Nos
últimos dias o tema impacto da inteligência artificial no emprego na QRI esteve
presente na pauta das minhas conversas. Muitos estão enxergando como estágio
atual da inteligência artificial algo que deve demorar três décadas para
acontecer na previsão mais otimista. Na previsão mais realista cinco décadas.
A
inteligência artificial atual nada mais é do que a execução de um modelo da realidade
pelo computador. O modelo pode ser estático com uma base de conhecimento
controlada como um sistema especialista ou pode ser dinâmico com uma base de
conhecimento controlada (computação cognitiva) ou com uma base de conhecimento
cumulativa (computação com aprendizado profundo). Em todos os casos a
inteligência gerada é limitada pelas condições de contorno do modelo.
Por
exemplo, a computação com aprendizado profundo permite que o médico interaja
com o computador e busque a melhor e mais recente opção disponível de
tratamento personalizado para o câncer do seu paciente. Como a base de
conhecimento é cumulativa, a inteligência artificial vai ser alimentada com as
novidades que surgem todos os dias. Não é obrigatório neste caso que o
tratamento escolhido tenha alta probabilidade de sucesso. As informações mais
recentes apresentam informações sobre tratamentos que são promissores, que
foram usados em alguns poucos pacientes.
No
caso da base de dados controlada, as informações disponíveis vão tratar de
casos que os especialistas consideraram relevantes. Neste caso, o médico vai
interagir com a inteligência artificial para encontrar o tratamento com maior
probabilidade de sucesso entre os tratamentos selecionados. Não é obrigatório
que seja o mais recente.
É
evidente que a gigantesca quantidade de informações que estão disponíveis nos
dois casos é melhor explorada com a inteligência artificial. O médico não tem
condições de lembrar de memória todas as alternativas disponíveis. Em geral ele
vai lembrar dos tratamentos mais recentes e a melhor resposta para o caso
particular de um paciente pode ser um tratamento antigo que foi pouco utilizado.
Esta é a grande virtude da inteligência artificial. Ela é capaz de manipular
com sucesso uma quantidade de informações bem maior que o ser humano. Ela entra
não para substituir mas para complementar o trabalho intelectual do ser humano.
É
fácil perceber neste ponto do texto que os empregos ameaçados pela QRI são os
de baixo nível de atividade intelectual. Estes trabalhadores serão substituídos
pelas máquinas. O grande desafio do treinamento dos profissionais que ficaram
redundantes no processo evolutivo é o aprendizado de como pensar. Até o momento
são raros os educadores que conseguem ensinar como pensar. O livro Gamification
em Help Desk e Service Desk do Roberto Cohen (http://www.gamificationhelpdesk.com.br/,
acessado em 07/07/2017) é um dos raros títulos em português cujo foco é ensinar
como pensar.
No
TED Ideas worth spreading (https://www.ted.com/,
acessado em 07/07/2017) foi publicado um vídeo de um professor de escola
infantil que criou uma metodologia interessante para ensinar a pensar. O
professor que ensina em escolas de baixa renda na Inglaterra e na Índia propõe
que os seus alunos respondam uma única pergunta. Ele escolhe um assunto de
alguma complexidade e faz a pergunta em uma língua diferente da conhecida pelos
alunos. Os estudantes da classe podem ser organizar em um único grupo ou grupos
menores ou individualmente para responder a pergunta. O professor vai embora da
classe sem dar nenhuma explicação adicional.
No
vídeo os alunos encontram um caminho espetacular para responder à pergunta.
Eles usaram o tradutor da empresa Google para traduzir a pergunta para a língua
deles. Após a tradução eles usaram a ferramenta de busca da empresa Google para
encontrar a resposta da pergunta. Este professor ensinou os seus alunos a
pensarem. Eles encontraram uma metodologia para resolver um problema
desconhecido por eles. É uma lição de valor inestimável.
É
claro neste caso que a qualidade da resposta dos alunos está relacionada com a
inteligência artificial do algoritmo tradutor. Uma boa tradução leva os alunos
na direção de uma boa resposta e uma tradição defeituosa restringe a resposta.
O caso revela como as pessoas vão trabalhar em regime de colaboração com a
inteligência artificial dos computadores nas próximas décadas. O saber pensar
da era do conhecimento suplanta o decorar da terceira revolução industrial.
