A
perda de um ente querido no começo deste ano mudou o meu planejamento para o CES
2018. Decidi acompanhar o evento à distância. É fácil perceber que as
aplicações de inteligência artificial são a principal atração do evento. Elas foram
incorporadas em praticamente todas as inovações apresentadas. Os robôs
domésticos são na minha opinião a grande atração da exposição. Infelizmente o
avanço da inteligência artificial representa uma enorme ameaça para os empregos
no Brasil.
Os
profissionais de limpeza que atuam nas escolas, hospitais, clínicas,
escritórios, lojas, shoppings, residências e etc. estão com os seus empregos
fortemente ameaçados no curto prazo. A dramática redução dos preços e a
melhoria da qualidade da inteligência artificial dos robôs domésticos está
criando um cenário economicamente viável para eles assumirem as funções de
limpeza nas organizações e residências.
O
Brasil deveria estar muito atento ao fenômeno, pois uma grande parte dos postos
de trabalho disponíveis no mercado nacional está relacionado com as atividades
de limpeza. Mais da metade das ocupações no país pode ser automatizada com
facilidade. A barreira de entrada dos robôs ainda é a sua viabilidade
econômica. No entanto, os custos estão caindo dramaticamente e em breve teremos
a modalidade do Robô as a Service. É bastante evidente que a reforma
trabalhista de 2017 não será capaz de manter os empregos ameaçados pela
automação. Também é de fácil percepção que ela não vai gerar novos empregos no
mercado nacional.
Isto
posto é importante evitar a dramatização do cenário que é desfavorável à
recuperação econômica por causa de equívocos e desvios intelectuais. Foi
afirmado que: “Eu não consigo parar de pensar na previsão sombria, mas
realista, que Klaus Schwab fez no seu livro “A quarta revolução industrial”.
Segundo ele “até 2020 a automação
poderá acabar com 50% dos postos de trabalho”.” (A
quinta onda do atendimento, https://www.ninoalbano.com.br/single-post/2018/01/10/A-quinta-onda-do-atendimento,
acessado em 11/01/2018).
Infelizmente
as limitações da superfície de contorno do invólucro intelectual criaram uma
afirmação que não existe no texto publicado no livro citado pelo blogueiro. Na seguinte entrevista com o autor do livro “A
Quarta Revolução Industrial” (https://www.conjur.com.br/2017-jun-17/entrevista-klaus-schwab-fundador-forum-economico-mundial,
acessado em 11/01/2018) foi afirmado:
"Em 2016, o Fórum
Econômico Mundial lançou um relatório alertando que a automação poderá acabar
com 7 milhões de empregos até 2020. Além da China e da Índia, o Brasil estará
entre os países com maior número de trabalhadores ameaçados de perder empregos
para as máquinas. Por aqui, 50% dos atuais postos de trabalho poderão ser
automatizados. Quase 54 milhões de um total de 107 milhões de vagas no país.
Entre os setores com maior percentual de empregos automatizáveis do Brasil
estão: a indústria, com 69% dos postos, em seguida a hotelaria, com 63% e as empresas
de transporte, com 61%. - Trecho do Relatório Fórum Econômico
Mundial/2016"
Não
é preciso consultar um especialista na língua portuguesa falada no Brasil para
perceber que foi declarado que: (i) a automação poderá acabar com 7 milhões de
empregos até 2020 e (ii) por aqui, 50% dos atuais postos de trabalho poderão
ser automatizados.
Isto
significa que até 2020 existem 7 milhões de empregos ameaçados no mundo
inteiro. A afirmação sobre 50% de empregos ameaçados no Brasil não tem prazo de
ocorrência. É bem fácil perceber as diferenças. Como a primeira afirmação
aborda o problema da eliminação de 7 milhões de postos de trabalho no mundo
inteiro por causa da automação e a segunda trata da perda de 54 milhões de
empregos no Brasil fica bem claro que as duas afirmações são sobre períodos de
tempo diferentes. É evidente que tal situação é clara apenas para os que
entendem que 54 milhões é maior que 7 milhões.
A
afirmação atribuída pelo bloguista albano ao Klaus Schwab (até 2020 a automação
poderá acabar com 50% dos postos de trabalho) não saiu nem da boca, nem do
computador deles. Ela é apenas fruto de uma leitura distorcida e equivocada.
Infelizmente a arrogância passou a fazer parte da rotina dos que enfrentam
limitações na superfície de contorno do invólucro intelectual. Ao ser
confrontado com os fatos, o blogueiro limitou a sua resposta na direção de uma discordância
com respeito.
São
posturas como esta que estão elevando a distância da produtividade da economia
brasileira em relação ao resto do mundo. O atual momento de transição
tecnológica e de transformação digital exige um posicionamento intelectual mais
propositivo e de maior abrangência. É muito importante analisar as respostas
recebidas em função de fatos. A CES 2018 está oferecendo uma grande gama de
lições que precisamos aprender. Não estamos mais falando de inovações e de
novas tecnologias. Estamos falando de atitudes em relação a um novo mundo
econômico que está se formando.
Mesmo
na situação onde existe uma extremada restrição na superfície de contorno do
involucro intelectual é preciso que existe algum nível de raciocino analítico.
Se a afirmação “até
2020 a automação poderá acabar com 50% dos postos de trabalho” fosse verdadeira
então a economia mundial estaria iniciando um ciclo de depressão. Não é isto
que ocorreu em 2017 e inexiste previsão de tal fenômeno para 2018.
A
afirmação equivocada implica em dizer que metade da força de trabalho mundial estará
desempregada e sem renda em 2021. Como não é razoável assumir que a metade da
força de trabalho que mantiver o seu emprego e renda vai almoçar e jantar duas
vezes por dia ou vai dobrar o seu consumo de energia elétrica apenas para
manter o equilíbrio macroeconômico mundial então é fácil perceber que o planeta
entraria em depressão pela enorme perda de renda. Uma análise superficial
revelaria que a realidade de janeiro de 2018 é incompatível com as afirmações publicadas
pelo blogueiro na postagem “A quinta onda do atendimento”.
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