quinta-feira, 9 de junho de 2016

O futuro do emprego: Vencedores e Perdedores

Emprego na Quarta Revolução Industrial (QRI)

O Cezar Taurion e outros evangelizadores de governança de Tecnologia de Informações e Comunicações apresentaram os seguintes números sobre o emprego.

Foi revelado que em 1990 as três maiores montadoras de automotivas tinham valor de mercado de US$ 36 bilhões com faturamento anual de 250 bilhões de dólares e empregavam 1,2 milhão de pessoas. As três maiores empresas do Vale do Silício tinham um valor de mercado em 2014 de 1 trilhão de dólares com faturamento anual de aproximadamente 250 bilhões de dólares e empregavam apenas cerca de 140 mil funcionários.
Fonte: A realidade já é exponencial, http://cio.com.br/opiniao/2016/02/29/a-realidade-ja-e-exponencial/, acessado em 08/06/2016

Foi revelado que a probabilidade média de ter o trabalho automatizado é de 31% para quem recebe entre US$ 20 e US$ 40 por hora. Para quem recebe US$ 20 por hora a probabilidade sobre para 83%.
Fonte: Robôs também deverão roubar os empregos mais bem pagos, prevê EUA, http://idgnow.com.br/ti-corporativa/2016/02/24/robos-tambem-deverao-roubar-os-empregos-mais-bem-pagos-preve-eua/, acessado em 08/06/2016

Foi revelado que o estudo “The Future of Employment: How susceptible are Jobs to Computerisation?”, estimou que 47% dos atuais empregos nos Estados Unidos. As profissões de motoristas de caminhões, táxis e ônibus, estagiários de advocacia, jornalistas, auditores, desenvolvedores de software, administradores de sistemas de computação e etc. estão ameaçadas.
Fonte: Quarta Revolução Industrial aniquilará milhões de empregos, inclusive o seu, http://computerworld.com.br/quarta-revolucao-industrial-aniquilara-milhoes-de-empregos-inclusive-o-seu, acessado em 08/06/2016.
Foi afirmado que aproximadamente 30% das auditorias corporativas serão realizadas por sistemas inteligentes em vez de por auditores humanos.
Fonte: É hora de olhar para 2025 e para os pontos de inflexão da sociedade digital, http://cio.com.br/opiniao/2016/02/15/e-hora-de-olhar-para-2025-e-para-os-pontos-de-inflexao-da-sociedade-digital/, acessado em 08/06/2016.

Foi revelado que o artigo “Do We Need Doctors or Algorithms?” afirmou que os sistemas inteligentes e robôs substituirão 80% dos médicos americanos. Também foi revelado que o artigo “Armies of Expensive Lawyers, Replaced by Cheaper Software" estimou que serão necessários menos advogados, pois as funções de fazer buscas nos documentos ou analisar casos similares serão feitas por algoritmos. Também foi revelado que algumas reportagens financeiras foram escritas por robôs como afirmado no artigo “AP´s “robot journalists” are writing their own stories now". Também foi revelado que as funções de Programming by Optimisation e depuração automática de código poderão ser automatizadas.
Fonte: Alerta em Davos: A Quarta Revolução Industrial já chegou, http://cio.com.br/opiniao/2016/01/25/a-quarta-revolucao-industrial-ja-chegou/, acessado em 08/06/2016.

Foi revelado que a otimização do uso de tecnologias e competências digitais pode injetar US$ 2 trilhões na produção econômica mundial até 2020. Também foi revelado que um aumento de 10 pontos na densidade digital resultaria em um aumento de US$ 368 bilhões no PIB de 2020 dos Estados Unidos (1,8% acima que as previsões atuais).
Fonte: Digital pode injetar US$ 2 trilhões na economia global até 2020, http://computerworld.com.br/digital-pode-injetar-us-2-trilhoes-na-economia-global-ate-2020, acessado em 08/06/2016.

São números eloquentes, mas eles não são suficientes para explicar o fenômeno do emprego na QRI. O autor Jeremy Rifikin apresentou no livro “Sociedade com Custo Marginal Zero” apresentou números que somados aos revelados anteriormente são capazes de explicar as mudanças nos empregos.

