quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

The Big Mistake

O artigo “O agonizante momento das boas práticas” (http://istbrasil.blogspot.com.br/2015/02/o-agonizante-momento-das-boas-praticas.html, acessado em 17/02/1025) revelou erradamente que as melhores práticas como ITIL, COBIT estão agonizando no Brasil. O inexistente não pode agonizar. Na dura realidade nacional, as melhores práticas sequer nasceram no Brasil, por isto elas não podem estar agonizando.

O artigo acerta quando cita que existem ilhas de excelência. O Brasil sempre foi capaz de produzir ilhas em um oceano de mediocridade. Tal fato não é novidade, pois elas existem em diversos campos. Isto acontece porque existem setores da economia brasileira que não contam com a proteção governamental e por isto precisam competir intelectualmente contra os tubarões turbinados do resto do planeta (por mais inesperado que possa parecer, estas firmas brasileiras competem e vencem os gigantes).

Aliás, a proteção governamental é o exato motivo para o não nascimento das melhores práticas no Brasil. A sociedade nacional gosta e aprova monopólios do estado ou que estejam sob o controle dele. Este segmento que é majoritário no Brasil entende que o político de plantão é capaz de resolver cada um dos problemas dos milhões de brasileiros. Esta forma de agir e pensar gerou como consequência empresários e gestores com preocupações apenas de aparência com as melhores práticas. É o tradicional modelo parnasiano nacional onde a forma ou melhor aparência tem mais importância que o conteúdo.

Neste contexto, os constantes fracassos da economia nacional são simplesmente esquecidos a cada eleição onde invariavelmente surge um novo “gênio” salvador da pátria. Tivemos tantos exemplos que seria injusto citar só alguns. O mais famoso foi o Fernando Collor de Melo.

Se os fracassos são esquecidos e as perdas absorvidas pelos pobres do Brasil então porque as empresas iriam atrás de melhores práticas? Alguém se lembra da reserva de mercado em informática e dos bilhões entregues para grandes e ricos bancos donos das empresas de TI?

São raros os que lembram e posso garantir que muitos profissionais de TI defendem medidas similares de reserva de mercado sem sequer conhecer o estrago realizado no passado. Quais empresas daquela época sobreviveram? Existe uma indústria de informática brasileira? Lamento dizer, mas o resultado do monopólio controlado pelo estado brasileiro foi perda e atraso. Não foram alguns centavos, foram dezenas de bilhões perdidos.

Para que fazer o esforço em melhores práticas se é possível ficar pendurado no governo grátis e tirar dos milhões de pobres para dar para uns poucos ricos? O Brasil navega há muito tempo no oceano do monopólio e concentração de renda. Vou citar dois casos antigos e um atual para mostrar que nada mudou na forma de pensar na renda e trabalho na sociedade brasileira nos últimos 40 anos.

Nos anos 1980 ficou famoso o caso Grupo Coroa Brastel. Garanto que este escândalo é desconhecido ou esquecido pela maioria da população brasileira. O dono do grupo foi convencido pelo governo da ditadura militar para a compra de uma corretora falida. Ele era milionário e bem sucedido empresário à época. Ele tinha à sua disposição os melhores conselheiros sobre melhores práticas. Ele ignorou todos os avisos e números negativos e atendeu aos apelos do governo. Pouco tempo depois quebrou e morreu pobre. Ele esqueceu as melhores práticas, pois entendia que seria favorecido com poderes de exclusividade por ter ajudado o governo.  Quem perdeu? Trabalhadores, investidores e pobres.

Também nos anos 1980 ficou famosa a frase “Plante que o João garante”. Nunca na história da agricultura nacional o resultado foi tão negativo. Na mesa do brasileiro muitas coisas faltavam e outras eram mais caras todos os dias. Neste momento nasceu a inflação galopante no Brasil. Quem perdeu? Os trabalhadores que tiveram seu salário arrochado em vários momentos. Quem mais perdeu? Os investidores. Muitos foram embora e não voltaram mais. O Brasil já teve fábrica da GE por exemplo

Mais recentemente temos o escândalo do petrolão da empresa estatal Petrobrás que atua em regime de reserva de mercado ao comprar conteúdo nacional. Lembro que a governança da Petrobras já foi elogiada por centenas de profissionais de TI do Brasil. A governança da empresa foi exaltada como modelo em diversos congressos e seminários. Claramente ela gastou muito dinheiro em melhores práticas. Em 2015, foi estimada uma perda de quase 90 bilhões por perdas de corrupção, erros estratégicos e falhas operacionais. É muito difícil entender como tantos “especialistas” de governança de TI conseguiram elogiar vigorosamente a consistente adoção de melhores práticas para tecnologia de informações pela Petrobrás e encontrar uma realidade onde os sistemas de informações não detectaram perdas de dezenas de bilhões?

O petrolão deixa claro um dos principais motivos do não nascimento das melhores práticas de TI no Brasil. Claramente, o país é extremamente carente de profissionais qualificados. Na era do conhecimento quem não tem conhecimento não tem nada. Quem perdeu com o petrolão? Os pobres do Brasil e os trabalhadores dos fornecedores da Petrobras.

Mais uma vez a reserva de mercado e monopólio estatal geraram perdas enormes para o Brasil. Quem sabe em 2030 o país se recupere. Até lá será mais uma década perdida.

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