quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Governança de TI e os ilusionistas

Nos últimos anos eu venho recebendo uma grande quantidade de mensagens de profissionais enaltecendo os seus méritos nos projetos de governança de Tecnologia de Informações (TI) realizados pelo setor financeiro nacional. Todos destacaram que os sistemas são robustos com elevada disponibilidade e alto nível de segurança.  Muitos destacaram os papéis que eles desempenharam nos projetos de ITIL e COBIT dos bancos. Em geral estes profissionais que destacaram o enorme avanço da governança no setor financeiro alegavam que estavam sem tempo para responder as minhas perguntas sobre como os projetos foram executados. Eles preferiam alardear apenas palavras de ordem.

Lamentavelmente a realidade dos fatos é cruel contra os que vivem no mundo das ilusões. O artigo” MPF investiga 'erro' que custou R$ 1 bilhão à Caixa” (http://epocanegocios.globo.com/Empresa/noticia/2016/10/mpf-investiga-erro-que-custou-r-1-bilhao-ao-banco.html, acessado em 27/10/2016) revelou o altíssimo custo da fragilidade da governança de TI para os bancos brasileiros. Por um erro (ainda está sendo investigado se foi realmente erro) foi publicado (entre setembro de 2008 e agosto de 2009) na produção um aplicativo com falhas estruturais que gerou uma perda de 1 bilhão de reais para o banco. Caso a governança de TI estivesse tão avançada e madura como os terceiros de empresas terceirizadoras afirmavam existiriam mecanismos e processos que impediriam que este aplicativo fosse instalado e permanecesse no ambiente de produção. No mínimo existiriam relatórios de auditoria apontando o problema, os responsáveis, as soluções e quem determinou que um aplicativo com erro entrasse em produção.

Nada disto existe. Os pejotinhas não apontaram os problemas nos relatórios de auditoria. Os que olham os fatos com conhecimento e capacitação perguntam como foi possível ter tantos profissionais enaltecendo o pleno sucesso na adoção do COBIT e ITIL e inexistir a competência de gerenciamento das liberações? A competência é um item básico destas melhores práticas.

Os fatos mostram que que o corrido não é um fato isolado. Em 2016, o processo de migração dos clientes corporativos do HSBC para o Bradesco falhou e como consequências milhares de trabalhadores não receberam os seus salários na data correta. O artigo “Clientes que eram do HSBC têm salário atrasado com migração para Bradesco” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/10/1824084-clientes-que-eram-do-hsbc-tem-salario-atrasado-com-migracao-para-bradesco.shtml, acessado em 27/10/2016) revelou um grande volume de falhas na migração das contas pessoas jurídicas. Não existiu um plano alternativo. O básico da governança exige que antes de publicar uma revisão de um software, que o mesmo seja testado em um ambiente isolado e controlado e depois que o mesmo seja simulado fora da produção em um ambiente que é a cópia fiel do ambiente de produção. No caso explicitado pelo artigo, A falha no processo de liberação de uma nova versão de aplicação ocorreu sem a execução de um plano de contingência contra falhas (assumindo que ele existisse). O erro ocorreu e quem foi chamado para pagar a conta foram os trabalhadores que ficaram sem os seus salários.


O artigo “Caixa Econômica Federal fica fora do ar em todo o país” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1544212-caixa-economica-federal-fica-fora-do-ar-em-todo-o-pais.shtml, acessado em 27/10/2016) é de 2014. Ele reforça que as fragilidades na governança de TI estão presente no sistema financeiro nacional há muito tempo e pouco ou nada vem sendo feito para eliminá-las.

O artigo “Brechas em sites do Bradesco e do Banco do Brasil expõem milhões de clientes” (http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/08/1331286-brechas-em-sites-do-bradesco-e-do-banco-do-brasil-expoem-milhoes.shtml, acessado em 27/10/2016) revelou que um jovem analista de sistemas identificou falhas de segurança nos sites do Banco do Brasil, do Bradesco, do serviço de pagamentos Moip e da Boa Vista Serviços (administradora do cadastro de devedores SCPC) que expuseram a privacidade dos clientes. Foi preciso a manifestação de uma pessoa de fora para que estas organizações descobrissem as suas graves vulnerabilidades de segurança. O básico da governança de TI afirma que devem ser realizados testes periódicos de segurança e que as falhas graves devem ser corrigidas imediatamente. Mais uma vez o sistema financeiro apresentou uma governança de TI frágil.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma Nova ameaça econômica nasceu

Uma nova ameaça para a combalida economia brasileira surgiu na sexta feira dia 21 de outubro de 2016. A ameaça não estava nos nossos principais manuais de segurança digital. O ataque que ocorreu nos Estados Unidos contra a empresa Dyn que é um provedor de serviços DNS, interrompeu serviços e portais como: Twitter, Spotify, GitHut, Netflix, PlayStation Network, Amazon, The New York Times, CNN, Pinterest, HBO Now, Xbox Live, Reddit, Airbnb e etc.

Este fato novo trouxe à tona um novo perigo para a recuperação econômica do Brasil. É possível que um ataque de hackers nos Estados Unidos inabilite serviços e portais de internet americanos e gere um impacto negativo na economia do Brasil? Os céticos provavelmente vão responder negativamente. Infelizmente é possível e já ocorreu.

Na sexta feira dia 21 de outubro de 2016 ocorreu um ataque distribuído de negação de serviço (DDoS) contra a empresa Dyn indisponibilizando uma grande parte da Internet nos Estados Unidos, porque a organização é a provedora de serviços DNS para várias firmas gigantes da web. Como o provedor é o fornecedor das empresas de serviços de internet que são largamente utilizadas, então os brasileiros usam os portais Twitter, Spotify, GitHut, Netflix, PlayStation Network, Amazon, The New York Times, CNN, Pinterest, HBO Now, Xbox Live, Reddit, Airbnb e etc. para realizar transações comerciais também sofreram com a interrupção da internet. Vários negócios foram paralisados.

O artigo “Bloqueio à internet no Brasil custou R$ 360 milhões” (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2016/10/1825554-bloqueio-a-internet-no-brasil-custou-r-360-milhoes.shtml, acessado em 26/10/2016) revelou que o bloqueio de serviços de internet gerou uma perda de 360 milhões de reais para o Brasil. A paralisação pelo ataque DDoS gerou uma perda econômica da mesma ordem de grandeza.


Esta nova ameaça pode ser combatida com a tecnologia Blockchain que cria uma rede ponto-a-ponto independente de um canal centralizador de infraestrutura. Mesmo submetida a um ataque a rede permanece operacional, pois sempre será possível que um nó da rede substitua o papel executado pelo nó que está sendo atacado. É preciso que o Brasil saia do marasmo e avance com rapidez nas ações para que ataques como este não impactem negativamente o frágil PIB nacional.

