A
pesquisa “How machines are affecting people and place” realizada por “the
Metropolitan Policy Program at the Brookings Institution” (https://www.brookings.edu/wp-content/uploads/2019/01/ES_2019.01_BrookingsMetro_Automation-AI_Report_Muro-Maxim-Whiton-FINAL.pdf,
acessado em 29/01/2019) revelou que os empregos que existem em 2019 relacionados
com a preparação de alimentos, produção industrial, administração de
escritório, transporte, limpeza de edifícios comerciais, manutenção, instalação
e reparo de produtos e etc. tem elevada probabilidade de extinção nos próximos
onze anos.
É
importante destacar neste ponto do texto, que não estou advogando a favor de profetas
e profecias. Temos que entender que o estudo é apenas uma avaliação das
probabilidades da ocorrência de alguns dos cenários futuros projetados.
A
leitura correta da pesquisa é que existe uma elevada probabilidade (acima de
70%) da possibilidade de a Inteligência Artificial eliminar estes empregos nos
Estados Unidos até o ano de 2030. Não existem certezas sobre como a sociedade
estará se comportando nas próximas décadas e nem é possível fazer afirmações
categóricas sobre como o mundo será em 2030.
Depois de três anos de
demissões, foram criados cerca de 530 mil empregos com carteira assinada em
2018
(Após 3 anos de demissões, Brasil cria 529 mil empregos com
carteira assinada em 2018, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/apos-3-anos-de-demissoes-brasil-cria-529-mil-empregos-formais-em-2018.ghtml).
Os
profissionais mais buscados no mercado brasileiro em 2018 foram alimentadores
de linha de produção, faxineiros, auxiliares de escritório, serventes de obras,
atendentes de varejo e etc. (Veja as profissões que mais geraram empregos
formais em 2018 e as que mais perderam vagas, https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/01/23/veja-as-profissoes-que-mais-geraram-empregos-formais-em-2018-e-as-que-mais-perderam-vagas.ghtml).
É
fácil perceber que as ocupações mais demandadas pelas empresas brasileiras
estão todas na categoria de elevada probabilidade de eliminação pela
Inteligência Artificial (IA) nos próximos anos. Não encontramos na lista das
dez profissões que mais geraram empregos nenhuma ocupação na categoria de baixa
probabilidade de eliminação pela IA.
O
artigo “Robôs ameaçam 54% dos empregos formais no Brasil” (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/01/robos-ameacam-54-dos-empregos-formais-no-brasil.shtml)
revelou que trinta milhões de vagas de trabalho formal podem deixar de existir
até o ano de 2026.
Os
que forem aos jogos olímpicos de 2020 encontrarão hotéis operados por robôs (Empresa
planeja abrir mais 8 hotéis operados por robôs em todo o Japão, http://www.portalmie.com/atualidade/curiosidades/2018/02/empresa-planeja-abrir-mais-8-hoteis-operados-por-robos-em-todo-o-japao/).
A
eliminação destes empregos não causa grande impacto no mercado de trabalho
japonês, porque em geral estas atividades são rejeitadas pelos trabalhadores. O
real problema será quando as redes internacionais de hotéis que estão presentes
no Brasil decidirem robotizar.
A
eliminação destas posições do mercado formal impactará a geração de empregos no
mercado informal, pois os empregos informais são mais facilmente automatizados.
No
Brasil, os debates sobre o emprego estão ocorrendo em uma camada bastante
distante do problema real. Ainda existem conversas sobre a CLT e acessórios
desnecessários.
O
13º salário foi a oficialização do bônus de final de ano que existia no mercado
brasileiro nas primeiras décadas do século XX. O doutor em economia, Alexandre
Schwartsman (foi diretor do Banco Central) definiu com precisão a questão. “O
13º nada mais é do que uma “poupança” disfarçada feita ao longo do ano: em vez
de distribuir seu salário anual em 12 parcelas, o pagamento é feito em 13, das
quais duas no final do ano” (Previdência não 'injeta dinheiro na economia';
como é hoje, concentra renda, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/alexandreschwartsman/2019/01/previdencia-nao-injeta-dinheiro-na-economia-como-e-hoje-concentra-renda.shtml).
Se
os benefícios previstos na CLT fossem realmente bons, os trabalhadores
desempregados dos Estados Unidos (existe desemprego por lá também) estariam entrando
no mercado de trabalho brasileiro.
Foi
afirmado que Danilo Brack nunca viu uma onda migratória de brasileiros como a
dos últimos dois anos. A maioria arrisca a travessia pela fronteira do México.
Muitos têm mestrado e doutorado. Fonte: Mais brasileiros com crianças buscam os
EUA, https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/ae/2018/06/mais-brasileiros-com-criancas-buscam-os-eua.html.
A
realidade mostra que os americanos não buscam os benefícios da CLT brasileira e
os brasileiros estão entrando ilegalmente para os Estados Unidos (correndo
risco de vida) em busca de empregos sem os benefícios da CLT.
