segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Os punidos foram os brasileiros ou WhatsApp?

Na mesma semana em que o país foi rebaixado pela agência Fitch, o Supremo Tribunal Federal (STF) faz um julgamento para definir o rito do Impeachment, nós vemos um juiz decretar o bloqueio do WhatsApp em um processo que corre em segredo de justiça. Existem membros da corte do STF que participaram do julgamento do Collor de Melo. Como a constituição e a lei do impeachment é a mesma do julgamento do Collor não seria o caso de repetir o mesmo rito usado e poupar tempo e dinheiro dos brasileiros?

Parece que o poder judiciário brasileiro quer viver em um universo paralelo e ficar discutindo o mesmo assunto dezenas de vezes. Porque perder tempo debatendo um rito que já foi usado no Brasil nos anos 1990s. O poder do desperdício é tão intenso que no começo do ano de 2015 um juiz decretou o bloqueio do WhatsApp e no final do mesmo ano um outro juiz coroou o Brasil com a mesma decisão. Nos dois casos a decisão de bloqueio foi revogada em pouco tempo. Também nos dois casos a alegação foi a mesma. A empresa recusou quebrar o sigilo do seu usuário e optou por cumprir a lei dos estados unidos.

Quem na realidade foi punido com a decisão de bloqueio? Foi a WhatsApp ou foram os brasileiros? Para a WhatsApp as perdas foram nulas ou mínimas. No entanto para os brasileiros donos de pequenos negócios as perdas foram intensas. O artigo Sem WhatsApp, profissionais "apelaram" para ligações e SMS para comunicação (http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/12/17/sem-whatsapp-profissionais-usaram-telefone-e-sms-para-retomar-atividades.htm, acessado em 21/12/2015) revelou o tamanho destas perdas.

Muitos podem na sua completa ignorância digital imaginar que a truculência é um caminho sem reação na Internet. Estas pessoas não poderiam estar mais erradas. Em poucos minutos após o bloqueio passou a circular notas na Internet revelando como usar o Virtual Private Network (VPN) para burlar o bloqueio do WhatsApp (“Veja como driblar o bloqueio do WhatsApp no Brasil”, http://olhardigital.uol.com.br/noticia/veja-como-driblar-o-bloqueio-do-whatsapp-no-brasil/53783, acessado em 21/12/2015) ou como instalar um outro programa de mensagem (Telegram ganha 1,5 milhão de usuários brasileiros após queda do WhatsApp, http://olhardigital.uol.com.br/noticia/telegram-ganha-1-5-milhao-de-usuarios-brasileiros-apos-queda-do-whatsapp/53786, acessado em 21/12/2015)

A Internet é um canal onde existem reações para as ações. Ela não é o território que muitos brasileiros estão acostumados em que uns poucos mandam e o restante tem que pagar o pato da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF).

Para os que passaram a usar o VPN, o bloqueio foi rompido imediatamente, pois o roteamento dos pacotes foi feito pela rede internacional. Para os que optaram por usar um outro aplicativo como o Telegram o bloqueio também foi rompido instantaneamente. Enfim apenas os usuários menos avisados é que sofreram com o bloqueio do WhatsApp. Em pouco tempo, estes usuários também vão instalar o VPN nos seus equipamentos e medidas como o bloqueio de aplicativos não vão ter efeito prático algum.

Será que não seria mais fácil e efetivo que o judiciário do Brasil firmasse um acordo com o judiciário dos Estados Unidos para resolver em definitivo o problema de quebra de sigilo? O artigo “O affaire do WhatsApp” publicado no jornal Folha de São Paulo na sexta-feira dia 18 de dezembro de 2015 (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2015/12/1720541-o-affaire-do-whatsapp.shtml, acessado em 21/12/1015) expressa uma das poucas vozes nacionais que estão clamando pelo correto entendimento de como funcionam os serviços através da Internet e a importância de estabelecer acordos de colaboração entre os judiciários dos países.

As perdas impostas pelo bloqueio para a combalida economia brasileira que sofre uma recessão próxima de 4% são imensas. Até quando o país vai viver com tais perdas? Já passou da hora de ser arrogante. O momento exige medidas mais inteligentes e acordos internacionais. É o caso de estabelecer um fórum internacional para tratar das questões jurídicas da internet.


Também é preciso maior transparência nas ações. Até agora não foi revelado como o bloqueio do WhatsApp foi realizado. Será que os pilares da privacidade e da neutralidade da rede do Marco Civil de Internet não foram derrubados para a execução deste bloqueio? Eu gostaria muito que a Anatel divulgasse como o bloqueio foi realizado.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Tradicional x Moderno - Realidade contra Falsidade

Recentemente eu li um artigo que comparava o ITIL (Information Technology Infrastructure Library) e CMMI (Capability Maturity Model Integration) em relação ao DevOps. O autor apresentou com ênfase diversas vantagens do DevOps. Infelizmente, o texto estava impregnado de desconhecimento sobre o que foi chamado pelo autor de métodos tradicionais. Vários dos benefícios atribuídos ao DevOps em relação aos métodos tradicionais não são benefícios reais. São apenas e tão somente erros. Os erros cometidos não eram consequência dos processos dos métodos tradicionais, eles eram o resultado da falta de capacidade e conhecimento dos profissionais envolvidos no planejamento dos projetos.

Para ficar mais claro vou pontuar cada um dos benefícios atribuídos ao DevOps. O primeiro é muito citado em diversos artigos e diz que métodos ágeis como o DevOps são capazes de oferecer entregas frequentes de pacotes menores e por causa disto mais rápidas. Este estratagema dos métodos ágeis assegura um ciclo permanente de evolução da entrega e prazos menores. Na prática, basta que o gerente de projeto ou portfólio planeje o projeto em unidades funcionais enxutas onde as entregas são rápidas, frequentes e evolutivas para o que o planejamento enderece a necessidade de velocidade e flexibilidade do negócio.

Tal planejamento é possível de ser executado em qualquer metodologia existente na face terrestre. Não é uma vantagem dos métodos ágeis. É uma vantagem da contratação de profissionais qualificados para o planejamento do projeto. A segunda vantagem atribuída ao DevOps é que o mesmo não segura a equipe de testes parada enquanto o desenvolvimento faz o seu trabalho. Novamente não estamos falando de uma vantagem do DevOps em relação ao ITIL ou CMMI. Se em um projeto de ITIL ou CMMI a equipe de testes ficava parada esperando o desenvolvimento, isto é um erro do planejamento. O profissional que planejou o projeto não tinha conhecimento e capacidade para gerir o mesmo. Não existe um único processo nestas ferramentas que exija que a equipe de testes fique parada esperando o desenvolvimento.

O autor cita como vantagem para o DevOps em detrimento das técnicas tradicionais a pequena quantidade de funcionalidades novas que são transportadas para o ambiente de produção. O que ele descreveu foi um erro de planejamento do projeto. O envio de muitas funcionalidades novas para a produção não é uma característica intrínseca do modelo ITIL ou CMMI. Os dois modelos permitem o envio de apenas uma nova funcionalidade para a produção. A quantidade de novas funcionalidades para a produção é escolhida pelo gerente do projeto. Profissionais capacitados sabem o que podem fazer em um projeto e qual é o impacto das suas decisões.

No próximo item o autor do artigo comete dois equívocos simultâneos. Quando ele afirma que uma grande entrega consome muito processamento por conta de trabalho duplicado ele assume erradamente que o ITIL e o CMMI geram obrigatoriamente pacotes grandes para entrada na publicação. Em nenhum destes dois métodos existem determinações ou especificações sobre o tamanho do pacote a ser publicado. É o gerente do projeto que vai decidir o tamanho do pacote que será publicado. Além disto, um pacote grande só gera o desperdício de retrabalho quando existem erros de planejamento. Um gerente de projetos capacitado não comete estes erros em qualquer modelo que ele esteja utilizando. Novamente não é um benefício gerado pelo DevOps.

No quinto item o autor apontou benefícios do DevOps para o inventario. Novamente ele aponta o problema de um pacote de publicação grande. Por conta disto, o benefício apontado é um equívoco. Em nenhum momento o ITIL ou CMMI exige ou obriga que os pacotes publicados sejam grandes. Quem define isto é o gerente do projeto. No texto, o autor afirmou que o inventário mais afetado era o de Work In Progress (WIP) que são os materiais ou componentes que estão na fase de transformação para o produto acabado. Foi afirmado erradamente que uma publicação grande tem muitos itens em WIP e por causa disto o desenvolvimento é um gargalo e que os envolvidos nas próximas etapas ficam em compasso de espera por muito tempo gerando desperdício de recursos, tempo e dinheiro. O equívoco da afirmação está na dimensão que estas perdas são consequências de um pacote grande de publicação.

