Muitas
vezes as crianças enfrentam punições coletivas nas escolas quando uma parte dos
alunos da classe fez tanta bagunça na sala de aula que o professor ou diretor
pune todos da mesma forma, porque não tem informações para individualizar a
culpa. Alguns acham que o fenômeno da punição coletiva é consequência da
sociedade humana. Não é. A natureza pune coletivamente também. Basta um vizinho
sujismundo para que toda rua ou bairro seja atacada pelo mosquito transmissor
da dengue por exemplo. Simplesmente não importa o cuidado individual das
pessoas nestes casos. É por isto que tais situações são descritas como
inteligência coletiva.
No
ano de 2016, a Samsung enfrentou uma grave crise com as explosões da bateria do
smartphone Galaxy Note 7. A empresa optou por assumir a culpa e retirar o
produto do mercado antes que os consumidores perdessem a confiança na marca.
Ela amargou um enorme prejuízo com a medida. No entanto, o prejuízo foi muito menor
do que seria causado por fingir que não existia um problema grave.
Quando
o ministro da agricultura do Brasil optou por fazer declarações públicas no
sentido de diminuir a operação da polícia federal conhecida como carne fraca
ele imediatamente gerou a reação dos maiores mercados internacionais de
paralisar as compras de carnes do Brasil. As declarações do ministro aumentaram
as incertezas e reduziram a confiança no Brasil (Blairo vê 'fantasias' e
'idiotice' na operação Carne Fraca, http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,maggi-critica-pf-e-diz-que-insinuar-papelao-misturado-a-carne-e-idiotice,70001706124,
acessado em 21/03/2017). A declaração do Blairo Maggi de que as investigações
vão tomar outro rumo, gerou um nível de desconfiança tão elevado no mercado que
a crise econômica da carne cresceu exponencialmente de tamanho.
A
reação negativa do mercado internacional foi imediata e a do mercado nacional
ganhou forte impulso. Infelizmente, o governo brasileiro escolheu uma
estratégia oposta da Samsung com smartphone Galaxy Note 7 e ampliou as perdas. (China
suspende importação de carne brasileira e pede explicações, https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2017/03/20/china-suspende-importacao-de-carne-brasileira-e-pede-explicacoes.htm,
acessado em 21/03/2017) e (Países decidem suspender a importação ou a venda de
carne do Brasil, https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2017/03/20/uniao-europeia-barra-importacao-de-carne-das-empresas-investigadas-pela-pf.htm,
acessado em 21/03/2017)
O
setor de inteligência do governo (espero que ele exista) precisa agir
imediatamente em conjunto com as empresas e realizar ações para aumentar a
reputação das exportadoras de carne. Uma das ações para aumentar a confiança
nos agentes sérios do mercado é a introdução do Distributed
ledger technologies
(DLTs) ou Blockchain na cadeia produtiva da carne.
A
completa rastreabilidade da cadeia produtiva permite identificar com muita facilidade
a qualidade dos produtos. É possível saber o que foi utilizado, o que foi executado
em cada uma das etapas do processo produtivo, acompanhar os selos de inspeção
da qualidade e identificar a atuação de todos os fiscais envolvidos. Ao existir
um rodízio de fiscais nas diversas etapas e existir posição de consenso nas
aprovações e do controle de qualidade interno é possível oferecer de forma
irrefutável um selo de qualidade da carne exportada.
A
ação do ministério da agricultura não pode ser em momento algum a diminuição do
trabalho da polícia federal. Ela tem que ser na linha de aumentar a confiabilidade
da cadeia produtiva. As empresas precisam realizar mais ações para separar quem
é sério e honesto e gastar menos com propagandas nos jornais e televisões.
Espero que as perdas economias abram os olhos das corporações na direção de que
elas precisam usar as tecnologias disponíveis para aumentar a transparência. Só
assim vai ficar claro quem trabalha direito e é de confiança. Estes não reclamarão
e nem temerão as ações da polícia federal.