No passado já escrevi sobre este assunto.
Infelizmente o texto foi incapaz de produzir uma mudança comportamental. A
mentira continua sendo uma ferramenta utilizada para vender no Brasil. Não é à
toa que a produtividade do brasileiro é tão baixa. Muito tempo e dinheiro é
gasto em mentiras. Praticamente nenhum tempo e dinheiro é investido na evolução
dos produtos e serviços nacionais.
Nas economias modernas, as empresas
ineficientes desaparecem e nas economias atrasadas, as empresas improdutivas
sobrevivem através privilégios especiais (Feudos, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcos-lisboa/2019/11/feudos.shtml?origin=folha, acessado em 04/12/2019).
O artigo Os herdeiros podem esperar (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/marciadessen/2019/11/os-herdeiros-podem-esperar.shtml) revelou mais uma faceta
dos mercadores de falácias. A autora Marcia Dessen fez a seguinte afirmação: “Vamos
aos fatos: parte dos argumentos do gerente é verdadeira, entretanto ele se esqueceu
de mencionar que ela trocaria os custos do inventário, que haverá, em
razão do imóvel que possui, pelo ainda elevado custo de investir em VGBL (1% ao
ano) mais o Imposto de Renda sobre os rendimentos que atualmente são isentos,
na poupança.”.
É interessante perceber que um gerente de um
banco (em geral os gerentes são profissionais certificados CPA-10 pela ANBIMA)
O código de ética da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados
Financeiro e de Capitais prega a observância dos princípios da probidade e da
boa-fé. O gerente que esqueceu de mencionar a troca de custos está sendo transparente
com o seu cliente? O esquecimento foi um lapso de memória ou foi proposital
para facilitar a venda dos produtos de previdência privada?
Eu já fui atacado em diversos momentos pelos mercadores
de falácias. Um dia recebi um e-mail da gerente de investimentos do banco
afirmando que estou perdendo muito dinheiro com a minha carteira de aplicações.
Ela apresentou na correspondência a proposta de um fundo de previdência privada
que iria render no futuro muito mais que a minha carteira de aplicações (observe
que ela falou muito mais não apenas mais). Para provar a maravilhosa oferta
dela ela anexou um comparativo do rendimento passado da minha carteira e do
fundo proposto.
A comparação era um grande uau. Mais de 100% de
diferença. Diante de números tão espetaculares eu resolvi pesquisar os rendimentos
passados do fundo proposto e calculei o resultado. Após entrar cuidadosamente
todos os números no Excel eu não encontrei o valor de rendimento afirmado pela
gerente. Fiz e refiz as contas umas três vezes e nada. O resultado era sempre o
mesmo. Muito menor do que o afirmado.
Como um gerente certificado não mente, eu
resolvi agendar uma reunião para ver como ela chegou no resultado. Quando ela
mostrou a planilha de cálculo dela eu fiquei espantado. Ela usou um longo
período do passado e calculou o porcentual do rendimento total usando juros
simples.
Quando mostrei a minha planilha usando juros
compostos ela respondeu que estava sem tempo quando enviou o e-mail e por isto
ela fez um cálculo mais simples que se aproximava do resultado real. O problema
do cálculo simples que a gerente fez, é que ele invertia o retorno do
investimento. A minha carteira de aplicações que tinha na realidade maior retorno
ficou convenientemente com rendimento menor do que o fundo de previdência que ela
queria me vender. Foi uma aproximação muito interessante.
Ela perdeu o negócio. O banco perdeu o cliente.
A comunicação do banco com o cliente deve ser precisa e robustas. Aproximações
são inaceitáveis. Melhor não falar nada do que apresentar uma informação
incorreta. A pessoa que recebe a informação pode resolver verificar os números
apresentados. Erros em situações sensíveis acabam com a credibilidade do banco.
Algumas empresas da área de eventos de
tecnologia também acreditam que a mentira vende. Estou cansado ver eventos sendo
batizados de Summit ou Expo ou Jornada para fazer com que as pessoas enxerguem
uma grandiosidade inexistente. O conteúdo ofertado é muito pobre.
Os mercadores afirmam que todos os convites
foram vendidos. Em geral, o público presente pagante é mínimo. De nada adianta tentar
disfarçar a grandeza do evento. As pessoas percebem facilmente os disfarces
utilizados e desistem de fazer negócio.
É interessante observar o antagonismo das
verdades afirmadas nos dois artigos seguintes sobre o Black Friday de 2019. “Ninguém
arrasou mais nesta Black Friday que a Magalu de Fred Trajano. E é por isso que a
empresa dele vale o que vale e sobe o que sobe na Bolsa de Valores.” (fonte: Lições
da Black Friday, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nizanguanaes/2019/12/licoes-da-black-friday.shtml?origin=folha)
x “Já a Magazine Luiza, que investiu três vezes mais em marketing neste ano,
adotou uma estratégia digital arrojada e comprou espaço na TV com apresentação
de Luciano Huck, apresentou queda de 0,24%. Apesar disso, a marca informa
“crescimento muito acima do mercado” nas vendas e 14 milhões de usuários ativos
em seu aplicativo.” (fonte: Black Friday supera projeção e valoriza varejistas
na Bolsa, https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/12/black-friday-supera-projecao-e-valoriza-varejistas-na-bolsa.shtml).
Na quinta feira antes do Black Friday dia 28/11/2019
as ações da Magalu fecharam em R$ 45,60. Na segunda feira depois do Black
Friday dia 02/12/2019 as ações fecharam em R$ 44,92.
A afirmação do Fabio Mariano: “Brasileiros são
os campeões em fake. Há um prazer em enganar o consumidor no Brasil” (O dia que
entendi que para as classes D e E não há Customer Experience, https://www.itforum365.com.br/colunas/o-dia-que-entendi-que-para-as-classes-d-e-e-nao-ha-customer-experience/)
reflete com gigantesca precisão o que acontece no Brasil. Não é de graça que a
produtividade do trabalhador brasileiro seja tão menor que a do americano.
Apesar de largamente utilizada, a mentira não vende. Ela afasta o cliente do
seu negócio.
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