quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Economia dos aplicativos

O governo federal do Brasil iniciou o seu novo mandato em 2015 com mais uma proposta "genial". No artigo “Shoppings já acionam geradores em horário de pico de consumo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/206656-shoppings-ja-acionam-geradores-em-horario-de-pico-de-consumo.shtml, acessado em 04/02/2015) o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que quer que os shoppings centers usem mais energia de gerador e mudem horários de funcionamento.

O primeiro problema da “genialidade” proposta é que estes geradores foram dimensionados para suprir eventuais falta de energia. Eles não servem para operações rotineiras e prolongadas. O segundo aspecto é o agravamento do efeito estufa pela queima de combustível fóssil. A questão do horário é uma facada em uma economia que já está fortemente ferida. Considero impressionante que em apenas meio ano após a copa do mundo de futebol, o Brasil (que realizou a copa das copas. Será?) enfrente restrições de energia elétrica. O governo federal não declarou em 2014 para os “pessimistas de plantão” que a oferta de energia era abundante?

A única coisa com algum sentido do discurso do ministro foi o plano para lâmpada Led. Infelizmente ele é mais discurso do que fato. Seria bom o atual governo rever suas estratégias. Este preâmbulo permite destacar a importância da economia dos aplicativos no nosso estilo de vida atual. Para quem não sabe a economia dos aplicativos é definida como a utilização em larga escala de aplicativos móveis como canal de relacionamento entre as empresas e os consumidores ou entre empresas e funcionários, parceiros e fornecedores

Já existem exemplos concretos da presença dela no nosso dia a dia. Ao comprar uma televisão, estabilizador de energia, geladeira, carro e etc. os usuários recebem aplicativos que permitem configurar e monitorar o equipamento adquirido. Em pouco tempo os consumidores ficam dependentes destes aplicativos que controlam desde o consumo de energia elétrica até a rotina de manutenção dos equipamentos com agendamento automático. Neste caso, a economia dos aplicativos participa do processo de pós-venda dos fabricantes e fornecedores. Os aplicativos oferecem informações valiosas sobre o perfil de utilização e permitem explorar importantes oportunidades de negócio. As informações sobre utilização e manutenção geram dependências pela excelência e são extraordinárias ferramentas para a fidelização dos clientes.

Existem também os aplicativos que funcionam na etapa de pré-venda de alguns produtos como a lâmpada Led mencionada pelo ministro. A comparação da lâmpada led com a fluorescente e incandescente mostra que é preciso fazer cálculos bem acima do nível trivial para revelar as suas vantagens e benefícios para o consumidor. O preço de varejo mostra que ela é bem mais cara que a lâmpada incandescente, mas gasta muito menos energia e gera muito menos calor.

Nas altas temperaturas brasileiras a geração do calor das lâmpadas incandescentes é combatida pela refrigeração do ar condicionado, ventiladores e etc. Este consumo extra de energia elétrica só ocorre por causa do calor gerado pelas lâmpadas incandescentes, portanto este custo também deve entrar na comparação das lâmpadas. Vendedores e consumidores comuns tem muita dificuldade para calcular todos os fatores e o aplicativo é uma excelente solução como ferramenta de vendas e tomada de decisão. Existe uma enorme quantidade de equipamentos que tem a mesma característica de complexidade de avaliação do custo e benefício que a lâmpada led.

Como efeito de comparação é possível afirmar que uma lâmpada de 100 Watts incandescente produz a mesma quantidade de luz de uma de 23 Watts fluorescente compacta e de uma de 14Watts Led. Apenas a lâmpada led não produz calor. A lâmpada led converte 95% da energia consumida em luz e dura em média entre 30 e 50 mil horas e a lâmpada incandescente converte apenas 10% da energia consumida em luz e dura em média mil horas.

A grande quantidade de variáveis da equação do benefício é o principal motivo pelo qual a família de aplicativos de pré-venda de lâmpadas led vem crescendo tanto. A distorção das informações é tão intensa que existe uma enorme janela de oportunidades abertas para a economia dos aplicativos. Os aplicativos de chame táxi como “Easy Taxi” são exemplos de como as aplicações de pré-vendas já estão presentes no nosso dia a dia.

A sharing economy ou consumo colaborativo ou economia colaborativa é extremamente favorecida com a economia dos aplicativos na etapa de pré-venda. O consumo colaborativo ocorre quando as pessoas compartilham a utilização de um bem comum. O compartilhamento pode ocorrer por causa de horários de utilização diferenciados por causa da sazonalidade, por necessidades complementares e etc.

Um sério candidato para o consumo colaborativo no futuro é o carro particular. Em pouco tempo as pessoas estarão compartilhando carros e garagens através de aplicativos. Esta imensa base de informações poderá ser utilizada pelos governos para políticas públicas da ocupação do espaço nas cidades. A necessidade de otimização do consumo de energia no Brasil destacada pelo ministro de Minas e Energia do Brasil deve fazer parte do dia a dia porque a água é um recurso finito e escasso. Infelizmente apenas na crise o atual governo acordou para a ênfase de eliminar as perdas e desperdícios do consumo de energia elétrica.

A economia dos aplicativos é sem sombra de dúvida um elemento chave para direcionar a população para a otimização dos seus gastos energéticos.  A governança da TI verde pode ser facilitada pelos aplicativos de pré-venda, pós-venda, compartilhamento e otimização. É evidente que não tem sentido algum gastar bilhões de reais na iluminação pública por led se dentro das casas e empresas existe um gasto de energia elevado e desnecessário via televisores de tubo de raios catódicos, portais de Internet de cores claras e iluminadas, caixas eletrônicos que estão ligados e não funcionam, eletrodomésticos que produzem mais calor que o necessário, computadores com fontes de alimentação de baixa eficiência e etc.


Um exemplo da área de Tecnologia de Informações e Comunicações deixa bem claro o enorme espaço que existe para reduzir o consumo de energia sem racionamentos ou maiores sacrifícios da população brasileira. Um típico datacenter nacional tem Power Utilization Efficincy (PUE) de 2,4. Lembro que o PUE é a razão entre o consumo total do datacenter (inclui refrigeração, iluminação e etc.) pela energia consumida pelos equipamentos de tecnologia. O melhor PUE possível é 1,0. Um PUE de 2,4 significa que os datacenters que são centrais de computadores que consonem muita energia estão consumindo 2,4 Watts por hora para uma necessidade de apenas 1,0 Watt por hora. Elas estão transformando em calor inútil, ou seja, desperdiçando quase 60% da energia paga. Numa economia em ajuste como a brasileira em 2015 com crise de água e energia isto significa que estamos jogando no lixo muito dinheiro e energia elétrica. A economia dos aplicativos está ai para resolver vários desafios brasileiros. Seria bom ver o ministro Eduardo Braga acordar para ela e criar mecanismos para solucionar o grave problema nacional de energia elétrica.

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