Foi afirmado que a venda de robôs aumentou 43% nos Estados Unidos e na Europa em 2011 (página 151).
Foi afirmado que o novo sistema automatizado se for bem-sucedido vai eliminar 50 mil empregos para produzir uniformes militares (páginas 151 e 152).
Foi afirmado que o emprego nas fabricas respondia por 163 milhões de postos de trabalha em 2003 deverá encolher para alguns milhões em 2040 (pagina 152).
Foi afirmado que existem atualmente 2,7 milhões de caminhoneiros nos Estados Unidos e que em 2040 os veículos sem motorista podem eliminar grande parte dos caminhoneiros (pagina 153).
Foi afirmado que com o novo software de busca (família e-discovery) um único advogado pode fazer o trabalho de 500 colegas com maior precisão (pagina 157).
Foi afirmado que trabalhadores do conhecimento como radiologistas, contadores, gerentes, designers gráficos e profissionais de marketing estão com os seus empregos ameaçados por causa dos softwares de reconhecimento de padrões (pagina 157).
Foi afirmado que um software compara a estrutura de uma música com as músicas já gravadas e avalia o seu potencial para chegar no topo da parada (pagina 157).
Foi afirmado que um software avalia os roteiros de filmes para prever os sucessos de bilheteria da indústria cinematográfica (página 157).

Não é difícil perceber que a revolução dos sensores está alterando à lógica do emprego e do perfil profissional. Atividades de marketing auditoria saúde e etc. vão ser realizadas por computadores até o ano de 2020. É evidente que vários perfis profissionais vão ser eliminados do mercado em um prazo razoavelmente curto. Apesar do aspecto negativo, o fenômeno do emprego é positivo. Empregos ligados aos aspectos mais intelectuais do ser humano vão ser criados em grande quantidade. As pessoas vão poder usar as suas melhores potencialidades nas suas atividades profissionais. Um exemplo bem simples desta mudança será visto com a popularização das impressoras 3D. Um designar de cadeira vai poder oferecer o seu trabalho para o mundo todo. Se a sua economia local está degringolando em uma depressão como a brasileira, o profissional será menos afetado. Com a internet ele pode exportar o seu conhecimento para países em crescimento e com alta demanda. Este mesmo profissional poderá formar cadeias produtivas ao se associar a um engenheiro para desenvolver cadeiras mais resistentes com design inovador.

As redes sociais vão cada vez mais abrir espaços para que os talentos da era do conhecimento criem estruturas virtuais para concorrer em condições de igualdade com fabricantes locais. Olhando para o outro lado da moeda é possível também desmentir nesta revolução que as lojas e os vendedores físicos estão condenados à extinção. Certamente teremos impactos como consequência da indústria abrir lojas virtuais para a comercialização dos seus produtos. No entanto, as lojas generalistas físicas não estão fadadas à falência. Será cada vez maior a tendência das pessoas experimentarem os produtos nas lojas físicas e comprarem nas lojas virtuais.

Um dos motivos desta tendência é o menor preço das lojas virtuais para o mesmo produto. Alguns comércios físicos estão reagindo ao oferecer a compra do produto na loja virtual e a sua entrega na loja física. Em pouco tempo o mercado vai estabelecer um ponto de equilíbrio onde o preço na loja física será o mesmo da loja virtual. É claro que tal solução não resolve todos os problemas, pois existirá igualdade de preços apenas entre os produtos iguais de uma mesma loja virtual e presencial.

O vendedor da loja presencial que utiliza apenas o estratagema de oferecer descontos para convencer os consumidores, vai perder espaço neste novo mundo. Ele vai precisar fazer mais do que um algoritmo digital e demonstrar paixão pelos produtos que vende. Muitas vezes o vendedor terá que comparar produtos semelhantes, explicar objetivamente as diferenças de preços e até mesmo falar das suas preferências pessoais com honestidade. Estes aspectos vão diferenciar os vendedores das lojas presenciais dos algoritmos das lojas físicas.