O problema do tempo de espera elevado é consequência de um planejamento falacioso não do tamanho do pacote. Isto significa que não devemos atribuir ao DevOps a virtude da solução da eliminação do desperdício da espera. Um planejamento adequado para a entrada de um pacote grande na produção impede que existam gargalos e perdas de recursos, dinheiro e tempo por causa de espera. Um gerente de projetos qualificado é capaz de identificar todos os gargalos do projeto e encontrar soluções compatíveis com o negócio. Estas soluções são independentes dos modelos adotados.

O sexto item apontado foi o movimento, onde várias funcionalidades estão sendo desenvolvidas por diversas equipes. A sexta vantagem do DevOps sobre o ITIL e CMMI apontada pelo autor foi a movimentação, ou seja, as várias funcionalidades que estão sendo desenvolvidos pelos diversos times estão navegando entre as raias dos processos. Os responsáveis pela qualidade estão neste caso recebendo informações de diversos times sobre a mesma funcionalidade. Mais um equívoco é cometido pelo autor. Em nenhum momento o ITIL ou CMMI determina a quantidade simultânea de funcionalidades desenvolvidas. Este é mais um caso onde o gerente do projeto é o responsável pela decisão. No desenvolvimento do cronograma ele define quantas funcionalidades serão desenvolvidas simultaneamente.

No sétimo e último benefício do DevOps apontado pelo autor que uma entrega grande aumenta a probabilidade de defeitos após o lançamento. O propalado benefício é apenas e tão somente mais do mesmo equívoco. Em nenhum momento o ITIL ou CMMI determina o tamanho da entrega. O responsável pelo tamanho da entrega de um projeto é o gerente do projeto. Ele escolhe o que será entregue e quando será no desenvolvimento do cronograma do projeto. Infelizmente o artigo que li revela que existe um profundo desconhecimento sobre as ferramentas de governança disponíveis no mercado. Tem-se a pretensão de identificar benefícios que em geral são inexistentes por ouvir falar. Em nenhum momento é colocado o dedo na ferida e apontado que as decisões pobres dos gerentes dos projetos estão comprometendo o seu desenvolvimento. Estas decisões pobres são tomadas quer o modelo em uso seja o ITIL, CMMI ou DevOps. Simplesmente trocar de modelo como proposto pelo autor de ITIL para DevOps não vai resolver o problema brasileiro de desenvolvimento. Aliás os números de 2015 mostram que os resultados continuam tão pobres como sempre foram. É preciso evoluir a honestidade intelectual e afirmar que o real problema do desenvolvimento é a falta de capacitação do gerente de projetos. As certificações de gerenciamento de projetos existentes no mercado brasileiro são claramente insuficientes para aferir o nível mínimo de qualificação que um gerente de projetos tem que ter para gerar resultados aceitáveis.


O desenvolvimento é pobre não por causa dos modelos utilizados, mas sim por causa da falta de conhecimento do gerente do projeto. No Brasil, muitos querem ser gerentes de projetos. Este trabalho é para profissionais experientes que são capazes de identificar os desafios e elaborar um plano de projeto capaz de gerar um resultado positivo. Existem no mercado profissionais que acham que o fato deles não conseguirem resolver um problema isto significa que o problema é insolúvel quando na realidade os profissionais qualificados estão resolvendo este problema. É por este motivo que o Brasil ficou na rabeira no mercado de software.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Números que mentem

O artigo “O caminho da métrica perfeita nos centros de suporte” do Roberto Cohen (http://www.4hd.com.br/blog/2015/11/11/o-caminho-da-metrica-perfeita-nos-centros-de-suporte/, acessado em 17/11/2015) foi muito feliz ao abordar o valor da importância do objetivo de uma medição. A falta de um objetivo claro e concreto faz com que todos os esforços para construir índices e indicadores sejam jogados no lixo.

Parece óbvio (mas aparentemente não é) que o objetivo de qualquer medição deve ser claro, transparente e comunicado. Por exemplo, para medir a obesidade de uma pessoa é possível usar ou uma balança para o peso em quilos ou uma fita métrica para o tamanho da circunferência em centímetros da barriga e de um conjunto conhecido de métricas. Através das comparações é possível determinar o índice de obesidade da pessoa. No entanto, este indicador está sujeito a falhas por conta do elevado grau de variabilidade do chamado conjunto conhecido de métricas. O indicador porcentagem de gordura corporal oferece um resultado muito mais preciso sobre o nível de obesidade da pessoa.

A grande questão que precisa ser respondida é qual é o objetivo da medição. Para a maioria dos casos o médico pode usar a balança ou fita métrica para decidir prescrever uma dieta para o seu paciente. O modelo funciona bem. No entanto, existem casos onde este modelo de medição conduz para conclusões erradas. Um bom exemplo deste fenômeno está expresso no artigo “Diminui a desigualdade no Brasil, mas cresce no Sudeste, diz IBGE” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1705824-desigualdade-cai-em-2014-com-alta-de-renda-dos-mais-pobres-diz-ibge.shtml, acessado em 17/11/2015) sobre a redução da desigualdade no Brasil.

No artigo, foi apontado que entre 2014 e 2013 existiu uma redução da desigualdade no país do rendimento do trabalho e tal resultado deveria ser comemorado como resultado positivo, pois os Brasil ficou mais igualitário. Se olharmos os números com atenção vamos claramente perceber que inexistem motivos para comemorar. Entre 2014 e 2013 a renda do trabalho dos 10% mais pobres aumentou 4,1% enquanto a renda dos 10% mais ricos diminuiu 0,4%, e a renda dos 1% mais ricos caiu 3,4%. Ao olhar para estes números, muitos vão afirmar que ocorreu uma redução da desigualdade em 2014.

Existem várias mentiras contadas por estes números. A redução da renda do trabalho dos chamados 1% mais ricos (cerca de dez vezes o salário mínimo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, DIEESE) revelou o país estava entrando em recessão e que no futuro próximo a renda dos mais pobres seria afetada negativamente. O aumento da renda do trabalho dos 10% mais pobres é um aspecto positivo. No entanto, ele esconde que a renda em 2014 foi de R$ 256 na média mensal e ela é cerca de 15% do salário mínimo do DIEESE.

A medição da desigualdade esconde uma realidade perversa no Brasil que é que a renda do trabalho é muito. A renda de apenas 256 Reais na extremidade inferior mostra que o trabalho está sendo inviabilizado no país. É um valor muito baixo para o trabalho de um mês em relação a renda mínima necessária para sobreviver no país. A parcela da redução da desigualdade resultante da redução de uma renda dos 1% mais ricos mostra apenas que o Brasil está promovendo a precarização do emprego e trabalho.

O restante da redução da desigualdade pelo aumento da renda dos 10% mais pobres não representa motivo algum de comemoração, pois é um aumento em cima de uma base muito baixa. Quando olhamos em valores absolutos a redução da desigualdade da renda do trabalho (Em 2013 a diferente entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres era de 7.183 – 246 = 6.937 e em 2014 a diferença era de 7.154 – 256 = 6.898, ou seja, a diferença era de aproximadamente 6,93 mil e caiu para aproximadamente 6,90 mil) fica claro que o resultado alcançado é absolutamente medíocre.

O Brasil não está avançando na direção do progresso. O que o país está fazendo é inviabilizando o trabalho. Este é o motivo porque é preciso ter em mente o objetivo do indicador citado pelo Roberto Cohen. Reduzir a renda de todos os trabalhadores para zero certamente torna o indicador da desigualdade altamente igualitário. Infelizmente ele resulta na eliminação do trabalho no pais. A redução da desigualdade deve ser bancada pelo aumento da renda dos 10% mais pobres em um patamar bem acima do aumento da renda dos 10% mais ricos. Só assim o indicador tem significado relevante para a economia nacional.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Como a falta de governança fez a Petrobrás perder 60 bilhões de dólares

Apesar do assunto governança não ser uma novidade no Brasil, ainda existem muitos questionamentos sobre a sua viabilidade econômica. Em todas as minhas palestras sempre tem pessoas perguntando se a governança não é mais um modismo como tantos que existiram e ainda existem no Brasil ou se ela é apenas um custo e burocracia obrigatória que reduz a flexibilidade da gestão corporativa e lucro do negócio. Eu sempre ilustro os benefícios da governança através de exemplos reais nas minhas apresentações. Os intermináveis anos de governo do partido dos trabalhadores vem produzindo uma enorme gama de exemplos dos prejuízos causados pela falta de governança na sua empresa estrela. A Petrobras.

