sexta-feira, 7 de julho de 2017

Impacto da Inteligência artificial no emprego na Quarta Revolução Industrial (QRI)

Nos últimos dias o tema impacto da inteligência artificial no emprego na QRI esteve presente na pauta das minhas conversas. Muitos estão enxergando como estágio atual da inteligência artificial algo que deve demorar três décadas para acontecer na previsão mais otimista. Na previsão mais realista cinco décadas.

A inteligência artificial atual nada mais é do que a execução de um modelo da realidade pelo computador. O modelo pode ser estático com uma base de conhecimento controlada como um sistema especialista ou pode ser dinâmico com uma base de conhecimento controlada (computação cognitiva) ou com uma base de conhecimento cumulativa (computação com aprendizado profundo). Em todos os casos a inteligência gerada é limitada pelas condições de contorno do modelo.

Por exemplo, a computação com aprendizado profundo permite que o médico interaja com o computador e busque a melhor e mais recente opção disponível de tratamento personalizado para o câncer do seu paciente. Como a base de conhecimento é cumulativa, a inteligência artificial vai ser alimentada com as novidades que surgem todos os dias. Não é obrigatório neste caso que o tratamento escolhido tenha alta probabilidade de sucesso. As informações mais recentes apresentam informações sobre tratamentos que são promissores, que foram usados em alguns poucos pacientes.

No caso da base de dados controlada, as informações disponíveis vão tratar de casos que os especialistas consideraram relevantes. Neste caso, o médico vai interagir com a inteligência artificial para encontrar o tratamento com maior probabilidade de sucesso entre os tratamentos selecionados. Não é obrigatório que seja o mais recente.

É evidente que a gigantesca quantidade de informações que estão disponíveis nos dois casos é melhor explorada com a inteligência artificial. O médico não tem condições de lembrar de memória todas as alternativas disponíveis. Em geral ele vai lembrar dos tratamentos mais recentes e a melhor resposta para o caso particular de um paciente pode ser um tratamento antigo que foi pouco utilizado. Esta é a grande virtude da inteligência artificial. Ela é capaz de manipular com sucesso uma quantidade de informações bem maior que o ser humano. Ela entra não para substituir mas para complementar o trabalho intelectual do ser humano.

É fácil perceber neste ponto do texto que os empregos ameaçados pela QRI são os de baixo nível de atividade intelectual. Estes trabalhadores serão substituídos pelas máquinas. O grande desafio do treinamento dos profissionais que ficaram redundantes no processo evolutivo é o aprendizado de como pensar. Até o momento são raros os educadores que conseguem ensinar como pensar. O livro Gamification em Help Desk e Service Desk do Roberto Cohen (http://www.gamificationhelpdesk.com.br/, acessado em 07/07/2017) é um dos raros títulos em português cujo foco é ensinar como pensar.

No TED Ideas worth spreading (https://www.ted.com/, acessado em 07/07/2017) foi publicado um vídeo de um professor de escola infantil que criou uma metodologia interessante para ensinar a pensar. O professor que ensina em escolas de baixa renda na Inglaterra e na Índia propõe que os seus alunos respondam uma única pergunta. Ele escolhe um assunto de alguma complexidade e faz a pergunta em uma língua diferente da conhecida pelos alunos. Os estudantes da classe podem ser organizar em um único grupo ou grupos menores ou individualmente para responder a pergunta. O professor vai embora da classe sem dar nenhuma explicação adicional.

No vídeo os alunos encontram um caminho espetacular para responder à pergunta. Eles usaram o tradutor da empresa Google para traduzir a pergunta para a língua deles. Após a tradução eles usaram a ferramenta de busca da empresa Google para encontrar a resposta da pergunta. Este professor ensinou os seus alunos a pensarem. Eles encontraram uma metodologia para resolver um problema desconhecido por eles. É uma lição de valor inestimável.

É claro neste caso que a qualidade da resposta dos alunos está relacionada com a inteligência artificial do algoritmo tradutor. Uma boa tradução leva os alunos na direção de uma boa resposta e uma tradição defeituosa restringe a resposta. O caso revela como as pessoas vão trabalhar em regime de colaboração com a inteligência artificial dos computadores nas próximas décadas. O saber pensar da era do conhecimento suplanta o decorar da terceira revolução industrial.

