Nas
festas de final de ano, as conversas giraram em torno das amenidades e dos
desafios que os brasileiros enfrentarão em 2017. No contexto da crise eu fui
muito questionado sobre o que poderia ser feito para minimizar os efeitos
negativos do baixo crescimento do PIB. Como já comentei em postagem anterior a
minha previsão para 2017 é de um crescimento em torno de 0,5% caso o Brasil
faça escolhas minimamente razoáveis durante o ano. Considero improvável um
crescimento negativo e pouco provável, mas possível, crescimento na casa dos
0,8% do PIB. Como o Brasil precisa recuperar as perdas da recessão e compensar
o crescimento populacional, é fácil perceber que a velocidade do crescimento do
PIB é muito baixa.
Ao
citar o exemplo da Coréia do Sul (Coreia do Sul quer tirar de circulação todas
as moedas até 2020, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/12/1838268-coreia-do-sul-quer-tirar-de-circulacao-todas-as-moedas-ate-2020.shtml?mobile)
que pretende acabar com o dinheiro em papel moeda até 2020 como uma solução
para fazer mais com menos eu fui imediatamente interrompido com a frase:
"Não sei em que mundo você vive, as pessoas de mais idade não vão
conseguir usar um celular para pagar as suas contas". O autor desta pérola
da cultura do atraso recentemente elogiou uma propaganda na televisão do maior
banco do Brasil onde uma aposentada envia e-mail de agradecimento ao seu neto
por ele ter ensinado como usar. Infelizmente encontramos os partidários da
cultura do atraso na elite intelectual brasileira.
O
que mais me surpreendeu no caso foi ver uma pessoa acima de 50 anos defendendo
o preconceito ao cabelo branco. No caso da propaganda do banco, o preconceito é
explicitado ao seu máximo. A situação natural para o ensino da utilização do e-mail
(e ela representa uma forte distorção e mentira) seria a mãe agradecer ao filho
que ensinou. No entanto, para o banco, o filho que no contexto da propaganda tem
mais de 50 anos, não é capaz de aprender a usar o e-mail por causa da sua idade
e por isto o neto que é jovem é quem é a pessoas capaz de ensinar a tecnologia
para a vovó.
O
recado subliminar da propaganda é que tecnologia é um assunto para os jovens e
os mais velhos tem enorme dificuldade de aprender a usar as novas tecnologias (o
leitor mais atento deve estar neste momento perguntado em qual lugar do
universo o e-mail é uma nova tecnologia?). É claro na propaganda que para o
banco ligar um computador ou celular e enviar um e-mail é uma tarefa de nível
tão grande de dificuldade intelectual para uma pessoa acima de 70 anos que ela
precisa ser ensinada para tal. A origem do preconceito ao cabelo branco é
resultado direto da falácia da dificuldade do aprendizado das novas tecnologias
pelos que tem mais 40 anos.
Não
é surpreendente que este banco tenha no seu regimento interno uma determinação
de aposentadoria compulsória por idade. Também não é surpreendente que o
precário capital intelectual do banco fruto do seu preconceito ao cabelo criasse
uma burocracia cara e inútil para a comunicação do cliente com a sua agência.
Fazer menos com mais é claramente o lema do banco.
O
grande problema dos partidários da cultura do atraso são os fatos. Enquanto uns
afirmam que as pessoas de mais idade não vão usar o celular para pagar as
contas do dia a dia, os fatos desmentem tais afirmações. Em primeiro lugar
existem muitas pessoas acima de 70 anos na Coréia do Sul. A participação delas
na sociedade será maior em 2020 do que é em 2017. Os que falam que eu vivo em
outro mundo afirmam que os idosos da Coréia do Sul são capazes de usar as moedas
virtuais. A limitação existe apenas nos idosos brasileiros. A lógica de tal
afirmação não é comprovada por fato algum. Para os defensores da cultura do
atraso, os problemas para a adoção da moeda virtual são diferentes entre lugares
como Brasil, Estados Unidos, Europa e Coréia do Sul. Para eles, o ser humano
tem capacidade de aprendizado diferente em função da geografia. Sou incapaz de
entender tal lógica.
