terça-feira, 28 de novembro de 2017

Por que os trabalhadores americanos que não tem lei trabalhista protecionista não migram para o Brasil?

Recentemente eu recebi um vídeo do Luiz Felipe Pondé (https://www.youtube.com/watch?v=j1KarOUkeRo&app=desktop) sobre a legislação trabalhista brasileira. Neste vídeo o Pondé faz dois questionamentos. Por que os trabalhadores americanos que não tem lei trabalhista protecionista não migram para o Brasil?  Por que os trabalhadores brasileiros trocam a lei trabalhista protecionista brasileira pela lei não protecionista americana?

Na realidade já existiu no passado recente um momento em que os americanos vieram em busca de trabalho aqui no Brasil (Número de imigrantes dos EUA no Brasil aumenta quase 70% em dez anos, http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2014-12-05/numero-de-imigrantes-dos-eua-no-brasil-aumenta-quase-70-em-dez-anos.html, acessado em 28/11/2017). A questão que devemos analisar é se eles vieram em busca de uma lei trabalhista protecionista ou se eles buscam oportunidades de trabalho.

A avaliação da imigração de trabalhadores americanos últimos dez anos revela que eles vieram em busca de oportunidades. No momento em que os empregos sumiram no Brasil e surgiram nos Estados Unidos os trabalhadores americanos retornaram para o seu país.

Não é difícil perceber que os americanos não consideram a lei trabalhista brasileira protecionista. Aliás ela não é. Uma lei que transfere os direitos intelectuais e autorais dos trabalhos realizados pelos empregados para a empresa não pode ser considerada protecionista. Eu enxergo o oposto do protecionismo. Vejo a lei trabalhista brasileira como usurpadora do trabalho intelectual dos funcionários.

Em termos mais realísticos, o fluxo de retorno dos americanos revela que as condições normais de cidadania dos americanos são muito melhores. Este é o fator que faz com que o Brasil não seja um porto desejado pelos trabalhadores americanos. É importante destacar que a lei trabalhista da França e Alemanha é mais protecionista que a dos Estados Unidos e nestes dois casos também não existe a imigração em massa dos trabalhadores americanos.

O fator determinante é claramente a condição de cidadania oferecida.  É evidente que as condições de cidadania da França e Alemanha são boas, mas não são boas o suficiente (para o padrão de comportamento americano, as condições de cidadania dos Estados Unidos são no mínimo aproximadas em relação condições oferecidas na França e Alemanha) para atrair o interesse do trabalhador americano

Não é a chamada proteção oferecida pela CLT brasileira que vai estimular a imigração americana. Os americanos já perceberam que inexistem as propaladas proteções. As pessoas dão nomes fantasiosos para coisas que não existem com esperança que só com o nome tais coisas virem realidade. Não viram não.
As péssimas condições de cidadania no Brasil foram percebidas pelos americanos e no primeiro sinal de recuperação da economia americana eles retornaram. Se a CLT fosse realmente protecionista como é tão afirmado, o cenário do emprego no Brasil seria muito melhor. Os trabalhadores estariam contentes e estariam produzindo cada vez. A produtividade do trabalhador brasileiro está praticamente estagnada.

Muitos dos problemas relacionados com o emprego no Brasil, não estão relacionados com a lei trabalhista. Eu já presenciei a situação onde foi prometido para um funcionário uma promoção desde que ele obtenha um diploma universitário. Este funcionário conseguiu após um tempo de estudo um papel que afirmava que ele estava diplomado. Aquilo era apenas um papel e a pessoa não apresentava evolução intelectual alguma. Mesmo assim ele foi promovido.


A produtividade deste funcionário caiu porque ele tinha um salário menos e produzia a mesma coisa. Tal situação não está descrita na CLT. É apenas mais uma das péssimas práticas empresariais realizadas dentro das corporações. A preguiça impede que seja avaliada a evolução intelectual e cultural dos profissionais. É mais fácil usar como ferramenta um papel de uma universidade obscura.  

