quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O caso WhatsApp no Brasil

O caso do WhatsApp (Juiz do Piauí determina suspensão do aplicativo WhatsApp no Brasil, http://idgnow.com.br/internet/2015/02/25/juiz-do-piaui-determina-suspensao-do-aplicativo-whatsapp-no-brasil/, acessado em 26/02/1015) tem tudo para se tornar emblemático no Brasil. O Marco Civil de Internet (MCI) que necessita de muitas regulamentações não foi aderido pela imensa maioria das empresas de Internet americanas que estão de alguma forma presentes no Brasil. No padrão cultural dos Estados Unidos o carteiro não é responsável pelo conteúdo das mensagens. Quem responde pelo conteúdo de uma mensagem é o seu autor.

A justiça e advogados brasileiros já tentaram em diversos momentos envolver as empresas americanas como Facebook, Google e etc. em processos sobre conteúdo. Em todos os casos as teses foram rejeitadas e as corporações não moveram um único milímetro da sua diretriz de liberdade de expressão responsável. Nenhuma rede social mudou contratos, termos e políticas em função do Marco Civil de Internet do Brasil. Falar de apenas uma empresa que desrespeita o MCI é algo que causa espécie em um cenário de desrespeito generalizado. Como a nação brasileira é a terra das leis que não pegam, este cenário não é novo.

Foi afirmado que o SindiTeleBrasil disse que a medida pode causar enorme prejuízo para milhões de brasileiros que usam os serviços no trabalho. Fonte: “Ação judicial no Piauí determina suspensão do WhatsApp no Brasil”, http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/25/acao-judicial-no-piaui-determina-suspensao-do-whatsapp-no-brasil.htm, acessado em 26/02/1015

O fato curioso do caso é que finalmente parece que foi descoberto o enorme volume monetário nacional movimentado nas redes sociais. Já existe um claro sentimento das perdas que podem ser provocadas por uma quebra de braço com as empresas americanas. Sindicatos patronais e advogados estão empenhados em impedir a interrupção do WhatsApp por conta destas perdas. As empresas americanas estão dispostas ao enfrentamento pelo elevado valor que a liberdade de expressão responsável tem no seu país. Para elas o Brasil é um mercado importante e valioso, mas não existe justificação para afrouxar valores morais e éticos por causa dele.


O que será que vai acontecer com o MCI do Brasil neste novo contexto mundial? Vamos perder bilhões ou vamos aderir uma ética moral mais consistente e elevada?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

The Big Mistake

O artigo “O agonizante momento das boas práticas” (http://istbrasil.blogspot.com.br/2015/02/o-agonizante-momento-das-boas-praticas.html, acessado em 17/02/1025) revelou erradamente que as melhores práticas como ITIL, COBIT estão agonizando no Brasil. O inexistente não pode agonizar. Na dura realidade nacional, as melhores práticas sequer nasceram no Brasil, por isto elas não podem estar agonizando.

O artigo acerta quando cita que existem ilhas de excelência. O Brasil sempre foi capaz de produzir ilhas em um oceano de mediocridade. Tal fato não é novidade, pois elas existem em diversos campos. Isto acontece porque existem setores da economia brasileira que não contam com a proteção governamental e por isto precisam competir intelectualmente contra os tubarões turbinados do resto do planeta (por mais inesperado que possa parecer, estas firmas brasileiras competem e vencem os gigantes).

Aliás, a proteção governamental é o exato motivo para o não nascimento das melhores práticas no Brasil. A sociedade nacional gosta e aprova monopólios do estado ou que estejam sob o controle dele. Este segmento que é majoritário no Brasil entende que o político de plantão é capaz de resolver cada um dos problemas dos milhões de brasileiros. Esta forma de agir e pensar gerou como consequência empresários e gestores com preocupações apenas de aparência com as melhores práticas. É o tradicional modelo parnasiano nacional onde a forma ou melhor aparência tem mais importância que o conteúdo.

Neste contexto, os constantes fracassos da economia nacional são simplesmente esquecidos a cada eleição onde invariavelmente surge um novo “gênio” salvador da pátria. Tivemos tantos exemplos que seria injusto citar só alguns. O mais famoso foi o Fernando Collor de Melo.