Não devemos, portanto, imaginar que no atual estágio da inteligência artificial um computador vai acordar inspirado e escrever um poema ou uma sinfonia. Ele só vai desempenhar as funções previstas no modelo. Esta é a realidade atual da inteligência artificial e é muito baixa a probabilidade de superação das barreiras que limitam esta tecnologia nas próximas três décadas. O cenário onde um computador responda com mentiras a seu bel prazer está muito distante do atual estágio de desenvolvimento pelo homem da tecnologia de inteligência artificial.

Isto significa que atributos como empatia ou criatividade estão longe da realidade da inteligência artificial. Tem gente que confunde modelos que simulam estas características em condições restritas com a criação destes atributos. São coisas bem diferentes. Para que o cachorro abane o rabo para o seu pappy ou mammy, o dono vai ter que trabalhar muito para conquistar o afeto do seu bichinho de estimação. Um cão robô pode ser programado para abanar o rabo todo vez que ver o dono. São situações bem diferentes. No primeiro caso o cachorro escolheu abanar o rabo e no segundo um programa obrigou o cão robô abanar o rabo. O grau de satisfação e felicidade do dono é muito maior quando o pet escolheu abanar o rabo para ele.

Considerando as limitações da inteligência artificial é preciso encontrar os caminhos para que ela jogue a favor do time do emprego. No artigo “O conhecimento pode estar em qualquer lugar” (https://www.ninoalbano.com.br/single-post/2017/07/05/O-conhecimento-pode-estar-em-qualquer-lugar, acessado em 07/07/2017), o Nino Albano fez a seguinte afirmação: “Por isso, precisamos desenvolver novas habilidades”. E agora eu pergunto: Como faremos isso? Teremos que transformar o administrador em jardineiro”. O blogueiro infelizmente não especificou de qual tipo de jardineiro ele está falando.

Existe o jardineiro que apenas rega e poda as plantas e existe o jardineiro que tem um senso artístico diferenciado que transforma o jardim em uma obra de arte viva. O primeiro tipo será fatalmente substituído pelas máquinas inteligentes porque elas realizam o trabalho com maior eficiência e eficácia. O segundo tipo não tem o seu emprego ameaçado pela QRI, pois realiza uma profissão de vocação, onde ele expressa a sua inteligência e conhecimento no trabalho através da transformação de um gramado em uma obra de arte viva. Não é uma atividade possível para as máquinas no atual estado da arte da tecnologia de inteligência artificial.

De forma similar vamos facilmente encontrar outros empregos vocacionais que não serão ameaçados pela QRI nas próximas décadas. Os cuidadores vocacionados de idosos e de animais de estimação são exemplos claros de profissões que estão em rota exponencial de ascensão. Se um gato ou cachorro abanar o rabo para um cuidador é ele que o dono vai escolher para tomar conta do seu pet enquanto ele estiver ausente. Estou falando de profissionais com tanta vocação para a sua atividade que eles têm prazer em aprender mais e em evoluir. No instante que a minha gata miou pedindo que o cuidador desse a ração dela na sua mão eu tive a certeza de que ele é o cara. Não importa se é mais caro do que outros.  É evidente que a minha gata nunca iria miar para que um robô cuidador desse a ração dela na sua mão.  

Dentre as profissionais vocacionais que não estão ameaçadas pelas máquinas inteligentes estão os humoristas, contadores de estórias, escritores, compositores e etc. São pessoas que fazem o seu trabalho com sentimento, energia e prazer. São pessoas que tem enorme talento para pintar, escrever, cuidar e etc. Eu sei que existem robôs que escrevem roteiros de filmes ou músicas ou piadas. No entanto é preciso entender que o resultado é uma variação de um ou mais temas que fazem parte do modelo. Ou seja, não dá para falar para um robô programado para escrever piadas sobre gatos que escreva uma piada sobre um marciano.

O portal “Will Robots Take My Job?” (https://willrobotstakemyjob.com/, acessado em 07/07/2017) calcula a probabilidade de um emprego ser ocupado por um robô. É bastante claro que a evolução da tecnologia de inteligência artificial vai mudar os nossos comportamentos profissionais. No entanto, todos os que apreenderem a pensar vão ser desejados por muitas empresas. Como recado final uma fuga do tema. Que os ventos da rápida recuperação passem pelos pampas gaúchos e que em breve o Bob esteja em plena forma.

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