quarta-feira, 4 de março de 2020

PIB Brasil bombando. Só que não.


PIB Brasil bombando. Só que não.
Investimento estrangeiro cresceu 26% em 2019 (Puxado por privatizações, investimento estrangeiro no Brasil cresceu 26% em 2019, https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/01/20/puxado-por-privatizacoes-investimento-estrangeiro-no-brasil-cresceu-26percent-em-2019.ghtml, acessado em 02/03/2020).

No Brasil é comum encontrar os mercadores de falácias comemorando enfaticamente como grandes vitórias os resultados insignificantes da economia brasileira.

Quando foi anunciado o crescimento do investimento estrangeiro, muitos mercadores amplificaram a notícia como uma grande conquista da atual política econômica nacional. Foi bradado aos quatro ventos que o país passou da 9ª para a 4ª colocação entre os maiores destinos de recursos produtivos.

Os disseminadores de falácias não apreciam os números e fatos. Eles gostam apenas de avaliações superficiais. Alegam que são pessoas simples que fazem contas de padeiro. Qualquer análise analítica é complexa para quem deseja apenas uma avaliação superficial e rápida. Não existe para eles a necessidade de consistência lógica ou coerência.

Em março de 2020, o PIB do Brasil de 2019 será anunciado. O crescimento do PIB provavelmente será algo ao redor de 1%, ou seja, crescimento praticamente nulo do PIB per capita.

Os números que já foram divulgados sobre o resultado de 2019 revelam que o desempenho da economia no primeiro ano do Bolsonaro é bem semelhante ao desempenho de 2018. Segundo o IBGE o rendimento domiciliar per capita em 2029 foi de R$ 1.438,67. Em 2018, o rendimento médio per capita por domicílio era de R$ 1.373,00 (Renda domiciliar per capita do Paraná subiu R$ 13 em 2019, segundo o IBGE, https://www.bemparana.com.br/noticia/renda-domiciliar-per-capita-do-parana-subiu-r-13-em-2019-segundo-o-ibge#.XllQnEBFyVs).

Como a inflação oficial de 2019 foi de 4,31% (Inflação oficial fecha 2019 em 4,31% e fica acima do centro da meta, https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/01/10/inflacao-oficial-fecha-2019-em-431percent.ghtml) é possível trazer para valor  presente o valor do rendimento médio per capita por domicílio do ano de 2018 (R$ 1.373,00 x 1,0431 = R$ 1.432,17).

A diferença entre 2019 e 2018 é de R$ 1.438,67 - R$ 1.432,17 = R$ 6,49, ou seja, é de 0,45% (R$ 6,49/R$ 1.432,17). Em outras palavras, o crescimento do rendimento per capta foi praticamente nulo em um ano em que o investimento estrangeiro cresceu 26%.

Se tem mais investimento então tem mais riqueza (entrada extra de US$ 15 bilhões), portando o rendimento per capta também aumenta. Opa. Tem algo errado aí. O rendimento per capta não aumentou. Chama o posto Ipiranga. Tem conta errada.
O problema da análise simples dos mercadores de falácias é que o resultado da equação é incompatível com as entradas. Uma análise consistente do Investimento Estrangeiro Direto (IED) mostra que apenas 24% dos projetos são “greenfield” (projetos novos). 76% deles são de “brownfield” (aquisição de ativos existentes). Fonte: Investimentos e investidores estrangeiros no Brasil, https://www.usuport.org.br/Opiniao/488/Investimentos-e-investidores-estrangeiros-no-Brasil.

Um exemplo de IED “brownfield” foi a venda de 100% das ações da empresa paulista Santher fabricante das marcas Personal, Sym, Snob e Kiss para as empresas japonesas Daio Paper Corporation (51%) e Marubeni Corporation (49%) por R$ 2,303 bilhões (Grupo japonês compra a dona da marca Personal por R$ 2,3 bilhões, https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/02/27/grupo-japones-compra-a-dona-da-marca-personal-por-r-23-bilhoes.htm).

Foi uma mera venda de ativos que não aumentou a riqueza total. A única mudança foi a troca de proprietários.

Quando o IED é analisado em termos de valores fica bastante claro porque o extra de US$ 15 bilhões não gerou aumento de riqueza no Brasil. Os projetos brownfield que são apenas trocas de mãos de propriedade receberam 85% do valor total do IED e os projetos “greenfield” que são na prática iniciativas de crescimento da infraestrutura e do parque industrial representaram apenas 15% do IED.

Ou seja, dos 15 bilhões de dólares extras, apenas US$ 2,25 bilhões foram destinados para projetos novos que aumentam a riqueza nacional. Fonte: Análise: como os investimentos no país reagem ao cenário econômico, https://g1.globo.com/globonews/jornal-globonews-edicao-das-16/video/analise-como-os-investimentos-no-pais-reagem-ao-cenario-economico-8357661.ghtml.

Como o crescimento vegetativo da população brasileira é de 1% ao ano fica claro porque o rendimento médio per capta por domicílio praticamente não cresceu. O impacto de US$ 2,25 bilhões em uma população acima de 200 milhões é praticamente zero.


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