O livro Governança da nova TI: a Revolução abordou na página 420 [CASO TELETRABALHO (2002)] uma solução para as perdas do trânsito. Infelizmente nada foi feito e passados doze anos um novo estudo contabilizou que as perdas nos trinta e nove municípios da região metropolitana de São Paulo estão se aproximando da casa dos R$ 70 bilhões ao ano (Firjan: congestionamentos no Rio e em São Paulo custaram R$ 98,4 bi em 2013, http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/07/28/congestionamentos-no-rio-e-em-sao-paulo-custam-r-984-bilhoes-diz-firjan.htm, acessado em 07/08/2014).
A região metropolitana perdeu 7,8% do seu PIB em 2013 devido aos congestionamentos médios de 300 km por dia. Enquanto os políticos discutem sem embasamento algum o plano diretor da cidade e a ampliação do rodízio, o município vem perdendo cada vez mais dinheiro. Não é a toa que falta dinheiro para a educação, saúde e segurança. O desperdício segundo a pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) é enorme e crescente.
Como o óbvio não vem sendo, é o momento de falar novamente do trivial do trivial. Antes de pintar centenas de quilômetros de faixas caras inúteis para o transito (velocidade média do ônibus passou de 15 km/hora para 16 km/hora no pico da tarde, Faixas elevam velocidade de ônibus, mas prejudicam carros em SP, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/06/1464713-faixas-elevam-velocidade-de-onibus-mas-prejudicam-carros-em-sp.shtml, acessado em 07/08/2014) ou gastar milhões em estudos para a ampliação do rodízio de carros é preciso fazer o elementar. Ou seja, acabar com os carros estacionados nas ruas, avenidas e etc.
Todos os vultosos investimentos realizados no sistema viário devem ser direcionados para que os carros, ônibus, motos e etc. andem. O lugar de carro estacionado é no estacionamento. A péssima escolha do prefeito Fernando Haddad de aumentar a zona azul na cidade (Gestão Haddad acelera criação de vagas de Zona Azul, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/178334-gestao-haddad-acelera-criacao-de-vagas-de-zona-azul.shtml, acessado em 07/07/2014) só aumentou o desperdício e as perdas causadas pelo trânsito.
O segundo aspecto obvio é a questão do deslocamento casa-trabalho-casa na cidade de São Paulo. Durante décadas a gestão municipal vem incentivando o deslocamento das sedes das empresas do bem servido (em termos de transporte público) centro da cidade para os caros bairros da zona sul. Como é muito caro morar perto dos centros empresariais, a distância percorrida pelos trabalhadores vem aumentando cada vez mais e os carros, ônibus, motos e etc. ficam mais tempo nas ruas fazendo com que os congestionamentos sejam cada vez maiores. A solução óbvia de deslocar para o centro da cidade os centros empresariais foi completamente ignorada no novo plano diretor.
O sistema viário da cidade foi planejado assumindo os principais centros empresariais localizados no centro do município, por isto o transporte público tem grande investimento realizado no centro da cidade. O desenho de todo o investimento viário na cidade é o de deslocamento do bairro para o centro e não entre bairros. Este é o principal motivo do gigantesco desperdício de dinheiro público do deslocamento empresarial para a cara zona sul. O centro pode e deve ser utilizado para moradias, pois isto permite que a região tenha vida após o horário comercial. No entanto, é preciso que a região assuma o seu papel de centro empresarial e governamental para que a cidade sofra menos perdas com o transito.
Uma vez que o centro tenha consolidado o seu papel empresarial é possível criar nos bairros mais pobres centros empresariais regionais de menor porte que funcionariam como centrais de teletrabalho. Desta forma o centro é resgatado como região do trabalho, família e lazer. As pessoas que vão ocupar as casas e apartamentos novos ou reformados vão poder trabalhar perto e também vão gerar um novo ciclo econômico para a vida noturna da região.
A cidade pode neste modelo explorar todo o potencial do investimento realizado no sistema viário e de transporte público. É possível não inflacionar o centro e atender as necessidades das pessoas e empresas com a criação das centrais compartilhadas regionais de teletrabalho onde as pessoas podem realizar as suas atividades profissionais e pessoais com o menor deslocamento físico possível. A digitalização dos negócios já permite o desenvolvimento de inúmeras atividades de presença virtual.
Estas centrais são melhores no primeiro momento do que o deslocamento físico das empresas para a periferia, porque elas permitem o compartilhamento dos recursos entre diversas empresas minimizando assim os riscos e capital necessário. A dinâmica destas centrais vai gerar na regional um fluxo adicional de negócios por conta das necessidades de alimentação, transporte, segurança e educação. O volume envolvido do fluxo justifica o investimento na periferia em serviços públicos como telefonia, banda larga, saneamento e energia. A região vai se desenvolver e com isto vai gerar um ciclo de atenção para sub-regionais. A cidade de São Paulo pode com este modelo de recuperação do centro da cidade resgatar um ciclo desenvolvimentista que beneficie toda a população do município sem exclusões, violências e conflitos.