Tradicionalmente
o Brasil sempre se recuperou rapidamente das recessões. Não é o caso desta
última vez. (1) “Não há paralelo de retomada tão lenta no Brasil após uma
recessão, diz consultoria”. Fonte: Recuperação da renda tem o seu pior momento
na história, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/04/recuperacao-da-renda-tem-o-seu-pior-momento-na-historia.shtml,
acessado em 09/10/2019.
(2)
“De modo geral, a recuperação do emprego tem sido bem mais lenta do que o
esperado pelos analistas, um reflexo tanto da intensidade da crise quanto da
fraqueza da recuperação econômica.”. Fonte: Lenta recuperação de vagas ameaça
levar o Brasil a desemprego estrutural, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/02/lenta-recuperacao-de-vagas-ameaca-levar-o-brasil-a-desemprego-estrutural.shtml.
A
grande diferença que existe entre esta recuperação e as anteriores é que atualmente
o Brasil está atravessando um intenso processo de Transformação Digital (TD). (3)
“Nos próximos três anos, as empresas devem investir 345 bilhões de reais em
transformação tecnológica no Brasil, segundo projeção da Associação Brasileira
de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação.”. Fonte: Como se tornar
um talento digital?, https://exame.abril.com.br/podcast/como-se-tornar-um-talento-digital/.
Para
entender o impacto da Transformação Digital na economia vamos analisar como era
a Goldman Sachs antes e depois da plataforma digital.
Antes
da TD, no ano de 2000, a mesa de operações com ações da Goldman Sachs tinha 600
corretores e nenhum engenheiro de computação. Em 2017, a mesa tinha 2
corretores e centenas de engenheiros de computação. Sendo mais preciso, a Goldman
Sachs tinha em 2017 mais de 9 mil engenheiros (25% do quadro de funcionários).
É
fácil perceber que no caso da Goldman Sachs a Transformação Digital eliminou as
atividades operacionais (exemplo corretores) e criou uma forte demanda por
atividades intelectuais (exemplo engenheiros).
O
problema brasileiro é que as plataformas digitais e as vendas por assinatura
decorrentes da Transformação Digital eliminaram um grande volume de atividades
operacionais de baixo valor agregado (exemplo vendedores). Em função das
limitações dos profissionais nacionais e do desprezo brasileiro pelo
conhecimento superior, os empregos relacionados com as atividades intelectuais
(exemplo engenheiros) foram criadas no país desenvolvedor ou abrigador da
plataforma digital. O desprezo brasileiro pelas atividades intelectuais gerou
um grave colateral no emprego.
Em
resumo, diversas posições operacionais de baixo valor agregado foram extintas com
a TD e não foram criadas no Brasil as milhares de posições intelectuais decorrentes
da introdução das plataformas digitais e vendas por assinatura. É por isto que
no Brasil a TD está impactando negativamente a recuperação da economia.
Ao
eliminar atividades redundantes e não criar empregos, o nível de emprego cresce
muito lentamente. Quase marginalmente. Como consequência a renda das famílias
também cresce em passo de tartaruga. A demanda cresce raquiticamente por causa
do fraco crescimento da renda. Como consequência a produção que apresenta
elevada ociosidade cresce lentamente. O resultado é a retomada lenta do
crescimento do PIB brasileiro em um cenário onde a taxa de juros está no seu
menor nível em décadas, o câmbio se desvalorizou quase 20% em 2018 e temos mais
proteções contra a importação de bens manufaturados do que qualquer país da
OCDE. Fonte: Hermanos, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2019/01/hermanos.shtml.
Excelente ponto de vista Mansur. Vai ao encontro de nossos bate papos. Compartilhei em minhas redes sociais.
ResponderExcluir