terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Home Office Again

O meu evangelizador do OcoMon ganhou um aliado na sua cruzada contra o home office.

 

Em recente comentário o fabuloso gênio afirmou que o atual presidente da Petrobras está há 11 meses em casa, sem trabalhar.

 

É uma afirmação fascinante. Afinal quem é o chefe do presidente da Petrobras? Como é possível ficar quase um ano sem trabalhar e o chefe não perceber nada?

 

Existem declarações que são um tiro no pé.

 

O fato é que o presidente atual da Petrobras trabalhou remotamente durante o período da pandemia. Não apenas ele. Mas 13 mil e quatrocentos funcionários.

 

Qual foi o resultado obtido? Basta ver o demonstrativo de resultados. Deu lucro? Deu perda?

 

Só olhar os números. É fato que os mercadores do atraso não gostam de números.

 

Números exigem sinapses e sinapses causam dor profunda na cabeça da incompetência e incapacidade.

 

Se o trabalho remoto não funciona então como os presidentes das multinacionais trabalham?

 

Como o presidente da República trabalha quando ele não está no Palácio do Planalto?

 

São muitas perguntas com respostas óbvias.

 

No caso dos 13.400 empregados da Petrobras, 86% classificou o teletrabalho como ótima ou bom. 60% dos funcionários disseram que a produtividade aumentou durante a pandemia.

 

O guru do OcoMon citou na sua postagem o artigo "If Work Is Going Remote, Why Is Big Tech Still Building? Google, Facebook, and others promise more flexibility to work from home. But they’re charging ahead with plans for more offices" (https://www.wired.com/story/work-going-remote-why-big-tech-building/, acessado em 23/02/2021) e apresentou diversos destaques do texto.

 

Sem dúvida o resumo produzido é muito relevante.

 

No entanto faltou citar um detalhe que não consta do artigo da Wired.

 

O preço do metro quadrado caiu absurdamente nos Estados Unidos e as empresas estão investindo em ativos reais para minimizar as incertezas da pandemia.

 

As empresas de tecnologia dos Estados Unidos tiveram lucros espetaculares durante a pandemia e por isto estão sentadas em montanhas de dinheiro.

 

Estamos falando de organizações que sabem explorar as oportunidades de mercado. Com a queda brusca do metro quadrado, com taxa de juros real negativa, com perspectiva de forte crescimento do lucro no curto e médio prazo é mais do que natural a escolha de investir em ativos reais.

 

No caso imóveis e infraestrutura. Isto não significa que elas abandonaram o plano do trabalho remoto.

 

Significa apenas que elas vão contratar mais funcionários no futuro próximo.

 

Vamos olhar o que está acontecendo em um mercado em que o dinheiro não está jorrando pelos ralos.

 

No artigo "Contratação de profissionais de outras cidades vira tendência, dizem especialistas" (Movimento foi impulsionado pelo home office na pandemia, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painelsa/2021/02/contratacao-de-profissionais-de-outras-cidades-vira-tendencia-dizem-especialistas.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail&origin=folha) ficam claras as tendências do home Office.

 

O trabalho remoto é muito forte no mercado de tecnologia e marketing e está em crescimento no setor financeiro e administrativo.

 

O diretor de uma famosa empresa de recrutamento e seleção disse que as empresas estrangeiras estão contratando profissionais que moram no Brasil.

 

As empresas americanas e portuguesas estão contratando brasileiros em grande velocidade pois não dependem de visto e imigração.

 

O trabalho remoto está se disseminando por vários segmentos da economia segundo uma das maiores consultorias de recursos humanos no Brasil.

 

As empresas nacionais localizadas nas capitais estão contratando profissionais que moram no interior.

 

Especialistas no mercado de recursos humanos afirmam que a nova realidade será de algumas pessoas trabalhando no escritório e uma parte significativa trabalhando de longe.

 

No segundo semestre de 2020, a XP contratou 852 pessoas que moram longe do seu escritório em São Paulo.

 

Na Rappi, a empresa trabalha com vagas que permitem o trabalho em qualquer lugar e com vagas para regiões delimitadas, por exemplo vagas que exigem visitas aos parceiros.

 

Existem equipes em que 65% dos profissionais moram fora de São Paulo. A empresa pode contratar gente no mundo inteiro.

 

A Fintech Will Bank, buscou profissionais no interior de diferentes estados e no estrangeiro. O escritório da empresa é em São Paulo e Vitória. Com a contratação remota, a empresa atraiu candidatos no Brasil inteiro e resolveu o problema de recursos humanos nas áreas críticas.

 

O governo do Brasil em particular deveria ser um grande incentivador do trabalho remoto.

 

Infelizmente o invólucro intelectual limitado dos nossos governantes impendem a visualização do óbvio.