Jogos Olímpicos Rio 2016

As boas práticas de gestão enfatizam as virtudes da avaliação dos resultados alcançados com os projetos realizados. A Olimpíada realizada no Rio de Janeiro em 2016 foi avaliada de forma positiva por muitos na impressa nacional e internacional. Todas as análises focaram na beleza plástica do evento. No caso da impressa internacional e dos estrangeiros é normal que a avaliação seja realizada nesta dimensão (fonte: A aprovação basta para dizer que os megaeventos foram bem-sucedidos?, http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/2016/10/1825327-a-aprovacao-basta-para-dizer-que-os-megaeventos-foram-bem-sucedidos.shtml, acessado em 25/10/2016). Os estrangeiros não estão preocupados com o valor gasto na festa e com quem vai pagar a conta bilionária. Para eles este assunto é interno ao Brasil.

No entanto, a impressa nacional e os brasileiros devem analisar o evento sob uma outra dimensão. Infelizmente, foram raros os que olharam o evento sob o ponto de vista de quem vai pagar a conta da festa. No meu ponto de vista, o Brasil só deve fazer festas se tiver retorno de investimento. O país é muito pobre e cheio de carências para pagar por festas para pessoas ricas. O artigo “Em fim de gestão, Haddad reduz entrega de leite para crianças” (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/10/1825957-em-fim-de-gestao-haddad-reduz-entrega-de-leite-para-criancas.shtml, acessado em 25/102016) revelou que nem mesmo o leite das crianças está sendo preservado no nosso país.

Eu não consigo entender como um país que gastou dezenas de bilhões de reais na realização da copa do mundo de futebol de 2014 e das olimpíadas de 2016 não tem dinheiro para comprar o leite das crianças ou para pagar os salários dos funcionários e aposentados. Para os que tanto falam complexo de vira-latas e humilhações (fonte: As seleções masculina e feminina precisam acreditar em si, http://www1.folha.uol.com.br/colunas/jucakfouri/2016/08/1803364-as-selecoes-masculina-e-feminina-precisam-acreditar-em-si.shtml, acessado em 25/10/2016), eu não consigo ver nada mais depreciativo do que faltar leite para as crianças. Todo o brilho conquistado pela bela plástica dos jogos olímpicos foi perdido com a divulgação mundial das seguintes notícias (todas acessados em 25/10/2016):

2.    Quebrado, Rio-2016 teve R$ 255 mi da bilheteria bloqueados para pagar Vila, http://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2016/10/14/quebrado-rio-2016-teve-r-255-mi-da-bilheteria-bloqueados-para-pagar-vila/
7.    Governo libera R$ 2,9 bi para cobrir gastos com segurança na Rio-2016, http://blogdobrito.blogosfera.uol.com.br/2016/10/26/governo-libera-r-29-bi-para-cobrir-gastos-com-seguranca-na-rio-2016/

No artigo “Medalha de prata” (http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/09/1814954-medalha-de-prata.shtml, acessado em 25/10/2016) foi afirmado que a copa e as olimpíadas custaram R$ 40 bilhões para os cofres públicos em financiamentos subsidiados e em investimentos. Os empréstimos com juros subsidiados concedidos para a iniciativa privada estão sujeitos aos raios e trovoadas como no caso do estádio da abertura da copa de 2014 (“Corinthians parou de pagar o principal do débito em abril de 2016”, fonte: Caixa só aceita dar alívio parcial à dívida da Arena Corinthians, http://rodrigomattos.blogosfera.uol.com.br/2016/10/11/caixa-so-aceita-dar-alivio-parcial-a-divida-da-arena-corinthians/, acessado em 22/10/2016). Ou seja, o custo real do empréstimo é muito maior que o valor anunciado, pois enquanto o poder público paga juros de mercado pelo dinheiro emprestado ele recebe calote dos devedores.

A conta dos jogos está aumentando cada vez. Quando são analisadas as contas Comitê Organizador da Rio-2016, o resultado é estarrecedor, pois não foram pagos os ingressos devolvidos, os fornecedores e nem os trabalhadores que realizaram o evento. Em outras palavras, os pobres brasileiros financiaram uma festa para os ricos que foram convidados pelo governo que colocou o país na maior recessão da sua história. Os membros do governo que foi destituído defenderam e ainda defendem a impressionante concentração de renda a favor dos mais ricos e em detrimento dos mais pobres alegando que nos próximos anos o turismo nacional vai crescer.

Estes mesmos argumentos foram usados para justificar o desperdício de bilhões de reais na realização da copa de futebol de 2014. A pesquisa do ministério do Turismo afirmou que 87,7% dos estrangeiros que acompanharam os jogos tem interesse em voltar ao país. Os artigos “Pós-Copa, hotéis demitem, fecham e viram até clínica médica” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/07/1788022-pos-copa-hoteis-demitem-fecham-e-viram-ate-clinica-medica.shtml, acessado em 25/10/2016) e “Organização da Copa é bem avaliada por 83% dos estrangeiros” (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/folhanacopa/2014/07/1486055-organizacao-da-copa-e-bem-avaliada-por-83-dos-estrangeiros.shtml, acessado em 25/10/2016) mostraram que os turistas não voltaram nos anos seguintes. Foi revelado que o faturamento das operadoras de turismo caiu 7% no ano de 2015 em relação ao ano de 2014 e 7% no primeiro semestre de 2016 em relação ao mesmo período de 2015 (Olimpíada não ajudou agências de turismo, diz entidade, http://www1.folha.uol.com.br/colunas/mercadoaberto/2016/10/1821719-com-a-crise-na-construcao-sobe-exportacao-de-madeira.shtml, acessado em 25/10/2016). A realidade mostrou que os turistas estrangeiros que nos visitaram em 2014 não voltaram para os jogos de 2016.


Os altos índices de turistas pesquisados que afirmaram que pretendem retornar ao Brasil são única e exclusivamente a expressão da simpatia deles com o seu anfitrião. É óbvio que eles responderiam que voltariam. O fato real é que os que vieram para a copa não voltaram para a olimpíada. Em resumo, os dois megaeventos jogaram no lixo o suado imposto pago pelos brasileiros, pois o retorno de investimento alcançado está sendo muito pobre. A conta de bilhões de reais ficou para os brasileiros pagarem.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Fragilização do Emprego

Em setembro, predominou na pauta dos meus encontros com os empresários e estudantes o tema reforma do emprego no Brasil. Nas conversas, ficou claro que muitos ainda têm uma visão distorcida do emprego e do trabalho no Brasil e que falta compreensão sobre qual será o impacto da indústria 4.0 no emprego e trabalho no nosso país.  A principal distorção que existe na cabeça de uma grande parte dos agentes de mercado sobre o emprego e trabalho é a mistura deles como sinônimo. Recentemente eu li no blog de uma de uma das principais empresas evangelizadoras em recursos humanos no Brasil que as empresas exponenciais são organizadas por projetos e no mesmo texto o autor destacou uma pesquisa falando de milhões de oportunidades que serão geradas entre o ano de 2010 e 2020 para os profissionais que trabalham por projetos.