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A vitória da consistência

Recentemente o papa do Service Desk do Brasil publicou a postagem "Mansur, seu destino é sofrer. Assim como o meu." (http://www.4hd.com.br/blog/2017/09/06/mansur-seu-destino-e-sofrer-assim-como-o-meu/, acessado em 21/11/2017) e para a minha completa felicidade, os fatos revelaram que ele estava parcialmente errado. Sim, bob, existem situações onde a verdade vende e vende muito mais do que a mentira.

No mês de outubro de 2017 chegou ao Brasil o Galaxy note 8. Eu passei os últimos meses frustrado, porque o produto anterior note 7 foi retirado do mercado sem sequer dar um alô para os consumidores brasileiros. Por causa da frustração acumulada de um ano, eu fiz algo inédito. Comprei o produto na pré-venda e fiquei esperando pela sua entrega. No meu ponto de vista, esta é a pior modalidade de compra que existe na face terrestre. Eu gosto de comprar e sair com o produto debaixo do braço.

Quando chegou a entrega do notes 8 na loja, eu descobri que ele veio sem o kit completo prometido (aparelho mais o carregador sem fio e mais o DeX Station). Apenas o aparelho seria entregue. Após idas e vindas o gerente da loja resolveu ser honesto e transparente. Ele disse que não tinha como entregar o kit completo naquele momento e que eu poderia cancelar a compra. Expliquei que sou consumidor da linha note desde o primeiro e que eu queria o produto.

Ele ficou espantado com o fato de usar a linha por tanto tempo e pediu para fazer mais uma ligação. Na volta ele me disse que se eu aceitar esperar 60 dias ele ou devolveria o dinheiro destes dois acessórios ou os entregaria. Eu confesso que aceitei a condição duvidando da palavra do gerente. Para a minha completa surpresa e derrocada da postagem do bob, depois de duas semanas ele me ligou e entregou os dois acessórios faltantes.

Eu tinha pleno conhecimento que o prazo de 60 dias tinha margem de segurança pessoal de trinta dias do gerente, por isto me programei para voltar depois de um mês. A loja e os profissionais conseguiram superar todas as minhas expectativas e com isto venderam outros celulares e acessórios que darei de presente de Natal para os familiares e amigos.  Definitivamente a verdade vende mais que a mentira.

O lado negativo desta postagem é que ainda existem os que pautam as suas afirmações por inconsistências. São profissionais que não enxergam que estão comprometendo a credibilidade da sua organização. Lamentavelmente, existem enormes dificuldades na realização de operações matemáticas elementares e no entendimento do sentido definido nos dicionários para as palavras em português e em inglês.

Recentemente, eu participei uma polêmica inútil. Até aquele momento, eu considerava como impossível existir tantas afirmações inconsistentes. Em um determinado momento foi afirmado que faz parte da normalidade o aumento da taxa de juros durante a recessão. Tal afirmação revela uma enorme inconsistência com a realidade dos fatos. Durante crise e recessão de 2008, os Estados unidos, a zona do Euro, o Japão e etc. abaixaram os juros. Em alguns casos a taxa de juros ficou negativa (BC dos EUA reduz taxa de juros para menor nível histórico, http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL924851-9356,00-BC+DOS+EUA+REDUZ+TAXA+DE+JUROS+PARA+MENOR+NIVEL+HISTORICO.html). Em outras palavras, o período de recessão foi acompanhado por juros menores.

Para avaliar o caso brasileiro, onde a Selic nominal subiu entre 2014 e 2015 (11,75% em dezembro de 2014 para 14,25% ao ano em dezembro de 2015) é preciso levar em conta a inflação do período. A taxa de juros efetiva é a Selic nominal menos a inflação (IPCA por exemplo), ou seja, é necessário considerar a taxa de juros real da economia brasileira. O IPCA de 2014 foi 6,40% e 10,67% em 2015. É fácil perceber que a inflação disparou no Brasil durante a recessão (Inflação oficial fica em 10,67% em 2015, a maior desde 2002, http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/inflacao-oficial-fica-em-1067-em-2015.html).

