terça-feira, 28 de abril de 2020

Mundo depois da quarentena – Capítulo final


“Trabalhar remotamente em casa será uma atividade cada vez mais produtiva e eficiente. Trabalhos fabris, repetitivos e mecânicos, serão feitos por robôs, desobrigando os mais pobres de imitar Moisés com travessias laboriosas” (Lucro com propósito e pesquisa colaborativa devem sair fortalecidos da pandemia, https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/04/lucro-com-proposito-e-pesquisa-colaborativa-devem-sair-fortalecidos-da-pandemia.shtml?origin=folha, acessado em 21/04/2020).

Infelizmente, os olhos do atraso impedem a observação de todos os fenômenos simultaneamente. São olhos do achismo, da soberba e do pensamento parcial. Os pensadores mais gabaritados enxergam a grande pintura e afirmam que o home office veio para ficar. Estes olhos enxergam lucros robustos de longo prazo.

“Acho que dá menos prejuízo ficar fechado. Está às moscas. Eu esperava algo melhor”, afirma Tito Bessa Junior, presidente da Ablos (associação de lojistas de menor porte de shoppings) e dono da rede de moda (TNG Ficar fechado dá menos prejuízo, diz dono de loja, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2020/04/ficar-fechado-da-menos-prejuizo-diz-dono-de-loja.shtml?origin=folha, acessado em 21/04/2020).

Na terceira parte do artigo foi abordada a primeira das microtendências da sociedade pós quarentena. Ou seja, como o comportamento individual alimentará o comportamento coletivo da sociedade e vice versa.

É fácil perceber que existe uma enorme quantidade de perguntas não respondidas sobre qual será o comportamento das pessoas e qual será o impacto do comportamento na economia brasileira.

Nos casos onde já ocorreram alguma forma de relaxamento da quarentena é possível olhar na pratica o que poderá ocorrer. É muito importante destacar neste momento que estamos falando de um futuro que não foi escrito ainda. Em outras palavras, não é possível extrapolar que está ocorrendo em algumas cidades para todo o país.

Não existem respostas prontas. No máximo existem apenas algumas tendências de comportamento que poderão ocorrer. Um bom exemplo da imprevisibilidade do comportamento é o caso do estado de São Paulo. Antes da decretação do fechamento dos shoppings, as lojas já estavam sem faturamento por vários dias.

“Empresas dizem que já estavam sem faturamento há dias, mesmo com portas abertas” (Redes de moda sentiram alívio após Doria mandar fechar shoppings, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2020/03/redes-de-moda-sentiram-alivio-apos-doria-mandar-fechar-shoppings.shtml).

A construção do futuro depende das respostas dos indivíduos e da sociedade para os desafios pós quarentena. Quanto for maior o grau da falta de credibilidade das autoridades públicas, maior será o medo da população em sair de casa.
Infelizmente apenas alguns líderes estão sendo capazes de transmitir conforto verdadeiro para a população. Aqui no Brasil, as lideranças transparentes e honestas são raras. Se o medo da população for muito elevado (mais de 50% das pessoas acimas de 60 anos com receio de sair de casa) isto pode desertificar os shoppings e o comercio físico.


Como ficará a dinâmica das cidades brasileiras se o transporte público transportar apenas 30% dos passageiros? Como ficará a economia local? Nas capitais mais populosas do Brasil, parar o metro significa parar a cidade. Parar a cidade de São Paulo, significa parar a economia brasileira.

“Cada vez mais a loja física vai ficar muito focada em experiência, no envolvimento do consumidor, enquanto o on-line suportará a questão de conveniência” (Para convidados do IT ForOn Breakouts, conveniência é caminho sem volta, https://cio.com.br/para-convidados-do-it-foron-breaktous-conveniencia-e-caminho-sem-volta/).


quarta-feira, 22 de abril de 2020

Mundo depois da quarentena – parte 3


“A lógica do vale-tudo e, em particular, restrições a exportação abalam a confiança no comércio internacional. Todos os países sairão da pandemia mais céticos em relação à possibilidade de importar o que não produzem, mesmo tendo contribuído para o problema ao limitar exportações e, indiretamente, incentivar os demais a fazerem o mesmo. A sensação de vulnerabilidade gerada pelos episódios de hoje imprimirá sua marca na política comercial dos próximos anos. O mundo pós-pandemia será mais protecionista (Vale-tudo no comércio internacional, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/tatiana-prazeres/2020/04/vale-tudo-no-comercio-internacional.shtml, acessado em 21/04/2020).

