quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Diversidade da força de trabalho aumenta o lucro?

O artigo "Why diversity matters" (http://www.mckinsey.com/business-functions/organization/our-insights/why-diversity-matters, acessado em 18/08/2016) afirmou que as pesquisas mais recentes da McKinsey revelaram que as empresas com maior diversidade na força de trabalho apresentam resultados financeiros melhores. Eu pessoalmente entendo que as vantagens financeiras da diversidade da forca de trabalho são percebidas de forma intuitiva pelas pessoas. No entanto, as minhas últimas conversas com executivos e profissionais de recursos humanos mostraram que são poucos os brasileiros que conseguem explicar este fenômeno com robustez intelectual.

O primeiro passo para entender porque a diversidade está relacionada com melhor resultado financeiro passa pelo entendimento da mudança da natureza dos negócios. Todas as empresas, não importa a sua natureza ou setor de atuação viraram empresas de projetos em 2016. Campanhas de marketing, planejamento, realização de eventos, contratações de pessoas, compras, vendas, produção e etc. são consequência de um projeto. Até mesmo o planejamento da agenda diária dos profissionais é o resultado de um projeto. As empresas estão envolvidas em projetos o dia todo. Por causa desta mudança é que o estratagema Design Thinking ganhou tanto valor no mercado corporativo.

Muito dinheiro é jogado no lixo por causa de projetos fracassados. Por isto, é preciso melhorar e evoluir. Toda vez que uma força de trabalho monolítica desenvolve e executa um projeto, ela o faz conforme o seu modelo mental individual e coletivo. Mesmo quando existem pesquisas de mercado sobre o comportamento do consumidor, as pessoas vão esquecer (ou não enxergarão) diversos detalhes por conta da crença natural no modelo mental. É um comportamento absolutamente normal. Em geral as micro decisões de um projeto são tomadas conforme o modelo mental de quem está executando a atividade.

Uma força de trabalho monolítica tem grande convergência de pensamento, mas é incapaz de captar a diversidade de uma sociedade ou comunidade. Quanto maior for a distância entre o modelo mental da força de trabalho monolítica e o público alvo do produto ou serviço maior será o nível de insatisfação do consumidor. Isto acontece porque os produtos e serviços são projetados e entregues conforme o modelo mental da força de trabalho da empresa. Por mais que existam pesquisas de mercado e preferencias do público alvo, existem muitos detalhes nos projetos que são decididos conforme a preferência do executor da atividade.

Um exemplo bem simples deste fenômeno é a pintura da casa de um casal. Em geral, todos os detalhes são discutidos antes do início dos trabalhos e os pintores executam as atividades conforme um plano previamente acordado. Normalmente, o casal está trabalhando fora da residência durante a sua pintura. Em praticamente todos os casos existem reclamações sobre o trabalho de um dos cônjuges. Isto ocorre porque no casal uma pessoa é mais detalhista que a outra e o pintor tomou decisões sobre situações que não estão presente no projeto acordado. Por exemplo, a pintura ao redor do espelho das tomadas elétricas. Cada um dos pintores tomou a decisão sobre o contorno conforme o seu gosto pessoal. O gosto dos pintores é diferente do casal. É o caso de um detalhe minúsculo que gera brigas e insatisfações. Este é o motivo porque a diversidade da força de trabalho produz um resultado financeiro melhor para as empresas. Diversas pessoas com gostos e modelos mentais diferentes estabelecem uma solução para o contorno da pintura do espelho que reflete o gosto médio do público alvo da empresa de pintura.

Muitos imaginam que a diversidade da força de trabalho está restrita apenas a questão do gênero (igualdade entre homens e mulheres). No entanto, a questão é muito mais profunda. A diversidade está relacionada com aspectos como a idade, etnia, orientação sexual e religiosa, experiência de vida, cultura geral, fluência em outras línguas, Quociente Intelectual (QI) etc. Muitas empresas buscam profissionais com QI acima de um patamar. Isto também gera uma força de trabalho monolítica, porque estas pessoas têm interesses parecidos e vão gerar projetos que atendam um grupo especifico do público alvo da empresa.

O preconceito contra o cabelo branco praticado por muitas empresas impede que estas organizações ofereçam soluções para um enorme segmento do mercado consumidor. Impede em muitos casos que ofertas de elevado lucro sejam oferecidas. É gerado o custo da apresentação de soluções para um perfil de pessoas não está interessado naquelas soluções (o segmento não tem o problema e nem o desejo). Em resumo, vendas são perdidas porque as ofertas não atendem os interesses e necessidades do segmento de mercado e custos são gerados porque são desenvolvidos e ofertados produtos e serviços que não endereçam as expectativas dos clientes. Enquanto todas as empresas têm problemas com a diversidade, o resultado não é tão negativo. No entanto, no momento em que empresas do mundo inteiro estão resolvendo a questão e estão surgindo ofertas para os cabelos brancos, as empresas que não se atualizarem vão perder mercado e clientes. É desta forma que a diversidade da força de trabalho é transformada em resultado financeiro melhor.


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