Como todos sabem o ano de 2014 foi de crescimento pífio do PIB brasileiro (“Economia brasileira cresce 0,1% em 2014, pior resultado em 5 anos, diz IBGE”, http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/03/27/pib-2014.htm, acessado em 01/04/2015). No entanto, existem setores que escaparam das garras do governo do PIB mínimo. Um deles é o comércio eletrônico. Os dados consolidados revelam que o crescimento do e-commerce foi digno de um país de PIB máximo como a China (26%. Fonte: “Brasil.com.br, que País é esse?”, http://computerworld.com.br/brasilcombr-que-pais-e-esse, acessado em 01/04/2015).
O que gerou efeito tão espetacular em uma economia tão deprimida? Um dos motivos é a estatística. Como a base não é tão grande é possível crescer com força com um nível básico de acerto empresarial. Não tem sentido avançar neste aspecto, porque ele é um mero efeito aritmético. O segundo motivo do crescimento é bem mais interessante. O Brasil é um país com graves problemas distributivos e por conta disto existem cidades que sequer tem uma banca de jornal. O comércio eletrônico está avançando no país, porque ele consegue oferecer produtos e serviços inexistentes em diversos lugares. Na medida de velocidade do avanço da banda larga, o e-commerce vai crescendo. Como as carências nacionais geraram uma enorme demanda, existe um espaço de crescimento gigantesco para o comércio digital.
O mundo virtual permite comparações instantâneas de preços e disponibilidades e por causa disto pode corrigir distorções do mundo físico. Um exemplo atual mostra porque o negócio digital é capaz de crescer exponencialmente. Com a epidemia da dengue em São Paulo em 2015, os estoques de repelentes do mosquito ficaram esgotados nas farmácias da capital paulista. Como a epidemia não está presente nos estados do sul do Brasil, muitos paulistas estão comprando os repelentes nas lojas de Porto Alegre (“Avanço da dengue cria corrida por repelentes em SP”, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/03/1609533-avanco-da-dengue-cria-corrida-por-repelentes-em-sp.shtml, acessado em 01/04/2015). Sem o negócio digital, seria muito difícil e caro realizar tais transações. Se a digitalização do negócio tem este impacto no crescimento do país, então porque não existem políticas públicas de facilitação da criação deste ambiente?
Com toda a sinceridade eu não consigo entender e responder esta pergunta. Parece que é óbvio, mas desde o início efetivo da digitalização do negócio em 2008, o governo do Brasil vem ignorando por completo o potencial econômico deste novo formato de fazer negócios. Nem mesmo o consistente crescimento expressivo do setor consegue sensibilizar o governo nacional. A única movimentação organizada foi o Marco Civil de Internet que exige diversas regulamentações não feitas e já tem defensores da não regulamentação de esquisitices propostas na lei aprovada (“Como regulamentar o Marco Civil?”, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/tec/214157-como-regulamentar-o-marco-civil.shtml, acessado em 01/04/2015)
O Brasil ainda não percebeu que o país criou uma armadilha para o seu crescimento ao promover uma enorme concentração de pessoas em São Paulo. O processo de concentração iniciado nos anos 1960 resultou em mais de 20% da população residindo em cerca de 3% do território nacional. Os recursos naturais estão sendo exauridos ao mesmo tempo que o desenvolvimento de 97% do país está sendo inibido. A concentração em São Paulo leva a situação perversa onde o desenvolvimento está focado em uma região com razoável nível de avanço, pois a grande massa potencializa o lucro e a maior parte do território nacional tem que duelar ferozmente para conseguir algum desenvolvimento. o principal motivo de cidades razoavelmente populosas não terem uma banca de jornal está profundamente relacionado com esta absurda concentração populacional. O atual partido no poder além de nada fazer para resolver o problema da concentração, faz o oposto: Incentiva a concentração e restringe o crescimento do PIB brasileiro.
A digitalização dos negócios tem a propriedade de mudar esta dinâmica. É possível agora estabelecer uma banca de jornal em uma cidade pequena e expandir o negócio para as cidades próximas pela Internet. Em diversos lugares do Brasil já existem as condições de infraestrutura. O que está faltando é a capacitação. E não é apenas para banca de jornal. É possível avançar em áreas complexas como a medicina. Já é possível fazer exames oftálmicos via remota em tempo real. Neste modelo, a infraestrutura é uma perna e a capacitação é a outra.
Para resolver o problema da capacitação, o governo pode adotar medidas simples e coerentes como pactuar no contrato do fies a obrigatoriedade de trabalhar em local determinado pelo estado por cinco anos. É uma forma inteligente e justa de resolver o problema de concentração populacional em São Paulo ao mesmo tempo em que leva capacitações para as pequenas cidades. A consequência da melhor distribuição do conhecimento é um rearranjo econômico que é capaz de produzir um ciclo de crescimento sustentável de longo prazo para o PIB brasileiro. O governo Dilma 2 está com a faca e o queijo na mão. É só ter a competência de fazer acontecer.
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