o futuro

Muitos olham para 2016 como o ano da travessia para um Brasil melhor. Eu espero que eles estejam certos. É possível um crescimento da ordem de 0,5% do PIB em 2017. Nos meus encontros com os empresários eles me perguntam como apressar o crescimento? O que podemos fazer para retornar para patamares de crescimento de 3%?

A minha resposta para eles é que dentro dos parâmetros da economia tradicional onde existe escassez de recursos, o crescimento estará limitado pelo investimento. Como existem muitas incertezas nos marcos regulatórios brasileiros, o investimento internacional será baixo. Isto significa que para acelerar o crescimento será preciso entrar no barco da economia do compartilhamento.

Apenas um segmento econômico que permita a entrega de soluções para os clientes e consumidores com nível de investimento e custo fixo baixo ou nulo será capaz de alavancar ou catapultar o crescimento da economia brasileira. A principal característica deste segmento é a necessidade de elevado capital intelectual e conhecimento. Isto significa que é preciso romper com todos os preconceitos que existem nas contratações (em especial o preconceito do cabelo branco). É preciso foco e contratar os funcionários conforme as suas qualificações. Este ponto da evolução das contratações representa o valor de x que resolve a equação do crescimento pífio do PIB nacional.

Eu avancei a minha apresentação para um território onde geralmente eu não entro. Resolvi incorporar o espírito natalino de dar presente e oferecer sugestões concretas e gratuitas de elevado potencial comercial para todos os empresários, executivos e políticos presentes. Eu apresentei uma dificuldade que é uma grande parte dos aposentados brasileiros estão enfrentando e que representa uma grande oportunidade de negócio. Centenas de milhares de aposentados recebem diariamente repetidas ligações que são tentativas de fraudes. Estas ligações ocorrem repetidas vezes nos seus telefones fixos e em geral são feitas em horários inconvenientes. Os malfeitores usam este estratagema para que os aposentados sejam pegos desprevenidos.

Existem vários sites de internet que registram em banco de dados os números dos telefones de pessoas ou empresas (por exemplo, http://quemperturba.com.br, http://www.quemliga.com.br/) que ou praticam fraudes ou que se julgam no direito de ligar várias vezes por dia para as pessoas oferendo produtos que ninguém deseja comprar. Uma simples caixa externa conectada ao telefone fixo que examine o número chamador e compare com a base de dados existente na Internet de fraudadores e de vendedores que desrespeitam os clientes pode bloquear automaticamente estas chamadas impedindo assim que os aposentados sejam incomodados no seu merecido descanso com fraudes e enganações.

Tanto o poder público, como os bancos, como as operadoras de cartões de crédito, como os lojistas, como os cidadãos brasileiros serão beneficiados com tal solução. É fácil perceber que um dos membros desta cadeia de valor paga por compras que não foram realizadas por ele. Milhões de reais são perdidos anualmente por compras não realizadas e por custos de chamados sobre fraudes.  Os custos administrativos do estorno dos valores estão alcançando quantias estratosféricas. Os impostos que são gastos no processamento jurídico destas fraudes são enormes. Muito pode ser feito pela saúde e educação pública se os custos gerados pelos que efetuam malfeitos pelo telefone forem eliminados.

Uma das consequências destas fraudes é o aumento da inadimplência por parte dos que estão pagando por compras que não realizaram. Toda vez que temos que arcar por uma despesa não desejada, não planejada e elevada existe um comprometimento do fluxo de caixa. Muitas vezes isto significa em deixar de pagar alguma coisa. Como consequência do aumento da inadimplência a taxa de juros sobe. Os juros de quase 500% do crédito rotativo do cartão de crédito é uma das consequências das fraudes geradas pelo telefone fixo. Não é um crime que é pago individualmente. Toda a sociedade acaba pagando por este tipo de crime.