A
crise econômica brasileira não foi causada pela CLT. Os afinados com os fatos e
números da macroeconomia brasileira já leram com a devida atenção o artigo “O
aumento salarial de R$ 3” (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2019/01/o-aumento-salarial-de-r-3.shtml).
O
rendimento médio do trabalho cresceu R$ 3 no ano de 2018, ou seja, gerou
impacto marginal zero nas despesas salariais das empresas. Mais ainda, o ano de 2018 foi um dos raros
anos onde a taxa real de juros (Selic) e a taxa de inflação estiveram abaixo da
casa dos 5%.
Os
custos salariais (CLT) foram praticamente iguais, o trabalho informal (sem os benefícios
da CLT) cresceu espetacularmente, o custo do dinheiro caiu e a inflação foi
muito baixa e mesmo assim o crescimento do PIB e PIB per capita em 2018 foi
ridiculamente baixo.
O
Marcos Lisboa ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda
afirmou: “No Brasil, alguns insistem em elixires milagrosos, como juros para
baixo, câmbio para cima e proteção à produção doméstica. Pois bem, a taxa de
juros está no seu menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em
2018 e temos mais proteções contra a importação de bens manufaturados do que
qualquer país da OCDE. A indústria, no entanto, patina e a produtividade
continua estagnada” (Hermanos, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2019/01/hermanos.shtml).
É
fácil perceber que o resultado do crescimento do PIB em 2017 de cerca de 1,4% e
de aproximadamente 1,7% para o PIB per capta é medíocre. A pejotização cresceu
como nunca em 2018 e mesmo assim o crescimento do PIB foi pífio. Foi afirmado
que existe elevada correlação entre a volta da atividade econômica e os
empregos CLT (Com trabalho precário, população ocupada atinge maior nível da
história, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/12/com-trabalho-precario-populacao-ocupada-atinge-maior-nivel-da-historia.shtml).
A
conclusão é que a CLT não foi a causa da crise econômica brasileira. O Brasil
viveu em 2018 um ano de Selic baixa, de câmbio desvalorizado e de elevado nível
de proteção contra produtos importados. Como citado anteriormente também viveu
ano de crescimento praticamente nulo dos salários e de alto nível de
pejotização. Se com todas condições macroeconômicas favoráveis o resultado foi
pobre, isto significa que o problema não está relacionado com a CLT.
Qual é o real problema
da economia nacional?
Foi
afirmado que nos últimos quatro anos, 4 milhões de empregos informais foram
criados no país, ou seja, 40% da população ocupada de 91,2 milhões de pessoas
(País ganhou 4 mi de trabalhadores informais nos últimos 4 anos
(https://veja.abril.com.br/economia/pais-ganhou-4-mi-de-trabalhadores-informais-nos-ultimos-4-anos/;
Quase 100% das vagas criadas no setor privado são informais, diz IBGE, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1939484-quase-100-das-vagas-criadas-no-setor-privado-sao-informais-diz-ibge.shtml?mobile).
A
afirmação do Lisboa (a produtividade continua estagnada) revela todo o
mistério. O Brasil vem avançando fortemente na pejotização, mas está estagnado (ou
melhor dizendo está negativo) na produtividade do trabalho realizado.
A
degradação do mercado de trabalho foi tamanha que em 2018 chegamos à seguinte
realidade: dez trabalhadores dos Estados Unidos geraram a mesma riqueza que 50
trabalhadores brasileiros ou que dez trabalhadores da Alemanha geraram a mesma
riqueza que 40 trabalhadores brasileiros ou que 10 trabalhadores do Chile
geraram a mesma riqueza que 18 trabalhadores brasileiros.
É
muito simples encontrar no varejo brasileiro exemplos onde a produtividade do
trabalho é negativa. Um caso que é repetido em larga escala aconteceu comigo recentemente.
Eu toquei o meu purificador de água com idade de dois anos por um novo. O
antigo quebrou e o conserto era o preço de um novo. No dia 11 de janeiro de
2019 ele foi instalado. No dia 17 de janeiro a empresa ligou dizendo que a
validade de um ano do filtro tinha vencido e queriam agendar visita do técnico
para a sua troca.
Eu
expliquei que eles instalaram um purificador de água novo na semana passada e,
portanto, a validade do filtro não estava vencida. No dia 18 de janeiro de 2018
eles ligaram de novo falando a mesma coisa do dia anterior. Eu desliguei e
bloqueei os dois números.
No
dia 29 de janeiro, eles ligaram novamente perguntando a data da ultima
manutenção do aparelho. Quando respondi que é um aparelho novo de instalação
recente, a voz do outro lado respondeu que sabia deste fato e insistiu na
pergunta sobre ultima manutenção. Respondi que a pergunta não tinha sentido,
deliguei e bloquei mais este número.
Claramente
a empresa tem um sistema de controle que não funciona e o telemarketing oferece
coisas inúteis para os clientes. Foram três ligações cujo resultado foi
negativo. Apenas aborreceram o cliente. Apenas gastaram dinheiro.
A
empresa gastou tempo, dinheiro e recursos para fazer algo inútil. É um caso
apenas, mas na Internet existem milhões de casos semelhantes nos sites de
reclamações. Quando inexiste inteligência, a produtividade é mínima ou nula ou
negativa.