Não é mistério algum que a Petrobras sofreu prejuízo bilionário com os escândalos de corrupção. No entanto, eles não conseguem justificar o tamanho da perda do valor de mercado da Petrobras em um período de tempo tão curto. No último dia de 2010 o valor da empresa era de 228 bilhões de dólares e em 12 de setembro de 2015 era de 28 bilhões de dólares. É uma perda espetacular em um prazo muito curto, considerando que a empresa possui um enorme volume de reserva de petróleo. Todo bom boiadeiro sabe que precisa cuidar de cada um dos seus bois, no entanto, ele também sabe que ao cuidar de um boi ele não pode perder a visão e gestão da boiada.

As perdas por corrupção da Petrobras expressam exatamente o desafio do boiadeiro. É preciso apurar e punir todos os casos de corrupção sem que exista comprometimento da diretriz estratégica do negócio. Infelizmente este não foi o caso da Petrobras. O volume de dinheiro perdido pela empresa por falhas de governança alcançou a casa de sessenta bilhões de dólares. O artigo "Falhas em governança custarão até US$ 59 bi à Petrobras, diz estudo" (http://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/09/10/falhas-em-governanca-custarao-ate-us59-bi-a-petrobras-diz-estudo.htm, acessado em 22/09/2015) revelou que a inexistência da governança corporativa impactou a diretriz estratégica do negócio em bilhões de dólares. A empresa perdeu 31 bilhões de dólares em causas tributárias, 17 bilhões de dólares ativos baixados na contabilidade por conta de projetos fracassados e 8 bilhões de dólares em processos civis e trabalhistas. Claramente o sistema de informações corporativas não está funcionando em um patamar mínimo de efetividade.

Quem toma as decisões ou não dispõe de informações corretas ou executa uma gestão sem consistência. O conselho gestor da administração existe para questionar as decisões tomadas e estabelecer rotas corretivas. Fica claro que os mecanismos de governança da empresa não funcionam, pois em nenhum os acionistas foram informados que existem tantas falhas graves nas informações divulgadas. Nunca chegou ao mercado a informação que a Petrobras poderia estar perdendo 60 bilhões de dólares por causa de erros internos da gestão. É fato que a empresa não conseguiu em momento algum estar aderente as ferramentas de gerenciamento das informações como o CobiT e iTil. Ou seja, tudo o que foi investido na governança de TIC foi jogado no lixo. Nada disto funcionou e o mercado reagiu desvalorizando o valor da empresa em 200 bilhões de dólares.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Custo marginal zero

Existe um aspecto que é pouco comentado e percebido na era dos aplicativos, mas é fundamental para explicar porque o seu crescimento foi catapultado. Na era do conhecimento o custo marginal da entrega de uma segunda unidade de um software é praticamente zero. As entregas do Windows 10 sem custo para os clientes de Windows 7 e 8.1 são o melhor exemplo do custo marginal zero. A Microsoft está atualizando os computadores com Windows 7 e 8.1 para o novo sistema operacional sem a necessidade de comprar uma nova licença de sistema operacional.

Ela não está fazendo isto por bondade, a Microsoft faz porque o seu custo marginal destas entregas é zero. Os novos computadores e equipamentos com Windows 10 tem embutido no seu preço o custo da licença do sistema operacional. Na prática, os fornecedores da era dos aplicativos estão fazendo as contas e descobrindo como ganhar mais dinheiro e mercado. No caso do Windows, a atualização oferece uma oportunidade rara para a Microsoft. Em primeiro lugar ela faz com que os usuários (na maioria satisfeitos) do Windows 7 migrem para a nova versão e instalem nos seus computadores a loja virtual de aplicativos da Microsoft. Por ser uma base de usuários grande e por eles estarem satisfeitos com os recursos do Windows 7, um processo migratório natural levaria anos. A oferta de migração vai reduzir enormemente este prazo.

Estes usuários que já estavam satisfeitos com a plataforma Microsoft tem agora à sua disposição uma loja onde o fabricante vai poder oferecer uma enorme quantidade de aplicativos com custo marginal zero ou seja lucro marginal enorme. Ao contrário do ambiente Windows 7 onde a Microsoft precisava de uma estrutura física com custo marginal elevado e lucro marginal pequeno para vender seus aplicativos, ela pode com o Windows 10 vender os mesmos aplicativos com custo marginal zero e lucro marginal elevado.

No Windows 10, a Microsoft fez algo que era impensável para ela até poucos dias atrás. Ao introduzir na nova versão do sistema operacional a atualização automática, a Microsoft resolve um problema grave que ela convive por décadas. Com uma base padronizada, acabam os problemas de compatibilidade com diversos níveis de atualização do sistema operacional. Os aplicativos tinham que ser desenvolvidos para funcionar com diversos níveis de atualização do sistema operacional. Sempre foi um desenvolvimento caro e complexo. Com o sistema de atualização automática obrigatória existe uma enorme redução da complexidade e do respectivo do desenvolvimento de aplicativos no Windows 10.


Os antigos problemas de compatibilidade são eliminados. Os seus respectivos custos também. Não é difícil perceber que a atualização gratuita não é uma bondade da Microsoft, ela é uma estratégia que explora os benefícios do custo marginal zero do software. Existem milhares de outros exemplos de custo marginal zero na era dos aplicativos. O mais clássico é o do Smartphone onde o mesmo hardware combinado com os vários sensores muda completamente a funcionalidade do aparelho. Um software de fotografia faz do Smartphone uma máquina fotográfica, uma aplicação de temperatura torna o aparelho em um termômetro e assim sucessivamente. Cada um dos softwares tem custo marginal zero e produz lucro marginal elevado. As televisões inteligentes conectadas são outro exemplo de equipamentos da era do conhecimento. Hoje em dia é possível encontrar uma gama enorme de equipamentos desta linha. São geladeiras, carros, lâmpadas, máquinas de lavar e secar, elevadores, colheitadeiras, aviões e etc. Por incrível que possa parecer, o BNDES não está incentivando explicitamente nenhum projeto da economia dos aplicativos que é o setor de maior lucratividade da economia mundial em 2015. Para um pais em crise que só fala em aumentar a sua carga tributária que já supera 40% do PIB é o que podemos chamar de estratégia sem lógica com enorme desconforto cerebral.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Perda produtividade causada por falha de TI - caso real

Eu já havia comentado anteriormente o problema da perda de produtividade em supermercados por causa das falhas de Tecnologia de Informações e Comunicações (TIC). O artigo “Reclamações por falsas promoções em supermercados crescem 34% no país” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1663648-queixas-de-consumidor-surpreendido-no-caixa-por-preco-maior-sobem-34.shtml, acessado em 03/08/2015) revelou que os clientes de gigantes do varejo estão reclamando com intensidade das promoções nos supermercados. Foi afirmado que o Wanderson escolheu a promoção de iogurte "pague 5 e leve 6" ao preço de R$ 9,90 no supermercado. Quando ele conferiu a nota, ele descobriu que pagou R$ 12,95. Alguns dias depois, o mesmo problema aconteceu de novo.

O artigo afirmou que as promoções apresentadas nas gôndolas dos supermercados não viram realidade nos caixas dos mesmos. Os clientes mais atentos estão reclamando e por causa das interrupções para averiguar o preço correto do produto, as filas nos caixas estão aumentando e a produtividade dos funcionários está caindo. O problema é que o sistema do caixa não recebe a atualização das promoções e por isto cobra um valor diferente do exposto. Cada reclamação implica em interromper o fluxo da fila de clientes para averiguar o valor correto, estornar o valor antigo e registrar o valor correto. Isto é tempo do funcionário e do cliente que é jogado no lixo. Pelo efeito multiplicador do defeito uma inteira cadeia de perda econômica é iniciada.

Para um setor que faz questão de cobrar entre oito e dez centavos por uma sacolinha, a perda de produtividade do funcionário por uma falha tão elementar de TIC deveria estar na pauta de prioridade absoluta, pois o estorno e novo registro tem custos adicionais de processamento e energia elétrica. Mas a perda total não é apenas de produtividade. Existe uma perda da confiança do consumidor na idoneidade do supermercado e um estímulo para troca de fornecedor. O aparecimento destes problemas de solução tão simples vai cada vez mais levar o brasileiro para o colo de multinacionais americanas capacitadas.


O país que atravessa uma recessão elevada precisa aproveitar este momento para rever as suas falhas e impedir a sua recorrência. Bilhões de Reais podem ser economizados com o pleno funcionamento da TIC nacional. Já passou da hora do governo federal que tanto fala em cortes e aumento de impostos, olhar com seriedade as perdas da economia nacional e traçar uma rota corretiva. Não tenho dúvida de que o ajuste fiscal seria muito facilitado e menos dolorido com a eliminação do retrabalho, perdas e desperdícios causados por TIC.