A grande vantagem da caixa de bloqueio de ligações através da economia compartilhada é que no médio prazo a operação das fraudes será inviabilizada. Com a propagação do seu uso pelo público alvo a maioria das fraudes por telefone será bloqueada antes que os aposentados atendam o telefone. Após um prazo de aproximadamente um ano estes malfeitores não mais conseguirão alcançar de forma barata o seu público alvo. As suas operações serão inviabilizadas e os custos que a comunidade paga decorrentes das fraudes e enganações desaparecerão. É um jogo em que toda a sociedade ganha pela economia compartilhada.

Uma segunda sugestão concreta nasceu de uma dificuldade que enfrentei recentemente no mês de dezembro de 1016. Um celular que comprei em 2012 e que gosto muito precisou de manutenção. Levei para várias lojas de reparo localizadas na avenida Paulista. O principal defeito dele é que ele não ligava e nem carregava a bateria. Como discordei do procedimento de recuperação que os técnicos queriam realizar no meu aparelho eu decidi usar os meus conhecimentos e fazer o reparo. Para tal eu necessitava de uma fonte ajustável de bancada, onde pudesse controle a tesão e a corrente entregue ao celular. Após dezenas de ligações eu descobri que na cidade de São Paulo eu só conseguiria comprar uma fonte à pronta entrega nas lojas da Santa Ifigênia. Como tenho restrições de segurança e econômicas para ir até o local eu procurei nos sites de compartilhamento se alguém perto de mim poderia me alugar a sua fonte. Inexistiu sucesso nesta empreitada.

Fazendo as contas eu percebi que poderia fazer uma oferta vantajosa pelo aluguel de uma fonte de alimentação junto aos pequenos empreendedores que estavam com o equipamento ocioso por um aluguel de uma semana. Cheguei ao meu máximo e ofereci 33% do valor da compra de uma nova fonte aos que mantinham o negócio de reparo de celular. Tudo isto porque eu não queria ir para a Santa Ifigênia. Nem com uma oferta ousada e me propondo a usar o equipamento no local do empresário eu consegui convencer os donos das vantagens de alugar um equipamento ocioso. A solução foi ir na Santa Ifigênia, gastar com um taxi que me esperou na porta da loja e fazer o reparo em casa em algumas horas. Todo este cenário mostrou como a economia do compartilhamento está engatinhando no Brasil. No pais mais rico do mundo é possível alugar qualquer coisa para uso esporádico e conforme a necessidade. A rentabilização dos ativos que possuímos é mais uma forma de sair da crise em prazo menor. Se o Brasil quer acelerar a velocidade do crescimento, ele precisa mudar a sua cultura e entrar com força na economia do compartilhamento.

A terceira e última contribuição que ofereci vem também da constatação que fazer o simples e obvio é o caminho para acelerar o crescimento do PIB. Muitos condomínios residenciais estão recebendo gratuitamente televisões onde metade da tela é usada para apresentar um conteúdo comercial e metade é usado para apresentar informações relevantes do condomínio. Na parte do conteúdo comercial, são apresentadas ofertas de várias empresas de grande porte que tem acesso a todos os tipos de mídia. No entanto, inexiste espaço para a apresentação de ofertas das empresas que estão geograficamente próximas do condomínio. Estas pequenas empresas somadas podem oferecer uma elevada renda para a empresa que é proprietária da televisão instalada nos elevadores dos condomínios residências. É um mercado enorme que não está sendo explorado e que o primeiro que resolver desbravar vai conquistar bilhões de reais.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Oportunidades Natalinas

Inexistem dúvidas que o Brasil está em crise grave. O país ou melhor a população mais pobre está pagamento uma conta bilionária causada pelos erros e desperdícios da copa 2014 e das olimpíadas 2016. Muitos estão pagando com o seu emprego os descalabros cometidos pelos governos pós 2002. Infelizmente o país ainda está cego para as oportunidades do ano de 2016. Muitos insistem ferozmente na cultura do atraso. Os que estão percebendo o elevado nível de dificuldade social do pais, estão constantemente me perguntando como rentabilizar os eventos de solidariedade nesta época de final de ano.