A concorrência entre as lojas dos fabricantes e as do varejo vai acontecer na comparação entre os produtos e na inteligência do vendedor. Quanto maior for a sua capacidade de escutar o seu cliente e respectivos influenciadores maior será a capacidade profissional do vendedor e a sua diferenciação. Existem pessoas que são influenciadas por amigos e parentes na sua decisão de compra. Muitas levam os seus influenciadores nas suas compras. Os algoritmos das lojas virtuais ainda não conseguem capturar estes casos, por isto, os vendedores preparados das lojas presenciais têm esta vantagem a seu favor.

Na área da saúde, muitos empregos também vão mudar de perfil. Os algoritmos da computação cognitiva são uma importante ferramenta para os médicos. A computação cognitiva pode comparar milhares de casos similares em segundos e entregar um relatório navegável ao profissional de saúde. Os médicos podem analisar as informações, fazer comparações e gerar hipóteses que podem ser pesquisadas pelos computadores. A interação dinâmica e amigável em diversas interfaces permite que o médico faça uma pesquisa complexa em alguns minutos e ofereça diagnóstico e opção de tratamento com enorme precisão. O acompanhamento em tempo real do tratamento e da evolução do paciente permite que o médico ajuste os procedimentos conforme as reações individuais do paciente.

O sistema de saúde aumenta o seu nível de integração com a computação cognitiva pois o controle de estoque (medicamentos e insumos hospitalares) e de solicitações são realizados e acompanhados em tempo real. A efetividade do sistema aumenta enormemente e os custos podem ser reduzidos dramaticamente. A integração dos algoritmos entre todos os membros da cadeia produtiva com projeções preditivas da demanda futura de curto, médio e longo prazo melhora a logística e reduz o tempo de permanência dos pacientes nos estabelecimentos de saúde.

A união da computação cognitiva com os sistemas de hospedagem dos hospitais e instituições similares permite um melhor planejamento até mesmo das emergências inesperadas. É possível distribuir os pacientes conforme a disponibilidade em tempo real do sistema e prever rapidamente a capacidade de curto prazo. A computação cognitiva vai poder informar os atendentes de campo como policiais, paramédicos, bombeiros, defesa civil e etc. o melhor local para levar os acidentados em tempo real e em conformidade com o diagnóstico inicial do paciente. Tudo isto será feito para que as pessoas sejam atendidas no menor tempo possível conforme a sua necessidade de cuidados. A logística de transporte e de intervenções nos sinais de trânsito são dois dos aspectos considerados nos algoritmos.

É fácil perceber que o momento de transição que estamos vivenciando vai tornar várias profissões redundantes até o ano de 2020. Muitos empregos sumirão e muitas atividades que até agora eram realizadas por seres humanos serão realizadas por maquinas nos próximos dez anos. Estas projeções não devem ser motivo de desespero, pois muitos empregos novos serão criados pelas tecnologias entrantes. No entanto, estes empregos exigem um perfil diferente. É preciso estar preparado para a nova década.

A Era da Máquinas Inteligentes

Thomas Hayes Davenport e Julia Kirby autores do livro "Only Humans Need Apply: Winners and Losers in the Age of Smart Machines" afirmaram que o trabalho realizado pelas máquinas inteligentes pode aumentar em vez de diminuir o mercado de trabalho para o ser humano. Muitas pessoas entendem que a Quarta Revolução Industrial vai gerar um nível elevado de desemprego. É preciso entender que as máquinas inteligentes vão mudar o estilo de vida das pessoas.

A Suíça votou uma lei para garantir um nível mínimo de renda para todos os seus cidadãos (no domingo dia 05/06/2016 os eleitores suíços rejeitaram a Renda de Base Incondicional (RBI) para toda a população). Neste novo contexto de 2026, as pessoas vão poder trabalhar fazendo o que elas gostam. Muitos estarão trabalhando em atividades onde é difícil conquistar uma renda de sobrevivência segundo os parâmetros vigentes em 2016. Eles serão artistas, escritores e etc. e vão beneficiar a sociedade e oferecer um conhecimento que até agora estava aprisionado dentro da cabeça das pessoas. O sistema de renda mínima pode ser muito mais barato que os atuais sistemas de aposentadoria pela ampliação do conhecimento da sociedade.