“A executiva afirma que a multinacional iniciou a operação de sistemas em grandes clientes sem nenhum consultor presente fisicamente, uma experiência que antes deixava a impressão de que não seria possível” (Presidente de multinacional de tecnologia alerta para saúde mental no home office, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2020/04/presidente-de-multinacional-de-tecnologia-alerta-para-saude-mental-no-home-office.shtml)

Para quem acha que o home office não veio para ficar, segue acima o caso da SAP, onde diversas operações foram feitas remotamente. A agilidade da entrega de resultados combinada com a redução de custos incorporou a experiencia a rotina diária da SAP.

“Empresários aderem a campanhas massivas por redes sociais para atrair novos consumidores para venda online” (Pandemia força mudança no comércio online brasileiro, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/pandemia-forca-mudanca-no-comercio-online-brasileiro.shtml).

“Agora, existe uma venda online, mas assistida. Muitas vezes, é um consumidor que não estava preparado para uma venda online. Isso é o tipo de coisa que muda [para sempre]. A gente nunca vai parar de fazer essa modalidade de venda. É um pouco como as empresas mudam nessa crise e como os consumidores mudam. Fonte : Roberto Fulcherberguer, CEO da Via Varejo ( CEOs veem mudança de perfil de consumidores durante a crise, https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/04/20/vendas-pela-internet-ajudaram-a-minimizar-crise-diz-ceo-da-via-varejo.htm).

Os casos da Magazine Luiza, cujo faturamento é hoje 100% do online, da B2W, controlada pelas Americanas, ViaVarejo dona da Casas Bahia, Extra.com e Ponto Frio (20 mil vendedores trabalhando em home office), C&A cujo ecommerce está crescendo em três dígitos etc. revelam que o investimento do varejo (grandes, médias e pequenas empresas) no home office está sendo realizado com vigor e intensidade.

Na segunda parte do artigo foi abordada segunda dimensão das macrotendências, ou seja, o comportamento individual das pessoas pós quarentena.

A afirmação “O medo de que as escolas se tornem um ambiente propício para provocar uma segunda onda de contaminação fez com que milhares de pais mantivessem seus filhos em casa” (Na volta às aulas, pais dinamarqueses temem mandar filhos para escola, https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/em-volta-as-aulas-maes-dinamarquesas-temem-mandar-filhos-para-escola.shtml#) revelou que no plano individual a quarentena ainda não acabou nos lugares onde o governo reabriu algumas atividades econômicas.

É fácil perceber que o isolamento voluntario fará parte do cotidiano das pessoas que não desenvolveram anticorpos contra o coronavírus. Estas pessoas impulsionarão com muita força a evolução da transformação digital.

Com base nas duas dimensões das macrotendências é possível estabelecer a primeira das microtendências da sociedade pós quarentena. O plano do comportamento individual alimentará o comportamento coletivo da sociedade. Existem uma infinidade de dúvidas sobre qual será o comportamento das pessoas:

  • As pessoas vão se cumprimentar como antes?
  • Elas irão aos cinemas, teatros, shows, restaurantes, shoppings e esportes?
  • Eles ficarão mais tempo em casa?
  • A demanda por imóveis maiores aumentará?
  • O comércio, ensino e trabalho online ganhará a preferência das pessoas?
  • O trânsito nas grandes cidades diminuirá?
  • As atuais empresas de tecnologia ficarão mais fortes?
  • Novas empresas de tecnologia surgirão?
  • As pessoas se acostumarão com as diferenças do mundo online?
  • Os alunos obedecerão aos professores online?
  • Será possível incorporar nas mensagens as nuances e emoções de uma conversa ao vivo?
  • O investimento em ciência e tecnologia aumentará?
  • Os especialistas serão mais escutados?
  • Como ficará a cooperação internacional depois da quebra de contratos pelos chineses e confisco de equipamentos pelos Estados Unidos?
  • A China e Estados Unidos conseguirão reverter a crise de confiança?
  • A Índia, Coreia do Sul e Japão aproveitarão as oportunidades da crise de confiança capturarão o mercado que era dominado pela China?
  • O protecionismo aumentará?
  • Qual será o novo papel do estado na economia?
  • Como os investidores do mercado de ações reagirão ao novo modelo?
  • Quais empresas sobreviverão?
  • Quais empregos desaparecerão?
  • O trabalho remoto vai gerar empregos em massa para os profissionais de tecnologia?
  • Quais oportunidades de negócio serão criadas neste mundo novo?


