quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

CES 2018

A perda de um ente querido no começo deste ano mudou o meu planejamento para o CES 2018. Decidi acompanhar o evento à distância. É fácil perceber que as aplicações de inteligência artificial são a principal atração do evento. Elas foram incorporadas em praticamente todas as inovações apresentadas. Os robôs domésticos são na minha opinião a grande atração da exposição. Infelizmente o avanço da inteligência artificial representa uma enorme ameaça para os empregos no Brasil.

Os profissionais de limpeza que atuam nas escolas, hospitais, clínicas, escritórios, lojas, shoppings, residências e etc. estão com os seus empregos fortemente ameaçados no curto prazo. A dramática redução dos preços e a melhoria da qualidade da inteligência artificial dos robôs domésticos está criando um cenário economicamente viável para eles assumirem as funções de limpeza nas organizações e residências.

O Brasil deveria estar muito atento ao fenômeno, pois uma grande parte dos postos de trabalho disponíveis no mercado nacional está relacionado com as atividades de limpeza. Mais da metade das ocupações no país pode ser automatizada com facilidade. A barreira de entrada dos robôs ainda é a sua viabilidade econômica. No entanto, os custos estão caindo dramaticamente e em breve teremos a modalidade do Robô as a Service. É bastante evidente que a reforma trabalhista de 2017 não será capaz de manter os empregos ameaçados pela automação. Também é de fácil percepção que ela não vai gerar novos empregos no mercado nacional.

Isto posto é importante evitar a dramatização do cenário que é desfavorável à recuperação econômica por causa de equívocos e desvios intelectuais. Foi afirmado que: “Eu não consigo parar de pensar na previsão sombria, mas realista, que Klaus Schwab fez no seu livro “A quarta revolução industrial”. Segundo ele “até 2020 a automação poderá acabar com 50% dos postos de trabalho”.” (A quinta onda do atendimento, https://www.ninoalbano.com.br/single-post/2018/01/10/A-quinta-onda-do-atendimento, acessado em 11/01/2018).

Infelizmente as limitações da superfície de contorno do invólucro intelectual criaram uma afirmação que não existe no texto publicado no livro citado pelo blogueiro.  Na seguinte entrevista com o autor do livro “A Quarta Revolução Industrial” (https://www.conjur.com.br/2017-jun-17/entrevista-klaus-schwab-fundador-forum-economico-mundial, acessado em 11/01/2018) foi afirmado:

"Em 2016, o Fórum Econômico Mundial lançou um relatório alertando que a automação poderá acabar com 7 milhões de empregos até 2020. Além da China e da Índia, o Brasil estará entre os países com maior número de trabalhadores ameaçados de perder empregos para as máquinas. Por aqui, 50% dos atuais postos de trabalho poderão ser automatizados. Quase 54 milhões de um total de 107 milhões de vagas no país. Entre os setores com maior percentual de empregos automatizáveis do Brasil estão: a indústria, com 69% dos postos, em seguida a hotelaria, com 63% e as empresas de transporte, com 61%. - Trecho do Relatório Fórum Econômico Mundial/2016"

Não é preciso consultar um especialista na língua portuguesa falada no Brasil para perceber que foi declarado que: (i) a automação poderá acabar com 7 milhões de empregos até 2020 e (ii) por aqui, 50% dos atuais postos de trabalho poderão ser automatizados.

Isto significa que até 2020 existem 7 milhões de empregos ameaçados no mundo inteiro. A afirmação sobre 50% de empregos ameaçados no Brasil não tem prazo de ocorrência. É bem fácil perceber as diferenças. Como a primeira afirmação aborda o problema da eliminação de 7 milhões de postos de trabalho no mundo inteiro por causa da automação e a segunda trata da perda de 54 milhões de empregos no Brasil fica bem claro que as duas afirmações são sobre períodos de tempo diferentes. É evidente que tal situação é clara apenas para os que entendem que 54 milhões é maior que 7 milhões.

A afirmação atribuída pelo bloguista albano ao Klaus Schwab (até 2020 a automação poderá acabar com 50% dos postos de trabalho) não saiu nem da boca, nem do computador deles. Ela é apenas fruto de uma leitura distorcida e equivocada. Infelizmente a arrogância passou a fazer parte da rotina dos que enfrentam limitações na superfície de contorno do invólucro intelectual. Ao ser confrontado com os fatos, o blogueiro limitou a sua resposta na direção de uma discordância com respeito.

São posturas como esta que estão elevando a distância da produtividade da economia brasileira em relação ao resto do mundo. O atual momento de transição tecnológica e de transformação digital exige um posicionamento intelectual mais propositivo e de maior abrangência. É muito importante analisar as respostas recebidas em função de fatos. A CES 2018 está oferecendo uma grande gama de lições que precisamos aprender. Não estamos mais falando de inovações e de novas tecnologias. Estamos falando de atitudes em relação a um novo mundo econômico que está se formando.  

Mesmo na situação onde existe uma extremada restrição na superfície de contorno do involucro intelectual é preciso que existe algum nível de raciocino analítico. Se a afirmação “até 2020 a automação poderá acabar com 50% dos postos de trabalho” fosse verdadeira então a economia mundial estaria iniciando um ciclo de depressão. Não é isto que ocorreu em 2017 e inexiste previsão de tal fenômeno para 2018.


A afirmação equivocada implica em dizer que metade da força de trabalho mundial estará desempregada e sem renda em 2021. Como não é razoável assumir que a metade da força de trabalho que mantiver o seu emprego e renda vai almoçar e jantar duas vezes por dia ou vai dobrar o seu consumo de energia elétrica apenas para manter o equilíbrio macroeconômico mundial então é fácil perceber que o planeta entraria em depressão pela enorme perda de renda. Uma análise superficial revelaria que a realidade de janeiro de 2018 é incompatível com as afirmações publicadas pelo blogueiro na postagem “A quinta onda do atendimento”.

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