Infelizmente, o artigo reforça o grave erro de interpretação que muitos estão cometendo sobre o que vem acontecendo no mercado de emprego e trabalho internacional e brasileiro. As empresas exponenciais não estão gerando oportunidades de trabalho por projeto. Elas estão na realidade gerando oportunidades de trabalho por atividade. O que eu quero dizer com isto?

Estas empresas mantém um corpo de empregados que são o núcleo do planejamento corporativo. Este núcleo são o que podemos chamar de empregados. Estas pessoas que estão dedicando a sua carreira profissional para que a empresa alcance o seu Massive Transformative Purpose (MTP) planejam os projetos da organização. Os empregados da firma desdobram o planejamento em atividades e toda a vez que uma atividade necessita de recursos humanos para a sua execução eles contratam as pessoas para realizar aquela ação específica. Normalmente as empresas buscam estes recursos nos portais como Gigwalk (http://www.gigwalk.com/, acessado em 24/10/2016).

As contratações duram apenas o período de duração da atividade, por exemplo, a demonstração de um produto em todos os supermercados da zona sul da cidade de São Paulo durante um final de semana. É fácil perceber que é uma contratação por atividade e não por projeto. O projeto vai demonstrar o produto em todos os supermercados da cidade de São Paulo e vai durar alguns meses.

A pesquisa “PMI’s INDUSTRY GROWTH FORECAST” (http://www.pmi.org/-/media/pmi/documents/public/pdf/business-solutions/project-management-skills-gap-report.pdf, acessado em 24/10/2016) afirmou que serão gerados aproximadamente 16 milhões de novos papeis ano no gerenciamento de projetos entre 2010 e 2020. Para os que entenderam a base de dados da pesquisa fica claro que serão geradas 16 milhões novas atividades e não 16 milhões de novas oportunidades de trabalho. Os profissionais atuam em uma das atividades do projeto. A duração do projeto é muito maior do que a duração da participação do profissional.

Felizmente, foi possível esclarecer os grupos de estudantes e empresários estas diferenças. Pode parecer que é uma mera questão de semântica, mas não é. A diferença numérica do equilíbrio da oferta e demanda por profissionais é muito grande e pode gerar uma legião de desempregados altamente qualificados por excesso da oferta de mão de obra. Os agentes de mercado têm que ser responsáveis, claros e objetivos e manter os estudantes e empresários corretamente informados dos fatos. Quando o assunto Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) entrou pauta, todos os presentes elevaram o nível da sua excitação. Muitos ataques e defesas sobre a CLT foram realizados com base em suposições, intuições e emoções.

Em função dos aspectos emocionais, eu resolvi trazer os números para o debate. O Brasil tem cerca de 200 milhões de habitantes (Brasil tem mais de 204 milhões de habitantes, diz IBGE, http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/08/28/brasil-tem-mais-de-204-milhoes-de-habitantes-diz-ibge.htm, acessado em 24/10/2016). Destes 204 milhões de habitantes, 166 milhões de pessoas estão em idade de trabalho (Com alto índice de desemprego, Brasil joga fora o seu futuro, http://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/2016/10/1819886-com-alto-indice-de-desemprego-brasil-joga-fora-o-seu-futuro.shtml?mobile, acessado em 24/10/2014).

Dos que estão em idade de trabalho, 64 milhões não trabalham e nem estudam, ou seja, desistiram de procurar trabalho por causa da falta estrutural de emprego. Portanto a força de trabalho é de 102 milhões de pessoas. Em setembro de 2016, o Brasil apresentou o cenário onde 90 milhões estão empregados e 12 milhões estão desempregados (total 102 milhões). Dos 90 milhões que estão empregados o Brasil registrou no final do ano de 2015 48,06 milhões de empregos com carteira assinada (Brasil perdeu 1,5 milhão de vagas com carteira assinada em 2015, pior marca em 31 anos, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/09/1813988-brasil-perdeu-15-milhao-de-vagas-com-carteira-assinada-em-2015-pior-marca-em-31-anos.shtml?mobile, acessado em 24/10/1016). Ou seja, os 48,06 milhões entre 166 milhões de pessoas estão em idade de trabalhar tem empregos CLT representam apenas 28,95% dos empregos.

Em outras palavras, a reforma da CLT com precarização do trabalho já ocorreu. Querer discutir “nenhum direito a menos” como as pessoas que destruíram o país querem discutir insanamente através de manifestações e distúrbios é algo sem nexo algum. As tolices defendidas pelos setores atrasados da sociedade brasileira e a ausência de conversas concretas sobre o emprego e trabalho no Brasil geraram a pior reforma possível da CLT no país. Ela ocorreu de forma arbitrária com a perda de todos os direitos para aproximadamente 120 milhões de pessoas. Os 48 milhões que ainda tem empregos CLT são privilegiados e estão sob enorme ameaça.

Em poucos anos, as atuais posturas vão nos levar para a extinção na prática da CLT. A recente greve dos bancários (Greve dos bancários é encerrada em todo o País, http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2016/10/greve-dos-bancarios-e-encerrada-em-todo-o-pais, acessado em 24/10/2016) mostrou aos patrões que o seu impacto no dia a dia da população foi pequeno. O crescimento dos bancos virtuais como o Nubank (Diferente de tudo que você já viu. Conheça o Nubank, https://www.nubank.com.br/, acessado em 24/10/2016) vem mostrando que os computadores já estão substituindo o trabalho realizado pelos bancários aqui no Brasil.

É preciso urgentemente rever os posicionamentos atuais e olhar com seriedade para o futuro do emprego e trabalho. O artigo “Bloqueio à internet no Brasil custou R$ 360 milhões” (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2016/10/1825554-bloqueio-a-internet-no-brasil-custou-r-360-milhoes.shtml, acessado em 24/10/2016) revelou o tamanho da perda que o Brasil teve com o bloqueio de serviços de valor agregado de internet. Foram 300 milhões de reais jogados no lixo. É a hora de repensar a CLT em face do mundo existente em 2016 para que ela comporte as novas formas de trabalho. O mundo mudou. Precisamos inclusive regulamentar como seria a exportação do trabalho para pessoas que estão fisicamente no Brasil.