A taxa de juros real é a diferença entre os juros nominais e a inflação. Não é difícil perceber que o período de recessão no Brasil foi acompanhado por uma taxa real de juros menor (caiu de 5,03% em 2014 para 3,23% em 2015). Como as empresas no Brasil, apreenderam que em momentos de alta da inflação é preciso trabalhar com estoque mínimo (ideal é ter estoque próximo a zero) e a taxa real de juros caiu, existe completa invalidação da conclusão que os juros maiores aumentaram o custo do estoque, gerando assim a estratégia de vender para redução do estoque e aumento da oferta de produtos e concorrência.

De uma forma muito simples, o aumento da oferta de bens e produtos em um momento de empobrecimento do país gera o fenômeno de redução da inflação. Como fato é fácil perceber a inflação aumentou e a concorrência diminuiu. O Black Friday de 2016 e anos anteriores ilustra bem o fenômeno da redução da concorrência. Uma das reclamações foi a maquiagem do desconto (Pedido cancelado, desconto falso: o que deu errado na última Black Friday, https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/11/20/principais-reclamacoes-black-friday.htm).

Em uma situação de aumento da competição dos concorrentes em um mercado comprador deve existir o acirramento das ofertas e redução dos preços. Neste cenário não existe espaço para maquiagem de descontos ou para aumentar o seu preço porque um concorrente subiu o preço do produto ou serviço (Preço de produtos é mais errático nas lojas virtuais na Black Friday, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1936481-preco-de-produtos-e-mais-erratico-nas-lojas-virtuais-na-black-friday.shtml). Estas práticas só têm sentido quando a concorrência é baixa. Em um ambiente de intenso nível de competição, onde os concorrentes querem aumentar a sua participação do mercado, os vendedores mantem o preço dos seus produtos quando um concorrente aumenta o seu preço. É muito fácil perceber que os fatos conspiraram contra a afirmação que a recessão aumentou a concorrência no Brasil.

Todos sabem que os graves problemas dos Estados Unidos gerados crise de confiança de 2008, não foram resolvidos com a conversa fiada. Eles foram resolvidos com capacitação, honestidade e competência. O Brasil deveria refletir mais sobre os resultados alcançados pelos especialistas.

As empresas americanas como Uber, Amazon. Airbnb, Facebook, Twitter, Instagram, WhatsApp, Netflix e etc. não vieram para o Brasil porque o país estava em recessão. Elas vieram porque perceberam que os seus concorrentes eram fracos e sem capacidade de reação. Em cinco anos, a Netflix superou a segunda maior operadora de TV por assinatura e a terceira rede de TV aberta do Brasil (Netflix dobra tamanho em um ano e já fatura mais do que o SBT, http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/mercado/netflix-dobra-tamanho-em-um-ano-e-ja-fatura-mais-do-que-o-sbt--13507).

O WhatsApp provocou pânico nas operadoras de telecomunicações (Operadoras culpam crise e "efeito WhatsApp" pelo fim de 10 milhões de linhas de celular no Brasil, https://adrenaline.uol.com.br/2015/12/09/39206/operadoras-culpam-crise-e-efeito-whatsapp-pelo-fim-de-10-milhoes-de-linhas-de-celular-no-brasil/). Em 2016, cerca de 1 milhão de turistas se hospedaram no Brasil por meio do Airbnb (Anfitriões do Airbnb no Brasil ganham R$6 mil por ano com aluguéis, http://idgnow.com.br/internet/2017/08/17/anfitrioes-do-airbnb-no-brasil-ganham-r-6-mil-por-ano-com-alugueis/).

Em uma visita aos shoppings da cidade de São Paulo é fácil notar que existe uma grande quantidade de lojas fechadas. Os passeios nas ruas e avenidas comerciais da cidade de São Paulo como a rua Augusta e as avenidas Faria Lima, Rebouças, Nove de Julho e etc. revelam que existe uma gigantesca quantidade de imóveis fechados com placas para alugar ou vender.

Os que afirmam que novos entrantes internacionais do ramo de lanchonetes, lavanderias e restaurantes estão chegando de forma crescente ao Brasil deveriam olhar também as empresas que saíram do país nos últimos anos, pois a concorrência aumenta quando o saldo entre entradas e saídas é positivo e diminui quando o saldo é negativo.