Se os fracassos são esquecidos e as perdas absorvidas pelos pobres do Brasil então porque as empresas iriam atrás de melhores práticas? Alguém se lembra da reserva de mercado em informática e dos bilhões entregues para grandes e ricos bancos donos das empresas de TI?

São raros os que lembram e posso garantir que muitos profissionais de TI defendem medidas similares de reserva de mercado sem sequer conhecer o estrago realizado no passado. Quais empresas daquela época sobreviveram? Existe uma indústria de informática brasileira? Lamento dizer, mas o resultado do monopólio controlado pelo estado brasileiro foi perda e atraso. Não foram alguns centavos, foram dezenas de bilhões perdidos.

Para que fazer o esforço em melhores práticas se é possível ficar pendurado no governo grátis e tirar dos milhões de pobres para dar para uns poucos ricos? O Brasil navega há muito tempo no oceano do monopólio e concentração de renda. Vou citar dois casos antigos e um atual para mostrar que nada mudou na forma de pensar na renda e trabalho na sociedade brasileira nos últimos 40 anos.

Nos anos 1980 ficou famoso o caso Grupo Coroa Brastel. Garanto que este escândalo é desconhecido ou esquecido pela maioria da população brasileira. O dono do grupo foi convencido pelo governo da ditadura militar para a compra de uma corretora falida. Ele era milionário e bem sucedido empresário à época. Ele tinha à sua disposição os melhores conselheiros sobre melhores práticas. Ele ignorou todos os avisos e números negativos e atendeu aos apelos do governo. Pouco tempo depois quebrou e morreu pobre. Ele esqueceu as melhores práticas, pois entendia que seria favorecido com poderes de exclusividade por ter ajudado o governo.  Quem perdeu? Trabalhadores, investidores e pobres.

Também nos anos 1980 ficou famosa a frase “Plante que o João garante”. Nunca na história da agricultura nacional o resultado foi tão negativo. Na mesa do brasileiro muitas coisas faltavam e outras eram mais caras todos os dias. Neste momento nasceu a inflação galopante no Brasil. Quem perdeu? Os trabalhadores que tiveram seu salário arrochado em vários momentos. Quem mais perdeu? Os investidores. Muitos foram embora e não voltaram mais. O Brasil já teve fábrica da GE por exemplo

Mais recentemente temos o escândalo do petrolão da empresa estatal Petrobrás que atua em regime de reserva de mercado ao comprar conteúdo nacional. Lembro que a governança da Petrobras já foi elogiada por centenas de profissionais de TI do Brasil. A governança da empresa foi exaltada como modelo em diversos congressos e seminários. Claramente ela gastou muito dinheiro em melhores práticas. Em 2015, foi estimada uma perda de quase 90 bilhões por perdas de corrupção, erros estratégicos e falhas operacionais. É muito difícil entender como tantos “especialistas” de governança de TI conseguiram elogiar vigorosamente a consistente adoção de melhores práticas para tecnologia de informações pela Petrobrás e encontrar uma realidade onde os sistemas de informações não detectaram perdas de dezenas de bilhões?

O petrolão deixa claro um dos principais motivos do não nascimento das melhores práticas de TI no Brasil. Claramente, o país é extremamente carente de profissionais qualificados. Na era do conhecimento quem não tem conhecimento não tem nada. Quem perdeu com o petrolão? Os pobres do Brasil e os trabalhadores dos fornecedores da Petrobras.

Mais uma vez a reserva de mercado e monopólio estatal geraram perdas enormes para o Brasil. Quem sabe em 2030 o país se recupere. Até lá será mais uma década perdida.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Salário mínimo

Diante da crise da economia que o Brasil está enfrentando em 2015 e como apesar de ter sido afirmado que nem que a vaca tussa os direitos trabalhistas seriam alterados para pior, eles foram eu resolvi pesquisar sobre o poder de compra do salário mínimo brasileiro. Na comparação com os outros países é fácil perceber que o salário mínimo brasileiro está na rabeira. Na realidade, mesmo que ele estivesse em último lugar isto não é um resultado obrigatoriamente negativo. A questão chave é se o salário mínimo supre as necessidades mínimas do trabalhador brasileiro.

