segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sim. Sim é o emprego


A pesquisa “How machines are affecting people and place” realizada por “the Metropolitan Policy Program at the Brookings Institution” (https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2019/01/ES_2019.01_BrookingsMetro_Automation-AI_Report_Muro-Maxim-Whiton-FINAL.pdf, acessado em 29/01/2019) revelou que os empregos que existem em 2019 relacionados com a preparação de alimentos, produção industrial, administração de escritório, transporte, limpeza de edifícios comerciais, manutenção, instalação e reparo de produtos e etc. tem elevada probabilidade de extinção nos próximos onze anos.

É importante destacar neste ponto do texto, que não estou advogando a favor de profetas e profecias. Temos que entender que o estudo é apenas uma avaliação das probabilidades da ocorrência de alguns dos cenários futuros projetados.

A leitura correta da pesquisa é que existe uma elevada probabilidade (acima de 70%) da possibilidade de a Inteligência Artificial eliminar estes empregos nos Estados Unidos até o ano de 2030. Não existem certezas sobre como a sociedade estará se comportando nas próximas décadas e nem é possível fazer afirmações categóricas sobre como o mundo será em 2030.

Depois de três anos de demissões, foram criados cerca de 530 mil empregos com carteira assinada em 2018
(Após 3 anos de demissões, Brasil cria 529 mil empregos com carteira assinada em 2018, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/apos-3-anos-de-demissoes-brasil-cria-529-mil-empregos-formais-em-2018.ghtml).

Os profissionais mais buscados no mercado brasileiro em 2018 foram alimentadores de linha de produção, faxineiros, auxiliares de escritório, serventes de obras, atendentes de varejo e etc. (Veja as profissões que mais geraram empregos formais em 2018 e as que mais perderam vagas, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/veja-as-profissoes-que-mais-geraram-empregos-formais-em-2018-e-as-que-mais-perderam-vagas.ghtml).

É fácil perceber que as ocupações mais demandadas pelas empresas brasileiras estão todas na categoria de elevada probabilidade de eliminação pela Inteligência Artificial (IA) nos próximos anos. Não encontramos na lista das dez profissões que mais geraram empregos nenhuma ocupação na categoria de baixa probabilidade de eliminação pela IA.

O artigo “Robôs ameaçam 54% dos empregos formais no Brasil” (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/robos-ameacam-54-dos-empregos-formais-no-brasil.shtml) revelou que trinta milhões de vagas de trabalho formal podem deixar de existir até o ano de 2026.

Os que forem aos jogos olímpicos de 2020 encontrarão hotéis operados por robôs (Empresa planeja abrir mais 8 hotéis operados por robôs em todo o Japão, http://www.portalmie.com/atualidade/curiosidades/2018/02/empresa-planeja-abrir-mais-8-hoteis-operados-por-robos-em-todo-o-japao/).

A eliminação destes empregos não causa grande impacto no mercado de trabalho japonês, porque em geral estas atividades são rejeitadas pelos trabalhadores. O real problema será quando as redes internacionais de hotéis que estão presentes no Brasil decidirem robotizar.

A eliminação destas posições do mercado formal impactará a geração de empregos no mercado informal, pois os empregos informais são mais facilmente automatizados.

No Brasil, os debates sobre o emprego estão ocorrendo em uma camada bastante distante do problema real. Ainda existem conversas sobre a CLT e acessórios desnecessários.

O 13º salário foi a oficialização do bônus de final de ano que existia no mercado brasileiro nas primeiras décadas do século XX. O doutor em economia, Alexandre Schwartsman (foi diretor do Banco Central) definiu com precisão a questão. “O 13º nada mais é do que uma “poupança” disfarçada feita ao longo do ano: em vez de distribuir seu salário anual em 12 parcelas, o pagamento é feito em 13, das quais duas no final do ano” (Previdência não 'injeta dinheiro na economia'; como é hoje, concentra renda, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/alexandreschwartsman/2019/01/previdencia-nao-injeta-dinheiro-na-economia-como-e-hoje-concentra-renda.shtml).

Se os benefícios previstos na CLT fossem realmente bons, os trabalhadores desempregados dos Estados Unidos (existe desemprego por lá também) estariam entrando no mercado de trabalho brasileiro.

Foi afirmado que Danilo Brack nunca viu uma onda migratória de brasileiros como a dos últimos dois anos. A maioria arrisca a travessia pela fronteira do México. Muitos têm mestrado e doutorado. Fonte: Mais brasileiros com crianças buscam os EUA, https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/ae/2018/06/mais-brasileiros-com-criancas-buscam-os-eua.html.

A realidade mostra que os americanos não buscam os benefícios da CLT brasileira e os brasileiros estão entrando ilegalmente para os Estados Unidos (correndo risco de vida) em busca de empregos sem os benefícios da CLT.