 

Alguns pontos importantes gerados pelo trabalho remoto em massa no Brasil

 

  1. 1.    Eliminação de uma grande parte do custo Brasil causado pelas perdas no trânsito
  2. 2.    Incentivo para interiorização da população eliminando os custos crescentes da infraestrutura das grandes metrópoles como são Paulo
  3. 3.    Incentivo para criação de uma rede de telecomunicações economicamente viável nos estados e municípios mais pobres do Brasil. Para quem quer reduzir a desigualdade o trabalho remoto gera resultados mais promissores e estáveis do que a taxação dos mais ricos.
  4. 4.    Criação rede de ensino de alta qualidade para todos os brasileiros independentemente do local de nascimento
  5. 5.    Aumento da quantidade de brasileiros trabalhando no exterior e morando no Brasil. Entrada de dólares e euros reduzindo pressão cambial e inflação
  6. 6.    Aumento da agilidade empresarial pela eliminação das perdas e desperdícios do deslocamento

 

Citei seis vantagens, mas existem várias dezenas. Convido os leitores para descobrir algumas.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A miséria da segurança digital no Brasil

Em janeiro de 2021 foi divulgado o vazamento de dados do fim do mundo (O vazamento de dados do fim do mundo, https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ronaldolemos/2021/01/o-vazamento-de-dados-do-fim-do-mundo.shtml?utm_source=mail&utm_medium=social&utm_campaign=compmail&origin=folha, acessado em xx/xx/2021). As informações de todos os brasileiros vivos e mortos estão à venda na internet.

 

No último trimestre de 2020 foram divulgados diversos vazamentos. As informações de centenas de milhões de brasileiros vazaram graças as falhas de segurança digital do governo brasileiro.

 

Fonte 01: Nova falha do Ministério da Saúde expõe dados de 243 milhões de brasileiros na internet, diz jornal, https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/12/02/nova-falha-do-ministerio-da-saude-expoe-dados-de-243-milhoes-de-brasileiros-na-internet-diz-jornal.ghtml

 

Fonte 02: Grupo hacker reivindica ataque a 61 sites no Brasil, incluindo TSE, https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/estado/2020/11/25/grupo-hacker-reivindica-ataque-a-61-sites-no-brasil-incluindo-tse.htm

 

Fonte 03: Hackers atacam sistema do TRF-1 e dizem ter baixado bases de dados, https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/11/27/hackers-atacam-sistema-do-trf-1-e-dizem-ter-baixado-bases-de-dados.htm)

 

Entre os diversos casos de vazamentos tivemos o caso de um funcionário de um hospital que divulgou as senhas dos sistemas no GitHub (Senha vazada expõe dados da Saúde de 16 milhões de pessoas, https://www.terra.com.br/noticias/coronavirus/senha-vazada-expoe-dados-da-saude-de-16-milhoes-de-pessoas,9e8d78b4bcad3ebb0749eba8ad958372kgcqk1pv.html).

 

Para completar o ciclo de vazamentos foi revelado em fevereiro de 2021 o vazamento das informações de milhões de contas de celulares (Não é notícia repetida: vazaram dados de mais de 100 milhões de contas de celular no Brasil,  https://gizmodo.uol.com.br/vazamento-100-milhoes-linhas-celular/).

 

Pelo visto o novo normal é vazar informações privadas de terceiros.

 

É bem difícil acreditar que todos estes casos são frutos apenas de trabalho externo. Para exportar um banco de dados gigante de quase 250 milhões de CPFs é preciso ter uma senha de administrador e ter uma internet estável e rápida.

 

Poucas pessoas têm acesso à tais recursos. Os vazamentos têm muito cheiro de trabalho interno.

 

Desleixo, incapacidade, desonestidade podem ser as explicações plausíveis para tantos vazamentos em tão pouco tempo.

 

Todos conhecemos a realidade dos profissionais de segurança digital no Brasil. Apenas uma minoria tem conhecimentos suficientes para trabalhar no ramo.

 

Então já era esperado que durante a pandemia ocorresse uma explosão de casos de vazamentos.

 

O problema é que o volume passou da conta. Foram criadas estruturas para a proteção de dados que estão apenas vendo a banda passar.

 

"Estava à toa na vida quando vi o vazamento passar". Onde estão as autoridades competentes para impedir a comercialização das informações vazadas?

 

A pergunta é uma ironia. O Brasil passou o ano de 2020 inteiro discutindo sobre a segurança dos equipamentos de um fabricante chinês da rede 5G.

 

Para que? Aparentemente qualquer um invade qualquer sistema no Brasil e nada acontece.

 

Todos estão livres, leves e soltos vendendo informações roubadas e nada acontece. Um país que já bloqueou o acesso ao Whatsapp não consegue bloquear um fórum?

 

O governo que exigiu a construção de uma rede 5G privativa para vender as licenças do 5G está vendo os anúncios de venda de informações obtidos pelos vazamentos sem fazer nada.

 

Isto é Brasil.