A constituição brasileira define claramente os itens que fazem parte do poder de compra do salário mínimo. É até possível polemizar sobre um ou outro item específico, mas é muito claro que o conjunto da obra tem uma boa consistência e reflete parâmetros mínimos. Alguns, como eu, entendem que o salário mínimo é mínimo demais. Com base na constituição o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) formatou uma base histórica do valor do nominal do salário mínimo e do seu poder compra (http://www.dieese.org.br/analisecestabasica/salarioMinimo.html, acessado em 11/02/1015). É importante destacar que mesmo os mais radicais defensores do mercado auto regulatório reconhecem que as empresas que contratam os funcionários exercem poder de monopólio no mercado de trabalho e são capazes de forçar um salário mínimo para um patamar bem abaixo das necessidades mínimas de um ser humano. Existe uma clara imperfeição das informações.

Este é o principal motivo que explica o fato do governo central dos Estados Unidos e diversos países interviram no mercado e fixarem um patamar mínimo da renda do trabalho. As imperfeições do mercado são intensas o suficiente para exigirem que uma estrutura externa atue como xerife arbitrador. Os números brasileiros do poder de compra do salário mínimo são estarrecedores e de certa forma explicam a baixa produtividade e o uso de práticas distorcidas. Até 2014, muitos trabalhadores usavam o seguro desemprego como fonte complementar de renda. Eles trabalhavam por um ano ganhando salário mínimo, eram despedidos e recebiam o seguro desemprego ao mesmo tempo que trabalhavam na informalidade. Desta forma eles conseguiam uma renda maior mais próxima da renda mínima de sobrevivência.

O primeiro problema deste estratagema é que ele desorganiza a produtividade da economia ao mesmo tempo em que mascara o grave problema do salário mínimo. Uma economia que não é capaz de remunerar o trabalho em um patamar mínimo de sobrevivência está gravemente doente. É muito grave que o país não tenha capacidade de remunerar minimamente o trabalho. Isto é um sinal de processos produtivos equivocados. O segundo grave problema da renda muito abaixo do patamar mínimo de sobrevivência é o desincentivo para o trabalho. Ter uma parte da população sem incentivo algum para o trabalho é um problema social grave que aumenta a necessidade do estado em segurança e outras demandas cujo o resultado final é uma carga tributária muito elevada. Não é mero acaso que a carga tributária brasileira é de quase 40%.


É evidente que desde o governo do Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1994 vem existindo avanços no poder de compra do salário mínimo. No início do governo FHC em 1994, o poder de compra do salário mínimo nominal era de 9,92% do salário mínimo necessário. Em 2002 no final do governo FHC era de 15,13%, uma alta de 5 pontos percentuais. No final do governo Lula o salário mínimo nominal era 22,07% do salário mínimo necessário, uma alta de 7 pontos percentuais e em 2014 no final do primeiro governo Dilma o salário mínimo nominal era 24,82% do salário mínimo necessário, uma alta de pontos percentuais. O avanço nos últimos vinte anos entre 1994 e 2014 foi de apenas 15 pontos percentuais. É preciso acelerar esta velocidade. No atual ritmo apenas em 2104 o poder de compra do salário mínimo vai ser mínimo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Crise da água

Não e difícil perceber que a crise hídrica em São Paulo é um assunto muito maior do que banhos e carros lavados. É uma grave crise econômica que pode levar o Brasil inteiro para a bancarrota. A água é o principal insumo para a vida humana e a falta dela já fez populações inteiras mudarem e certamente vai fazer de novo.

A crise da forma que está sendo conduzida pelo governo federal, estadual e municipal pode levar o Brasil para o posto de maior catástrofe humana da história da humanidade. É um assunto de altíssima gravidade que vem enfrentando a mediocridade política dos partidos nacionais. A falta de água ao afetar a indústria e agricultura paulista vai gerar desemprego e alta dos preços no país inteiro. Uma enorme pressão inflacionaria está no ar. Qual investidor internacional escolheria o Brasil como destino dos seu dinheiro em quadro de elevado descontrole financeiro com risco real da maior cidade do pais ter que ser evacuada às pressas por falta de água? Quem vai manter o seu dinheiro no Brasil em um cenário de tamanha precariedade?

