A
segunda década do século XXI está sendo marcada por uma grande diversidade de
novos conceitos econômicos habilitados pela tecnologia. Tanto a era do conhecimento,
como a era dos aplicativos, como a era do custo marginal unitário zero, como a
economia dos APIs, como a economia do compartilhamento, como os negócios
definidos por TI, como a quarta revolução industrial representam as diversas ênfases
de uma mesma realidade. É fácil perceber que a tecnologia e a Internet compõem
em todas estas abordagens o núcleo duro das mudanças econômicas. A Internet das
coisas com os seus sensores e softwares está na raiz das novas estruturas
econômicas e é a fonte da Quarta Revolução Industrial. A Internet das coisas é
composta pela união em uma única plataforma da Internet das Comunicações com a Internet
da Energia com a Internet do Transporte.
O
cerne da Quarta Revolução Industrial está relacionado tanto como o decréscimo
da importância do custo do hardware nos produtos (por isto é possível criar as situações
de custo marginal unitário zero), como com o crescimento da importância da
experiência do usuário. A Nestlé com a sua linha de cafeteria expresso Nespresso
foi uma das empresas pioneiras na introdução da nova revolução industrial com o
lançamento, em 2001, da Nespresso Concept
Machine.
Com a popularização da cafeteria expresso Nespresso, a experiência do usuário
na degustação do café passou a ser definida pela qualidade do café das cápsulas
vendidas pela Nestlé.
O
mercado brasileiro de cápsulas de café criado pela empresa multinacional Nestlé
cresceu tanto que em pouco mais de uma década é possível encontrar nos supermercados
da cidade de São Paulo ofertas onde a compra de uma determinada quantidade de
cápsulas permite que o consumidor ganhe uma cafeteira expressa. O tamanho do
mercado nacional de monodoses (capsulas de café) em 2019 foi estimado em três
bilhões de reais (para o ano de 2016 ele foi estimado em um bilhão de reais).
Fonte: Veja o que levar em conta ao escolher uma máquina de café expresso (http://www1.folha.uol.com.br/comida/2016/02/1738173-veja-o-que-levar-em-conta-ao-escolher-uma-maquina-de-cafe-espresso.shtml, acessado em
10/02/2016). Claramente a estratégia do fabricante é vender capsulas e tudo
aquilo que facilite o consumo de monodoses será oferecido ao consumidor.
É
possível considerar a cafeteira expressa como um dos marcos iniciais da quarta revolução
industrial, porque a cápsula de café ou chá tem funcionalidade similar ao
software em um computador ou equipamento inteligente. Ela é capaz de reconfigurar
de forma radical e rápida tanto o produto que é entregue, como a experiência do
usuário. O consumidor tem a sua disposição centenas de sabores de cápsulas de
café e chá que oferecem experiências diferentes. Ele pode customizar o seu café
conforme o seu desejo em tempo real. Ele também pode oferecer uma experiência
diferenciada para os seus amigos, clientes, empregados e etc. através das
cápsulas. Não é por acaso que os fabricantes estão oferecendo gratuitamente o
hardware da cafeteira expressa. Esta ação faz parte de uma estratégia para assegurar
um crescimento contínuo da venda de cápsulas de sabores diversos pela entrega
de uma experiência prazerosa para o usuário. As series especiais de cafés e
chás que são oferecidas por um preço Premium asseguram a alta rentabilidade do
mercado de cápsulas.
A
lógica corporativa é quanto mais máquinas expressas estiverem no mercado, maior
será a quantidade de cápsulas vendidas. As facilidades operacionais (todos
conseguem operar as cafeteiras por capsulas sem necessidade de treinamentos) em
conjunto tanto com a alta qualidade do café e do chá, como com a capacidade de
customização do produto final asseguram uma alta demanda pelas cápsula e
máquinas de café. Os ganhos de escala da produção em massa permitem a
realização de um custo relativo marginal unitário muito baixo ou nulo para a
produção do hardware. Esta característica habilita a estratégia de focar o
lucro na venda de cápsulas de café. Neste caso, o hardware virou um acessório
habilitador de vendas das cápsulas.
O
exemplo das monodoses de café e chá explicitou o motivo pelo qual o software
está alterando por completo à dinâmica das empresas na Quarta Revolução Industrial.
Os sensores da Internet das coisas são ferramentas que vão mudar a lógica
industrial de uma forma ampla e intensa. Apenas como referência de um dos
impactos é possível destacar que o processo de auditoria e de governança corporativa
será inevitavelmente automatizado em tempo real em pouco tempo. Através dos
sensores nos estoques, dos relatórios disponíveis nos computadores e da computação
cognitiva será possível automatizar uma grande parte do processo de auditoria.
As informações da auditoria vão correr o mundo em tempo real revelando para investidores,
comunidades, governos e cidadãos tanto os casos de extrema efetividade
operacional, como as situações de fraudes em empresas públicas e privadas.
Até
2025 teremos uma lógica empresarial completamente diferente da existente em
2016. A indústria tradicional não será o único setor afetado em larga escala. A
indústria da saúde será imensamente afetada pelos sensores da Internet das
coisas e pela computação cognitiva. Em poucos anos os médicos estarão
trabalhando no seu dia a dia com os computadores auxiliando o diagnóstico de doenças.
Com base nos sensores e nas informações fornecidas pelos pacientes os médicos
poderão ampliar a sua capacidade de diagnosticar doenças com a computação
cognitiva e estabelecer tratamentos mais efetivos e customizados para os
pacientes. A tecnologia Big data vai oferecer um conjunto de informações
navegáveis de tal ordem que a precisão e a velocidade do diagnóstico vão crescer
enormemente. A computação cognitiva não substituirá o médico, mas fará com que
ele trabalhe muito melhor.
Diagnósticos
remotos deixarão de fazer parte da ficção científica e serão realidade em
regiões carentes de médicos. Novas profissionais nascerão e algumas
desaparecerão. Teremos um forte rearranjo do emprego em função do conhecimento.
Apesar da alta capacidade dos computadores para processar os dados, eles não
têm inteligência para transforma-los em informações úteis. Cada vez mais será
preciso a inteligência humana para orquestrar as buscas digitais na direção de
um resultado correto e concreto. Profissionais da era do conhecimento tem estas
capacitações e serão altamente demandados. Muitos em 2025 serão exportadores de
serviços. Será preciso uma forte mudança no arcabouço jurídico brasileiro para
contemplar as novas formas de trabalho.
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