É evidente que as escolas e estudantes também terão que se adaptar para este novo mundo. Apesar da atual aparência de elevado grau de empregabilidade futura, muitas das atividades profissionais relacionadas com o big data e análise analítica poderão ser automatizadas e realizadas por máquinas. Em tempos de mudanças é preciso trabalhar as incertezas e explicitar que várias atividades profissionais realizadas pelos formados em ciência dos dados estão ameaçadas pelas máquinas inteligentes. Elas podem desenvolver modelos quantitativos mais rapidamente e em muitos casos melhores que os seres humanos.

É preciso ser realista com a nova formatação do mundo e do emprego. Estar na frente de batalha contra as máquinas não é uma boa escolha para a sua carreira profissional. Apesar da ênfase que muitos fazem para o crescimento da quantidade de programadores é preciso ser claro e dizer com todas as letras que dentro de poucos anos as máquinas vão estar desenvolvendo programas. Atualmente já existem softwares que são geradores de códigos como o GeneXus (http://www.genexus.com/global/inicio?pt, acessado em 08/06/2016) ou MIT App inventor (http://appinventor.mit.edu/explore/, acessado em 08/06/2016). O artigo “O software que escreve código, seu futuro e seu impacto nos negócios” (http://cio.com.br/tecnologia/2016/03/17/o-software-que-escreve-codigo-seu-futuro-e-seu-impacto-nos-negocios/, acessado em 08/06/2016) ilustra bem as perspectivas futuras dos geradores de códigos.

A linguagem natural chegará com força na era das máquinas inteligentes. As máquinas vão interpretar as ordens e gerar os códigos necessários. Os programadores vão precisar sair da atual zona de conforto e terão que aprender a gerar ideias. As ideias vão ser a mina de ouro. As escolas e estudantes vão ter que trabalhar na ciência das ideias e não mais na ciência dos dados. Nem mesmo profissões tradicionais como médicos, dentistas e advogados estão à salvo das mudanças da era das máquinas inteligentes. As incertezas para estas carreiras também são intensas. Aqueles que encontrarem os caminhos onde os seres humanos e máquinas trabalharão juntos estarão salvos das incertezas profissionais, pois esta será a estrada do aumento do trabalho. Os profissionais com carreiras de futuro vão trabalhar em conjunto com as máquinas inteligentes. Elas vão complementar as suas atividades. Também terão carreira promissora, os profissionais que se especializam nas suas atividades com tamanha profundidade que as máquinas inteligentes não consigam competir com eles.

Quem for trabalhar em conjunto com as máquinas no seu dia-a-dia vai ter que enxergar ela como um colega (a interação do George Jetson com o seu computador Referential Universal Differential Indexer (R.U.D.I.) no desenho The Jetsons é um excelente exemplo de como será este relacionamento cotidiano). Ao enxergar a máquina inteligente com um colega de trabalho é possível identificar o que ela faz bem e o que não faz bem. Desta forma o ser humano poderá intervir sempre que necessário na execução das tarefas.

Os gerentes vão supervisionar o trabalho realizado pelas máquinas inteligentes em regime de colaboração com os seres humanos. É preciso avaliar continuamente a performance do portfólio dos projetos, produtos e processos. É de fundamental importância a avaliação se é preciso aumentar ou diminuir o atual nível de automação. É preciso avaliar as necessidades e soluções em função dos diferentes tipos de automação disponíveis no mercado.

Também é de vital importância a avaliação dos próximos passos do emprego pós automação, pois é preciso desenvolver, instalar, manter e comercializar os sistemas. As empresas de tecnologia estão contratando milhares de pessoas para realizar estas atividades.

Neste contexto, os empregos para trabalhadores menos qualificados entrarão em decadência. O sistema educacional precisa ser ajustado para refletir as diferenças de formação. Em 2016 já existe uma grande desigualdade salarial entre os formados nas universidades e os não formados. Nos próximos anos este nível de desigualdade vai ser acelerado. No entanto, não deve ser ignorado que algumas profissionais vocacionais que não exigem o ensino superior serão valorizadas. Por exemplo, os empregos dos técnicos de manutenção não sofrerão grandes perdas nos próximos anos. Os empregos de outras profissões vocacionais como humoristas, cantores, artistas plásticos e etc. também não serão impactados nos próximos anos também.

