quarta-feira, 8 de maio de 2019

Cultura do atraso ataca novamente


Na postagem “Atendimento excelente é a salvação da lavoura?” (https://www.4hd.com.br/blog/2019/04/24/atendimento-excelente-e-a-salvacao-da-lavoura/, acessado em 08/05/2019) foi reproduzida a chamada para o evento “Atendimento como solução para o seu bug”. A equipe de divulgação deste evento usou as seguintes palavras na sua descrição: “Um bom produto que tenha um suporte ruim é um mal produto, mas um produto ruim que tenha uma boa estrutura de atendimento torna-se um produto bom”.

É desalentador perceber o elevado nível de dificuldade em comunicação e expressão e em lógica de um líder social e econômico. Não existe na língua escrita e falada no Brasil a possibilidade de existir um “mal produto”.

A lógica em acreditar que “um produto ruim que tenha uma boa estrutura de atendimento torna-se um produto bom” é extravagante. É muito mais elegante afirmar que a única coisa que a empresa é capaz de oferecer para os seus clientes é um atendimento cordial. É mais honesto afirmar que a empresa não tem capacidade para eliminar os erros e falhas do seu produto. Achar que é possível esconder os erros e falhas de um produto com um atendimento educado é o mesmo que acreditar na existência do Papai Noel.

No artigo “Bom atendimento não garante serviço, dizem paulistanos” (https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/05/bom-atendimento-nao-garante-servico-dizem-paulistanos.shtml), o empresário Marcos Salotto avaliou o serviço da prefeitura. Ele afirmou que "O atendimento é lindo, maravilhoso. Mas não funciona". Em outras palavras, o atendimento cordial é incapaz de compensar os erros e falhas de um produto ou serviço. O cliente entende que foi lesado.

Infelizmente tais situações ainda estão presentes no cotidiano das principais lideranças brasileiras. Para muitos ainda estamos vivendo no ano de 2009. Os avanços conquistados pelo resto do mundo nos últimos dez anos são super-realizações inalcançáveis pelos brasileiros na cabeça dos nossos líderes.

Para entender o que o Brasil vem perdendo por conta da pobreza intelectual das nossas lideranças vou traçar um rápido paralelo entre a realidade que existia em 2009 e a que existe em 2019.

Em 2009, o valor de mercado da Petrobrás e da Apple era praticamente igual. O Brasil cresceu entre 2009 e 2010 muito mais que os Estados Unidos. Nos Estados Unidos diversas empresas gigantescas faliram. A taxa de desemprego nos Estados Unidos era muito maior que no Brasil. O Brasil elegeu empresas para liderar segmentos de mercado no mundo inteiro. Empresas como Facebook, Airbnb, YouTube, Instagram, Uber, WhatsApp etc. eram ou inexistentes ou embrionárias. A empresa Amazon já era grande, mas era incapaz de competir no Brasil contra a livraria Saraiva e Cultura.

Em 2019, o valor de mercado da empresa Apple é maior do que toda a bolsa de valores do Brasil. A taxa de crescimento do PIB dos Estados Unidos é muito maior que a do Brasil. No Brasil diversas empresas multinacionais gigantescas deixaram o território nacional. Todas as empresas eleitas em 2009 para liderarem segmentos da economia mundial perderam participação de mercado. A taxa de desemprego no Brasil é muito maior que a dos Estados Unidos. Empresas como Facebook, Airbnb, YouTube, Instagram, Uber, WhatsApp etc. são gigantescas. A empresa Amazon entrou no Brasil e a livraria Saraiva e Cultura entraram em recuperação judicial.

Entre 2009 e 2019, o mundo vivenciou a era dos APIs, aplicativos, assinaturas etc. As empresas americanas que eram embrionárias ou inexistentes em 2009 investiram em competência, capacidade e honestidade. Para elas não existe este negócio do preconceito contra o cabelo branco. Existe apenas trabalho produtivo.

As soluções baseadas em Inteligência Artificial e aprendizado de máquina invadiram todos os produtos do mercado mundial. As lideranças nacionais escolheram bater o pé em 2009 e o resultado é a crise fiscal que o país vive. O Brasil perdeu muita competitividade com a estagnação da produtividade em um patamar baixo. Se olharmos para a abundância de recursos disponíveis fica claro que a produtividade do Brasil caiu dramaticamente nos últimos dez anos.

Até quando a pobreza intelectual das lideranças brasileiras vai impedir o crescimento do país? Infelizmente eu não tenho uma resposta para esta pergunta. No entanto, eu consigo afirmar que enquanto a elite econômica nacional for incapaz de resolver as suas dificuldades de comunicação e expressão e de lógica, o Brasil vai continuar vivendo no ano de 2009.

É decepcionante quando apenas em 2019, o Brasil está iniciando um estudo para a utilização das redes sociais pelos servidores públicos (Toffoli cria grupo de trabalho para discutir uso de redes sociais por juízes, https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/05/04/toffoli-cria-grupo-de-trabalho-para-discutir-uso-de-redes-sociais-por-juizes.htm). Em qual universo estas pessoas pensam que estão vivendo?

A utilização das redes sociais pelos servidores públicos no Brasil é um assunto que deveria ter sido equalizado faz tempo. Quem sabe em 2022 teremos o resultado do grupo de trabalho.

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