O
Brasil cometeu nos anos 1980 um grave equívoco em relação as novidades (algo
que não existe até então) e inovações que perdura até os dias de hoje. A
justiça nacional, estimulada por um processo trabalhista impetrado por um
grande banco, interpretou a CLT de tal forma que os direitos intelectuais e
autorais de uma novidade pertencem aos proprietários das ferramentas utilizadas
pelos funcionários no seu desenvolvimento.
Após o
estabelecimento deste marco jurídico várias empresas incluíram no contrato de
trabalho cláusula que determinava que todos os desenvolvimentos e invenções
realizados pelos funcionários eram propriedade autoral e intelectual da
organização. A justiça trabalhista brasileira simplesmente aboliu neste
entendimento o conhecimento dos pesquisadores, engenheiros e etc. como fator
produtivo. Para os espertos era justa a decisão de tudo dar para as empresas.
É
evidente que o desequilíbrio das regras do jogo em favor das empresas gerou
consequências. Acabou o ciclo de proatividade dos funcionários na oferta de
sugestões de soluções. Os colaboradores adotaram postura reativa. Ou seja, a
empresa passou a ter a obrigação de identificar todas as oportunidades, forças,
ameaças e fraquezas e direcionar o caminho das soluções. Uma grande parte do potencial
inovativo nacional foi perdido nesta canetada da corte.
Entretanto,
o marco jurídico não foi a única presepada brasileira. Os anos 1980 foram
marcados pela revolução causada pelos microcomputadores. A grande mudança
ocorreu na velocidade dos acontecimentos. O ciclo de vida de uma novidade que
era de décadas despencou para anos.
A
economia do Brasil que entrou cambaleante nos anos 1980 passou a sofrer com a
obsolescência dos seus produtos exportáveis. Como resultado a crise nacional se
agravou com passar dos anos da chamada década perdida. Os economistas
brasileiros não entenderam o fenômeno e adotaram como solução o corte de
custos. A política recessiva cortou drasticamente posições da engenharia e como
consequência as novidades e inovações minguaram. O resultado foi crescimento do
déficit público e da balança de pagamentos, aumento explosivo da inflação, desemprego
generalizado e elevado, perda de produtividade e empobrecimento. Ou seja, uma
crise maior ainda.
Nos
anos 1990 a reengenharia foi adotada como solução dos cada vez mais graves
problemas nacionais. Alguns tiveram a brilhante ideia de demitir os
funcionários acima de 40 anos de salários maiores e contratar jovens de 20 anos
de ordenados baixos. O resultado de um marco jurídico irrealista, da destruição
da engenharia nacional e do preconceito contra o cabelo branco foi a criação
nos anos 2000 de um sistema inibidor das novidades e inovações. Ao perceber que
serão demitidos após os 40 anos, os profissionais jovens iniciaram um ciclo de
elevada rotatividade na sua carreira profissional.
Como
eles ficavam poucos anos na empresa, os funcionários não eram cobrados pelos
resultados dos projetos de médio e longo e estes eram tocados à exmo. Apenas as
iniciativas de curtíssimo prazo eram interessantes para os novos entrantes no
mercado de trabalho. É evidente que tal movimentação deprimiu ainda mais as
novidades e inovações. Tudo era copiado e improvisado.
A
consequência destes equívocos foi a derrocada para praticamente zero do nível
de criação de novidades. O Brasil virou a pátria xerox de baixa qualidade, ou
seja, só copiava. Copiava mal, com atraso e de forma muito mais cara.
O
resultado econômico é de fácil percepção. A produtividade do brasileiro é muito
menor. Competitividade pobre gera renda medíocre. Em 2017 a renda média do
brasileiro foi de R$ 2.178. O salário mínimo calculado pelo Dieese em dezembro
de 2017 era R$ 3.585,05. É muito fácil perceber que o país é incapaz de gerar um
volume riqueza suficiente para que a renda dos trabalhadores seja compatível
com uma família de quatro pessoas.
Nos
Estados Unidos, os direitos intelectuais e autorais das novidades pertencem as
pessoas responsáveis pelo desenvolvimento. As empresa tem o direito de uso das
novidades. Por isto eles tem a cultura de criação.
Além
dos problemas citados anteriormente, ainda existe a questão da falta de
confiança de um brasileiro no outro. Recomendo a leitura do livro A Cabeça do
Brasileiro do Alberto Carlos Almeida para maiores detalhes. No Brasil, o medo
do chefe ou colega roubar a ideia é tão grande que as pessoas simplesmente não
as expressam. Não existem dúvidas que o Brasil deu todos os passos na direção
da armadilha da renda insuficiente.