Eu trabalho na região da avenida Paulista e nesta época temos muitos corais cantando em locais como o shopping center 3. A grande maioria dos artistas é formada por jovens e crianças. Os shows são excelentes. Muito bom mesmo. Em geral eles ocorrem no horário do almoço. Apesar de um roteiro excelente para rentabilizar em escala os shows, existe uma insistência em fazer da mesma forma que era feito no ano de 2000. Hoje em dia é possível gravar em Digital Versatile Disc (DVD) e em plataformas em tempo real como YouTube ou Vine de forma simples e barata todas as performances destes extraordinários artistas.

Muitas pessoas não têm tempo para ver presencialmente todo o show. Elas precisam almoçar em uma hora. A maioria das pessoas que puderam assistir aos shows, ficaram encantadas e queriam compartilhar o momento com pessoas queridas. Um DVD das performances é por exemplo um excelente presente de amigo secreto. Também é algo marcante que as empresas podem presentear os seus clientes e os seus amigos empresariais.

É só colocar uma lojinha do lado do show oferecendo a sua gravação ao vivo. É só imprimir uma capa com a foto dos artistas. Um grande e barato produto pode ser produzido em tempo real conforme a demanda. A solidariedade natalina pode ser enormemente amplificada com recursos baratos e simples do ano de 2016. Nos canais digitais podem ser abertos espaços patrocinados. Hoje temos todos os meios para amplificar a solidariedade. Está mais do que na hora de usar a transformação digital a favor do povo brasileiro.


No crepúsculo do ano, o Brasil faz de novo a alegria dos que acham que os que tem certezas são candidatos naturais ao Titanic ou daqueles que acham que é possível definir o comportamento de um mercado com base em apenas 0,5% do volume transacionado. Para quem acha que o comportamento de 99,5% do mercado não é capaz de definir com clareza a sua natureza temos esta realização registrada em dois artigos: “Após prazo, 63% dos municípios ainda não têm prontuário eletrônico” e “151 municípios podem ter repasse do Ministério da Saúde suspenso”. Todos os que vivem com certezas do ano de 2016 sabem que para evitar retrabalhos, desperdícios e incertezas (garantir o cumprimento do prazo por todos os envolvidos) era só ter desenvolvido um único sistema de prontuário eletrônico no Brasil em uma nuvem elástica para o uso por todos os municípios. Simples assim.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Diferenças entre 2016 e em 2000 – Certezas ou incertezas?

O final de novembro foi marcado pela tristeza da Chapecoense (#ForçaChape). Foram vários dias de reflexões e preocupações. Muitos fatos marcaram a minha memória nos últimos dias. As demonstrações de solidariedade do mundo inteiro foram um deles. No campo das reflexões empresariais muitos questionaram a minha última postagem. Quais são afinal as diferenças que tanto destaco entre os anos de 2016 e 2000?

O final do milênio foi marcado no ambiente de tecnologia de informações e comunicações pelo bug do milênio e bolha da Internet. Nos últimos anos do século XX quase tudo o que foi desenvolvido para a chamada na época de nova economia tinha crescimento exponencial. Era a era da exuberância irracional do Ben Bernanke (https://en.wikipedia.org/wiki/Irrational_exuberance). Em praticamente todas as análises sobre a Internet aparecia a palavra desintermediação. A globalização estava em alta e a desintermediação significava a venda direta ou a redução de intermediários na cadeia produtiva.

Na primeira era de ouro da Internet o foco era a simplificação das cadeias globais através do B2B (https://pt.wikipedia.org/wiki/Business-to-business) e B2C (https://pt.wikipedia.org/wiki/Business-to-consumercitar). A desintermediação foi implementada pela eliminação de membros da cadeia produtiva mundial. Entre a segunda metade da última década do século XX e a primeira metade da primeira década do século XXI surgiram no Brasil vários negócios desintermediados como o Celta da GM (http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u5216.shtml), a livraria Booknet (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/5/25/ilustrada/16.html), o ecommerce Amélia (http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pao-de-acucar-lanca-dois-sites-para-comercio-eletronico,20011121p56162), o buscador “Cadê?” (https://sites.google.com/site/historiasobreossitesdebusca/historia-dos-principais-sites-de-busca/cade) e etc.