A crise econômica brasileira não foi causada pela CLT. Os afinados com os fatos e números da macroeconomia brasileira já leram com a devida atenção o artigo “O aumento salarial de R$ 3” (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/01/o-aumento-salarial-de-r-3.shtml).

O rendimento médio do trabalho cresceu R$ 3 no ano de 2018, ou seja, gerou impacto marginal zero nas despesas salariais das empresas.  Mais ainda, o ano de 2018 foi um dos raros anos onde a taxa real de juros (Selic) e a taxa de inflação estiveram abaixo da casa dos 5%.
Os custos salariais (CLT) foram praticamente iguais, o trabalho informal (sem os benefícios da CLT) cresceu espetacularmente, o custo do dinheiro caiu e a inflação foi muito baixa e mesmo assim o crescimento do PIB e PIB per capita em 2018 foi ridiculamente baixo.

O Marcos Lisboa ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda afirmou: “No Brasil, alguns insistem em elixires milagrosos, como juros para baixo, câmbio para cima e proteção à produção doméstica. Pois bem, a taxa de juros está no seu menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em 2018 e temos mais proteções contra a importação de bens manufaturados do que qualquer país da OCDE. A indústria, no entanto, patina e a produtividade continua estagnada” (Hermanos, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2019/01/hermanos.shtml).

É fácil perceber que o resultado do crescimento do PIB em 2017 de cerca de 1,4% e de aproximadamente 1,7% para o PIB per capta é medíocre. A pejotização cresceu como nunca em 2018 e mesmo assim o crescimento do PIB foi pífio. Foi afirmado que existe elevada correlação entre a volta da atividade econômica e os empregos CLT (Com trabalho precário, população ocupada atinge maior nível da história, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/com-trabalho-precario-populacao-ocupada-atinge-maior-nivel-da-historia.shtml).

A conclusão é que a CLT não foi a causa da crise econômica brasileira. O Brasil viveu em 2018 um ano de Selic baixa, de câmbio desvalorizado e de elevado nível de proteção contra produtos importados. Como citado anteriormente também viveu ano de crescimento praticamente nulo dos salários e de alto nível de pejotização. Se com todas condições macroeconômicas favoráveis o resultado foi pobre, isto significa que o problema não está relacionado com a CLT.

Qual é o real problema da economia nacional?

Foi afirmado que nos últimos quatro anos, 4 milhões de empregos informais foram criados no país, ou seja, 40% da população ocupada de 91,2 milhões de pessoas (País ganhou 4 mi de trabalhadores informais nos últimos 4 anos

A afirmação do Lisboa (a produtividade continua estagnada) revela todo o mistério. O Brasil vem avançando fortemente na pejotização, mas está estagnado (ou melhor dizendo está negativo) na produtividade do trabalho realizado.

A degradação do mercado de trabalho foi tamanha que em 2018 chegamos à seguinte realidade: dez trabalhadores dos Estados Unidos geraram a mesma riqueza que 50 trabalhadores brasileiros ou que dez trabalhadores da Alemanha geraram a mesma riqueza que 40 trabalhadores brasileiros ou que 10 trabalhadores do Chile geraram a mesma riqueza que 18 trabalhadores brasileiros.

É muito simples encontrar no varejo brasileiro exemplos onde a produtividade do trabalho é negativa. Um caso que é repetido em larga escala aconteceu comigo recentemente. Eu toquei o meu purificador de água com idade de dois anos por um novo. O antigo quebrou e o conserto era o preço de um novo. No dia 11 de janeiro de 2019 ele foi instalado. No dia 17 de janeiro a empresa ligou dizendo que a validade de um ano do filtro tinha vencido e queriam agendar visita do técnico para a sua troca.

Eu expliquei que eles instalaram um purificador de água novo na semana passada e, portanto, a validade do filtro não estava vencida. No dia 18 de janeiro de 2018 eles ligaram de novo falando a mesma coisa do dia anterior. Eu desliguei e bloqueei os dois números.

No dia 29 de janeiro, eles ligaram novamente perguntando a data da ultima manutenção do aparelho. Quando respondi que é um aparelho novo de instalação recente, a voz do outro lado respondeu que sabia deste fato e insistiu na pergunta sobre ultima manutenção. Respondi que a pergunta não tinha sentido, deliguei e bloquei mais este número.

Claramente a empresa tem um sistema de controle que não funciona e o telemarketing oferece coisas inúteis para os clientes. Foram três ligações cujo resultado foi negativo. Apenas aborreceram o cliente. Apenas gastaram dinheiro.

A empresa gastou tempo, dinheiro e recursos para fazer algo inútil. É um caso apenas, mas na Internet existem milhões de casos semelhantes nos sites de reclamações. Quando inexiste inteligência, a produtividade é mínima ou nula ou negativa.