O
segundo furo dos defensores da cultura do atraso é que todos os dias pessoas
acima de 70 anos pagam as suas contas nos supermercados, lojas, farmácias e etc.
usando o cartão de crédito. Quem consegue pagar uma compra com o seu cartão de
crédito não é capaz de pagar com o seu celular? Infelizmente, é esta a frágil
hipótese da cultura do atraso.
Outros
fatos desmentem por completo a frágil hipótese da cultura do atraso de que
pessoas idosas não vão conseguir usar a tecnologia da moeda digital. Aqui (Myth busted: Older workers are just as tech-savvy as younger ones, says
new survey,
http://www.techrepublic.com/article/myth-busted-older-workers-are-just-as-tech-savvy-as-younger-ones-says-new-survey/)
ali (Cyber idade: pesquisa mostra que os mais velhos estão usando mais as
tecnologias!, http://conaz.com.br/portal/pesquisa-mais-velhos-usando-tecnologias/)
e ali (Novas tecnologias conquistam a terceira idade com acesso à rede, http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/720041/novas-tecnologias-conquistam-a-terceira-idade-com-acesso-a-rede)
estão disponíveis pesquisas que mostram que as pessoas mais velhas tem menos
dificuldades com a tecnologia do que os mais novos. Os estudos revelam também que
os cabelos brancos brasileiros estão usando intensamente as tecnologias
digitais sem grandes dificuldades.
Os
ganhos monetários da migração para a moeda virtual são enormes. Os custos para
imprimir, armazenar e distribuir o dinheiro em papel em um país de grande
dimensão como o Brasil são enormes. Na Coréia do Sul que é um pais eficiente e
de pequena extensão territorial, uma nota de 10 won custa 10 won. Aqui no
Brasil que é um país de larga extensão territorial o custo deve ser no mínimo o
dobro. Este custo é pago pelos impostos. Não é difícil perceber que uma pequena
mudança para a rotina dos brasileiros como a moeda virtual pode economizar
bilhões de reais por ano e pode fazer a economia crescer mais rapidamente.
Infelizmente a cultura do atraso atua com mentiras para impedir que o Brasil
supere os seus desafios em 2017.
Para
finalizar eu destaco que desde a introdução dos caixas eletrônicos nos anos
1980 no Brasil eu escuto a falácia de que os idosos não vão conseguir usar a
tecnologia. Os fatos desmentem as mentiras afirmadas. Eles usam e não precisaram
ser ensinados pelos netos. Para os que perguntam em que lugar eu vivo eu
respondo que eu vivo no planeta terra no ano de 2017. E complemento dizendo que
os arrogantes que acham que o fato deles terem limitações de aprendizagem significa
que outros tem as mesmas limitações devem buscar ajuda urgente. Os idosos não
têm limitações de aprendizagem e buscam uma sociedade que não jogue no lixo o
dinheiro dos impostos. Fazer mais com menos não é cortar o leite das crianças
como um prefeito fez. Fazer mais com menos é usar os recursos existentes em
2017 para que o estado brasileiro seja eficaz e eficiente. Os que desejam viver
com a tecnologia de 1980 que vivam no passado e paguem a conta. Eu não quero pagar
a conta dos gastos inúteis gerada pelos que governam o Brasil desde o ano de
2002. A maior recessão da história brasileira foi gerada pelos arrogantes da
cultura do atraso.
Sempre objetivo e direto.Estou com 42 anos e já sofri preconceito de idade. Mas como seu texto diz, cultura do atraso. Infelizmente somos governados por pessoas que contribuem e aprovam a cultura do atraso, e fica difícil mudar a visão destas pessoas a curto e médio prazo.
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