Isto significa que o sistema educacional precisa melhorar a orientação para as profissões vocacionais no Brasil. É fundamental manter a mente aberta para as profissões vocacionais. No entanto, não deve ser ignorado em momento algum que muitos dos trabalhadores menos qualificados terão um final infeliz se não participarem de programas de requalificação.

Um exemplo importante de necessidade de requalificação são os empregos dos motoristas de ônibus, caminhões, carros de empresas, táxis e etc. A maioria destes empregos será varrida do mapa com os veículos autônomos (Em 2035, 21 milhões de veículos autônomos vão estar nas ruas, http://idgnow.com.br/ti-pessoal/2016/06/08/em-2035-21-milhoes-de-veiculos-autonomos-vao-estar-nas-ruas/, acessado em 98/06/2016). São milhões de pessoas que precisam ser urgentemente requalificadas aqui no Brasil. O desenvolvimento dos veículos autônomos no mundo está ocorrendo à plena velocidade. Estas pessoas precisarão de um novo sistema educacional para serem requalificadas.

O currículo escolar básico precisa mostrar para os estudantes de todas as idades os impactos que as máquinas inteligentes estão causando nos empregos. Este assunto deve ser tratado com especial consideração nas faculdades. Ainda não chegou nas faculdades de direito o ensino do e-discovery ou código preditivo ou outras tecnologias digitais. Estes temas já fazem parte do dia-a-dia dos advogados, mas não são mencionados na maioria das faculdades de direito. Temos um caso muito similar em termos de ignorar as tecnologias inteligentes nas faculdades de medicina. A construção civil brasileira vem perdendo muitos degraus na escala da competitividade por causa da escolha das faculdades de arquitetura e engenharia de ignorarem o BIM (Building Information Modeling ou Building Information Model) no seu currículo básico. O artigo Baixa produtividade da construção compromete remuneração do trabalho (http://www.fiesp.com.br/observatoriodaconstrucao/noticias/baixa-produtividade-da-construcao-compromete-remuneracao-do-trabalho/, acessado em 08/06/2016) revelou o tamanho da perda da competitividade da construção civil brasileira nos últimos anos.

Os profissionais jovens ou experientes devem ter o direito de fazer as escolhas com plena consciência das suas opções. Eles precisam conhecer quais são as condições reais dos papeis que eles vão desempenhar nas empresas para trabalhar em regime de colaboração com computadores. Caso os profissionais prefiram trabalhar sem a colaboração das maquinas inteligentes é preciso que eles conheçam quais são as possibilidades viáveis que estão disponíveis no mercado.

O sistema educacional deve encorajar permanentemente as pessoas para que elas persigam as suas paixões. As mensagens das escolas para os estudantes precisam revelar com toda a clareza que existem atividades em que o desempenho dos computadores é superior ao dos seres humanos, ou seja, não é conveniente desenvolver uma carreira profissional nestas atividades.

O conhecimento deve pautar a agenda educacional, por isto mesmo diante de um cenário onde em menos de dez anos o geradores de códigos estarão extremamente evoluídos é importante que os alunos entendam o funcionamento dos computadores e da lógica de programação (O software que escreve código, seu futuro e seu impacto nos negócios, http://cio.com.br/tecnologia/2016/03/17/o-software-que-escreve-codigo-seu-futuro-e-seu-impacto-nos-negocios/, acessado em 08/06/2016).

