quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Combater desigualdade ou pobreza?


Outros argumentam que a própria meta de redução das diferenças carece de sentido. No entender destes, o que realmente conta é a diminuição da pobreza na qual estão imersos milhões de patrícios. Afinal, se eles conseguissem alcançar um nível de vida decente, as fruições da parcela dos muito ricos seriam irrelevantes. O raciocínio parece sensato. Talvez não seja.”. Fonte: Desigualdade à brasileira, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/maria-herminia-tavares-de-almeida/2019/09/desigualdade-a-brasileira.shtml, acessado em 19/09/2019.

O Marcelo Neri inventou uma matemática para provar que o Brasil passou por ciclo de redução da desigualdade e pobreza no governo do PT. Entendo que a afirmação "O raciocínio parece sensato. Talvez não seja." precisa ser vista pelo pragmatismo dos números.

Para tal vamos imaginar o país BRZ com dois habitantes. Cidadão A e B. A linha de pobreza individual é de 70. A tem renda de 60 e B de 50. B tem renda de 83% de A, logo a desigualdade é de 17%. O país CK ofereceu uma ajuda de 11 que o governo do BRZ pode usar como quiser. Isto significa que ele pode criar um dos seguintes cenários.

1.     Elevar a renda de A para acima da linha da pobreza. Neste caso a desigualdade aumenta. A outra consequência é que A passa a consumir quantidade adequada de calorias e aumenta a sua produtividade. A riqueza nacional aumenta incrementalmente e existirá um momento onde B terá renda acima da linha da pobreza.

2.     Eliminar a desigualdade. A e B tem renda de 60,5. Ambos abaixo da linha da pobreza. Ambos sem consumo adequado de calorias. Ambos com baixa produtividade. Neste caso ocorre a perpetuação da pobreza. Nunca A e B terão renda acima da linha da pobreza, pois não geram aumento de riqueza.

3.     Governo não faz nada. Recusa ajuda. Fica esperando uma oferta de ajuda que tire A e B ao mesmo tempo da linha da pobreza e que reduza a desigualdade que existe entre eles. Esta ajuda pode não chegar nunca.

A China escolheu o primeiro caminho e por isto está enfrentando aumento da desigualdade durante o ciclo de eliminação da pobreza.

O Brasil escolheu o terceiro caminho onde expoentes da linha do Marcelo Neri filosofam sobre a desigualdade e a pobreza só aumenta.

Em um país onde o salário mínimo nominal é de mil reais e o salário mínimo real é de três mil reais é muito fácil criar a distorção onde existe uma forte desigualdade entre uma pessoa que recebe renda mínima (3 mil) e uma pessoa que recebe renda abaixo do mínimo (1 mil).

É evidente que existe enorme desigualdade entre um bilionário e a renda mínima de três mil (333 mil vezes). Também é óbvio que a ordem de grandeza desta desigualdade é de igual gravidade ao caso onde a renda é de 10 mil (100 mil vezes). Na prática, ter desigualdade de 300 mil ou de 100 mil representa a mesma doença social. A questão aqui é que apesar do Gini o estilo de vida do 10 mil é bom.

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