Nos últimos anos deixaram o Brasil por causa da recessão as multinacionais gigantes, ricas e poderosas como Fnac, Nintendo, Geely Motors, Accessorize, HSBC, Citibank, Duke Energy e Kirin (De saída do Brasil: confira as empresas que desistiram do país durante a crise, http://www.gazetadopovo.com.br/economia/de-saida-do-brasil-confira-as-empresas-que-desistiram-do-pais-durante-a-crise-eyjupo2hsj9d5s28ads1x2tzv).

A Foxconn anunciou que vai encerrar as suas atividades no solo brasileiro (Após decisão da Foxconn, iPhone vai deixar de ser fabricado no Brasil, https://www.tecmundo.com.br/iphone/118381-decisao-foxconn-iphone-deixar-fabricado-brasil.ht).

A gigante chinesa Xiaomi ficou no Brasil apenas entre 2015 e 2016. Ela decidiu sair do Brasil e investir no mercado oriental, Índia e Europa (VP brasileiro deixa a Xiaomi e apaga chances de a empresa voltar ao Brasil, https://www.tecmundo.com.br/xiaomi/113641-ceo-brasileiro-deixa-xiaomi-apaga-chances-empresa-voltar-brasil.htm).

Não é difícil perceber que o saldo de entradas e saídas é negativo. Afirmações como “os fatores de produção não são tão flexíveis”, “é raro uma empresa sair do mercado onde atua” e “é difícil encontrar mercado em expansão” foram destroçadas pelos fatos.

As empresas encontraram os caminhos óbvios e fáceis para tornar os fatores de produção flexíveis e sair do mercado. O banco Citibank que atuou no Brasil por décadas encontrou mercados em expansão da mesma forma que a empresa Xiaomi. Estas organizações contrataram profissionais capacitados que resolveram com enorme facilidade e velocidade os desafios relacionados com os fatores de produção.

A empresa Xiaomi faz mais em um minuto do que muitos realizaram na sua vida toda. Os competentes e alfabetizados executivos da empresa leram o livro “A Estratégia do Oceano Azul” e decidiram sair do oceano vermelho que é o Brasil onde o mercado está empobrecendo e foram para o oceano azul que é o mercado da Índia que está enriquecendo. A concorrência no Brasil diminuiu drasticamente durante a recessão, porque as empresas multinacionais e nacionais que produziam no pais, fecharam as portas no Brasil e buscaram mercados promissores (veja alguns dos exemplos listados a seguir).

·       Sandvik (Grupo Sandvik fecha fábrica de ferramentas no Brasil, http://www.usinagem-brasil.com.br/10162-grupo-sandvik-fecha-fabrica-de-ferramentas-no-brasil/)
·       MABE (As negociatas e fraudes por trás da falência da MABE, http://www.esquerdadiario.com.br/As-negociatas-e-fraudes-por-tras-da-falencia-da-MABE),
·       Comil (Comil Ônibus paralisa operação em Erechim http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2016/08/economia/518404-comil-onibus-paralisa-operacao-em-erechim.html)
·       Kasinski (Com demanda fraca, Kasinski fecha fábrica e demite 500 no AM, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/08/1495925-com-demanda-fraca-kasinski-fecha-fabrica-e-demite-500-no-am.shtml)
·       Em 2015 cerca de 1.000 concessionárias fecharam as portas (Caos automotivo: em meio à crise, montadoras massacram concessionárias, http://m.jb.com.br/opiniao/noticias/2016/01/07/caos-automotivo-em-meio-a-crise-montadoras-massacram-concessionarias/)
·       MWM que fabricava motores para a General Motors (GM), além de possuir, até pouco tempo atrás, uma linha de caminhões, anunciou que fechará as portas em fevereiro de 2016 (MWM encerrará atividades e deixará 650 trabalhadores na rua, http://otimoneiro.com.br/mwm-encerrara-atividades-e-deixara-650-trabalhadores-na-rua/)
·       A fabricante de autopeças Delphi decidiu fechar a fábrica de Cotia. Até 2014, a multinacional tinha nove fábricas no País (Delphi fechou três fábricas de autopeças no Brasil este ano, http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,delphi-fechou-tres-fabricas-de-autopecas-no-brasil-este-ano--imp-,1738301)
·       Fiat, Hyundai, Toyota, Chery, Suzuki, TAC Motors, BMW, Paccar ou fecharam fabricas ou desistiram de investir no Brasil ou fizeram as duas coisas (Montadoras que abrirem fábricas no Brasil irão a falência, http://hariovaldo.cartacapital.com.br/site/2014/01/18/montadoras-que-abrirem-fabricas-no-brasil-irao-a-falencia/)
·       Chery (Chery suspende produção no Brasil por até cinco meses a partir de julho, http://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2016/06/chery-suspende-producao-no-brasil-por-ate-cinco-meses-partir-de-julho.html)
·       Montadoras Chinesas (Montadoras chinesas vieram para vencer – mas deu tudo errado, https://exame.abril.com.br/revista-exame/vim-vi-e-perdi/)
·       Queda de consumo leva a capacidade ociosa na indústria (Indústria automobilística sofre com crescente queda na venda de veículos, http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2015/05/industria-automobilistica-sofre-com-crescente-queda-na-venda-de-veiculos.html)