A TRANSFORMAÇÃO PROVOCADA PELA ERA DOS APLICATIVOS NA COMPETIÇÃO EMPRESARIAL

Os chamados produtos inteligentes conectados são a principal consequência da era dos aplicativos ou da economia dos Application Programming Interfaces (APIs). Daqui há alguns anos teremos o questionamento sobre quem nasceu primeiro? O produto inteligente conectado ou o aplicativo? Em 2015 é muito fácil responder que quem nasceu primeiro foi o Smart Connected Product. Primeiro nasceram os smartphones e depois vieram os aplicativos. Os primeiros smartphones como o HTC Touch com sistema operacional Windows Mobile 6.0 Pocket PC Professional eram limitados em termos de aplicativos e conectividade. Após o lançamento do iPhone em 2007 o cenário mudou completamente. Foi o início da era dos aplicativos.

Os produtos inteligentes conectados vieram à superfície com intensidade na segunda década do século XXI. Produtos como televisores, carros, lâmpadas, geladeiras, lavadoras, colheitadeiras e etc. viraram smart ou inteligentes. Se no início existia apenas o smartphone, agora temos produtos da linha smart como smartTV, o smartcarro, a smartpanela, entre outros. Estas mudanças não foram apenas cosméticas, elas implicaram em uma profunda mudança na estratégia competitiva das empresas. As firmas contam agora com produtos cujo o hardware é inteligente através de sensores e processamento e é cada vez mais padronizado (custo marginal por unidade produzida cada vez menor). O valor agregado do smart connected product para o cliente está, no software. Para os fabricantes, o software dos produtos é o diferencial competitivo.

Em outras palavras, a indústria de todos os setores está deixando de ser uma produtora de hardware para ser uma desenvolvedora de software. É uma transformação radical, porque a produtividade da mão de obra do hardware é visível e contável e a do software é invisível e incontável (pelo menor diretamente). Não é possível na era do conhecimento do software saber exatamente se o desenvolvimento dos produtos está na capacidade máxima da organização ou se existe alguma ociosidade. Na era do conhecimento é preciso existir um novo formato de liderança que seja capaz de conquistar os funcionários.

A manutenção que antigamente era apenas das peças desgastadas ou defeituosas muda com a necessidade de análise da configuração do produto e do seu software. É preciso um nível de capacitação muito maior para sobreviver neste novo mercado. Os produtos inteligentes conectados vão lançar o desafio aos fabricantes de conviver com diversas versões de sistema operacional e aplicativos (fabricantes de computadores vivem este desafio por décadas). O hardware padronizado vai por conta das versões, configurações e sensores criar centenas de variações para o mesmo produto.

Como os consumidores também tem elevado nível de criatividade, muitas aplicações do smart connected product que não foram previstas ou planejadas vão submergir e desafiar os fabricantes. Se os milhares de sensores serão capazes de realizar tarefas de manutenção preventiva e diagnóstico, eles também vão demandar por maior conhecimento dos analistas do call center. A grande quantidade de opções vai exigir que o perfil profissional seja de uma pessoa objetiva e centrada na necessidade específica do cliente.

Acabou a era do call center padronizado via scripts previamente definidos. Os produtos inteligentes conectados vão gerar diferenciações importantes. E por causa disto vão provocar incertezas onde existiam certezas. Um melhor atendimento pós-venda vai ser capaz de gerar mais vendas. Uma maior pobreza intelectual corporativa do call center vai afetar negativamente o faturamento. Não serão centavos, mas milhões ou bilhões de reais. Um analista de call center que for capaz de identificar uma solução de contorno enquanto o cliente espera a resolução do problema vai ser disputado intensamente pelas empresas. Como já não existem barreiras geográficas para este tipo de serviço, o mercado de trabalho será globalizado em um nível muito acima do que conhecemos atualmente.

O conhecimento dos diversos perfis de uso do equipamento inteligente vai fazer a diferença comercial e empresarial na era do conhecimento. Não serão soluções robotizadas ou padronizadas que vão atender as necessidades dos clientes. Vai ser preciso fazer muito mais do que isto. As empresas precisarão cada vez mais de bases de conhecimento eficazes e eficientes que os analistas vão terão que dominar. Tao importante quanto saber uma resposta será saber onde encontrar a resposta correta. Não existe mais espaço para soluções de base de conhecimento do call center onde apenas 15% dos itens de conhecimentos são utilizados. O universo conspira e exige números bem maiores para o Knowledge-Centered Support (KCS).

É claro que os produtos inteligentes conectados vão exigir novas soluções de segurança. Onde os dados dos sensores ficarão armazenados? Dentro do equipamento ou em uma nuvem ou em ambos? Existirão demandas por backup e restore? Quem vai analisar os logs do firewall? Produtos conectados exigem a presença de uma barreira de fogo contra ameaças externas. Já existem diversos relatos de problemas de segurança em carros e aviões causados por vulnerabilidades no software.

O artigo “Falha em software exige recall de 65 mil carros da Jaguar Land Rover” (http://computerworld.com.br/falha-em-software-exige-recall-de-65-mil-carros-da-jaguar-land-rover, acessado em 03/08/2015) revelou que as portas abriam sozinhas. O artigo “Carro inteligente é alvo fácil de hackers, diz relatório” (http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/hackers-conseguem-invadir-quase-todos-carros-conectados-do-mercado/, acessado em 03/08/2015) revelou que a maioria dos carros conectados na internet são vulneráveis aos ataques dos hackers. O artigo “Invasão de sistema de avião por hacker ressalta problemas mais graves da indústria (http://tecnologia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/05/25/invasao-de-sistema-de-aviao-por-hacker-ressalta-problemas-mais-graves-da-industria.htm, acessado em 03/08/2015) que um avião conectado foi invadido.

É evidente que a demanda por segurança nos produtos inteligentes conectados será crescente e terá que ser atendida em algum nível pelo call center. O nome da organização poderá mudar para service desk ou central de atendimento, mas mudando ou não mudando de nome, o call center vai mudar de atuação e de importância corporativa.

Na realidade da era dos aplicativos, as empresas que vendiam colheitadeiras são agora vendedoras de software. A cadeia produtiva da firma muda de sentido nesta transformação. A cadeia regida pelas entradas, operações, saídas, marketing e vendas e pós-vendas passa a ser influenciada pelas informações internas e externas. Por exemplo, a entrada do fabricante vai precisar considerar componentes que até pouco tempo não faziam parte dos insumos necessários para a produção. É preciso ter como entrada no processo produtivo o acesso dos clientes e os dados capturados. A dimensão da informação foi anexada ao processo produtivo para que os clientes recebam um produto que enderece a sua necessidade.

A operação vai realizar a montagem dos diversos componentes e sensores em um único equipamento em função da configuração definida no processo de venda. Em breve teremos migrações de equipamentos inteligentes antigos para novos e será preciso contemplar o histórico. Não será muito diferente da troca em 2015 de um computador. O novo equipamento herda via restore as informações do computador antigo.

O marketing, vendas e pós-vendas serão integrados em um único espaço virtual em função das informações de uso, manutenção e etc. Linhas de equipamentos serão integradas em sistemas maiores para suprir as necessidades dos clientes. No caso das fazendas que usam mais do que colheitadeiras, elas serão integradas em um sistema maior que usará informações dos sensores externos ao equipamento sobre a previsão do tempo, temperatura, velocidade e direção dos ventos, sistema de irrigação, preço atual e futuro da safra, fertilização da terra, otimização das sementes e etc.

Estamos falando de uma nova camada de software que vai planejar a operação da fazenda com base nas informações capturadas pelos diversos equipamentos. Os sensores das colheitadeiras, irrigadoras, fertilizadoras e etc. vão formar uma rede muito parecida com uma rede de computadores para formar um sistema dos diversos sistemas inteligentes. A colheitadeira inteligente que integra o sistema pode alimentar o sistema com informações sobre o solo e agregar mais um valor para o fazendeiro. É o mesmo hardware oferecendo informações extras via sensores. O mecanismo de competição entre os diversos fabricantes de colheitadeiras fica profundamente alterado com as máquinas inteligentes conectadas.