Não
é difícil entender porque a pejotização degradou tanto a produtividade do
trabalhador brasileiro. Um funcionário pejotizado realiza apenas a atividade
que foi contratado sem maiores questionamentos. Apenas realiza. Não importa
para ele se a atividade agrega ou não valor para o negócio. Ele é pago para
realizar, apenas isto.
O
resultado do seu esforço é totalmente irrelevante para ele. Em muitos casos, o
pejotizado não tem nenhuma ideia da consequência das suas atitudes (veja
exemplo à seguir). Se qualquer coisa der errado na execução das atividades, ele
simplesmente troca de trabalho (é desligado ou deixa emprego por conta
própria).
Em São Paulo, foram
presos os dois engenheiros terceirizados
"que atestaram a estabilidade da barragem", segundo a PF (Polícia
Federal). Fonte:
Juíza diz que era possível evitar tragédia em Brumadinho (MG), https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/01/29/juiza-decisao-barragem-presos-funcionarios-vale.htm
Caso
o pejotizado receba uma oferta de trabalho melhor ele simplesmente abandona a
atividade atual e começa novo trabalho. Não existem compromissos de longo prazo
(no máximo apenas alguns poucos dos pejotizados cumprem o aviso prévio de 30
dias previsto no contrato. Eles o fazem com péssima vontade de trabalhar e
produtividade mínima. A grande maioria é dispensada do cumprimento do aviso
prévio).
O
caso do segurança pejotizado do Carrefour é típico da falta de compromisso do
trabalhador com a empresa (Caso Carrefour: morte de cachorro mobiliza ONGs,
famosos e internautas, https://www.metropoles.com/brasil/caso-carrefour-morte-de-cachorro-mobiliza-ongs-famosos-e-internautas).
O Carrefour perdeu milhões com o boicote. Toda a perda financeira que ocorreu
foi consequência da atuação do seu segurança pejotizado que gerou a motivação
do boicote. A perda de produtividade do negócio foi gigantesca.
É
fácil perceber que o segurança pejotizado escolheu realizar uma ação de valor
agregado nula para o negócio (atacar o cachorro) e ignorou a realização da ação
de valor agregado positiva (manter a segurança do hipermercado). Enquanto ele
mudava o foco da sua atividade, o local ficou com a sua segurança prejudicada.
A produtividade do trabalho do segurança caiu para o negativo com tal decisão.
É
muito interessante notar que inexiste um caso similar de um funcionário CLT.
Sabe porque não existe tal situação envolvendo um trabalhador CLT?
A
resposta é bem simples. Ele sabe que a sua renda futura de médio e longo prazo
depende do sucesso do negócio. Em outras palavras, o foco dele é realizar
atividades de valor agregado positivo para o empreendimento. Todas as ações de
valor agregado nula ou negativa são ignoradas pelos CLTs.
Eles
sabem que sentirão no bolso as consequências das suas decisões pobres. Este é
real motivo do porque a produtividade do CLT é maior que a do pejotizado.
Também é o motivo da economia do país estar despencando ladeira abaixo. O
mercado privado está trocando maior produtividade por menor por causa da
promessa de um menor custo aparente (os custos invisíveis escondidos são
gigantescos).
O
genial resultado da troca do lucro pelo prejuízo pode ser visto nos estados
brasileiros. Até 31 de dezembro de 2018 três estados decretaram calamidade
financeira. Até o dia 22 de janeiro de 2019 este número cresceu mais de 100%.
Em
apenas 22 dias quatro estados decretaram calamidade financeira. Quantos estados
brasileiros decretarão calamidade financeira até a data de 31 de dezembro de
2019?
A
vida inteligente no Brasil precisa debater como aumentar a produtividade do
trabalho urgentemente. O crescimento do PIB é o resultado do crescimento da
população com o crescimento da produtividade média do trabalhador.
Como
nos últimos anos o crescimento da população é de aproximadamente a 1% ao ano e o
da produtividade média é de cerca de - 1% ao ano (é negativo) isto significa
que a produtividade média do trabalhador precisa sair da casa de -1% para 2% ao
ano para que o país cresça aproximadamente 3% ao ano. Não parece ser um esforço
enorme, mas o nosso histórico mostra uma gigantesca dificuldade. Lembro que com
crescimento de 3% ao ano, o Brasil demorará mais de um século para erradicar a
pobreza.
É
preciso fazer alguma coisa antes que a crise de segurança do Ceará seja um caso
nacional. Um terço dos jovens presos no Ceará acusados dos crimes contra o
patrimônio é menor de 18 anos (1/3 dos capturados por suspeita dos ataques no
Ceará é adolescente, https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2019/01/14/13-dos-capturados-por-suspeita-dos-ataques-no-ceara-e-adolescente.htm).
Não
é coincidência que desemprego desta faixa etária esteja acima 25%. Sem emprego,
o crime organizado captura estes jovens desempregados. O Brasil está criando
condições que inviabilizam o trabalho honesto no território nacional.
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