Na primeira parte do artigo foram
tratadas as questões funcionais da grande mudança. Nesta segunda parte serão
abordados os aspectos monetários. Acredito que todos reconhecem que a
transformação digital é uma realidade em 2015. No entanto, diversos aspectos da
era do conhecimento ou da reputação estão sendo negligenciados no Brasil. O
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vem investindo uma
grande parte do seu capital monetário e intelectual em empresas escolhidas como
campeãs brasileiras. O Brasil pouco ou nada ganhou com o gigantesco subsídio
dado pelo BNDES nos empréstimos destinados para as empresas do Eike batista, OI
e JBS.
A chamadas campeãs nacionais vem
oferecendo um retorno econômico e social negativo ou nulo. Não existe logica
alguma na manutenção desta estratégia. Ao mesmo tempo em que dezenas de bilhões
de reais foram subsidiados nos empréstimos para as consideradas pelo governo
brasileiro como empresas campeãs, pouco ou nada foi destinado para a
transformação digital. Lamentavelmente, inexistiu a percepção que diversas
empresas de perfil similar ao Facebook seriam criadas durante a introdução da
economia compartilhada por jovens sem capital financeiro e monetário, mas com
muito capital intelectual.
O sistema bancário nacional não foi e
ainda não é capaz de identificar e contabilizar o capital intelectual
individual, por isto ele não oferece financiamento aos jovens empreendedores
desprovidos de ativos físicos. Este é um dos motivos porque nenhuma das grandes
empresas da economia compartilhada nasceu no Brasil. A nossa participação
empresarial neste segmento gigantesco é praticamente nula. Simplesmente
assistimos ao nascimento de empresas como a Netflix, Uber, AirBnB e etc. Não
existiu em momento algum a percepção de que a identificação de uma oportunidade
como o Facebook, Twitter, AirBnB e etc. seria feita um jovem. Eles estavam
sentindo na pele as dificuldades causadas pela ausência das ferramentas
sociais. Não ter dinheiro para pagar o alto custo dos torpedos SMS, foi o
motivador para a criação do WhatsApp. Os adultos tinham planos de celular com
SMS ilimitado e por isto demoraram tanto para entender a necessidade.
Os jovens que identificaram e
protagonizam as oportunidades como o Facebook, Twitter e etc. precisaram do
apoio técnico e logístico das universidades e financeiro do sistema econômico.
No Brasil, a maioria dos jovens não tem acesso a nenhum destes apoios. Da mesma
forma que é preciso estar na pele de um jovem para sentir oportunidades do
perfil do Facebook é preciso pertencer a faixa etária mais avançada para
entender as oportunidades derivadas do crescimento da expectativa de vida.
Novamente estamos diante do mesmo problema. Existem muitas iniciativas, mas
quase nenhuma “finalizativa”. O sistema financeiro enxerga como um problema as
propostas empresariais do empreendedor de cabelo branco. Ele teme empresta, pois
acha que vai perder o capital por óbito do solicitante.
Se um empreendedor acima de 50 anos for
buscar capital de risco nos eventos de startups no Brasil, ele vai descobrir a
intensidade do preconceito contra o cabelo branco. Vai ser chamado de vovô e
será ignorado pelos investidores. É evidente que tal comportamento e velado e
desmentido pelo mercado. O BNDES precisa agir como o banco de fomento definido
na sua missão e entender que o mercado mudou. Jovens de 12 anos são
na realidade da era do conhecimento empreendedores, assim como as pessoas acima
de 50 anos. É preciso agir pelo fomento social e oferecer capital de risco para
estes empreendedores do conhecimento. É evidentemente que apenas alguns dos
projetos vão vingar, mas esta é a natureza do capital de risco. Muitas das
empresas que receberam empréstimos subsidiados pelo contribuinte brasileiro tem
acesso ao mercado internacional. É preciso que o BNDES equalize melhor a
divisão desta conta e internalize as características mais marcantes da
transformação digital.
O artigo “Brasil precisa de investidor
que aceite risco, afirma especialista” (http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/2015/07/1647645-brasil-precisa-de-investidor-que-aceite-risco-afirma-especialista.shtml, acessado em 24/07/2015) revelou que o investidor
brasileiro tem receio de investir nas empresas iniciantes, prefere investir na
empresas de alto faturamento e a falta de interesse do capital privado nacional
é um dos principais obstáculos para o crescimento das empresas iniciantes no
Brasil. O depoimento do especialista mostra claramente que o dinheiro BNDES é
mais necessário para as empresas iniciantes do que as campeãs. As gigantes
conseguem capital barato em diversos lugares. As iniciantes simplesmente não
nascem. O país está perdendo muito.
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