segunda-feira, 10 de setembro de 2018

É o emprego, estúpido!


Nos últimos anos o Brasil vem enfrentando a sina tanto dos pibinhos, como do crescimento exponencial das falácias. Os mercadores do absolutismo das tolices econômicas estão em todos os lugares. As tolices são tantas que foi afirmado que a situação onde uma empresa deixa o mercado onde atua por causa da recessão é absolutamente rara. Para os que preferem fatos eu destaco o que realmente aconteceu no Brasil durante a recessão.

Nos seguintes artigos estão os fatos publicados na imprensa nacional sobre empresas que deixaram o Brasil durante a recessão. Certamente a mais impressionante é a que fala que de um saldo negativo entre 2016 e 2013 de 13,8 mil indústrias no Brasil.

1.     Por dois anos seguidos, Brasil fecha mais empresas do que abre, aponta IBGE (https://g1.globo.com/economia/noticia/por-dois-anos-seguidos-brasil-fecha-mais-empresas-do-que-abre-aponta-ibge.ghtml)
2.     Lush vai embora; relembre empresas que deixaram o Brasil nos últimos anos (https://economia.uol.com.br/listas/lush-vai-embora-relembre-empresas-que-deixaram-o-brasil-nos-ultimos-anos.amp.htm)
3.     Em três anos, 13,8 mil indústrias foram fechadas no Brasil, aponta IBGE (https://g1.globo.com/economia/noticia/em-tres-anos-138-mil-industrias-foram-fechadas-no-brasil-aponta-ibge.ghtml)
4.     Com a crise, essas 9 empresas fecharam fábricas recentemente (https://exame.abril.com.br/negocios/com-a-crise-essas-9-empresas-fecharam-fabricas-recentemente/)
5.     Nikon anuncia sua saída do mercado brasileiro (https://economia.ig.com.br/2017-11-07/nikon-encerra-vendas.html)
6.     Crise no Brasil faz companhias aéreas do Pacífico deixarem o país (https://airway.uol.com.br/crise-no-brasil-faz-companhias-aereas-do-pacifico-deixarem-o-pais/)

Infelizmente os mercadores de tolices estão em todos os lugares fazendo a única coisa que sabem fazer. Proferir falácias. No passado, foi afirmado que a flexibilização das leis trabalhistas iria gerar empregos no Brasil (É preciso flexibilizar direitos sociais para haver emprego, diz chefe do TST, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1933111-e-preciso-flexibilizar-direitos-sociais-para-haver-emprego-diz-chefe-do-tst.shtml)

Os atuais números alarmantes do desemprego e do desalento para procurar um emprego deixam claro que as mudanças nas leis trabalhistas não geraram o efeito propagandeado pelo ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho, onde a redução dos direitos seria a garantia para a manutenção dos empregos. O artigo revelou que a taxa de desalento é recorde (Falta trabalho para 27,6 milhões de pessoas no país, aponta IBGE, https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2018/08/16/desemprego-ibge.htm).

A situação do emprego no Brasil é tão grave que os estudantes estão atrasando a entrega do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) para prolongar o seu contrato como estagiário (Estudante adia formatura para não perder estágio e fugir do desemprego, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/estudante-adia-formatura-para-nao-perder-estagio-e-fugir-do-desemprego.shtml).

Em recente decisão do STF sobre a terceirização a ministra Carmen Lúcia votou pela terceirização irrestrita afirmando que ela cria empregos (Supremo dá aval à terceirização irrestrita, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/maioria-dos-ministros-do-supremo-da-aval-a-terceirizacao-irrestrita.shtml).

A lúcida ministra Rosa Weber afirmou na mesma sessão que o desenvolvimento econômico e não a terceirização é quem cria vagas de emprego. O futuro mostrará quem falou a verdade. Eu aposto todas as fichas na ministra Rosa Weber.

Eu não sou contra a terceirização e entendo que em um país com extremas limitações de conhecimento, as leis deveriam ser binárias, ou seja, pode ou não pode. Eu concordo com a afirmação do Gilmar Mendes "Tenho uma inveja enorme de quem consegue fazer distinção entre atividade-meio e atividade-fim. São pessoas iluminadas" (Julgamento sobre terceirização no STF tem 5 votos a favor e 4 contra, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/julgamento-sobre-terceirizacao-no-stf-tem-5-votos-a-favor-e-4-contra.shtml).

No Brasil, as dificuldades de conhecimento revelam que o mercado confunde terceirização com pejotização (Após decisão do Supremo, empresas confundem terceirizados com PJs, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/09/apos-decisao-do-supremo-empresas-confundem-terceirizados-com-pjs.shtml). Ou seja, é melhor que as leis sejam binárias neste contexto intelectual. Sem a necessidade de distinguir entre atividade-meio e atividade-fim é possível que a justiça brasileira faça um trabalho melhor.