Todos tinham a característica de eliminar intermediários do processo. Alguns foram bem-sucedidos, outros foram comprados por empresas americanas e uns poucos fracassaram. Apesar do aspecto explosivo, existia o consenso que a chamada nova economia não iria impactar os mercados locais. Negócios regionais como a indústria de serviços não seriam atacados pelo processo de desintermediação global.

A internet evoluiu desta sua primeira era de ouro e passou pelo ciclo de redes sociais marcado pelo Orkut e Second Life. Este ciclo teve um boom inicial, mas em pouco tempo sucumbiu diante das imperfeições das informações e entrou em ciclo de rápida contração. A partir da segunda metade da primeira década do século XXI as mídias sociais assumiram o papel de protagonistas da internet e da economia digital. É a chamada segunda era de ouro da Internet.

Como as grandes cadeias globais já foram desintermediados, o alvo passou a ser a globalização dos mercados regionais. Este ciclo iniciado pelas mídias sociais atacou os mercados regionais que estavam protegidos na etapa anterior da globalização. No primeiro momento as empresas de Internet que ofereceram serviços de telecomunicações entraram no mercado local. No Brasil empresas como WhatsApp tomaram para si uma grande parte do mercado das operadoras de telecomunicações ("É um aplicativo que cresceu em países pobres. Ninguém nos EUA usa, por exemplo", observa Ronaldo Lemos, representante do MIT Media Lab no Brasil e colunista da Folha.”, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/11/1835982-grupos-de-bate-papo-entre-estranhos-se-disseminam-no-whatsapp.shtml). Estas empresas ganharam enorme penetração no mercado local. O fato dos servidores de comunicação ficarem fisicamente localizados nos Estados Unidos gerou um fluxo econômico de importação de serviços por causa do duplo salta da comunicação. Como a rede de comunicação internacional é cara, isto significou que a troca de mensagens por Apps geraram lucro para as operadoras de telecomunicações americanas.

No segundo momento nasceram as empresas plataformas como Uber, Airbnb, Gigwalk e etc. que ofereceram recursos integrados com as mídias sociais para a realização de negócios regionais. As entregas de serviços de transporte, turismo, colocação profissional continuou a ser feita de forma local, mas o processo de negócio foi transferido para uma plataforma global. As empresas plataforma recebem uma participação da transação. É uma outra forma de importação de serviços. O modelo de plataforma de negócio fez toda a diferença no mundo globalizado. Negócios de entregas tipicamente locais como dentistas, cuidadores, médicos, jardineiros, transporte, logística, entregas e etc. estão em forte processo de migração para plataformas globais.

As plataformas intermediam as transações e retém uma para do faturamento. É fácil perceber que o modelo de negócio de 2016 avançou sobre setores que estavam totalmente protegidos na economia brasileira de 2000. Este é o principal motivo pelo qual é preciso estar vivendo no ano calendário. Não é uma questão de estar usando a tecnologia x, y ou z como muitos estão propagando. A questão da tecnologia na forma de Application Programming Interfaces (APIs), Apps, Chatbots, Computação Cognitiva, Inteligência Artificial e etc. não é relevante ou importante. Eu sempre reforço nas minhas conversas com os empreendedores que esqueçam a tecnologia. Ela não é o foco. O alvo é o modelo de negócio. É esta atualização que eles precisam perpetrarem. A tecnologia é consequência do modelo de negócio escolhido.

Não é possível concorrer contra os que tem custo marginal unitário zero e vivem na era da abundância dos recursos trabalhando em um modelo de custo marginal unitário elevado e vivendo na era da escassez. É esta atualização que o Brasil precisar fazer urgentemente. Não dá mais para conviver em um universo de incertezas em um ambiente de negócios onde predominam as certezas.

Observação: Todos os endereços foram acessados em 07/12/2016