No plano de recuperação, ao qual a Folha teve acesso, a
varejista atribui suas dificuldades financeiras a uma série de fatores: crise
da economia brasileira, falta de abastecimento pelos fornecedores, dificuldades com a implementação de um
novo sistema tecnológico e escassez de crédito bancário. Fonte: Saraiva
propõe a credor pagar em 15 anos só 5% da dívida, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/02/saraiva-propoe-a-credor-pagar-em-15-anos-so-5-da-divida.shtml,
acessado em 06/02/2019.
Pela
primeira vez no Brasil, uma empresa relaciona de forma direta, clara e explícita
as suas dificuldades financeiras com os seus sistemas computacionais.
Foi
afirmado que consta no plano de recuperação da livraria Saraiva que as suas
dificuldades financeiras estão relacionadas com as dificuldades
com a implementação de um novo sistema tecnológico.
A
empresa explica os seus constantes prejuízos através de três fatores externos e
um interno. Em relação aos fatores externos as empresas nada podem fazer. Elas
apenas reagem a eles. Infelizmente a pobreza intelectual das corporações
brasileiras alcançou patamares extremamente elevados. Elas são incapazes de
reagir corretamente aos fatores externos.
Os
aspectos externos (crise da economia brasileira, falta de abastecimento pelos
fornecedores e escassez de crédito bancário) impactam toda a economia nacional.
São condições gerais do ambiente de negócio brasileiro. É evidente que o
impacto destes três fatores nas empresas é diferente. No entanto, todas as
empresas foram impactadas e muitas produziram resultados positivos. Livrarias
concorrentes da Saraiva produziram lucros enquanto ela era deficitária.
Isto
significa que vale a pena aprofundar o entendimento do único fator interno declarado
no plano de recuperação como determinante da dificuldade financeira da livraria
(dificuldades com a implementação de um novo sistema
tecnológico).
Em
diversos momentos eu invadi os cursos ministrados pelo profeta Bob. Em algumas
invasões eu tomei a palavra do brilhante instrutor e apresentei situações (em
uma ou duas o Bob estava presente comigo) onde a livraria Saraiva perdeu
dinheiro e vendas por falhas do seu sistema computacional. Não é um ou outro
caso. Eu presenciei mais de dez situações. Não eram falhas pontuais, pois
vinham ocorrendo por anos.
Quem
lê o plano de recuperação da livraria Saraiva imagina que o fator interno “dificuldades
com a implementação de um novo sistema tecnológico” é um caso pontual resultante
de erros de uma implementação de um sistema. Eu tenho presenciado falhas nos
sistemas computacionais da livraria desde o ano de 2010. Quase uma década. Não
é um problema circunstancial. É um problema estrutural.
Eu
já escutei conversas entre os vendedores da loja do Shopping Paulista, onde foi
dito que não adianta ligar para o suporte, pois eles nunca resolvem o problema.
A solução oferecida pela central de atendimento para os vendedores e
funcionários das lojas é o tradicional desliga e liga computador, roteador e
etc.
Em
nenhum momento existe uma pesquisa das causas das falhas e das dificuldades
operacionais dos usuários com os sistemas de suporte aos negócios. O meu amigo
Bob, ficaria de cabelos em pé (se ele tivesse cabelos) com a realidade da
central de atendimento.
Não
adiantou nada investir em melhores práticas, contratar serviços de terceiros
com dezenas de certificações. O resultado final foi muito pobre. Considerando
que livrarias como livraria da Vila e Martins Fontes foram lucrativas enquanto
a Saraiva foi deficitária fica claro que o fator interno foi determinante para
o resultado operacional.
As
escolhas da livraria Saraiva para a contratação de capital intelectual para a
sua organização de tecnologia foram as piores possíveis. A empresa gastou tempo
e dinheiro com pejotinhas certificados e não foi capaz de implementar
corretamente os novos sistemas de tecnologia.
Muitos
me perguntam sobre qual é a importância do Service Desk em uma empresa. Em
geral os técnicos ficam decepcionados com a minha resposta, pois enfatizo a
questão do capital intelectual que gera lucro (produtividade) e minimizo os
bits e bytes.
Existem
os que desejam respostas mágicas sobre como fazer a empresa reconhecer a
importância da central de atendimento. Não existem mágicas. É preciso trabalhar
na direção de encontrar respostas relevantes para o negócio. A maioria está
mais preocupada em articulações de baixo valor agregado como reduzir a
quantidade de incidentes ou diminuir o tamanho da fila de espera.
O
resultado de tais políticas é o de sempre. Perda em cima de perda. Prejuízo em
cima de prejuízo. Falência em cima de falência.
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