O modelo de cinco forças competitivas do Michael E. Porter revela que os smart connected products mudam completamente a lógica da competição empresarial. O poder de barganha dos compradores é combatido pela diferenciação do produto que leva a negociação para um patamar acima do preço. Ao conhecer como os consumidores usam o produto, o fabricante pode oferecer níveis de customização ainda maiores e aumentar o valor agregado. A rivalidade entre os concorrentes passa a ser decidida pela diferenciação e valor agregado. É possível oferecer produtos customizados para clientes individuais com preço competitivo. A ameaça de novos entrantes é combatida por uma elevada estrutura de custo fixo causada pela complexidade do produto inteligente e pelas diversas camadas de tecnologia. A ameaça de produtos substitutos é combatida pelo desempenho superior do produto customizado e pela dificuldade de migar a base de dados do uso histórico do produto para um novo fabricante. O poder de barganha dos fornecedores é combatido pelo elevado valor que o software tem em relação aos componentes físicos padronizados. Existem casos os componentes físicos podem ser substituídos por módulos de software. 

terça-feira, 28 de julho de 2015

2015: O ano da queda dos ícones

Foi muito triste presenciar em 2015 a queda do ícone da democracia. Poucos dias após o plebiscito grego que rejeitou o pacote de austeridade proposto pelos seus credores, o parlamento da Grécia aprovou uma nova versão do pacote mais austera e rígida. No pacote de privatização aprovado, o parlamento aceitou perder a sua autonomia e independência na gestão do fundo de privatização. O artigo “Grécia tem ilhas à venda a partir de R$ 7,5 milhões; conheça algumas opções” (http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/07/23/grecia-tem-ilhas-a-venda-a-partir-de-r-75-milhoes-conheca-algumas-opcoes.htm, acessado em 23/07/2015) afirmou que o país pensa vender as suas ilhas e ruínas.

O que era para ser uma festa da democracia virou um festival de muitas bravatas e bazófias. Se era para aprovar os termos da zona do euro com justificativa de que era o único caminho possível, então para que promover tanto sacrifício ao povo pelo fechamento dos bancos e gastar tanto dinheiro e esperança com o plebiscito? A Grécia terra da democracia perdeu credibilidade e charme com as bravatas dos seus dirigentes. Era melhor assumir desde o começo a realidade possível e causar menos desconforto para os aposentados e cidadãos.

Na área de TI outros ícones estão caindo por conta de bravatas e bazófias. Muitos falsos profetas prometem mundos e fundos com Knowledge-Centered Support (KCS), autosserviço e automações. Na realidade prática estas promessas nunca foram entregues e os ícones de credibilidade e capacitação da organização de Tecnologia de Informações e Comunicação (TIC) estão ruindo. O crescimento exponencial da TIC invisível é a prova viva de que cada vez mais usuários estão contratando soluções de tecnologia sem informar ou consultar a organização de tecnologia da sua empresa.

Algumas das fundações tradicionais de TIC estão ruindo com estas novas práticas. O gerenciamento da capacidade dos recursos de TIC está enfrentando o dinamismo da nuvem elástica. Se é possível aumentar ou reduzir os recursos de TIC conforme a demanda então porque é preciso gerenciar a capacidade? Muitas destas perguntas como estão sendo respondidas pela nova TIC. Ícones de gestão como o IT Infrastructure Library (ITIL®) e o Control Objectives for Information and Related Technology (COBIT®) estão caindo em desuso por causo do intenso dinamismo dos processos da transformação digital.

O autosserviço está gerando perdas enormes para a central de serviços. São raros os profissionais de TIC que conseguem justificar objetivamente a presença do Service Desk nas redes sociais. Infelizmente, os congressos especializados que deveriam trazer à tona os temas mais modernos estão cada vez mais presos as redundâncias do passado. O congresso HDI de 2015 parecia um seminário sobre KCS. A maioria das apresentações era sobre o tema. O assunto já foi mais do que debatido pelo mercado. Com tantos desafios novos para a organização de tecnologia, o KCS é uma redundância completa. Uma das palestras era um estudo de caso Mega Sistemas apresentada pelo Giuliano Machado. A postagem “HDI 2015 – Como foi o maior congresso de suporte técnico do Brasil – parte 2” (http://www.4hd.com.br/blog/2015/07/08/hdi-2015-como-foi-o-maior-congresso-de-suporte-tecnico-do-brasil-parte-2/, acessado em 22/07/2015) revelou a afirmação do Machado que afirmou que 60 a 85% dos itens de conhecimento não são utilizados.


Qual a vantagem de pagar caro para assistir a que foi considerada a melhor palestra do congresso pelo Roberto Cohen e receber um conteúdo que revelou que apenas 15% dos itens de conhecimento foram utilizados? Qual investidor ou empresário vai querer investir em uma empresa de tecnologia nacional que joga fora 85% do projeto realizado. Qual diretória vai comprar treinamento para a sua equipe em um evento onde o que foi considerado como melhor foi um estudo de caso com aproveitamento de apenas 15% do investimento do projeto? O que as pessoas aprendem em eventos assim? Não é muito melhor contratar os congressos da HDI dos Estados Unidos e colocar a sua equipe em contato com conteúdo do ano de 2015 e com casos de sucesso? As empresas querem copiar os exemplos que alcançaram mais de 80% de sucesso não 15%.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A grande mudança parte II

Na primeira parte do artigo foram tratadas as questões funcionais da grande mudança. Nesta segunda parte serão abordados os aspectos monetários. Acredito que todos reconhecem que a transformação digital é uma realidade em 2015. No entanto, diversos aspectos da era do conhecimento ou da reputação estão sendo negligenciados no Brasil. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vem investindo uma grande parte do seu capital monetário e intelectual em empresas escolhidas como campeãs brasileiras. O Brasil pouco ou nada ganhou com o gigantesco subsídio dado pelo BNDES nos empréstimos destinados para as empresas do Eike batista, OI e JBS. 

A chamadas campeãs nacionais vem oferecendo um retorno econômico e social negativo ou nulo. Não existe logica alguma na manutenção desta estratégia. Ao mesmo tempo em que dezenas de bilhões de reais foram subsidiados nos empréstimos para as consideradas pelo governo brasileiro como empresas campeãs, pouco ou nada foi destinado para a transformação digital. Lamentavelmente, inexistiu a percepção que diversas empresas de perfil similar ao Facebook seriam criadas durante a introdução da economia compartilhada por jovens sem capital financeiro e monetário, mas com muito capital intelectual.

O sistema bancário nacional não foi e ainda não é capaz de identificar e contabilizar o capital intelectual individual, por isto ele não oferece financiamento aos jovens empreendedores desprovidos de ativos físicos. Este é um dos motivos porque nenhuma das grandes empresas da economia compartilhada nasceu no Brasil. A nossa participação empresarial neste segmento gigantesco é praticamente nula. Simplesmente assistimos ao nascimento de empresas como a Netflix, Uber, AirBnB e etc. Não existiu em momento algum a percepção de que a identificação de uma oportunidade como o Facebook, Twitter, AirBnB e etc. seria feita um jovem. Eles estavam sentindo na pele as dificuldades causadas pela ausência das ferramentas sociais. Não ter dinheiro para pagar o alto custo dos torpedos SMS, foi o motivador para a criação do WhatsApp. Os adultos tinham planos de celular com SMS ilimitado e por isto demoraram tanto para entender a necessidade.

Os jovens que identificaram e protagonizam as oportunidades como o Facebook, Twitter e etc. precisaram do apoio técnico e logístico das universidades e financeiro do sistema econômico. No Brasil, a maioria dos jovens não tem acesso a nenhum destes apoios. Da mesma forma que é preciso estar na pele de um jovem para sentir oportunidades do perfil do Facebook é preciso pertencer a faixa etária mais avançada para entender as oportunidades derivadas do crescimento da expectativa de vida. Novamente estamos diante do mesmo problema. Existem muitas iniciativas, mas quase nenhuma “finalizativa”. O sistema financeiro enxerga como um problema as propostas empresariais do empreendedor de cabelo branco. Ele teme empresta, pois acha que vai perder o capital por óbito do solicitante.

Se um empreendedor acima de 50 anos for buscar capital de risco nos eventos de startups no Brasil, ele vai descobrir a intensidade do preconceito contra o cabelo branco. Vai ser chamado de vovô e será ignorado pelos investidores. É evidente que tal comportamento e velado e desmentido pelo mercado. O BNDES precisa agir como o banco de fomento definido na sua missão e entender que o mercado mudou. Jovens de 12 anos são na realidade da era do conhecimento empreendedores, assim como as pessoas acima de 50 anos. É preciso agir pelo fomento social e oferecer capital de risco para estes empreendedores do conhecimento. É evidentemente que apenas alguns dos projetos vão vingar, mas esta é a natureza do capital de risco. Muitas das empresas que receberam empréstimos subsidiados pelo contribuinte brasileiro tem acesso ao mercado internacional. É preciso que o BNDES equalize melhor a divisão desta conta e internalize as características mais marcantes da transformação digital.


