sexta-feira, 26 de abril de 2019

KCS ame-o ou deixo-o


O principal evangelizador do Service Desk no Brasil, Roberto Cohen, postou um revelador artigo sobre o KCS (KCS, por que não sou teu fã, https://www.4hd.com.br/blog/2019/04/17/kcs-por-que-nao-sou-teu-fa/, acessado em 24/04/2019).

Ele baseou a sua narrativa em fatos e opiniões. Todos os argumentos usados pelo Cohen sobre as vantagens e desvantagens da metodologia KCS tem o nobre objetivo de aumentar a produtividade dos funcionários e clientes.

O Roberto produziu um conjunto completo da lógica do atendimento da central de serviços usando uma base de conhecimento. A linha mestre do evangelizador foi sobre os casos de sucesso da metodologia do KCS no passado e como ela é capaz de facilitar a solução dos problemas na medida em que eles forem aparecendo.

Como toda base de conhecimento, o KCS é uma expressão de fatos ocorridos no passado. Até aí não existe novidade alguma. A grande questão sobre a utilidade de uma ferramenta que explica como foram resolvidos os problemas acontecidos no passado é como estas informações agregam valor no presente do aqui e agora.

Raramente as amarrações de uma metodologia são explicitadas com a devida clareza nos treinamentos. Infelizmente no Brasil ainda existem conflitos comportamentais nas atividades realizadas por algumas entidades.

A boa notícia é que em breve as organizações que baseiam o seu comportamento comercial na capacitação, honestidade e competência vão suplantar com elevada margem as entidades que oferecem treinamentos pobres.

A metodologia KCS foi inteiramente desenvolvida com amarração em relação ao ambiente de tecnologia (é o seu pilar de sustentação). isto significa que o conhecimento armazenado na base de dados está intrinsecamente conectado com os componentes presentes naquele instante no ambiente de infraestrutura de tecnologia (hardwares, softwares e configurações).

Até o ano de 2010, a amarração do conhecimento com as versões dos componentes do sistema não gerava um impacto relevante na análise dos problemas. Naquela época era fácil gerenciar e controlar as versões dos softwares e do sistema operacional do equipamento. No prazo de um ano raramente ocorria mais do que duas alterações da versão de um software e todas elas eram de baixo impacto no ambiente.

Após a explosão da era dos aplicativos ocorrida na segunda década do século XXI (por volta do ano de 2015), o quadro das alterações das versões mudou radicalmente.

Com a introdução do Software as a Service (SaaS), ocorreu a adoção da solução do produto mínimo viável pelos fornecedores e com isto a atualização das versões dos softwares passou a ocorrer em frequência quase diária (existem casos de várias atualizações no mesmo dia).

O quadro de mudanças constantes foi agravado com o Windows 10. Nesta versão do sistema operacional da Microsoft as atualizações ocorrem automaticamente sem intervenção alguma do usuário.

Na era pós aplicativo, o gerenciamento e o controle das versões dos softwares instalados no equipamento do usuário deixaram de existir porque a nova regra é entregar um software com possíveis defeitos e ir corrigindo os erros e falhas conforme eles forem aparecendo. A etapa de testes dos aplicativos foi reduzida fortemente. É tão mais barato lançar um software nesta filosofia que todo o mercado trabalha desta forma.

O produto mínimo viável é lançado na produção e conforme vão aparecendo os erros e falhas, novas versões do aplicativo vão sendo liberadas. Como a atualização ocorre em tempo real de forma autônoma e automática, deixou de ser relevante o gerenciamento e o controle das versões dos aplicativos.

Por causa disto a base de sustentação do KCS ruiu. A solução registrada na base de conhecimento para um determinado problema perde o sentido quando o ambiente de tecnologia é completamente diferente.

Em um novo ambiente ou o problema deixa de existir ou a solução registrada não funciona porque as versões dos softwares e sistema operacional são diferentes do que existia na época em que a solução foi registrada no KCS.

Os que vivem na cultura do atraso continuamente ignoram as amarrações das metodologias e realizam treinamentos de KCS sem critério algum. Estas organizações tem capacidade competitiva negativa.

Eu não tenho dúvidas de que estas entidades terão o mesmo destino das organizações varridas do mercado brasileiro, quando chegaram ao Brasil as consultorias indianas baseadas na capacitação, competência e honestidade. Elas tomaram para si o mercado nacional. O tempo dos que vivem fora do ambiente da competência, capacidade e honestidade terminou. É game over.   

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Porque é diferente


É indiscutível o papel cultural e simbólico do Museu Nacional do Rio de Janeiro e da Catedral Notre-Dame da França. Os dois locais representam de forma absoluta a sagacidade e tenacidade da sua população. Os dois locais sofreram incêndios terríveis. A destruição destes dois templos gerou grande comoção.

Enfim, são muitas semelhanças no impacto da catástrofe. No entanto, o plano concreto de ações é de uma diferença gigantesca. Em poucos dias, as doações para a recuperação da Catedral Notre-Dame chegaram à casa dos bilhões e em muitos meses as doações para a recuperação do Museu Nacional do Rio de Janeiro superaram ligeiramente a casa de um milhão de Reais (Destruído por incêndio, Museu Nacional recebeu R$ 1,1 milhão em doações, https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2019/04/destruido-por-incendio-museu-nacional-recebeu-r-11-milhao-em-doacoes.shtml, acessado em 22/04/2019).

Muitos podem pensar que a diferença abissal das doações é consequência do tamanho da economia brasileira e francesa. Esta linha de raciocínio está profundamente equivocada. O artigo “Saiba quem é a bilionária brasileira que doou R$ 88 milhões para a reconstrução da Notre-Dame” (https://glamurama.uol.com.br/saiba-quem-e-a-bilionaria-brasileira-que-doou-r-88-mi-para-a-reconstrucao-da-notre-dame/) revelou a que a doação realizada por de uma bilionária brasileira para a recuperação da Catedral Notre-Dame é maior que o valor total arrecadado em doações para a recuperação do Museu Nacional. Isto significa que caso ela tenha doado recursos para os dois casos, a doação para a Catedral foi muito maior.

O que é capaz de gerar um comportamento tão diferente? A grande diferença nos dois casos é que as pessoas que estão doando para a recuperação da Catedral Notre-Dame confiam que os recursos doados serão usados com eficiência e eficácia. Todos acreditam que será formatado um bom projeto e que existirá maximização da produtividade.

No caso do Museu Nacional, as pessoas não confiam na capacidade de seleção e dos escolha dos responsáveis pela recuperação. Este é o motivo por que os doadores escolheram doar um valor irrisório em relação ao seu patrimônio. Eles têm tamanha certeza que existirá uma minimização da produtividade que doam apenas um valor na linha "dinheiro de pinga".

Muitos perguntam por que eu bato na tecla da produtividade nacional por tanto tempo. Este é um dos casos onde é perfeitamente possível observar o impacto da baixa produtividade da economia brasileira em uma iniciativa de alta relevância.

O histórico de baixa produtividade brasileira faz com que as pessoas acreditem que todas as iniciativas realizadas no território nacional consumirão a maior parte dos recursos em desperdícios, perdas e retrabalhos. Infelizmente, este péssimo histórico impactou negativamente as doações para a recuperação do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Seria muito importante que os dirigentes do atual governo reflitam como a nossa baixa produtividade está afastando os investidores estrangeiros do Brasil. As reformas da economia são muitos importantes para a recuperação da economia nacional, no entanto, é muito mais rápido e fácil elevar a produtividade do trabalhador brasileiro. Este deveria ser o alvo da primeira reforma.