É preciso que as autoridades encontrem um caminho antes que o caos seja consumado. Os episódios de segurança da cidade de Itu por falta de água mostraram que a população está impaciente. A repressão policial seria um desafio enorme pelo tamanho da população afetada.

Um racionamento regional rigoroso em excesso como o proposto de 5 dias sem água por 2 com água levaria para uma migração entre regiões e pode gerar uma situação de caos maior ainda. É preciso que o governo organize as medidas em linha com as necessidades e consequências. O amadorismo precisa sair de campo. É preciso profissionalizar e acertar de primeira.

Muitos estão atribuindo para o governo do estado de São Paulo e para a Sabesp a responsabilidade pela crise hídrica. Falam-se nas perdas, falta de investimento e etc. Mas será que o problema é tão restrito? É possível afirmar que existem outros atores no circo de horror da crise hídrica.

O péssimo código florestal promulgado em 2012 além de ser questionável do ponto de vista constituição brasileira, permitiu uma tamanha devastação da floresta amazônica que mudou o ciclo de chuvas da região sudeste do Brasil. Será que é mera coincidência que após o código florestal de 2012, os estados do sudeste estejam enfrentando os seus piores momentos na história de escassez de chuvas? Vários estudos sérios relacionam a devastação Amazônia com a redução das chuvas no sudeste. Já está na hora do país entender que ele não tem capacidade para ser o celeiro do mundo. Destruir a floresta amazônica para produzir soja ou gado é um ato de uma burrice incomensurável.

A obra do Aldo Rebelo no código florestal não foi a sua única contribuição para a crise hídrica. Alguém acha que é mera coincidência que os estados que mais receberam turistas na copa de 2014 estejam correndo risco de racionamento de água? São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais foram os destinos da maioria dos turistas na copa. Turistas que consumiram muita água sem preocupação alguma de economia. Nenhuma cartilha do ministério dos esportes pedia que estes turistas economizassem água. Enquanto eles gastaram rios de água, a população que mudou de hábitos e economizou muito ficou a ver navios. Milhões de litros de água foram gastos com turistas e obras civis para a copa do mundo.

Qualquer ser humano capacitado teria trocado as cidades sedes em função da crise hídrica que já existia em 2014. Faltou bom senso e capacitação. Infelizmente a conta da falta de capacidade do governo federal em relação a crise hídrica vai ser paga pela população de São Paulo.

O governo federal ofereceu e vem oferecendo mais uma contribuição para aumentar a crise hídrica em São Paulo. O programa minha casa, minha vida incentiva a verticalização das moradias. No lugar onde moraram uma ou duas famílias agora moram graças aos programas centenas de famílias. O programa em nenhum momento se preocupou com a mudança do perfil do consumo de água nos financiamentos. O planejamento foi inexistente. Mudou-se completamente o perfil de consumo na região abastecida pelo reservatório da Cantareira sem que existisse contrapartida de investimento na captura da água. O sistema Cantareira depende de chuvas em Minas Gerais o que mostra o tamanho da irresponsabilidade nestes financiamentos. É óbvio que o programa deveria centralizar o atendimento em regiões de captação de água mais fácil e em torno de um equilíbrio na verticalização.

Quando pensamos que o circo dos horrores da crise hídrica de São Paulo está completo, percebemos que existe mais um ator. O prefeito Fernando Haddad decretou o fim da inspeção veicular na cidade de São Paulo. Será mera coincidência que as maiores temperaturas da história da cidade ocorreram depois do fim da inspeção veicular? As ilhas de calor formadas pela poluição dos carros aumentaram a sensação térmica do calor e elevaram o consumo de água pelos paulistas. Será que é mera coincidência que as maiores temperaturas da história da cidade de São Paulo ocorreram ou durante o período de suspensão do rodízio de carros ou imediatamente após? Claramente as chuvas de janeiro de 2015 não conseguiram dispersar as nuvens de poluição geradas pelos carros sem inspeção veicular e reduzir o efeito de ilha de calor.