Não é difícil entender porque a pejotização degradou tanto a produtividade do trabalhador brasileiro. Um funcionário pejotizado realiza apenas a atividade que foi contratado sem maiores questionamentos. Apenas realiza. Não importa para ele se a atividade agrega ou não valor para o negócio. Ele é pago para realizar, apenas isto.

O resultado do seu esforço é totalmente irrelevante para ele. Em muitos casos, o pejotizado não tem nenhuma ideia da consequência das suas atitudes (veja exemplo à seguir). Se qualquer coisa der errado na execução das atividades, ele simplesmente troca de trabalho (é desligado ou deixa emprego por conta própria).

Em São Paulo, foram presos os dois engenheiros terceirizados "que atestaram a estabilidade da barragem", segundo a PF (Polícia Federal). Fonte: Juíza diz que era possível evitar tragédia em Brumadinho (MG), https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/01/29/juiza-decisao-barragem-presos-funcionarios-vale.htm

Caso o pejotizado receba uma oferta de trabalho melhor ele simplesmente abandona a atividade atual e começa novo trabalho. Não existem compromissos de longo prazo (no máximo apenas alguns poucos dos pejotizados cumprem o aviso prévio de 30 dias previsto no contrato. Eles o fazem com péssima vontade de trabalhar e produtividade mínima. A grande maioria é dispensada do cumprimento do aviso prévio).

O caso do segurança pejotizado do Carrefour é típico da falta de compromisso do trabalhador com a empresa (Caso Carrefour: morte de cachorro mobiliza ONGs, famosos e internautas, https://www.metropoles.com/brasil/caso-carrefour-morte-de-cachorro-mobiliza-ongs-famosos-e-internautas). O Carrefour perdeu milhões com o boicote. Toda a perda financeira que ocorreu foi consequência da atuação do seu segurança pejotizado que gerou a motivação do boicote. A perda de produtividade do negócio foi gigantesca.

É fácil perceber que o segurança pejotizado escolheu realizar uma ação de valor agregado nula para o negócio (atacar o cachorro) e ignorou a realização da ação de valor agregado positiva (manter a segurança do hipermercado). Enquanto ele mudava o foco da sua atividade, o local ficou com a sua segurança prejudicada. A produtividade do trabalho do segurança caiu para o negativo com tal decisão.

É muito interessante notar que inexiste um caso similar de um funcionário CLT. Sabe porque não existe tal situação envolvendo um trabalhador CLT?

A resposta é bem simples. Ele sabe que a sua renda futura de médio e longo prazo depende do sucesso do negócio. Em outras palavras, o foco dele é realizar atividades de valor agregado positivo para o empreendimento. Todas as ações de valor agregado nula ou negativa são ignoradas pelos CLTs.

Eles sabem que sentirão no bolso as consequências das suas decisões pobres. Este é real motivo do porque a produtividade do CLT é maior que a do pejotizado. Também é o motivo da economia do país estar despencando ladeira abaixo. O mercado privado está trocando maior produtividade por menor por causa da promessa de um menor custo aparente (os custos invisíveis escondidos são gigantescos).

O genial resultado da troca do lucro pelo prejuízo pode ser visto nos estados brasileiros. Até 31 de dezembro de 2018 três estados decretaram calamidade financeira. Até o dia 22 de janeiro de 2019 este número cresceu mais de 100%.

Em apenas 22 dias quatro estados decretaram calamidade financeira. Quantos estados brasileiros decretarão calamidade financeira até a data de 31 de dezembro de 2019?

A vida inteligente no Brasil precisa debater como aumentar a produtividade do trabalho urgentemente. O crescimento do PIB é o resultado do crescimento da população com o crescimento da produtividade média do trabalhador.

Como nos últimos anos o crescimento da população é de aproximadamente a 1% ao ano e o da produtividade média é de cerca de - 1% ao ano (é negativo) isto significa que a produtividade média do trabalhador precisa sair da casa de -1% para 2% ao ano para que o país cresça aproximadamente 3% ao ano. Não parece ser um esforço enorme, mas o nosso histórico mostra uma gigantesca dificuldade. Lembro que com crescimento de 3% ao ano, o Brasil demorará mais de um século para erradicar a pobreza.

É preciso fazer alguma coisa antes que a crise de segurança do Ceará seja um caso nacional. Um terço dos jovens presos no Ceará acusados dos crimes contra o patrimônio é menor de 18 anos (1/3 dos capturados por suspeita dos ataques no Ceará é adolescente, https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/01/14/13-dos-capturados-por-suspeita-dos-ataques-no-ceara-e-adolescente.htm).

Não é coincidência que desemprego desta faixa etária esteja acima 25%. Sem emprego, o crime organizado captura estes jovens desempregados. O Brasil está criando condições que inviabilizam o trabalho honesto no território nacional.

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