Eu
venho pesquisando sobre Inteligência Artificial (IA) desde o ano de 1986. São
mais de trinta anos de estudos, pesquisas e trabalhos. Naquele tempo, o acesso
para as aplicações de IA estavam restritas para um grupo pequeno de pessoas e elas
eram bastante limitadas. O livro "Inteligência Artificial Usando Linguagem
C" do Herbert Schildt, publicado em 1989, edição em português pela editora
McGraw-Hill do Brasil foi um dos primeiros livros que apresentaram aplicações práticas
para a inteligência artificial em português.
No
capítulo 9 (Parecendo Humano), o Herbert Schildt apresenta os conceitos de uma
aplicação famosa na época de diagnóstico médico chamada ELIZA, baseada na
psicologia rogeriana que foi criada pelo Joseph Weisenbaum. Com base nos
conceitos do ELIZA, o autor desenvolveu o programa Doutor. No livro foram apresentados
os códigos em linguagem C das várias versões do aplicativo.
Passados
quase trinta anos é fácil perceber que as principais preocupações do Schildt
para a inteligência artificial ainda estão presentes no nosso dia-a-dia. É
evidente que temos à nossa disposição uma quantidade muito maior de recursos e
que as aplicações de IA deixaram de ser restritas e limitadas e passaram a
incorporar a rotina de todas as pessoas. Aplicações de diagnóstico médico estão
disponíveis via internet, por exemplo.
Uma
das faces da inteligência artificial é o Big Data. É uma tecnologia que vem
sendo incorporada na operação da maioria das empresas nacionais. São sistemas
de compras, vendas, recrutamento de funcionários e pessoas, entre outros que
fazem parte da rotina corporativa.
As
análises dos dados do Big Data muitas vezes são feitas por algoritmos
computadorizados e recebem uma camada de refinamento realizada por analistas
humanos. Ainda não veio à tona, mas em breve virá, a questão do impacto do Big
Data na sociedade humana.
Pode
parecer estranho para muitos, mas o Big Data reflete o que uma sociedade tem de
bom e de ruim. Por exemplo, em uma sociedade como a brasileira em que existe
preconceito no mercado profissional contra a mulher as análises Big Data dos
sistemas de recrutamento vão perpetuar inadvertidamente o atual comportamento
de oferecer salário menor para a mulher para o mesmo cargo ocupado por um
homem. As análises do Big Data do Comportamento do consumidor em lojas também estão
sendo impactadas pelos preconceitos existentes na sociedade brasileira.
Isto
ocorre porque a base de dados analisada é distorcida pelos comportamentos
atualmente existentes. Em alguns casos estaremos trabalhando com bases
distorcidas por causa do preconceito contra um determinado gênero, ou contra
uma determinada raça, ou contra o cabelo branco (idade), ou contra uma
determinada aparência ou etc. Antes de iniciar uma análise do comportamento
pelo Big Data é preciso ajustar as bases de dados para que elas não reflitam os
preconceitos existentes na sociedade brasileira.
A
nossa sociedade é a campeã mundial dos mais diferentes tipos de preconceitos. O
principal é a renda. Uma análise de Big Data que tente prever o comportamento
futuro do consumidor que seja baseada em uma base de dados repleta de
preconceitos vai gerar previsões que não irão se concretizar. Investimentos
grandiosos serão perdidos por conta destas distorções.
A
IA não é capaz de corrigir as graves distorções da sociedade brasileira. Aliás
ela age no sentido contrário, ou seja, de aprofundar as distorções. Ainda os
computadores precisam da inteligência humana para tomarem boas decisões. É
preciso olhar a tecnologia Big Data com olhos no que está sendo coletado para
evitar a perda de bilhões de reais no futuro.
Mansur, meu receio é, quem irá alimentar os computadores; com a inteligência humana de quem; para que se possa tomar boas decisões?
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