Não é difícil perceber que as inconsistências perderam de goleada dos fatos. A maior derrota vem do território das importações. Foi afirmado que a presença crescente de importados aumentou a concorrência. Se ocorreu durante a recessão uma presença crescente de produtos importados isto significa que as importações brasileiras deveriam ter aumentado.

Em 2014 no início da recessão, o total das importações brasileiras era de US$ 229 bilhões (Balança comercial registra em 2014 primeiro déficit desde 2000, http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/01/balanca-comercial-registra-em-2014-primeiro-deficit-desde-2000.html) e em 2015 e 2016 na parte intermediária e final da recessão, o total das importações brasileiras era de US$ 171,45 bilhões em 2015 e US$ 137,55 bilhões em 2016. Entre 2016 e 2014 as importações caíram 91,45 bilhões de dólares ou quase 40% (Balança bate recorde e fecha 2016 com superávit de US$ 47,7 bilhões, https://g1.globo.com/economia/noticia/balanca-bate-recorde-e-fecha-2016-com-superavit-de-us-477-bilhoes.ghtml).

Não é difícil perceber que as importações entraram em queda livre e que o fenômeno restringiu a concorrência no solo nacional. Se considerarmos que os produtos produzidos localmente das multinacionais que deixaram o país durante a recessão foram substituídos por produtos importados então fica claro o tamanho da redução da concorrência. Em 2014 foram importados cerca de 230 bilhões de dólares com produção local de empresas como Nintendo, Geely Motors, Accessorize, Duke Energy e Kirin. Em 2016 foram importados cerca de US$ 140 bilhões sem a produção local da Nintendo, Geely Motors, Accessorize, Duke Energy e Kirin. A perda total do tamanho da concorrência ultrapassa os US$ 100 bilhões de dólares.

A Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) divulgou que em 2014 foram empacados 96.578 automóveis importados. Em 2015 foram emplacados 59.975 e em 2016 35.852 veículos importados. Entre 2016 e 2014 existiu uma redução espetacular de 60,726 automóveis. Os que enxergam um aumento crescente dos automóveis importados no Brasil estão sendo derrubados pelos fatos. Mais uma vez a concorrência diminuiu.

O real problema do emprego no Brasil não está relacionado com a legislação trabalhista ou com eventuais movimentos de consolidação de cargos executivos que viraram redundantes por conta do avanço da tecnologia. Tentar imaginar que os benefícios concedidos aos executivos diminuíram nos últimos anos é fugir da realidade. Não será contratando os pejotinhas que as empresas vão conseguir resultados positivos.

Desde os anos 1990, existe a estratégia de pejotizar os funcionários. O resultado final é a falência. A praticamente total das empresas nacionais de TIC que praticavam a pejotização desapareceu do mercado. Elas não aguentaram a concorrência das competentes empresas internacionais que contratavam conforme a legislação trabalhista.   O enorme atraso e consequente perda de capacidade competitiva foram os fatores decisivos para a derrocada das empresas nacionais de TI. A postagem “Bob, a terceirização é uma solução ou um problema?” (http://itgovrm.blogspot.com.br/2017/10/bob-terceirizacao-e-uma-solucao-ou-um.html) apresenta diversos casos de fraudes e perdas relacionadas com a pejotização.