O artigo “Brasil precisa de investidor que aceite risco, afirma especialista” (http://classificados.folha.uol.com.br/negocios/2015/07/1647645-brasil-precisa-de-investidor-que-aceite-risco-afirma-especialista.shtml, acessado em 24/07/2015) revelou que o investidor brasileiro tem receio de investir nas empresas iniciantes, prefere investir na empresas de alto faturamento e a falta de interesse do capital privado nacional é um dos principais obstáculos para o crescimento das empresas iniciantes no Brasil. O depoimento do especialista mostra claramente que o dinheiro BNDES é mais necessário para as empresas iniciantes do que as campeãs. As gigantes conseguem capital barato em diversos lugares. As iniciantes simplesmente não nascem. O país está perdendo muito.

terça-feira, 30 de junho de 2015

A grande mudança Parte I

Infelizmente foi preciso ocorrer um acidente fatal para que a realidade mundial do ano de 2015 fosse revelada no Brasil. O artigo “Sertanejos protestam após crítica de Zeca Camargo sobre Cristiano Araújo” (http://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2015/06/29/sertanejos-protestam-apos-critica-de-zeca-camargo-sobre-cristiano-araujo.htm, acessado em 30/06/2015) deixa claro que para uma boa parte dos brasileiros, só existe vida na mídia tradicional. Este é o real motivo para o completo desconhecimento pelo apresentador Zeca Camargo do cantor Cristiano Araújo que tem ampla penetração no território nacional. Alguns tentaram fazer deste episódio mais um capítulo do marco político “nós contra eles”. Mais uma vez o erro é grosseiro.

O que existe na realidade é mais do mesmo, ou seja, mais uma vez setores importantes da economia nacional estão negando uma realidade que está batendo na porta do Brasil. O cantor Cristiano Araújo conseguiu uma marca expressiva de audiência graças ao seu trabalho de divulgação nas mídias sociais. Muitos no Brasil desejam que a forja de ídolos tenha caminho único na mídia tradicional. Este mundo já não existe mais. As redes sociais também forjam ídolos.

É uma nova estrutura no jogo do poder onde o Facebook, Twitter, Instagram e etc. retiram parte do poder das empresas de mídia tradicionais. Este é o motivo que explica que um cantor desconhecido pela mídia nacional seja um sucesso estrondoso para um público alvo numeroso. A transformação digital que está sendo negada pela mídia tradicional pode levar este setor para uma crise sem precedentes. Mudanças semelhantes já ocorreram no passado e as empresas dominantes foram substituídas por startups mais bem adaptadas para a realidade. Ainda existe tempo hábil para as mudanças, mas é preciso uma nova atitude.

O artigo “Brasil leva prêmio inédito em Cannes; campanhas 'do bem' dominam festival” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/06/1648782-brasil-leva-premio-maximo-de-cannes-campanhas-do-bem-dominam-festival.shtml, acessado em 30/06/2015) revelou o pensamento do Fernando Musa, presidente da Ogilvy Brasil (maior vencedor de leões em 2015): “Somos um país atrasado, pois alcançamos uma boa performance apenas no tradicional. Nas categorias da transformação digital (inovação, Cyber, Mobile) o desempenho foi pífio. ”

O Brasil precisa urgentemente acordar e entender que estamos no ano calendário de 2015. A transformação digital chegou para valer e está alterando a estrutura de poder da sociedade. A desigualdade do poder onde apenas uns poucos detinham todo o poder de informar, influenciar e inovar está com os seus dias contados. As mídias sociais estão permitindo que cada vez o talento intelectual supere as barreiras de recursos financeiros escassos e alcance um lugar compatível com a sua capacitação.

De uma forma quase surrealista ainda existem forças que estão negando a transformação digital e levando o país para o atraso. A Câmara Municipal de São Paulo está votando o PL 349/2014 que proíbe o uso de carros particulares cadastrados em aplicativos para transporte remunerado de pessoas. Os Estados Unidos iniciaram a sua recuperação econômica após a crise de confiança de 2008 estabelecendo o pilar da economia compartilhada. O Brasil que vive uma recessão intensa está na maior cidade do país votando um projeto de lei que impede o compartilhamento.

Não existe nada mais inteligente e humano do que permitir que as pessoas que perderam os seus empregos pela crise que elas não criaram através do compartilhamento dos seus recursos. A economia nacional ganha com isto, as pessoas conseguem exercer uma atividade remunerada que assegure um nível mínimo de renda e a cidade de São Paulo ganha como um todo pela movimentação dos agentes econômicos. Em vez de carros parados nas garagens, podemos ter mobilidade urbana de alto nível com mais renda e impostos.

Toda e qualquer política anticíclica de recessão deve apoiar, estimular e incentivar a economia compartilhada como pilar da recuperação. É uma causa social também porque todos os que trabalham nas corporações conhecem os problemas do preconceito ao cabelo branco. Pessoas com mais de 40 anos estão sendo o principal alvo das demissões e recessão de 2015. Quanto maior for nível de compartilhamento maior será o nível de inclusão social.

Mas os benefícios não param por aí. Ao seguir padrões de elevada qualidade para a prestação de serviços como os determinados pela Uber, a mobilidade urbana ganha qualidade e qualificação. Motoristas adequadamente trajados com polidez dirigindo carros limpos em situação de total respeito à legislação do transito são capazes de mudar a triste realidade da estimativa 10 milhões de infrações de trânsito por hora em São Paulo publicada no artigo “Pesquisa da CET estima haver 10 mi de infrações de trânsito por hora em SP” (http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/06/1644437-pesquisa-da-cet-estima-haver-10-mi-de-infracoes-de-transito-por-hora-em-sp.shtml, acessado em 30/06/2015).


Claramente uma padronização rigorosa da qualidade da mobilidade urbana pode ao mesmo tempo minimizar para os trabalhadores os terríveis efeitos da recessão de 2015 e 16 e reduzir os graves conflitos existentes no transito da cidade de São Paulo. Todos esperam que a Câmara Municipal de São Paulo cumpra o seu papel de qualificar cada vez mais a economia do compartilhamento.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Business-Defined IT

O Brasil vem apresentando desde a primeira década do século XXI graves problemas no entendimento do real significado dos serviços de Tecnologia de Informações e Comunicações (TIC). Estas dificuldades foram agravadas com a era dos aplicativos. Para alguns, o país ainda vive a era dos advogados. O caso descrito no artigo “Justiça suspende Uber no Brasil e exige bloqueio de app em celulares” (http://idgnow.com.br/mobilidade/2015/04/29/justica-suspende-uber-no-brasil-e-exige-bloqueio-de-app-por-apple-e-google/, acessado em 05/05/2015) revela a intensidade do problema.

O artigo afirmou que o juiz Roberto Luiz Corcioli Filho da 12a Vara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo determinou na terça-feira dia 28 de abril de 2015 a suspensão do aplicativo de transportes Uber no Brasil e ordenou que as empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung retirem o aplicativo das suas lojas em tempo real de apps e impossibilitem remotamente a utilização do aplicativo Uber pelos usuários que já instalaram o app.

A minha primeira pergunta sobre a determinação é: “O que seria a suspenção remota pelas empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung do aplicativo de transportes Uber no Brasil?”. Se a “suspenção remota” implicar em alterar as configurações ou os programas do aparelho do usuário sem a sua autorização e conhecimento isto significa que existirá uma invasão. Da mesma forma que no mundo real invadir uma propriedade privada é crime, no mundo virtual também é. Invadir e promover alterações no aparelho do usuário como suspender remotamente a execução de um aplicativo é equivalente ao crime de vandalismo do mundo real. Será que existe entendimento disto pelo juiz?

A minha segunda pergunta sobre a liminar é: “As empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung tem recursos técnicos para suspender remotamente sem conhecimento e autorização do usuário um aplicativo comprado nas suas lojas virtuais?”. Se a resposta for positiva, então o pilar privacidade do Marco Civil de Internet do Brasil é uma peça de ficção (Atualmente um celular armazena informações sobre a saúde dos usuários, senhas, documentos pessoais e empresariais, fotos e etc. O que impede que as empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung capturarem ouras informações privadas, corporativas e pessoais nos celulares? Qual garantia de privacidade os usuários tem?) Se a resposta for negativa, então qual o sentido da determinação. Será que o juiz Roberto Luiz Corcioli Filho tem conhecimento destas implicações?

A minha terceira pergunta é bastante singular: “No endereço http://www.amazon.com/Uber-com-Uber/dp/B00NF3UFSG, acessado em 06/05/2015 eu encontrei o aplicativo de transportes Uber na loja em tempo real de apps da Amazon. No entanto, o juiz Corcioli não determinou a suspenção remota do aplicativo pela empresa Amazon. Será que o juiz e advogado do Sindicato dos Taxistas de SP sabem que existem outras lojas virtuais de aplicativos além das empresas Google, Apple, Microsoft e Samsung?” Se a resposta for positiva, porque endereçaram na liminar apenas quatro empresas. Se for negativa, qual efetividade eles esperam de ações assim. Será que eles imaginam que a empresa Google é capaz de suspender remotamente um aplicativo instalado através da loja virtual da Amazon?

