quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Perda, perdas e mais perdas


Durante as últimas décadas as campanhas de educação no trânsito estão focadas nos aspectos comportamentais dos motoristas e pedestres. Em nenhum momento estas campanhas apresentaram para a sociedade de forma clara e transparente quanto os brasileiros estão pagando (em impostos) para cobrir os custos dos acidentes e mortes no trânsito.

As campanhas de educação no trânsito não estão gerando um resultado significativo. O Brasil está atualmente no quinto lugar no ranking dos países com mais mortes no trânsito no mundo (Brasil reduz mortes no trânsito, mas está longe da meta para 2020, http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-09/brasil-reduz-mortes-no-transito-mas-esta-longe-da-meta-para-2020, acessado em 07/10/2019).

As pesquisas sobre a violência no trânsito no Brasil revelam o seguinte cenário: Mais de 1,6 milhão de pessoas feridas nos últimos 10 anos com custo de quase R$ 3 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Trinta e sete mil mortes e 180 mil feridos por ano com custo de R$ 52 bilhões. Noventa e dois porcento das vítimas de acidentes de trânsito estão entre 18 a 65 anos e 75% são homens.

Fonte: “A cada 1 hora, 5 pessoas morrem em acidentes de trânsito no Brasil, diz Conselho Federal de Medicina”, https://g1.globo.com/carros/noticia/2019/05/23/a-cada-1-hora-5-pessoas-morrem-em-acidentes-de-transito-no-brasil-diz-conselho-federal-de-medicina.ghtml; “Brasil reduz mortes no trânsito, mas está longe da meta para 2020”, http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-09/brasil-reduz-mortes-no-transito-mas-esta-longe-da-meta-para-2020. “Acidentes de trânsito em 2018: prejuízos já somam R$ 96,5 bilhões”, https://autopapo.com.br/noticia/acidentes-de-transito-graves-prejuizo/.

No caso do município de São Paulo, em 2018, foram registrados 828 acidentes de trânsito fatais com 849 mortes (Mortes de motociclistas superam as de pedestres no trânsito de SP pela 1ª vez, diz relatório, https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/23/mortes-de-motociclistas-ultrapassam-as-de-pedestres-no-transito-de-sp-pela-primeira-vez-diz-relatorio.ghtml).

É muito importante destacar que o SUS está enfrentando uma grave crise de atendimento em 2019 por causa da grande quantidade de pacientes. Mais de 60% dos leitos dos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) são ocupados por vítimas por acidente de trânsito e 50% dos centros cirúrgicos são ocupados por vítimas de acidentes rodoviários (Brasil reduz mortes no trânsito, mas está longe da meta para 2020, http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-09/brasil-reduz-mortes-no-transito-mas-esta-longe-da-meta-para-2020).

Para calcular o custo para a sociedade brasileira das mortes no trânsito eu vou assumir diversos fatores simplificadores. O objetivo é conhecer a ordem de grandeza deste custo, não o seu valor real. É importante explicitar aqui que o valor calculado será menor que o custo real por causa das seguintes simplificações:

1.     As mortes no trânsito serão iguais ao último dado disponível para o período entre 2019 e 2029

2.     O perfil adotado para as vítimas é de 26 mil homens com idade média de 40 anos e de 8 mil mulheres com idade média de 40 anos

3.     Todos os viúvos têm direito a receber pensão vitalícia por morte de um salário mínimo de um mil reais (aproximação de valor para facilitar as contas)

4.     O perfil mais comum é de viúvas com 40 anos e com expectativa de vida até os 70 anos, ou seja, receberá por 30 anos a pensão por morte

5.     No total temos anualmente 340 mil (34 mil por ano entre 2019 e 2028) viúvos (34 mil por ano x 10 acumulados entre 2019 e 2028) recebendo pensão por morte de 1 mil reais por mês entre 2029 e 2059

Como o ano de 2019 está sendo marcado pela reforma da previdência então será adotado que o único custo das mortes no trânsito é o pagamento das pensões por morte (todos sabemos que ele é apenas uma fração do custo total real).

Em outras, no período entre 2029 e 2059 a sociedade brasileira gastará 30 x 13 x 1.000 x 340.000 = 132.600.000.000, ou seja, 132 bilhões de reais com pensões por morte por causa de acidentes inúteis de trânsito. Para comparar, a reforma da previdência pretende economizar 100 bilhões de reais por ano em um período de dez anos.

O artigo “Acidentes no trânsito têm impacto de R$ 199 bi na economia” (http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-05/acidentes-no-transito-tem-impacto-de-r-199-bi-na-economia) revelou que em 2017, os acidentes no trânsito brasileiro em 2017 provocaram impacto negativo no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de quase R$ 200 bilhões ou 3% do PIB. É o dobro da economia prevista de R$ 100 bilhões por ano da reforma da previdência.

Em outras palavras, a redução pela metade dos inúteis acidentes graves de trânsito gera uma economia equivalente à reforma da previdência que gerará tantos sacrifícios para os trabalhadores brasileiros. Não é difícil chegar à meta de redução pela metade. Basta um pouco de bom senso e informar com clareza quanto a sociedade brasileira está gastando e perdendo. São milhares de hospitais, escolas, empregos, estradas, trens etc. que estão sendo perdidos ano após ano por causa de acidentes evitáveis. É preciso pensar bem neste assunto.


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