O plano do comportamento individual será consequência da avaliação das medidas do governo contra o coronavírus. Todos os que perderam entes queridos durante a pandemia terão atuação política contra o governo caso eles discordem das medidas que foram tomadas. Em média cada óbito gerará cem opositores ao governo. Com as redes sociais os cem iniciais poderão virar milhares e até mesmo milhões.

Isto significa que a maior parte dos políticos com baixa aprovação durante a pandemia (ou todos eles) serão levados para o ostracismo nas próximas eleições. As pessoas votarão em políticos opositores aos seus desafetos.

“Pesquisas apontam que medidas adotadas pelo governo em meio à pandemia não têm agradado japoneses” (Como a resposta ao coronavírus está derrubando a popularidade do primeiro-ministro do Japão, https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/04/17/como-a-resposta-ao-coronavirus-esta-derrubando-a-popularidade-do-primeiro-ministro-do-japao.ghtml).

No Brasil, teremos eleições em 2020 (ou 2021) para prefeitos e vereadores e em 2022 para presidente, governadores, deputados e senadores. Será muito difícil (eu considero quase impossível) para os que tiverem baixa aprovação durante a crise do coronavírus conseguirem se eleger.


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Mundo depois da quarentena – parte 2


Na primeira parte foi abordada a questão da internalização da produção na dimensão macrotendências do comportamento da sociedade depois da quarentena. O Macron está falando em refundação da França depois da quarentena. É muito forte neste momento a tendência de profundas mudanças nas políticas internas dos países (Macron anuncia retomada a partir de 11 de maio e pede 'refundação' da França, https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/macron-anuncia-retomada-a-partir-de-11-de-maio-e-pede-refundacao-da-franca.shtml, acessado em 15/04/20200.

As lições dos contratos cancelados unilateralmente e sem aviso prévio pelas empresas chinesas e confisco de equipamentos médicos pelos Estados Unidos abalaram profundamente a credibilidade que a comunidade internacional tinha nestes dois países (Coronavírus: EUA são acusados de 'pirataria' e 'desvio' de equipamentos que iriam para Alemanha, França e Brasil, https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52166245)

A segunda dimensão das macrotendências é o comportamento individual das pessoas pós quarentena. Todos os que tiverem adquirido anticorpos contra o novo coronavírus poderão viver da mesma forma que viviam antes da pandemia.

Eles poderão frequentar restaurantes, cinemas, shoppings sem grandes preocupações, pois não podem ser atacados pelo Covid-19 e não são agentes transmissores da doença. Para este grupo a vida segue normalmente.

Para os que não tiverem anticorpos contra o novo coronavírus as mudanças serão profundas. Será bem lenta e gradual a volta destas pessoas ao espaço público. Eles usarão máscaras e outros equipamentos de proteção pessoal.

Dificilmente elas comerão fora de casa por casa do compartilhamento de talheres e pratos. Tudo terá que ser descartável para eles.

Na volta ao trabalho estas pessoas terão atitudes de distanciamento em relação aos seus colegas. Várias empresas não têm espaço físico nas suas instalações para separar as pessoas por dois metros. O uso do banheiro terá que ser revisto. Será necessário um grande esforço de planejamento para a realização de atividades triviais no ambiente de trabalho.

Tudo isto terá custo. O que significa que o custo fixo das empresas subirá. Um caso de Covid-19 em uma empresa poderá provocar o seu fechamento. O caso do SBT é um prenúncio do que ocorrerá nos próximos meses quando for registrado um caso de coronavírus em uma empresa (Por coronavírus, Ministério Público pedirá fechamento da sede do SBT no Rio, https://natelinha.uol.com.br/televisao/2020/04/14/por-coronavirus-ministerio-publico-pedira-fechamento-da-sede-do-sbt-no-rio--143657.php).

É fácil perceber que é bastante provável que as pessoas com anticorpos contra o novo coronavírus sejam disputadas no mercado. Se todos os funcionários tiverem anticorpos então a empresa não precisará mudar nada. Ela não terá o aumento do custo fixo mencionado anteriormente. Será uma enorme vantagem competitiva. Será ético tal estratagema?

Uma alternativa de mercado será a intensificação do home office. As empresas vão contratar e manter funcionários capazes de trabalhar como uma célula autônoma.

São pessoas com boa capacidade de visão geral da execução do planejamento. A capacitação do funcionário de interagir de forma remota e em tempo real com os seus colegas para à tomada das micro decisões do dia a dia será buscada com intensidade pelo mercado.