É preciso que a questão do emprego e trabalho deixe de ser tratada como uma retórica teórica defendida com unhas e dentes através de manifestações na avenida Paulista e greves e vire uma solução real para os 166 milhões de brasileiros que estão em idade de trabalho. A realização da pior reforma trabalhista do mundo exige uma nova postura dos brasileiros. É preciso, por exemplo, cortar o acesso de fraudadores ao mercado de trabalho. Não existe maior fragilização do emprego do que um trabalhador ter que ler um roteiro mentiroso para os clientes para proteger a incompetência do seu empregador. Isto é humilhante.

Recentemente, eu entrei em contato com o atendimento de uma operadora de telefonia celular por causa da ativação de um serviço não solicitado e autorizado. Diante da minha afirmação sobre a ativação de um serviço não autorizado e solicitação e que não queria gastar o meu cancelando serviços que não solicitei (era caso recorrente), a atendente insistiu em afirmar que são ativados apenas os serviços solicitados pelos clientes. Em momento algum ela apresentou uma prova da afirmação que ela leu no seu roteiro de atendimento. Apenas leu um texto que estava em clara oposição ao fato relatado. Ela não apresentou nada que comprovasse a afirmação dela. Nem mesmo, a constatação do fato que o serviço nunca foi utilizado foi capaz de mudar a postura da atendente. Em qualquer lugar quem contrata um serviço, utiliza este serviço em algum momento. Quando um cliente que afirmou que não contratou um serviço, apresenta zero de utilização do mesmo, o bom senso deveria fazer que a atendente escale o assunto para o departamento de combate às fraudes e não mais repita um roteiro.


Eu não consigo enxergar maior fragilização do emprego do que um funcionário não poder falar a verdade para o consumidor para encobrir a incompetência do seu patrão. É preciso tratar deste tema com a devida seriedade na reforma da CLT.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Blockchain: Uma nova e poderosa economia nasceu

A eliminação do intermediário acreditador proporcionada pela tecnologia Blockchain para os agentes regulamentadores privados gera uma situação de elevado risco para as bolsas de valores como o BM&FBOVESPA (http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/index.htm, acessado em 19/10/2016). Elas poderão desaparecer caso não evoluam o seu modelo de negócio para a economia das criptotransações. A bolsa de valores Nasdaq Stock Market (http://www.nasdaq.com/, acessado em 19/10/2016) já percebeu a realidade e está investindo em novas soluções.

Em 2016 a bolsa lançou o Nasdaq Financial Framework baseado na tecnologia Blockchain (Nasdaq Opens Blockchain Services to Global Exchange Partners, http://www.coindesk.com/nasdaqs-blockchain-services-global-exchange/, acessado em 19/10/2016). A dupla Bitcoin e Blockchain pode gerar um novo formato para o negócio das bolsas de valores. As compras e vendas de ações e títulos podem migrar da bolsa de valores brasileira BM&FBOVESPA para a bolsa de valores americana Nasdaq. No universo digital a migração é muito fácil e rápida. Os processos sem intermediários acreditadores reduzem os custos, eliminam taxas de custódia e corretagem e são mais seguros pela publicação do histórico das transações.

Uma nova economia para as bolsas de valores será gerada pela desintermediação, pois as cotações dos ativos no pregão serão influenciadas pelas operações ponto-a-ponto. Existira um novo formato para o sincronismo que atualmente existe entre a realização e divulgação pública das operações de compra e venda no pregão e no mercado futuro. O prazo para liquidação das operações será fortemente reduzido com a tecnologia Blockchain e isto vai afetar a lógica atual das operações de Day trading (https://pt.wikipedia.org/wiki/Day_trading, acessado em 19/10/2016). As operações à descoberto que são viabilizadas pelas garantias oferecidas pelas bolsas de valores e pelo prazo D + 3 para a sua compensação ou não poderão ser realizadas no modelo de negócio ponto a ponto com compensação em D + 10 minutos ou serão realizadas em um novo modelo.

Existe com a tecnologia Bitcoin Blockchain a possibilidade de consolidação das bolsas regionais em bolsas mundiais Situações como os tradicionais boatos plantados nas quintas feiras na bolsa brasileira (Quinta tem força especulativa e sexta eclipse impacta bolsa negativamente, http://br.advfn.com/jornal/2016/09/quinta-tem-forca-especulativa-e-sexta-eclipse-impacta-bolsa-negativamente, acessado em 19/10/2016) deixarão de fazer do ambiente de negócios brasileiros com a consolidação das bolsas.

Os negócios dos bancos e dos cartórios nacionais também estão seriamente ameaçados com o crescimento da penetração da tecnologia Blockchain. As Fintechs que estão surgindo no mundo inteiro podem inviabilizar a operação dos bancos brasileiros se eles não entrarem em ciclo evolutivo. O crescimento das Fintechs é exponencial por causa tanto do seu baixo custo operacional, como da necessidade reduzida de capital de investimento. Elas não precisam de agências físicas e de legiões de funcionários para operacionalizar o seu negócio. Elas são empresas financeiras baseadas em computação em nuvem elástica e em softwares, ou seja, podem crescer em elevada velocidade sem a necessidade de grande volume de capital de investimento.

As Fintechs podem ser sediadas em países confiáveis e estáveis e operar em escala mundial através da capilaridade das criptomoedas como o Bitcoin e a segurança do livro razão público da tecnologia Blockchain. É um novo universo econômico para as transações financeiras entre as pessoas e as empresas. O pagamento de contas de consumo, por exemplo, deixará de ser impactado por problemas como a greve dos bancários de 2016 (Bancários de São Paulo decidem encerrar a greve, http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/10/bancarios-de-sao-paulo-decidem-encerrar-greve2016.html, acessado em 19/10/2016).

Os banqueiros e bancários brasileiros precisam urgentemente repensar os seus papéis neste mercado, pois podem ser em pouco tempo substituídos por Fintechs transnacionais. A falha do pagamento da folha salarial das grandes empresas que eram clientes do HSBC pelo banco Bradesco (Clientes que eram do HSBC têm salário atrasado com migração para Bradesco, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/10/1824084-clientes-que-eram-do-hsbc-tem-salario-atrasado-com-migracao-para-bradesco.shtml, acessado em 19/10/2016) não será aceita e nem tolerada pelos clientes.

Como os processos de migração para as Fintechs serão muito fáceis e rápidos, estas falhas serão punidas com a perda de clientes. As elevadas tarifas e taxas cobradas pelos bancos para as transações bancárias terão que sofrer enorme ajuste diante da competição com as Fintechs que operam com baixas taxas e tarifas bancárias. A globalização do segmento financeiro iniciada pelas Fintechs vai fazer com que os preços dos serviços bancários sejam ditados pelo mercado.  A era dos bancos nacionais ditarem os valores das taxas e tarifas bancárias está chegando ao fim.