Empresas como Facebook, Twitter e etc. nasceram com capital monetário inicial praticamente nulo. O real valor das organizações exponenciais está na sua capacitação cultural e intelectual. Enquanto empresas minúsculas viraram gigantes mundiais como a AirBnB, as empresas sucumbiram diante da concorrência que contratava gente gabaritada e ética dentro da legislação trabalhista.

O real problema do emprego no Brasil está na produtividade, capacitação profissional e no engajamento corporativo. Em 1980, o trabalhador chileno e o brasileiro apresentavam a mesma produtividade (trinta mil dólares por ano). Em 2016, o trabalhador brasileiro gerou US$ 30 mil e o chileno US$ 55 mil. Se considerarmos todo o avanço da tecnologia à disposição do trabalhador brasileiro fica claro que a sua produção intelectual regrediu muito (Viva Chile, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciusmota/2017/11/1936637-viva-chile.shtml?mobile).

Em 2015 durante a recessão, a produtividade do brasileiro caiu 3%, enquanto a do argentino que também estava enfrentando uma crise econômica subiu 74% e a da Chinês cresceu absurdos 422% (Fonte: Conference Board). É muito fácil perceber que o problema do emprego não é a legislação trabalhista. É a produtividade do brasileiro.

Observação:


Para a datação do período da recessão brasileira eu adotei o conceito do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) que existe recessão quando ocorre uma queda generalizada no nível de atividade econômica, independentemente de ter ocorrido dois trimestres seguidos de PIB negativo (Recessão brasileira acabou no fim de 2016, diz comitê da FGV que estuda ciclos econômicos, https://g1.globo.com/economia/noticia/recessao-brasileira-acabou-no-fim-de-2016-diz-comite-da-fgv-que-estuda-ciclos-economicos.ghtml).

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Petmercado brasileiro

As oportunidades de trabalho aumentam no segmento de saúde pet, que deve fechar o ano com 13% de crescimento. Fonte: Mercado pet cresce graças a mudanças no comportamento dos donos de animais de estimação, https://exame.abril.com.br/carreira/mercado-pet-cresce-gracas-a-mudancas-no-comportamento-dos-donos-de-animais-de-estimacao/, acessado em 09/11/2017.

Segundo matéria do portal financeiro “The Balance”, de fevereiro de 2017, o mercado envolvendo produtos para Pets virou tendência em vários países e, desde os anos 2000, o setor passou a ter um crescimento exponencial, movimentando em 2010 mais de 80 bilhões de dólares em plena recessão global. Fonte: O promissor Mercado Pet, https://www.prismajr.org/mercadopet, acessado em 09/11/2017.

“Em 2015, o faturamento nominal cresceu 7,8%, chegando a R$ 18 bilhões. Não batemos a inflação, mas tivemos desempenho bem acima do PIB, que encolheu 3,8% em relação a 2014. Mesmo com todas as dificuldades atuais, o mercado pet dá sinais de resistência”, afirma. Fonte: Segundo dados do IBGE, País tem 132,4 milhões de animais de estimação. em 2015 a atividade movimentou R$ 18 bilhões, http://economia.estadao.com.br/blogs/sua-oportunidade/mercado-pet-resiste-e-mostra-ser-opcao-para-empreender/, acessado em 09/11/2017.

O Brasil é um dos maiores mercados mundiais de pets. Os mercado de animais de estimação movimentou cerca de 25 bilhões de reais, pois mais de 50 milhões de lares brasileiros possuem um bichinho (TV para cachorros chega ao Brasil sem jazz, Metallica e cor vermelha, http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/tv-para-cachorros-chega-ao-brasil-sem-jazz-metallica-e-cor-vermelha--17457, acessado em 09/11/2017). O mercado nacional cresceu em 2016 6% em relação a 2015.