A quarta pergunta consegue ser mais singular que a terceira. A Uber é uma empresa de tecnologia que conecta as pessoas com os motoristas. Em outras palavras, a empresa exerce o papel de um carteiro que entrega mensagens. Se o juiz entende que existem ilegalidades, então elas são cometidas pelos motoristas. A pergunta que não quer calar é: Porque o juiz não suspendeu as atividades dos motoristas? Ele poderia exigir da Uber a lista dos motoristas cadastrados e suspender as atividades de motorista de cada um deles.    
Por incrível que possa parecer quinta e última pergunta supera em estranheza todas as outras. Os aplicativos instalados nos celulares acessam os servidores da Uber. Para suspender os serviços desta empresa no Brasil, basta que a rede nacional não roteie os pacotes os servidores. A minha última pergunta sobre este caso é: Porque o juiz não relacionou no seu despacho que as empresas provedoras de internet no Brasil bloqueiem o endereço IP dos servidores da Uber? Não seria uma medida menos intrusiva do que exigir a suspenção remota do aplicativo nos celulares dos usuários? Não seria uma medida mais direta e melhor direcionada? Será que o juiz e advogado do sindicato tem conhecimento que existem ações mais efetivas para a suspenção do aplicativo?

Resumo

No Brasil da era dos advogados é comum exigir do carteiro que apenas entrega as cartas a responsabilização pelo seu conteúdo. Existem diversos processos que caminham nesta linha onde o alvo são empresas como Google, Apple, Microsoft, Samsung e etc. O país precisa urgentemente aprender que o autor da mensagem é o real e único responsável pelo seu conteúdo. Se existem falhas no caso da Uber, as mesmas são da responsabilidade dos motoristas. Não é razoável punir a empresa de tecnologia ou os usuários.

O caso Uber é muito semelhante ao WhatsApp no Brasil (“Juiz do Piauí determina suspensão do aplicativo WhatsApp no Brasil”, http://idgnow.com.br/internet/2015/02/25/juiz-do-piaui-determina-suspensao-do-aplicativo-whatsapp-no-brasil/, acessado em 06/05/20115 e “Desembargador derruba decisão de juiz que queria suspender WhatsApp no país”, http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/26/desembargador-derruba-decisao-de-juiz-que-queria-suspender-whatsapp-no-pais.htm, acessado em 06/05/2015).

A decisão do bloqueio durou nos dois casos algumas poucas dias. Também no caso Uber existiu a revogação das medidas contra a empresa. O artigo “Justiça de São Paulo extingue ação de taxistas contra aplicativo Uber” publicado em 04/05/2015 (http://tecnologia.uol.com.br/noticias/reuters/2015/05/04/justica-de-sao-paulo-extingue-acao-de-taxistas-contra-aplicativo-uber.htm, acessado em 06/05/2015) revelou que a liminar foi revogada em menos de uma semana, pois a Justiça de São Paulo extinguiu na segunda-feira dia 04/05/2015 a ação dos taxistas.  Considerando o excesso de trabalho e de ações em curso no judiciário seria interessante que a era dos advogados entenda melhor a era dos aplicativos para aumentar a efetividade do poder judiciário nacional.

É claro que foge do escopo desta postagem criticar as decisões do poder judiciário. O objetivo é mostrar que o mundo atravessa por um novo momento econômico que está sendo definido pelo software. No meu ponto de vista, a maior explicitação que estamos vivendo à pleno vapor a era dos aplicativos é o artigo “Novo aplicativo permite que usuários façam panelaço com smartphone” (http://idgnow.com.br/internet/2015/05/06/novo-aplicativo-permite-que-usuarios-facam-panelaco-com-smartphone/, acessado em 06/05/2015). No domingo, dia Internacional da Mulher, 8 de março de 2015, os brasileiros bateram panelas durante o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff para explicitar o seu descontentamento com o governo dela.

No programa do PT veiculado em rede de nacional de televisão na noite da terça-feira dia 5 de maio de 2015 já existiam pessoas utilizando aplicativos como o iPanelaço (Novo aplicativo permite que usuários façam panelaço com smartphone, http://idgnow.com.br/internet/2015/05/06/novo-aplicativo-permite-que-usuarios-facam-panelaco-com-smartphone/, acessado em 06/05/2015) para expressar o seu descontentamento com o governo do PT. Em menos de 60 dias foram desenvolvidos e publicados nas lojas virtuais de aplicativos vários aplicativos como “Kit Panelaço" (10 de março), “Panelaço" (18 de março), "Panelaço App" (6 de abril), "Panelaço & Vuvuzela" (10 de abril) e "Panelaço Brasil" (5 de maio) para que a população manifeste a sua insatisfação sem estragar as suas panelas.


Todos os que um dia já se aventuraram nos projetos de desenvolvimento de software sabem que o tempo entre identificar uma oportunidade de negócio e entregar uma aplicação funcionando é no melhor caso de 90 dias. Na era dos aplicativos este prazo caiu drasticamente, após a identificação de uma oportunidade de negócio em 08/03/2015, o desenvolvedor publicou em 10/03/2015 o aplicativo “Kit Panelaço". O prazo é de impressionantes dois dias. A era dos aplicativos está neste crescimento espetacular por causa dos seus prazos extremamente reduzidos. O reduzido indicador “time to market” resultante da filosofia do negócio definido pelo software é sem sombra de dúvida a essência da era das aplicações.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Novo 7 a 1

A corrupção é apontada pela maioria dos brasileiros como a principal causa da pobreza nacional. Muitos querem auditorias na dívida pública e outras medidas para recuperar as perdas pela corrupção e resolver os problemas dos brasileiros. O balanço recém divulgado pela Petrobras (Com perdas em corrupção, Petrobras tem prejuízo de R$ 22 bi em 2014, http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/04/1619695-com-perdas-em-corrupcao-petrobras-tem-prejuizo-de-r-21-bi-em-2014.shtml, acessado em 23/04/15) é uma ferramenta bastante didática para revelar o tamanho do problema da corrupção e da falta da engenharia.

O balanço revelou perdas por corrupção de 6,194 bilhões de Reais e perdas por reavaliação de ativos de 44,345 bilhões. Perdas por reavaliação de ativos significam na linguagem da rua que a empresa gastou dinheiro bom em projetos ruins e perdeu dinheiro, ou seja, o projeto gerou um resultado financeiro menor do que foi gasto para a sua realização. Este é um caso típico de engenharia pobre ou ausente. Faz parte da engenharia a avaliação financeira e econômica de um projeto para que o mesmo gere um resultado positivo (no popular é mais dinheiro no bolso). É claro que podem existir projetos de resultado negativo no portfólio que são estratégicos e por causa disto são aprovados.

Eles são apresentados com transparência no plano de negócios da empresa e são justificados com argumentos não financeiros. No entanto, este não é o caso da Petrobras. Os projetos não eram estratégicos eram apenas ruins. A falta da engenharia causou uma perda de 44,345 bi contra 6,194 bi da corrupção, ou seja, o custo da destruição da engenharia brasileira é sete vezes maior que o da corrupção. Para que se tenha ideia do tamanho da perda pela destruição da engenharia, o tamanho do ajuste fiscal do país inteiro é de 66,3 bi (Governo lançará campanha publicitária sobre o ajuste fiscal, http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1613097-governo-lancara-campanha-publicitaria-sobre-o-ajuste-fiscal.shtml, acessado em 23/04/15). Sem as perdas da falta de engenharia de apenas uma empresa, o ajuste cairia para 21,955 bi, ou seja, redução de 66%. Imagine o ganho que o Brasil teria mantendo uma engenharia rica na Petrobras e Eletrobrás? São apenas duas empresas. Provavelmente o ajuste fiscal de arrocho salarial e perda dos direitos trabalhistas seria evitado.

É evidente nos números que o ator protagonista da pobreza brasileira é a falta da engenharia, a corrupção é uma estrela de sexta grandeza. Da mesma forma que existiram perdas pela falta de engenharia na Petrobras, elas também estão presentes na Eletrobrás (conta de luz subiu mais de 40%), nos hospitais, nas escolas e etc. Não devemos entender que as perdas pela destruição da engenharia acontecem apenas no governo e nas empresas estatais. Elas estão presentes nas empresas privadas com grande intensidade. Eu já avaliei milhares de projetos com falhas graves de engenharia e com retorno negativo. Basta olhar para as obras civis, farmácias, restaurantes e etc. que vamos encontrar operações altamente ineficientes e caras. Este é na realidade o real custo Brasil.