Em 2016 a taxa de juros para o credito para o consumidor superou a barreira dos 450% ao ano por causa da elevada taxa de inadimplência (Juros médios no cartão de crédito passam de 450% ao ano, diz Anefac, http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2016/09/juros-medios-no-cartao-de-credito-passam-de-450-ao-ano-diz-anefac.html, acessado em 19/10/2016). Com a tecnologia Blockchain é possível melhorar o entendimento do perfil de cada um dos consumidores e trabalhar o crédito conforme o risco individual. Para os bons pagadores a taxa de juros do crédito cairá dramaticamente com a penetração das Fintechs no mercado brasileiro. As FinTechs que oferecem em 2016 credito ponto a ponto como a empresa Lending Club (https://www.lendingclub.com/, acessado em 19/10/2016) e a empresa Biva (https://biva.com.br/, acessado em 19/10/2016) oferecem empréstimos para pessoas físicas e jurídicas com taxas de juros muito menores.

Os cartórios brasileiros mudarão muito com o crescimento da adoção da tecnologia Blockchain. Eles serão tanto fiéis depositários de documentos digitais em várias línguas que lastreiam ativos que serão transacionados nos mercados, como fornecedores de ferramentas de chaves de criptografia e como cofre virtual com segredo para o backup das chaves de criptografia das pessoas e empresas. Os cofres digitais serão abertos apenas com a biometria dos donos e respectivos herdeiros indicados pelos donos das chaves. Será uma operação completamente diferente do que acontece atualmente no Brasil.

As limitações de abrangência geografia da atuação dos cartórios serão rompidas com a sua transformação digital. Eles sofrerão intensa concorrência tanto no mercado interno como externo. Como o investimento necessário será muito baixo pela adoção das nuvens elásticas e das plataformas de desenvolvimento da tecnologia Blockchain, então não mais existirão barreiras para novos entrantes. Será a eficácia e a eficiência operacional consequência da inteligência coletiva do cartório que será o fator crítico para o seu crescimento e parta a sua sobrevivência. As facilidades para a migração dos documentos digitais de um cartório para outro vão exigir elevado nível de criatividade e inovação. Os cartórios no Brasil perderão com a tecnologia Blockchain a sua condição de monopólio regional.

Tanto a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações, http://www.anatel.gov.br/institucional/, acessado em 19/10/2016), como o PROCON (Proteção e Defesa do Consumidor), como o poder judiciário podem conquistar elevados ganhos operacionais com a tecnologia Blockchain. É fácil perceber que uma das reclamações mais comuns dos clientes contra as operadoras de telecomunicações está relacionada com a cobrança de serviços não solicitados (Que venha o Vendor Relationship Management, http://itgovrm.blogspot.com.br/2016/09/que-venha-o-vendor-relationship.html, acessado em 19/10/2016). Anualmente, milhares de casos sobre este assunto são tratados pelos canais de atendimento das operadoras, pela ANATEL, pelos PROCONs e pelo poder judiciário.

Foi afirmado que o sistema de Justiça brasileiro custa 1,8% do PIB no Brasil e 0,37% do PIB em Portugal.
Fonte: Os custos do Poder Judiciário precisam ser revistos, http://g1.globo.com/economia/blog/samy-dana/post/os-custos-do-poder-judiciario-precisam-ser-revistos.html, acessado em 19/10/2016.

Foi revelado que a despesa total da Justiça no Brasil em 2015 foi de 79,2 bilhões de reais com aumento acima da inflação de 4,7% em relação ao ano de 2014.
Fonte: 2015 teve aumento do número de processos que ficaram sem solução na Justiça, http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2016/10/17/2015-teve-aumento-do-numero-de-processos-que-ficaram-sem-solucao-na-justica/, acessado em 19/10/2016

Existe um custo elevado e inútil de centenas de milhões de reais por ano de reclamações por serviços telefônicos não solicitados que está sendo carregado pelo sistema e é pago pelo brasileiro na forma de tarifas e impostos. Este custo retira competitividade da economia nacional. Com o Blockchain, livro razão público e distribuído e validação da transação pela chave privada de criptografia será possível eliminar as falhas, equívocos e fraudas relacionadas com a contratação de serviços. Apenas os serviços validados com a assinatura digital do cliente poderão ser cobrados pela operadora. Com este simples procedimento tanto a ANATEL, como o PROCOM, como a justiça brasileira não mais serão os atores principais nas reclamações sobre a cobrança de serviço não solicitado. A ANATEL e a justiça poderão com a prova da assinatura digital punir as fraudes e eliminar do sistema os enganadores e falsificadores.

As operadoras de telefonia também serão beneficiadas, pois o seu canal de atendimento com o consumidor não ficará mais entupido com reclamações sobre serviços não solicitados. Como cada serviço cobrado foi autorizado através da assinatura digital do cliente, então apenas exceções serão tratados pelo canal. A eliminação destas fraudes do sistema vai gerar enorme economia de tempo e dinheiro das pessoas, empresas, ANATEL, PROCOM, poder judiciário e operadoras de telecomunicações. O resultado é que o país vai galgar um novo patamar na competitividade.

No setor financeiro existe também o problema de fraudes, pois muitos clientes reclamam que estão sendo cobrados por serviços não solicitados e não autorizados. Novamente, a assinatura digital das solicitações em conjunto com o livro razão público e descentralizado é capaz de resolver os conflitos. Apenas os serviços validados pela assinatura digital do cliente podem ser cobrados pelos bancos. O banco central pode usar o livro razão para monitorar o comportamento dos atores e punir os que estão perpetrando as fraudes. Os empréstimos bancários também são alvos de fraudes, pois muitas vezes eles são concedidos sem o conhecimento dos envolvidos. É mais um caso onde a assinatura digital do solicitante e o livro razão da tecnologia Blockchain eliminam as dúvidas.

Os casos dos cartões de crédito merecem um destaque à parte. É comum encontrar no Brasil, casos onde as pessoas são processadas por falta de pagamento da anuidade de um cartão de crédito que não foi solicitado pelo cliente. Os fraudadores usam informações incorretas ou incompletas para alcançarem metas de vendas. Para acabar com estes tipos de desvios basta que seja exigida a assinatura digital do titular ou dos titulares do cartão de crédito no seu processo de solicitação. É uma solução simples que pode economizar milhões de reais por ano. As fraudes nas transações de compra causadas pelas diversas formas de clonagem dos cartões de crédito, também são eliminadas com a tecnologia Blockchain. É possível dar um salto na competitividade nacional com a adoção da assinatura digital e livro razão público nas transações presenciais e digitais com os cartões de crédito. Muito do dinheiro que hoje em dia é perdido por causa de fraudes, pode deixar de ser perdido. O congestionamento do sistema judiciário brasileiro pode ser fortemente aliviado com a eliminação de processos por fraudes. O custo Brasil pode ser enormemente reduzido.

