O
final de novembro foi marcado pela tristeza da Chapecoense (#ForçaChape). Foram
vários dias de reflexões e preocupações. Muitos fatos marcaram a minha memória nos
últimos dias. As demonstrações de solidariedade do mundo inteiro foram um
deles. No campo das reflexões empresariais muitos questionaram a minha última
postagem. Quais são afinal as diferenças que tanto destaco entre os anos de
2016 e 2000?
O
final do milênio foi marcado no ambiente de tecnologia de informações e
comunicações pelo bug do milênio e bolha da Internet. Nos últimos anos do
século XX quase tudo o que foi desenvolvido para a chamada na época de nova
economia tinha crescimento exponencial. Era a era da exuberância irracional do Ben
Bernanke (https://en.wikipedia.org/wiki/Irrational_exuberance).
Em praticamente todas as análises sobre a Internet aparecia a palavra desintermediação.
A globalização estava em alta e a desintermediação significava a venda direta
ou a redução de intermediários na cadeia produtiva.
Na primeira
era de ouro da Internet o foco era a simplificação das cadeias globais através
do B2B (https://pt.wikipedia.org/wiki/Business-to-business)
e B2C (https://pt.wikipedia.org/wiki/Business-to-consumercitar).
A desintermediação foi implementada pela eliminação de membros da cadeia
produtiva mundial. Entre a segunda metade da última década do século XX e a
primeira metade da primeira década do século XXI surgiram no Brasil vários negócios
desintermediados como o Celta da GM (http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u5216.shtml),
a livraria Booknet (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/5/25/ilustrada/16.html),
o ecommerce Amélia (http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pao-de-acucar-lanca-dois-sites-para-comercio-eletronico,20011121p56162),
o buscador “Cadê?” (https://sites.google.com/site/historiasobreossitesdebusca/historia-dos-principais-sites-de-busca/cade)
e etc.
Todos
tinham a característica de eliminar intermediários do processo. Alguns foram bem-sucedidos,
outros foram comprados por empresas americanas e uns poucos fracassaram. Apesar
do aspecto explosivo, existia o consenso que a chamada nova economia não iria
impactar os mercados locais. Negócios regionais como a indústria de serviços
não seriam atacados pelo processo de desintermediação global.
A
internet evoluiu desta sua primeira era de ouro e passou pelo ciclo de redes
sociais marcado pelo Orkut e Second Life.
Este ciclo teve um boom inicial, mas em pouco tempo sucumbiu diante das
imperfeições das informações e entrou em ciclo de rápida contração. A partir da
segunda metade da primeira década do século XXI as mídias sociais assumiram o
papel de protagonistas da internet e da economia digital. É a chamada segunda
era de ouro da Internet.
Como
as grandes cadeias globais já foram desintermediados, o alvo passou a ser a
globalização dos mercados regionais. Este ciclo iniciado pelas mídias sociais
atacou os mercados regionais que estavam protegidos na etapa anterior da
globalização. No primeiro momento as empresas de Internet que ofereceram
serviços de telecomunicações entraram no mercado local. No Brasil empresas como
WhatsApp tomaram para si uma grande parte do mercado das operadoras de
telecomunicações ("É um aplicativo que cresceu em países pobres. Ninguém
nos EUA usa, por exemplo", observa Ronaldo Lemos, representante do MIT
Media Lab no Brasil e colunista da Folha.”, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/11/1835982-grupos-de-bate-papo-entre-estranhos-se-disseminam-no-whatsapp.shtml).
Estas empresas ganharam enorme penetração no mercado local. O fato dos
servidores de comunicação ficarem fisicamente localizados nos Estados Unidos
gerou um fluxo econômico de importação de serviços por causa do duplo salta da
comunicação. Como a rede de comunicação internacional é cara, isto significou que
a troca de mensagens por Apps geraram lucro para as operadoras de
telecomunicações americanas.
No
segundo momento nasceram as empresas plataformas como Uber, Airbnb, Gigwalk e etc.
que ofereceram recursos integrados com as mídias sociais para a realização de
negócios regionais. As entregas de serviços de transporte, turismo, colocação profissional
continuou a ser feita de forma local, mas o processo de negócio foi transferido
para uma plataforma global. As empresas plataforma recebem uma participação da
transação. É uma outra forma de importação de serviços. O modelo de plataforma
de negócio fez toda a diferença no mundo globalizado. Negócios de entregas
tipicamente locais como dentistas, cuidadores, médicos, jardineiros,
transporte, logística, entregas e etc. estão em forte processo de migração para
plataformas globais.
As
plataformas intermediam as transações e retém uma para do faturamento. É fácil
perceber que o modelo de negócio de 2016 avançou sobre setores que estavam
totalmente protegidos na economia brasileira de 2000. Este é o principal motivo
pelo qual é preciso estar vivendo no ano calendário. Não é uma questão de estar
usando a tecnologia x, y ou z como muitos estão propagando. A questão da
tecnologia na forma de Application Programming Interfaces (APIs), Apps, Chatbots, Computação Cognitiva,
Inteligência Artificial e etc. não é relevante ou importante. Eu sempre reforço
nas minhas conversas com os empreendedores que esqueçam a tecnologia. Ela não é
o foco. O alvo é o modelo de negócio. É esta atualização que eles precisam perpetrarem.
A tecnologia é consequência do modelo de negócio escolhido.
Não é
possível concorrer contra os que tem custo marginal unitário zero e vivem na
era da abundância dos recursos trabalhando em um modelo de custo marginal
unitário elevado e vivendo na era da escassez. É esta atualização que o Brasil
precisar fazer urgentemente. Não dá mais para conviver em um universo de
incertezas em um ambiente de negócios onde predominam as certezas.
Observação:
Todos os endereços foram acessados em 07/12/2016
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