Na questão da terceirização é muito importante entender o ponto de vista dos profissionais que sabem trabalhar. O Maurício De Lion, afirmou que o controle da informação, exige que a empresa contrate funcionários próprios para evitar os vazamentos. O Eugenio Mattar CEO da Localiza afirmou que não terceiriza o atendimento ao cliente para manter a qualidade (Decisão do STF não terá impacto imediato, dizem empresas, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2018/08/com-regra-diferente-teto-fiscal-nos-estados-pode-desequilibrar-financiamento-a-educacao.shtml).

De uma forma indireta e discreta os dois executivos afirmaram que existem perdas de qualidade na operação empresarial com a terceirização. O nível de qualidade do atendimento terceirizado pode ser visto na qualidade da resposta de uma operadora de telecomunicações sobre uma reclamação sobre uma linha móvel exclusiva de internet (“Em atenção ao seu e-mail, informamos que sua linha não possui pacotes ativos, para prosseguirmos entre em contato com 1052”).

O atendente humano respondeu que não existem pacotes ativos para uma linha celular pós paga exclusiva de Internet. Esta linha existe apenas porque é uma linha pós paga de internet móvel e o gênio do atendente não encontrou um pacote ativo de internet nesta linha. É fácil perceber porque o CEO da Localiza afirmou que não terceiriza o atendimento ao cliente para manter a qualidade.

É fácil perceber que é maior a produtividade dos funcionários próprios na execução das atividades recorrentes e que é maior a produtividade dos terceirizados na execução das atividades esporádicas. É preciso não confundir a terceirização ou pejotização com a contratação de serviços. Contratar, por exemplo, serviços cloud ou de valor agregado de TI das empresas Google ou Microsoft ou Amazon ou IBM não é uma forma de terceirização da mão da obra.

A organização que contrata tais serviços de valor agregado de TI está apenas contratando recursos externos. A contratante recebe um serviço totalmente formado pelo fornecedor. Ela tem acesso a experiência de usuário proposta pelo operador do serviço, ou em outras palavras, a contratante recebe o Customer Success proposto pelo ofertante.

Na terceirização de um datacenter, a empresa contratante explicita na Request for Proposal os parâmetros para a contratação da terceirizada. É de obvia percepção que tal processo é muito diferente da contração dos serviços cloud ou de valor agregado de TI das empresas Google ou Microsoft ou Amazon ou IBM

O Kenneth Arrow, economista Prêmio Nobel (1972), afirmou que no longo prazo, apenas as firmas que não discriminam na contratação de recursos humanos sobreviverão. A socióloga Devah Pager da universidade Harvard estudou firmas que discriminam e que não discriminam na contratação de recursos humanos no ano de 2004. Os resultados alcançados em 2010 por estas empresas foram:

·        17% das firmas que não discriminam na contratação de recursos humanos faliram até 2010
·        36% das firmas que discriminam na contratação de recursos humanos faliram até 2010

Em outras palavras, a probabilidade de um empregador que discrimina sair do mercado é mais que duas vezes maior do que uma que não discrimina na contratação de recursos humanos. Não é de graça que as firmas estão adotando a seleção às cegas para preconceitos inconscientes como o que existe contra o cabelo branco (Por mais diversidade, empresas ignoram nome e idade em currículo, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/07/por-mais-diversidade-empresas-ignoram-nome-e-idade-em-curriculo.shtml).

Foi afirmado por empresas como Deloitte, HSBC e BBC que esta pratica resulta em maior diversidade na mão de obra e maior lucro (How “Blind Recruitment” Works And Why You Should Consider It, https://amp.fastcompany.com/3057631/how-blind-recruitment-works-and-why-you-should-consider).

Na Europa e Japão, a população de idosos constitui um mercado bilionário (Empresas descobrem novos mercados bilionários com crescimento do número de idosos, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/08/empresas-descobrem-novos-mercados-bilionarios-com-crescimento-do-numero-de-idosos.shtml). É fácil entender porque as empresas estão contratando os cabelos brancos para atender este perfil de consumidores. Também é não é difícil perceber porque estas empresas estão tão preocupadas com a diversidade da mão de obra.

Um comentário:

  1. Excelente artigo e muito atual Ricardo Mansur, sofro na pele a discriminação do cabelo branco somado a alta exigência de capacitação atual do mercado. A capacitação eu posso e estou correndo atrás com atualizações constantes mas a discriminação é algo que não consigo impedir.

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