São centenas de bilhões de reais jogados no lixo anualmente por causa de uma engenharia pobre. O país poderia estar muito mais próximo da riqueza da Coréia do Sul ou Cingapura ou outro emergente se tivesse levado à sério o problema da engenharia. Espero que o balanço da Petrobras ilumine a cabeça dos brasileiros para o real problema que causa a pobreza nacional. Como lembrete final as perdas pela destruição da engenharia foram de 44 bi enquanto as perdas pela corrupção foram de 6 bi. Destruição da engenharia 7 x corrupção 1. Mais uma derrota de 7 a 1 do Brasil.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Terceirizações

Apesar de já ter escrito sobre terceirizações em diversos momentos, muitos estão perguntando o que eu acho sobre o projeto de lei (PL 4330) que estabelece um novo entendimento sobre as terceirizações no Brasil. Eu entendo que o atual projeto de lei teria sido muito útil no Brasil de 1990. Como estamos em 2015, a proposta é mais uma perda de tempo da sociedade brasileira. Após a votação do projeto que está caminhando cada vez mais para o “nós contra eles”, teremos um lado vencedor e um perdedor. Provavelmente, o Brasil vai passar décadas discutindo a lei das terceirizações. Mais uma vez reforço que em 1990 o PL poderia ter sido útil, no entanto em 2015 ele é inútil e ultrapassado.

O Brasil deve focar os seus parcos esforços em discutir porque o crescimento do PIB é tão pífio. Não existem recursos para discutir inutilidades. Para os que não perceberam o mundo mudou para o modelo “como um serviço” graças a economia dos aplicativos. O sentido de discutir terceirizações na área fim de uma empresa é nulo. Infelizmente muitos despreparados estão com voz ativa no debate do projeto de lei e estão propagando falácias como benefícios da lei da terceirização (“A terceirização gera empregos ou precariza relações de trabalho?”, http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/04/150413_terceirizacao_entenda_ru, acessado em 22/04/15). Porque o nível de emprego aumentaria? Se os graves problemas da economia brasileira não forem resolvidos o país não cresce. Transferir empregos da empresa para a empresa terceirizadora não altera o nível de emprego.

Os problemas educacionais que travam a produtividade da economia não serão resolvidos com a terceirização. Em outras palavras, a proposta do projeto de lei não é capaz de mudar o nível de emprego. Nem para cima, nem para baixo. A redução de custo propagandeada por alguns é bastante questionável. O avanço da competividade sugerido pelos defensores da lei foge de qualquer análise logica. O Brasil não é competitivo no exterior porque os produtos e serviços apresentam qualidade e qualificação bem abaixo da chinesa por exemplo. O mesmo acontece no mercado interno. A China derrotou o Brasil dentro e fora do país porque foi capaz de realizar uma engenharia capacitada. O Brasil perdeu mercados pela destruição da engenharia nacional. Não é o custo do trabalho o problema. Isto significa que a lei das terceirizações não vai resolver este problema. É só mais uma falácia contada pelos que desconhecem a realidade brasileira.

Não é difícil identificar os que desconhecem a realidade e afirmam que a lei das terceirizações resolvem os problemas. O respeitável colunista Samuel Pessôa publicou o artigo “A lei da terceirização é positiva” no jornal folha de São Paulo em 19 de abril de 2015 (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/216567-a-lei-da-terceirizacao-e-positiva.shtml, acessado em 22/04/15). No artigo ele afirmou: “O projeto de lei 4.330 tem por objetivo permitir que empresas especializadas em colheita e outras especializadas na aplicação de inseticidas, e assim sucessivamente, possam ser criadas.”. Ele estabeleceu uma série de relações negativas para a economia brasileira em função da atual impossibilidade de existir uma empresa que aplique inseticida como um serviço.

Infelizmente os problemas e respectivos benefícios da lei das terceirizações citados não são corroborados pela realidade nacional. Ele afirmou que um agricultor não pode atualmente contratar uma empresa especializada na aplicação de inseticida porque o arcabouço legal não permite e apenas com a nova lei isto será possível e a economia vai ganhar.

O mesmo jornal folha de São Paulo publicou em 2011 o artigo Citricultores de SP rateiam custos com pulverização (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/me2607201119.htm, acessado em 22/04/15) revelando que os agricultores contrataram pulverização como um serviço sem ferir a legislação trabalhista vigente (O texto do artigo era: “Os citricultores da região de Araraquara e São Carlos, a de maior incidência do greening em São Paulo, estão formando "consórcios" para ratear os custos do combate à doença, que provoca perda da qualidade da fruta.”). Em outras palavras os ganhos de produtividade alegados como benefícios pela lei das terceirizações já estão presentes na economia nacional.

Todos os outros casos citados pelo articulista são possíveis no arcabouço legal atual e alguns deles como o caso das colheitadeiras e pulverizações já existem. O mundo como um serviço é parte integrante da realidade brasileira. Isto significa que os casos inexistentes não são consequência de restrições legais, mas sim de um ambiente que inviabiliza este tipo de empreendimento. Apesar das inconsistências com a realidade nacional, o texto aponta para um ponto crucial da falta de competividade nacional e que deveria ser alvo de análise por articulistas respeitáveis como o Samuel. Ele apontou no texto citar as dificuldades do uso compartilhado de recursos. A raiz do crescimento dos EUA pós crise de 2008 é a “sharing economy” ou economia do compartilhamento. Em vez de perder tempo com um projeto de lei ultrapassado seria melhor resolver as barreiras existentes para o compartilhamento.

Isto sim traria os benefícios propagandeados pelos defensores da lei da terceirização. A questão da falta de competividade pela ausência de engenharia pode ser facilmente percebida na produção da Apple no Brasil. Apesar de todas as desonerações, incentivos e etc. (Brasil terá smartphone até 25% mais barato no fim do ano, diz ministro, http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/09/brasil-tera-smartphone-ate-25-mais-barato-no-fim-do-ano-diz-ministro.html, acessado em 22/04/15) o iPhone 6 mais caro do mundo é produzido no Brasil (Brasil tem o iPhone 6 mais caro do mundo, aponta pesquisa, http://computerworld.com.br/brasil-tem-o-iphone-6-mais-caro-do-mundo-aponta-pesquisa, acessado em 22/04/15). Como o custo da mão de obra é muito mais caro na Alemanha, França, Estados Unidos e etc. que no Brasil fica claro que o problema de custo elevado não é resultado do custo da mão de obra. Ou seja, mais uma vez os fatos provam que o problema da competitividade não será resolvido com a lei da terceirização. Ela simplesmente não produz este benefício alegado pelos especialistas.

A maior demonstração de falta de conhecimento da realidade está no artigo “A terceirização gera empregos ou precariza relações de trabalho?” (“Tanto Peluso quanto Salvato acreditam que a possibilidade de as empresas terceirizarem suas atividades pode ajudá-las a se tornar mais eficientes. Segundo eles, isso seria verdade tanto para a terceirização das atividades-meio - por exemplo, a segurança, a limpeza e os serviços de TI - quanto das atividades-fim.”). Os especialistas consideraram os serviços de TI como área meio dos negócios. Neste ponto reside o maior problema e solução dos desafios nacionais. O artigo “Gartner diz que, agora, 'todas as empresas são empresas de tecnologia'” (http://idgnow.com.br/ti-corporativa/2013/12/19/gartner-diz-que-agora-todas-as-empresas-sao-companhias-de-tecnologia/, acessado em 22/04/15) e “Gartner: nenhuma indústria passará ilesa à revolução digital” (http://computerworld.com.br/gartner-nenhuma-industria-passara-ilesa-revolucao-digital, acessado em 22/04/15) revelam os serviços de TI são área fim de todas as empresas. Claramente, a terceirização de TI em nada contribuiu para o avanço das empresas brasileiras nos últimos anos. Desde o nascimento da era dos aplicativos na década passada praticamente nada foi conquistado pelos empreendimentos nacionais em termos de mercado mundial. A falta de engenharia é o fator chave do problema produtividade.

Eu não sou contra a terceirização. Ela pode ser um enorme aliado para trabalhadores e empresários. No entanto, o PL 4330 é só uma lei do atraso. O Brasil está perdendo um tempo precioso ao discutir algo que deveria ter sido analisado em 1990. Em 2015 estas conversas são inúteis. Espero que o congresso acorde e olhe em que ano estamos. Não é preciso ser nenhum Einstein para perceber que existem falhas elementares e graves em todos os negócios do Brasil. Se um décimo da energia gasta na lei das terceirizações fosse gasto na eliminação de erros básicos o país sairia rapidamente do drama do pibinho