O segmento das operadoras de saúde também é merecedor de um destaque à parte em termos da tecnologia Blockchain. Um dos maiores problemas do setor é que as internações dos clientes envolvem centenas de serviços hospitalares. Muitos dos serviços oferecidos pelos hospitais estão em uma estrutura de cascada. Esta característica gera enorme dificuldade para as auditorias e atrapalha a negociação entre os hospitais e as operadoras. A assinatura digital e o livro razão público e descentralizado permite a facilitação e automação do processo de auditoria das operadoras de planos de saúde e favorece o estabelecimento um acordo comercial com base em fatos. Todos os reajustes dos valores dos planos dos clientes podem ser facilmente justificados pelos trabalhos realizados. A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar, http://www.ans.gov.br/, acessado em 19/10/2016) pode monitorar automaticamente todos os planos de saúde em uso no Brasil e regulamentar o segmento com maior efetividade. A base de conhecimento registrada e validada (pela assinatura digital da operadora) do livro razão público dos serviços hospitalares pode ser utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS, https://pt.wikipedia.org/wiki/Sistema_%C3%9Anico_de_Sa%C3%BAde, acessado em 19/10/2016) pode ser utilizada pelo governo para estabelecer os parâmetros financeiros dos convênios com os hospitais privados.

A segunda vantagem do uso da tecnologia Blockchain pelas operadoras de planos de saúde está relacionada com a transparência oferecida para os usuários e clientes. No Brasil os planos operam no formato de compartilhamento de custos. Isto significa que as operadoras determinam o custo total das despesas de saúde das vidas protegidas pelo plano, somam a este valor as suas despesas administrativas e a sua margem de lucro. A divisão deste total pelo número de clientes determina o valor médio que cada cliente vai pagar. Se o cliente é saudável e pouco usa do plano ele gerará um grande lucro individual que será usado para cobrir o prejuízo causado por um cliente que usa intensamente o plano.

É uma conta de chegada, onde uns são subsidiados pelos outros. Existem várias interpretações para este modelo de negócio, mas um plano de saúde não é financeiramente saudável quando apenas 10% da sua base de clientes gera lucro e é extremamente saudável quando apenas 10% da sua base de clientes gera prejuízo. O grande problema desta estratégia é que o cenário é dinâmico. Em poucos anos as mudanças nas condições de saúde dos beneficiários de um plano são capazes de transformar o cenário de extremamente lucrativo para fortemente deficitário. É preciso contar com uma gestão extremamente eficiente e com uma boa dose de sorte para operar com sucesso neste modelo por cinquenta ou cem anos. Infelizmente, no Brasil a tendência é que os lucros generosos dos anos dourados sejam transformados em dividendos para os acionistas ou donos e não em poupança para ser utilizada nos anos de vacas magras para os lucros.

O livro razão da tecnologia Blockchain tem a virtude de aumentar a transparência entre estes cenários extremos e permitir que os beneficiários e a ANS monitorem e determinem como o lucro gerado nos anos das vacas gordas do plano seja poupado e investido para ser utilizado nos inevitáveis anos de prejuízos. Todos os envolvidos passarão a entender com clareza a natureza das transações realizadas e compreenderão que estarão nos anos de baixa utilização do plano financiando a sua utilização futura do mesmo. Não é novidade para todos neste mercado que conseguir acompanhar dinamicamente as mudanças no perfil de utilização do plano pelos clientes ao mesmo tempo em que existe a entrada e saída de clientes é um trabalho de gigantesca complexidade administrativa. É muito fácil fracassar usando este modelo de negócio. A automação é uma das melhores soluções para corrigir em tempo as distorções e conquistar o sucesso.

Os seguros dos automóveis também podem ganhar enorme evolução com a tecnologia Blockchain. As seguradoras calculam os riscos de um segurado com base nos parâmetros médios do seu perfil, por exemplo, as mulheres são mais cuidadosas no transito e, portanto, tem perfil de risco menor que os homens. O livro razão público permite a individualização do perfil do risco com inclusão de informações de acidentes, multas e condução do veículo pelo motorista. É possível determinar que estava dirigindo o carro pela assinatura digital. Com base nestas informações as seguradoras poderão determinar o risco de cada um dos seus clientes e estabelecer preços diferentes que podem ser revistos periodicamente conforme o comportamento do dia-a-dia do segurado. É uma mudança radical em relação ao atual modelo onde as características médias do perfil determinam o risco e o mesmo fica congelado durante o prazo de vigência do contrato.

No Brasil são recorrentes os casos de adulteração dos combustíveis (Governo de SP e ANP fazem ação para fiscalizar postos de combustíveis, http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/10/governo-de-sp-e-anp-fazem-acao-para-fiscalizar-postos-de-combustiveis.html, acessado em 19/10/2016). A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP, http://www.anp.gov.br/, acessado em 19/10/2016) pode evoluir para um patamar bastante elevado o controle contra as fraudes nos combustíveis usando a tecnologia Blockchain tanto para aumentar a transparência do sistema, como permitir que o consumidor tenha conhecimento em tempo real da qualidade do combustível na bomba de gasolina que ele está utilizando. Como o sistema permite o retorno dos consumidores sobre a qualidade do combustível através da assinatura digital e livro razão público descentralizado, a ANP pode usar estas informações para focar as investigações ao mesmo tempo em que os todos os clientes recebem o retorno dos consumidores insatisfeitos. Eles são informados através do livro razão e de um aplicativo de geolocalização.

Infelizmente, os casos de remédios falsificados ou roubados são comuns no Brasil (A história do roubo de 33 milhões de reais, http://veja.abril.com.br/brasil/a-historia-do-roubo-de-33-milhoes-de-reais/, acessado em 19/10/2016). A tecnologia Blockchain é capaz de oferecer para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, http://portal.anvisa.gov.br/, acessado em 19/10/2016) uma ferramenta de elevada eficiência e eficácia para impedir que remédios falsificados cheguem ao mercado. Os farmacêuticos podem consultar os remédios no ponto de venda e informar para a ANVISA se eles estão na lista dos produtos roubados ou falsificados. Os hospitais, clínicas e laboratórios também podem consultar a autenticidade do medicamento através do seu número identificador e reportar para a ANVISA a ocorrência de algum tipo de fraude. Como todo o processo é validado pela assinatura digital é possível localizar com precisão o lugar exato onde ocorreu a introdução de um remédio roubado ou falsificado e os respectivos responsáveis.