Não
devemos, portanto, imaginar que no atual estágio da inteligência artificial um
computador vai acordar inspirado e escrever um poema ou uma sinfonia. Ele só
vai desempenhar as funções previstas no modelo. Esta é a realidade atual da
inteligência artificial e é muito baixa a probabilidade de superação das
barreiras que limitam esta tecnologia nas próximas três décadas. O cenário onde
um computador responda com mentiras a seu bel prazer está muito distante do
atual estágio de desenvolvimento pelo homem da tecnologia de inteligência
artificial.
Isto
significa que atributos como empatia ou criatividade estão longe da realidade
da inteligência artificial. Tem gente que confunde modelos que simulam estas
características em condições restritas com a criação destes atributos. São
coisas bem diferentes. Para que o cachorro abane o rabo para o seu pappy ou
mammy, o dono vai ter que trabalhar muito para conquistar o afeto do seu
bichinho de estimação. Um cão robô pode ser programado para abanar o rabo todo
vez que ver o dono. São situações bem diferentes. No primeiro caso o cachorro
escolheu abanar o rabo e no segundo um programa obrigou o cão robô abanar o
rabo. O grau de satisfação e felicidade do dono é muito maior quando o pet
escolheu abanar o rabo para ele.
Considerando
as limitações da inteligência artificial é preciso encontrar os caminhos para
que ela jogue a favor do time do emprego. No artigo “O conhecimento pode estar
em qualquer lugar” (https://www.ninoalbano.com.br/single-post/2017/07/05/O-conhecimento-pode-estar-em-qualquer-lugar,
acessado em 07/07/2017), o Nino Albano fez a seguinte afirmação: “Por isso,
precisamos desenvolver novas habilidades”. E agora eu pergunto: Como faremos
isso? Teremos que transformar o administrador em jardineiro”. O blogueiro
infelizmente não especificou de qual tipo de jardineiro ele está falando.
Existe
o jardineiro que apenas rega e poda as plantas e existe o jardineiro que tem um
senso artístico diferenciado que transforma o jardim em uma obra de arte viva.
O primeiro tipo será fatalmente substituído pelas máquinas inteligentes porque
elas realizam o trabalho com maior eficiência e eficácia. O segundo tipo não
tem o seu emprego ameaçado pela QRI, pois realiza uma profissão de vocação, onde
ele expressa a sua inteligência e conhecimento no trabalho através da
transformação de um gramado em uma obra de arte viva. Não é uma atividade possível
para as máquinas no atual estado da arte da tecnologia de inteligência
artificial.
De
forma similar vamos facilmente encontrar outros empregos vocacionais que não
serão ameaçados pela QRI nas próximas décadas. Os cuidadores vocacionados de
idosos e de animais de estimação são exemplos claros de profissões que estão em
rota exponencial de ascensão. Se um gato ou cachorro abanar o rabo para um
cuidador é ele que o dono vai escolher para tomar conta do seu pet enquanto ele
estiver ausente. Estou falando de profissionais com tanta vocação para a sua
atividade que eles têm prazer em aprender mais e em evoluir. No instante que a
minha gata miou pedindo que o cuidador desse a ração dela na sua mão eu tive a
certeza de que ele é o cara. Não importa se é mais caro do que outros. É evidente que a minha gata nunca iria miar
para que um robô cuidador desse a ração dela na sua mão.
Dentre
as profissionais vocacionais que não estão ameaçadas pelas máquinas
inteligentes estão os humoristas, contadores de estórias, escritores,
compositores e etc. São pessoas que fazem o seu trabalho com sentimento,
energia e prazer. São pessoas que tem enorme talento para pintar, escrever,
cuidar e etc. Eu sei que existem robôs que escrevem roteiros de filmes ou músicas
ou piadas. No entanto é preciso entender que o resultado é uma variação de um
ou mais temas que fazem parte do modelo. Ou seja, não dá para falar para um robô
programado para escrever piadas sobre gatos que escreva uma piada sobre um
marciano.
O
portal “Will Robots Take My Job?” (https://willrobotstakemyjob.com/,
acessado em 07/07/2017) calcula a probabilidade de um emprego ser ocupado por
um robô. É bastante claro que a evolução da tecnologia de inteligência
artificial vai mudar os nossos comportamentos profissionais. No entanto, todos
os que apreenderem a pensar vão ser desejados por muitas empresas. Como recado
final uma fuga do tema. Que os ventos da rápida recuperação passem pelos pampas
gaúchos e que em breve o Bob esteja em plena forma.
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