Após
aparecimento das redes sociais, o mundo vem experimentando uma sucessão de
protestos populares contra o poder incumbente. As mídias sociais digitais vêm
sendo largamente utilizadas para convocar as manifestações.
Em
diversos casos, a participação popular foi tão intensa que ou derrubou o
governo ou gerou uma profunda mudança. Vários governos Árabes foram derrubados,
a Dilma foi destituída da presidência e o Chile fará um plebiscito para poder
ter uma nova constituição.
A
linha do tempo dos protestos pós redes sociais digitais revela que os
movimentos populares estão ficando cada vez mais violentos. As primeiras ações
foram pacíficas e praticamente não existiam casos de feridos e mortos. Nas
manifestações mais recentes tivemos vários feridos e mortos. A violência está
crescendo com muita velocidade.
No
meu entendimento, o ciclo de aumento da violência dos protestos populares está
apenas no seu começo. Existe uma clara tendência de exacerbação da intolerância
nas manifestações.
Por
causa do crescimento da agressividade é muito importante entender qual foi o
gatilho que gerou uma determinada onda de manifestações.
As
explanações dadas até o momento para o gatilho dos protestos como, por exemplo,
o aumento de imposto ou de tarifa ou os problemas nas aposentadorias ou etc.
não conseguiram explicar de forma objetiva e completa como algumas medidas
governamentais de impacto aparentemente restrito e limitado geraram movimentos
tão intensos e de tamanha proporção.
Para
compreender qual é o gatilho que dispara a onda do crescimento exponencial de
um protesto é preciso entender como o mecanismo de funcionamento das redes
sociais (inclui aplicativos mensageiros como WhatsApp, Skype, Telegram etc.)
impacta o comportamento das pessoas no mundo digital e físico.
Todas
as redes sociais permitem que o usuário bloqueie conteúdos e pessoas. As
pessoas estão usando as ferramentas de bloqueio para acessar apenas os
conteúdos que elas concordam. Todo e qualquer conhecimento discordante é
eliminado das páginas acessadas pelo usuário nas redes sociais. As pessoas que
têm visão diferente também são descartadas da rede de relacionamento.
Em
outras palavras, o uso rotineiro das redes sociais está fazendo com que as
pessoas acessem apenas e tão somente o conteúdo que eles concordam. Ao conviver
em uma rede de relacionamento onde existe apenas uma visão do mundo, as pessoas
(em especial os mais jovens) estão desenvolvendo a habilidade de intolerância
em relação as vozes discordantes. Podemos entender que existe a inibição do desenvolvimento
da habilidade de tolerância ao antagonismo.
Uma
opinião dissonante da visão do grupo é imediatamente eliminada. A natureza
humana de acreditar que o consenso em torno de uma ideia revela que ela é
correta e que quem discorda está errado cria um ambiente do nós contra eles no
mundo virtual.
No
mundo físico não existe um botão para bloquear os conteúdos ou as pessoas. Isto
significa, que o desenvolvimento da habilidade da intolerância no mundo
virtual, faz com que as pessoas busquem no ambiente real um mecanismo que
emudeça as vozes discordantes. A violência física é uma ferramenta que cala os
opositores. Por isto ela está crescendo tanto nas manifestações.
O
gatilho que dispara os protestos não é o aumento do imposto ou da tarifa ou o
problema da aposentadoria ou etc. O gatilho que dispara um protesto é a
intolerância ao antagonismo. Ou seja, a mera proposta de uma medida que as
pessoas não concordam dispara o gatilho das manifestações.
O
conteúdo da proposta não é relevante para os intolerantes. Eles não estão
protestando especificamente contra o valor do aumento de imposto ou da tarifa
ou da renda da aposentadoria ou etc. Os manifestantes discordam da proposta e
estão protestando contra ela. Para eles é insuportável e inadmissível alguém
propor algo que eles discordam. Este alguém tem que ser bloqueado. O nível da intolerância
está em patamar tão elevado que as pessoas não aceitam conviver com os
discordantes.
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