A Serasa Experian (https://www.serasaexperian.com.br/, acessado em 19/10/2016) é uma organização privada que oferece algumas soluções para evitar inadimplência nas operações de crédito das transações comerciais. Ela trabalha os riscos e as estimativas sobre a inadimplência com base nas informações sobre os consumidores contidas nos seus bancos de dados. A tecnologia Blockchain tanto pode ser uma ameaça ao negócio dela, como uma extraordinária oportunidade. No campo da ameaça, como a tecnologia revela em um banco de dados público e descentralizado as informações sobre as transações e permite o estabelecimento de contratos inteligentes com regras automatizadas, as informações contidas nos bancos de dados da empresa podem virar redundantes em poucos anos e inviabilizar o modelo de negócio da empresa. No entanto, a empresa pode explorar a oportunidade gerada pela tecnologia ao usar as ferramentas atuais que ela dispõe para alavancar o livro razão público e virar uma sofisticada e confiável plataforma de aplicações Blockchain.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Matemática do Blockchain

Nos meus mais recentes encontros com executivos e empresários, o tema Blockchain é abordado com elevada frequência. As pessoas não querem apenas saber como a tecnologia funciona. Elas querem saber como confiar em um sistema digital diante do crescente número de notícias sobre invasão de sites e roubo de senhas e cartões de crédito. Para a maioria das pessoas o chamado universo digital é bastante inseguro. Trabalhar o dinheiro e recursos financeiros em um ambiente sujeito a invasões e fraudes está fora da agenda da maioria dos empresários.

Artigos como “Vertical saúde perde bilhões por causa de ataques digitais” (http://computerworld.com.br/vertical-saude-perde-bilhoes-por-causa-de-ataques-digitais, acessado em 11/10/2016) estão deixando as pessoas cada vez mais inseguras em participar do universo virtual da tecnologia Blockchain. Para vencer o elevado nível de resistência das pessoas sobre a segurança e privacidade das transações digitais da tecnologia Blockchain eu resolvi introduzir a matemática da tecnologia nas conversas.

O raciocínio matemático é muito simples, mas exige um bom nível de atenção das pessoas. Inicialmente é preciso estabelecer as condições de contorno do ambiente de segurança, ou seja, p = chave pública de criptografia, q = chave privada de criptografia, p e q são indissociáveis, ou seja, só existem como um par de chaves. Neste caso o produto p*q = N é compartilhado publicamente.

O m = mensagem e o s = assinatura digital. A assinatura digital é o resultado da multiplicação da chave privada de criptografia com a mensagem, ou seja, s = q*m e a pessoas podem verificar a veracidade da assinatura digital através da igualdade s*p = m*N, pois m*q*p = m*N e N = q*p. Neste caso, as pessoas precisam conhecer apenas a chave pública de criptografia = N, a mensagem = m e a assinatura digital = s.


Para calcular a chave privada de criptografia (q) é preciso dividir N por p, pois N = q*p. O desafio desta conta é que q e p são números primos com 300 ou mais dígitos. Conhecendo apenas N é preciso realizar um gigantesco esforço para encontrar o par q e p correto. O tempo demandado para realizar este esforço supera em muito o tempo de vida da mensagem.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Quem está liderando a transformação digital nas empresas

Na terça feira dia 20 de setembro de 2016, o analista Brian Solis da empresa Altimeter publicou o estudo “The 2016 State of Digital Transformation” (http://www2.prophet.com/The-2016-State-of-Digital-Transformation, acessado em 03/10/2016) e afirmou que as maiores iniciativas para transformação digital nas empresas estão sendo lideradas pelos Chief Marketing Officers (CMOs).

O relatório revelou que a transformação digital está sendo liderada pelos CMOs em 34% das organizações. Os Chief Executive Officers (CEOs) estão conduzindo a transformação em 27% das empresas e os Chief Information Officers (CIOs) e Chief Technology Officers (CTOs) estão conduzindo os esforços de transformação digital em 19% das firmas pesquisadas.

O estudo revela em outras palavras que são os clientes que estão impondo a agenda da transformação digital para as empresas. A maioria dos líderes da transformação digital nas empresas afirmaram que o objetivo da transformação digital é o desenvolvimento das preferências e comportamentos do consumidor, ou seja, entendimento e materialização dos novos comportamentos dos clientes.

O estudo revelou que apenas 54% dos entrevistados mapearam completamente a jornada de compra do seu cliente. As empresas pesquisadas afirmaram que os objetivos da sua transformação digital são: (i) Inovação (citado por 81% das empresas); (ii) Modernização da infraestrutura (citado por 80% das empresas) e (iii) Melhoria da agilidade operacional (citado por 79% das empresas)

Os participantes da pesquisa estão medindo o sucesso das suas iniciativas da sua transformação digital através das seguintes métricas:


  1. Nível da satisfação do Cliente (28% dos respondentes)
  2. Tráfego da rede (27% dos respondentes)
  3. Aumento da Produtividade (27% dos respondentes)
  4. Aumento da receita bruta (26% dos respondentes)
  5. Melhoria na Experiência do Usuário (25% dos respondentes)
  6. Aumento das facilidades para a análise do conteúdo (25% dos respondentes)

O estudo revelou que 41% dos líderes de negócio entrevistados, afirmaram que a transformação digital habilitou uma maior participação no mercado, 37% disseram que os empregados ficaram mais felizes e 30% afirmaram que as receitas por cliente aumentaram por causa das iniciativas realizadas.

Uma Breve Introdução ao Blockchain

A tecnologia Blockchain permite que as moedas virtuais como Bitcoin sejam públicas, anônimas e seguras. O Blockchain é na prática um banco de dados que detalha todas as transações Bitcoin. O banco de dados é um livro razão público descentralizado onde são registrados os metadados sobre quando e como cada uma das transações ocorreram. O livro razão público é acessível através de Application Program Interfaces (APIs). Para impedir modificações nas transações atuais e passadas, o banco de dados é criptografado e seguro. A criptografia permite que os desenvolvedores confiem no histórico das transações e desenvolvam aplicações em cima das informações das transações.

A tecnologia Blockchain oferece recursos para o rápido desenvolvimento de inovações. O Blockchain é, portanto, um banco de dados criptografado e seguro que contém os registros de todas as transações. A tecnologia Blockchain pode ser também usada para habilitar tanto moedas digitais públicas, como moedas digitais privadas. O Blockchain registra a prova indelével do metadado das transações independentemente do tipo da transação. Todos os que transacionam ativos poderão ser afetados pela tecnologia Blockchain.