O primeiro mercado mundial é o dos Estados Unidos. Se considerarmos a renda per capita do brasileiro é surpreendente o tamanho do nosso mercado pet. Se olharmos para o lado da solidariedade o número não chega a ser surpreendente. Muitos brasileiros adotam pets abandonados nas ruas. Nos últimos cinco anos o investimento empresarial e pessoal no mercado de pets é muito maior que o investimento médio da economia nacional. Surgiram redes gigantescas como a Cobasi e a Petz.

Apesar da enorme fatia de mercado abocanhada pelas grandes redes do mercado pet, existe ainda um grande vazio de mercado derivado do processo de humanização dos pets. Este vazio dificilmente será ocupado pelas grandes redes varejistas, pois os tutores dos pets desejam contratar serviços personalizados (Tratam os pets como parte da família: metade dos donos de cães diz ter relação de pai e filho com o animal, o que explica o alto investimento em saúde animal, https://exame.abril.com.br/carreira/mercado-pet-cresce-gracas-a-mudancas-no-comportamento-dos-donos-de-animais-de-estimacao/).

O mercado de serviços pata os bichinhos é formado por diversos componentes. A lista é encabeçada pelos serviços de banho, tosa e corte e tratamento de unha. O tutor quer o seu pet bem tratado e por isto analisa a reação do seu bichinho em todos os momentos do atendimento. É evidente que o tutor deseja ver o seu pet fazendo festa para o tratador.

O segundo componente da lista é o serviço de passeio. Muitos tutores trabalham e contrataram profissionais para passearem com os seus pets. Também é um caso onde os tutores querem analisar cada um dos momentos do atendimento. A reação do pet em relação ao passeador é um fator decisivo para a manutenção do profissional.

Nós dois casos existe um claro mercado para produtos que permitam a monitoração de como está sendo realizado o atendimento e das reações do pet (batimentos cardíacos por exemplo). Soluções de roupas que combinem monitoração das reações do pet e permitam o acompanhamento do que está sendo realizado são desejadas pelos tutores dos bichinhos.

O terceiro componente da lista de serviços são os veterinários para cuidar de forma preventiva e corretiva da saúde dos pets. Existe uma quase unanimidade dos tutores em preferir profissionais também tutores de pets nestes três itens acima.

Isto significa que existe um enorme desafio para a contratação e retenção de recursos humanos nestes pequenos empreendimentos comerciais. O mercado real é do bom atendimento. Não é um mercado de surpreender o cliente com brindes e assemelhados. A renda elevada dos tutores faz com que eles valorizem mais um miado ou latido de felicidade dos seus pets do que qualquer brinde oferecido. Mais ainda, os tutores buscam previsibilidade do atendimento, ou seja, atendimento perfeito sempre. 

Não existe espaço para falhas de comportamento dos colaboradores e nem para desculpas. A tecnologia deve ser usada para registrar os desejos dos tutores e para manter a equipe (inclusive os novos funcionários) informada sobre como atender de forma personalizada cada um dos pets e tutores. É importante destacar neste ponto que um pet pode ter mais de um tutor. Em outras palavras, o sistema deve registrar as preferências de cada um dos tutores em relação ao pet.

Não é difícil perceber que existe enorme espaço no mercado nacional para produtos e serviços fora do escopo essencial para os pets. O novo canal de televisão para os pets (TV para cachorros chega ao Brasil sem jazz, Metallica e cor vermelha, http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/tv-para-cachorros-chega-ao-brasil-sem-jazz-metallica-e-cor-vermelha--17457) mostra que os tutores querem que os seus protegidos tenham um nível de conforto elevado quando eles estão sozinhos em casa. O canal oferece conteúdo agradável e calmante para os pets. O mercado de roupas e brinquedos inteligentes é gigantesco. Já existem Apps para os pets em tablets e computadores. Todos fazem enorme sucesso com os bichinhos.

O mercado de roupas inteligentes com rastreabilidade e monitoração dos sinais vitais dos pets está em vertiginoso crescimento. São produtos que podem ser desenvolvidos e vendidos com capital financeiro baixo. É um novo mundo de oportunidades que pode ser explorado pelos reais empreendedores do Brasil.