Será um novo nível de desafio para os times. Quem tiver melhor técnico e equipe mais entrosada será vitorioso neste momento de refundação da economia mundial. Os que estão apostando na transformação digital já estão colhendo frutos das suas decisões. A venda online dos produtos da páscoa cresceu mais de 300% (Compras online crescem 18,5%; produtos de Páscoa têm alta de 322%, https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/04/14/compras-online-crescem-185-produtos-de-pascoa-tem-alta-de-322.htm)

“Os nervos da população ainda estão muito à flor da pele. Ao menos entre cidadãos como a senhora Sun, aposentada. Seu filho Xiaobo conta que ela não sai de casa desde o final de janeiro e ainda tem muito medo de ir para a rua” (Wuhan dá adeus ao seu bloqueio, mas confinamento ainda segue parcialmente, https://brasil.elpais.com/internacional/2020-04-08/wuhan-da-adeus-ao-seu-bloqueio-mas-confinamento-ainda-segue-parcialmente.html).

É fácil perceber que o confinamento voluntário vai afetar profundamente a dinâmica dos negócios depois da quarentena. Até o surgimento de uma vacina, apenas os que desenvolveram anticorpos contra o coronavírus viverão como viviam antes da pandemia.


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Mundo depois da quarentena – parte 1


Neste período de quarentena estou recebendo diversos questionamentos sobre como será o mundo depois da quarentena do coronavírus. Empresários, empreendedores, investidores, profissionais liberais etc. estão usando a quarentena para preparar o seu negócio para competir em um novo modelo do mundo.

Como o assunto é bastante amplo, complexo e dinâmico, ele vem sendo discutido em diversas dimensões. A primeira dimensão é a de macrotendências da sociedade. As recentes disputas por alimentos e equipamentos médicos e de proteção entre os compradores e os vendedores protagonizadas pelos Estados Unidos, França, Alemanha, Brasil, China etc. criarão consequências institucionais no médio e longo prazo.

É muito provável que o atual modelo globalização seja aposentado. Fonte: “Países restringem a exportação de alimentos e fazem seu custo subir” (http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL640257-5602,00-PAISES+RESTRINGEM+A+EXPORTACAO+DE+ALIMENTOS+E+FAZEM+SEU+CUSTO+SUBIR.html, acessado em 08/04/2020) e “Coronavírus: EUA são acusados de 'pirataria' e 'desvio' de equipamentos que iriam para Alemanha, França e Brasil” (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52166245).

Os países que terceirizaram a sua indústria para outros países como a China, Índia etc. vão repensar o seu modelo e provavelmente irão internalizar uma grande parte da produção terceirizada (ou toda ela). Estaremos em breve vendo a substituição das importações por produção totalmente doméstica.

É evidente que neste novo modelo, a China terá uma forte redução das suas exportações e taxa de crescimento do PIB. Ou a China encontra uma forma de acabar com os cancelamentos das entregas dos equipamentos e produtos médicos ou ela terá que enfrentar no médio e longo prazo uma brutal redução das suas exportações.

Os países importadores que dependem da China irão repensar a sua estratégia de dependência das fabricas chinesas. Estes cancelamentos em um momento tão crítico estão criando um profundo sentimento de incerteza.

Os mercadores chineses que estão quebrando contratos por conta de ofertas melhores estão pensando apenas nos ganhos de curto de prazo. No médio e longo prazo eles estão levando a sua empresa para a falência por causa da perda da confiança. Quem fará negócios com ela novamente? A mulher americana tem como lema quem trai uma vez trai sempre.

A internalização das terceirizações provavelmente aumentará os custos de fabricação por conta da menor escala de produção, isto significa, que no médio e longo prazo teremos uma pressão inflacionária. A consequência do possível aumento da inflação será a redução da velocidade de recuperação das economias.

Os Estados Unidos que estão usando uma lei criada em tempos de guerra para bloquear ou reduzir o comércio de produtos essenciais e insumos médicos poderão sofrer grandes retaliações no médio e longo prazo.

Os importadores irão também escolher a produção interna e gigantes multinacionais que caírem na tentação de maximizar o ganho no curto prazo poderão enfrentar enormes dificuldades no médio e longo prazo. Qualquer um que pense apenas no curto prazo e quebre contratos estabelecidos está cavando um poço para a sua derrocada no futuro.

Todos os que resolveram os seus problemas depois de terem acordos formais bem estabelecidos cancelados encontraram de uma forma ou de outra uma solução para o abastecimento interno. A solução sem o fornecedor revela que ele é redundante, ou seja, pode ser descartado.