O sistema monetário tradicional dos países também será impactado pelas criptomoedas, pois elas não são baseadas nos governos. O Blockchain e o Bitcoin foram publicadas pelo Satoshi Nakamoto em 2008. Os Application Program Interfaces (APIs) do Blockchain estão disponíveis no endereço https://blockchain.info/pt/api (acessado em 30/09/2016). Existem APIs para: (i) processar pagamentos; (ii) carteira digital Blockchain; (iii) informações sobre as transações e blocos e (iv) informações de mercado. O tamanho do arquivo do Blockchain é de várias dezenas de Gigabytes (está crescendo com grande velocidade). O arquivo pode ser baixado no endereço https://bitcointalk.org/index.php?topic=1310261.0 (acessado em 30/09/2016).

A tecnologia Blockchain está disponível desde 2008 e em 2016 ela é utilizada por milhões de usuários. Apesar das transações na criptomoeda Bitcoin serem anônimas, todas as transações são registradas no Blockchain e podem ser visualizadas usando um simples navegador de internet. No endereço https://blockchain.info/ é possível visualizar em tempo real várias informações sobre as transações e as trocas realizadas.

O algoritmo do sistema libera aproximadamente um bloco a cada 10 minutos. A corrente de blocos é confiável e pode ser usada para desenvolver aplicações e protocolos que exigem transparência e segurança. A moeda digital é um conceito de fácil entendimento em todas as partes do mundo. O controle da moeda digital é realizado pelas pessoas e/ou instituições. O Blockchain e Bitcoin oferecem transparência total para as transações realizadas. O algoritmo do sistema controla a oferta da criptomoeda Bitcoin.

O Nakamoto que criou o sistema afirmou que o Bitcoin é uma corrente contínua de criptografia baseada na prova de trabalho que gera um registo que não pode ser alterado sem que a prova de trabalho seja refeita. Uma longa cadeia de blocos prova a sequência de acontecimentos testemunhada e também prova que ela foi gerada através de uma grande capacidade de processamento computacional. Como a maior parte do poder computacional é controlado pelos nós da rede que estão colaborando com o sistema, a longa cadeia de blocos é na realidade uma poderosa barreira contra os ataques digitais externos.

As criptomoedas são transacionadas da mesma forma que as moedas tradicionais emitidas pelos governos dos países (bancos centrais). Em outras palavras, elas são utilizadas na compra e venda de bens e serviços e nos investimentos em títulos e ações nas bolsas de valores. As criptomoedas também podem ser trocadas por moedas tradicionais como Real, Dólar, Libra, Euro, Iene e etc. através de um fator de conversão (taxa de câmbio). Infelizmente os algoritmos do Bitcoin não conseguem impedir os comportamentos ilegais. É possível comprar e vender tanto produtos e serviços legais como ilegais. A característica de anonimato na realização das transações pode ser utilizada para o bem e para o mal. É importante destacar que as moedas tradicionais também não conseguem impedir os comportamentos ilegais.

O Blockchain pode ser utilizado pelas empresas e pessoas como uma rede financeira privada. Empresas especializadas em: (i) Programas de fidelização; (ii) Programas de milhagem; (iii) Programas de prêmios e recompensas para os trabalhadores; (iv) Programas de tíquete refeição; (v) Programas de tíquete combustível; (vi) Bilhete único ou vale transporte; (vii) Clubes de pontos (operadoras de telefonia) e (viii) Programas de pontos (operadoras de cartões de crédito, bancos e etc.) podem construir redes financeiras privadas para transacionar entre elas e com os seus clientes. As empresas podem construir um sistema financeiro interno de baixo custo para ser utilizado pelos empregados, vendedores e fornecedores e reduzir os seus custos operacionais.

No Brasil, a receita federal enxerga as criptomoedas como investimentos cujo imposto é pago no momento da realização do lucro. As transações em criptomoedas entre os membros de uma cadeia produtiva elimina o atual problema de bitributação da indústria e comércio. A maioria dos países tributa apenas as receitas nas moedas tradicionais. A tecnologia Blockchain também pode ser usada como um sistema da identidade. As empresas Onename (https://onename.com/, acessado em 30/09/2016), BitHealth (http://devpost.com/software/bithealth, acessado em 30/09/2016) e Keybase (https://keybase.io/, acessado em 30/09/2016) usam o Blockchain para gerar uma identificação verificável.

As comunidades, sociedades, negócios e pessoas serão impactados pelo Blockchain, pois a tecnologia permite a realização de transações financeiras anônimas. O crescimento das criptomoedas vai também estimular comportamentos ilegais. Nos últimos anos o ataque Ransomware (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ransomware, acessado em 30/09/2016) vem crescendo de popularidade por causa do sucesso da extorsão em Bitcoin.

Os mercados negros estão crescendo em popularidade, pois na chamada Dark Web (https://pt.wikipedia.org/wiki/Dark_web, acessado em 30/09/2016) os hackers estão comprando e vendendo em criptomoedas: (i) dados e informações roubadas, (ii) pragas de zero-day exploits, (iii) remédios controlados, (iv) drogas, (v) armas e (vi) escravos. As autoridades nacionais e internacionais responsáveis pelo cumprimento das leis estão rastreando as transações ilícitas que estão sendo realizadas na Dark Web, no entanto, o anonimato da identidade das criptomoedas está dificultando a identificação dos envolvidos.

Como o Blockchain é um sistema rico em dados, segurança e transparência, ele pode ser usado como uma plataforma de desenvolvimento para as empresas iniciantes e inovadoras. A Stampery (https://stampery.co/, acessado em 20/09/2016) é uma empresa valida os e-mails ou arquivos com um timbre usando a tecnologia Blockchain. A empresa Ethereum (https://www.ethereum.org/, acessado em 30/09/2016) é uma firma iniciante de Blockchain que oferece uma plataforma que facilita o desenvolvimento de Blockchains, criptomoedas e contratos inteligentes.


A Viacoin (https://viacoin.org/, acessado em 20/09/2016) é uma das empresas que usam os processos de câmara de compensação (clearinghouse, https://viacoin.org/blog/2014/10/14/blockchain-notary.html, acessado em 20/09/2016) para os serviços cartoriais. A empresa startup Mycelium (https://mycelium.com/, acessado em 30/09/2016) desenvolveu vários sistemas, dispositivos e cartões de débito para que os pontos de venda físicos possam receber pagamentos realizados com as criptomoedas. A empresa Storj (https://storj.io/, acessado em 20/09/2016) oferece um Blockchain baseado em plataforma ponto-a-ponto de armazenamento distribuído na nuvem que permite que os usuários transfiram e compartilhem dados sem a necessidade de acreditar em uma terceira parte provedora de infraestrutura.