Os geniais gênios brasileiros

Apesar dos advogados e economistas brasileiros acumularem um grande volume de fracassos intelectuais na análise da economia brasileira, eles continuam tendo um espaço gigantesco na mídia tradicional nacional, para proferir as suas inconsistências intelectuais.

O presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho afirmou que “a redução de direitos trabalhistas favorece a criação de empregos” (É preciso flexibilizar direitos sociais para haver emprego, diz chefe do TST, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/11/1933111-e-preciso-flexibilizar-direitos-sociais-para-haver-emprego-diz-chefe-do-tst.shtml, acessado em 09/11/2017). Se tal fato fosse verdadeiro não existiria emprego para os executivos do chamado C-Level (What is 'C-Suite', https://www.investopedia.com/terms/c/c-suite.asp, acessado em 09/11/2017) aqui no Brasil. Um presidente ou diretor de empresa no Brasil acumula mais direitos do que centenas de empregados do piso de fábrica.

Pela exótica teoria do ministro do TST estas posições não poderiam existir no atual nível de direitos. Seria preciso, segundo o pensamento do Martins, extinguir um pouquinho os benefícios para manter os empregos para o C-Level.  Outra contradição da teoria econômica do presidente do TST em relação a realidade brasileira, é o caso do emprego para os profissionais de cabelo branco (acima de 40 anos). Não é possível encontrar no mercado de trabalho nacional, organizações reconsiderando o preconceito implícito ou explicito contra o cabelo branco nas contratações por conta das mudanças realizadas na legislação trabalhista.

A realidade é que os profissionais acima de 40 anos são descartados do processo seletivo da maioria ou totalidade das empresas no Brasil apenas pelo fato deles terem idade acima de 40 anos. Não importa o texto da lei trabalhista. As organizações têm preconceito contra a contratação deste perfil profissional independente da legislação trabalhista em vigor. O ministro que é um advogado estudado, deveria estudar um pouquinho mais de economia. Se assim fizer, ele vai perceber que o emprego vai aparecer com legislação trabalhista quando existe crescimento econômico. O nível de emprego não depende de um pouquinho mais ou menos de direitos trabalhistas. Ele depende de competência, capacitação e honestidade. Infelizmente estes três atributos são raros no território brasileiro.

A segunda grande inconsistência intelectual sobre a economia brasileira, que escutei nos últimos dias, foi a afirmação que a concorrência aumentou por causa da recessão e dos novos entrantes. Em outras palavras, foi afirmado que a recessão gerou um maior nível de concorrência no Brasil. É mais uma inconsistência intelectual dita sob a égide de um dogma de fé pessoal, Inexiste qualquer relação da teoria com a lógica e realidade.

Uma sociedade que está enfrentando uma recessão, está empobrecendo.  Em outras palavras, é uma sociedade com menos riqueza.  Porque uma empresa vai entrar em um mercado com menos dinheiro se ela pode entrar em um mercado com mais dinheiro?

É contra qualquer lógica o pensamento que um empreendedor vai escolher um mercado mais pobre cheio de concorrentes para o seu negócio. É como se ele tivesse lido o livro “A Estratégia do Oceano Azul - Como Criar Novos Mercados e Tornar A Concorrência Irrelevante” (Editora Campus, 2ª Edição, 2016 Kim, W. Chan; Mauborgne, Renée) e resolvesse fazer o oposto do que está escrito no livro de estratégia empresarial mais vendido nos últimos anos.


O aumento da concorrência não é causado pela recessão. A causa é a suprema incompetência da oferta de produtos e serviços no Brasil. As empresas que estão fora do mercado perceberam que basta ter um pouquinho mais de honestidade e capacitação que elas estarão com vantagens competitivas em relação aos seus concorrentes. A recessão não tem nada a ver com este fenômeno. Infelizmente a mídia brasileira abre espaço para uma enorme quantidade de inconsistências intelectuais que nada contribuem para a superação dos problemas nacionais. É preciso ser claro e afirmar que falta competência capacitação e honestidade para os negócios nacionais. É preciso combater os preconceitos nas contratações antes que os dogmas de fé destruam o pouco que sobrou da indústria brasileira.