Muita
gente fala e escreve sobre a falta de investimento em inovação no Brasil.
Muitos destacam que a inovação nacional sofre do mal crônico da falta de
dinheiro e este aspecto é a principal justificativa para que o país inove tão
pouco. Com a esperança de resolver o problema do dinheiro, os
especialistas em empreendedorismo estão viajando frequentemente para a região do
vale do silício nos Estados Unidos para captar dinheiro para as inovações
brasileiras.
Estas
pessoas realmente acreditam que desta forma vão destravar as restrições e
conseguirão alavancar as inovações brasileiras. Infelizmente, estes profissionais
insistem em ignorar que muitas das empresas inovadoras nasceram com um capital
financeiro muito baixo. Também é fácil perceber que os fundadores destas companhias
eram na maioria das vezes pessoas comuns. Os casos mais recentes da Alibaba e Facebook
ou os menos recentes da HP, Apple, Microsoft, Google e etc. exemplificam como
pessoas sem formação universitária e dinheiro conseguiram criar negócios
inovadores.
Em
uma conversa recente com um importante empresário nacional sobre a
produtividade, percebemos que existe uma dificuldade estrutural nas corporações
nacionais de todos os portes. Quando comparamos a riqueza gerada por um
funcionário em uma empresa americana com uma brasileira fica nítido que existe
um profundo abismo. As melhores empresas americanas no indicador lucro
por funcionário tem uma diferença acima de cem vezes neste índice em relação as
melhores companhias brasileiras. A explicação mais usada para esta diferença colossal
é o nível de educação.
No
entanto, mesmo na situação de exagero extremo de avaliação da educação, o
resultado de cem vezes é inconsistente. Quanto o nível educacional
americano pode ser melhor que o brasileiro? Com profundo exagero é possível
imaginar que a educação do americano é três vezes melhor. Em outras palavras é impossível
explicar a diferença de geração de riqueza por funcionário através apenas da
educação. O resultado geração de riqueza do trabalho de um americano com nível
básico de educação é maior que um brasileiro especializado com MBA ou mestrado
e doutorado. Claramente o nível de educação não consegue explicar totalmente a
diferença na geração da riqueza empresarial.
É
preciso desvendar este mistério. A análise do modelo de negócio para o capital
intelectual das corporações oferece um excelente conjunto de métricas para o
entendimento da abissal diferença de riqueza gerada pelos funcionários
americanos e brasileiros. No caso americano, o modelo de negócio incentiva as
contribuições individuais e coletivas dos funcionários para a melhoria contínua
do negócio. As corporações americanas estabeleceram regras para um
relacionamento de longo prazo entre a empresa e colaborador com recompensas
financeiras e monetárias sustentáveis. As pessoas estão envoltas em um
ambiente colaborativo onde as ideias individuais são compartilhadas e evoluídas
gerando assim um importante capital intelectual coletivo. A confiança é a base
do modelo que privilegia a relação de longo prazo. As pessoas desenvolvem
as suas carreiras nas empresas e com isto colhem os resultados dos trabalhos
por muitos anos.
Uma
forma fácil de entender a consequência da confiança e relacionamento no
resultado do negócio é através do exemplo a seguir. Todos os dias as empresas
de todos os portes enfrentam uma infinidade de pequenos desafios. Normalmente,
os funcionários atentos e capacitados reconhecem estes problemas e identificam
inovações que os resolvem. Quando existe uma gestão corporativa que valoriza o
relacionamento de longo prazo as pessoas apresentam voluntariamente propostas
de melhorias. Elas fazem isto porque colhem (por diversos anos) monetariamente
e financeiramente os resultados das inovações. Quando as corporações tem práticas de relações
instáveis de curto prazo e demissões dos funcionários após os 40 anos de idade,
as pessoas continuam enxergando inovações que resolvem os problemas e melhoram
o resultado do negócio. No entanto, elas são desconfiadas e resistentes e não
as apresentam de forma voluntária.
Elas tem total certeza que não vão participar do resultado do seu trabalho. Um
ambiente em que não existe confiança entre os funcionários e entre os
colaboradores e a empresa inibe a inovação. Este é o principal motivo
porque o Brasil inova tão pouco em relação aos Estados Unidos, Europa, Coreia
Japão e China.
O
modelo de negócio americano para o capital intelectual humano favorece um
relacionamento de longo prazo em que todos colhem os frutos do seu trabalho por
muitos anos. O modelo brasileiro é baseado no aqui e agora e o curtíssimo prazo
resulta na adoção apenas de paliativos. É como tomar remédio contra dor de
cabeça todos os dias sem analisar a sua causa. As empresas estão perdendo
competitividade porque escolhem vender o almoço para comprar o jantar e repetem
esta prática em todas as refeições. O resultado final é a sub nutrição.
Dinheiro
nenhum é capaz de resolver o grave problema da falta de confiança. Os
funcionários não apresentam sugestões porque sabem que vão trocar de emprego em
dois ou três anos. Neste contexto, as inovações só aparecem quando são
compradas. E neste caso, elas custam muito dinheiro. Como a maioria das
empresas nacionais não tem recursos, a consequência é a carência da inovação.
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