Para quem vive na sociedade ocidental é importante aprender línguas orientais como o Chinês e Japonês. No entanto, este conhecimento não pode ser visto como um fim nele mesmo. Aprender uma língua deve significar aprender uma cultura. A maioria dos profissionais pós 2020 vão precisar de conhecimentos em estatística, línguas e culturas. Nem todas as pessoas vão escrever algoritmos, alguns vão escrever músicas, outros roteiros de comédias, filmes e assim sucessivamente. No entanto, o uso da estatística e dos algoritmos para medir o que deu certo ou não vai ser uma constante para várias categorias profissionais.
O momento da transição entre o modelo atual e o das máquinas inteligentes precisa ser bem planejado e acordado com os trabalhadores. É preciso definir com clareza os papeis que os seres humanos vão ter que desempenhar nas oportunidades de automação para que a criatividade seja encorajada. Se a conversa for em termos de cortes e demissões por conta das máquinas inteligentes, os trabalhadores vão criar resistências e medos e as melhores oportunidades serão perdidas. É evidente que o objetivo da empreitada é reduzir o custo unitário dos itens produzidos. Esta meta pode ser alcançada com o aumento da produtividade.

Em 2016 existirão posições relacionadas com a área de
automação e cognição. São exemplos de novas profissões para onde os profissionais pré-máquinas inteligentes podem ser deslocados. Nunca devemos esquecer que as decisões tomadas pelas máquinas inteligentes precisam ser avaliadas pelos seres humanos em termos de desempenho. Os computadores não alcançarão uma performance ótima sem a intervenção humana. Em outras palavras milhões de empregos vão surgir por conta da análise cognitiva. Os trabalhadores precisam serem treinados para assumirem estas posições. Máquinas erram e falham. Será papel dos seres humanos a realização das correções.

Na área da saúde, os profissionais vão desempenhar o papel de supervisor das tecnologias automatizados. O papel dos médicos anestesistas não será eliminado, no entanto eles terão que supervisionar várias salas de cirurgia totalmente monitoradas que são operadas por máquinas. O médico anestesista desempenhará o papel de diretor de produção de uma espécie de fábrica do anestesiamento operada por robôs. Este cenário será realidade em diversas outras áreas da medicina.

Os médicos clínicos gerais terão mais capacitações. Eles poderão, por exemplo, acessar o conhecimento do melhor psicólogo através de um software cognitivo. Eles vão poder interpretar a imagem de um exame de radiologia e analisar a lesão apresentada com auxílio da inteligência cognitiva de uma máquina. Com base no exame o médico clínico geral vai poder indicar a probabilidade da lesão ser um tumor canceroso e recomendar a realização de uma biopsia. Em 2016, apenas os médicos especialistas têm capacidade para fazer este tipo de avaliação. De uma forma ou outra, a medicina vai experimentar com as máquinas inteligentes uma mudança na atual direção de necessidade crescente de especialização. A tecnologia vai nivelar o conhecimento médico no âmbito da clínica geral e vai mudar o patamar para os especialistas. Os novos especialistas ou superespecialistas vão ocupar um espaço mais abrangente e profundo que eles ocupam atualmente. Por exemplo, um radiologista vai ser um radiologista intervencionista onde ele vai exercer o papel de radiologista e cirurgião.

É evidente que a tecnologia não pode assumir todos os papéis humanos e deixar o ser humano dependente da confiabilidade dos softwares. É importante que os sistemas sejam desligados em algum momento para que as pessoas saibam trabalhar sem os computadores. As máquinas inteligentes devem colaborar com os seres humanos e não os substituírem. De uma forma ou outra, os sistemas operacionais das máquinas vão carregar valores éticos e morais dos seus desenvolvedores, especialmente quando as aplicações de inteligência cognitiva estiverem sendo executadas. Isto significa que os computadores não conseguirão responder de forma inequívoca as questões dúbias. A tradução disto é que para alguns as máquinas vão parecer gentis, para alguns outros elas parecerão intrometidas e para um outro grupo elas parecerão egocêntricas. As maquinas vão, por exemplo, insistir para que os humanos trabalhem na visão dela do mundo (mais precisamente na visão do mundo dos seus desenvolvedores). Elas vão aprender e ficar mais inteligentes dentro dos parâmetros definidos pelos desenvolvedores. Ou seja, de uma forma ou outra, alguns poucos desenvolvedores vão estabelecer para a sociedade o comportamento das máquinas. Pode ser um futuro brilhante para a humanidade, como também pode ser uma ameaça enorme para as pessoas e empregos. É preciso ter consciência que a inteligência cognitiva vai tirar a característica de neutralidade na utilização das máquinas pelos seres humanos.