O estado de São Paulo concentra mais de 20% da população brasileira em um espaço menor que 3% do território nacional. A água não é o único recurso escasso no estado. Recursos como ar, moradia, mobilidade e etc. também são escassos e vão acabar caso não exista um completo replanejamento da ocupação do território Paulista. Para não ficar apenas com o dedo na ferida é importante oferecer algumas sugestões para permitir que o estado não vire um deserto e derrube a economia do Brasil.

A primeira e mais óbvia e a paralisação de todas as obras para novas moradias no estado. O governo federal precisa assumir os prejuízos causados pela sua irresponsabilidade de financiar moradias sem planejamento de água. A segunda e mais importante medida é a intensificação da utilização da água de reuso. Todos os lugares públicos incluindo instalações privadas como shoppings, estádios de futebol, escolas, clubes e etc. devem utilizar apenas água de reuso.

·         Reduzir drasticamente a captação de água pela indústria e agricultura. Obrigando o uso exclusivo de água de reuso. Liberar a captação de água apenas para o essencial. Produção de bebidas como cerveja e refrigerantes deve ser suspensa no estado até a normalidade hídrica.
·         Suspensão de todos os eventos em 2015 que não sejam essenciais como carnaval formula 1 corridas de rua etc. Tolerância zero para o consumo não essencial de água.
·         Transformação de todas as instalações de residenciais e comerciais para a utilização de apenas de água de reuso nos sanitários. Água de reservatório deve ser destinada apenas para o consumo humano.
·         Determinar que bares e restaurantes usem apenas pratos e talheres descartáveis eliminando assim a necessidade de lavagem. Incentivar via impostos que o mesmo ocorra nas residências.
·         Aumentar o preço da água para desincentivar o seu desperdício.

·         Incentivar todos que possam mudar temporariamente ou definitivamente do estado.

Legado copa

Em julho de 2014 o Brasil foi anfitrião da copa do mundo de futebol FIFA. Em janeiro de 2015, os principais estados da região sudeste do Brasil estão em risco de racionamento de água. Será mera coincidência, ou será que existe algum relacionamento entre estes fatos?

Os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo receberam durante o mês da copa uma enorme quantidade de turistas de outros estados e estrangeiros que ocuparam as suas hospedarias. Estes turistas geraram um intenso gasto de água nos combalidos reservatórios no momento da seca do inverno. O fraco ciclo de chuvas do verão não está sendo capaz de recuperar os reservatórios.

Parece que os estrategistas do planejamento da copa apostaram todas as fichas nas chuvas de verão e perderam. No entanto, os turistas não foram os únicos responsáveis pelo atual desequilíbrio hídrico. Estes estados, realizaram vultosas obras civis nos anos anteriores para a preparação para a copa. Foram obras públicas e privadas. Como todos sabem a construção civil é uma emérita consumidora de água e em alguns é uma grande desperdiçadora.


Claramente não é uma mera coincidência que os estados do Rio de janeiro, Minas Gerais e São Paulo estejam atravessando risco de racionamento pouco depois da copa. Gastar recurso finito como a água sem planejamento leva invariavelmente para a escassez. Congratulações para os que realizaram a copa das copas. 

Marco Civil Internet (MCI)

O MCI promulgado em 2014 está em fase de regulamentação. É um momento muito importante porque nenhum dos três pilares (Neutralidade, Privacidade e Liberdade de Expressão) estão bem atendidos no atual texto. É de fundamental importância que a população brasileira participe deste processo. Os endereços para a participação são: http://www.marcocivil.mj.gov.br e www.dadospessoais.mj.gov.br. As consultas públicas realizadas pelo  Ministério da Justiça começaram no dia 28 de janeiro e vão até o dia 27 de fevereiro de 2015.

Como exemplo da importância da correta regulamentação do MCI vou citar um caso concreto de informações desencontradas. A liberdade de expressão exige coerência com o conteúdo original. É uma situação onde um trabalho sério e respeitado foi utilizado. É preciso que a regulamentação do MCI estabeleça claras sanções para quem é impreciso com o conteúdo original da fonte citada.

“Com 29 milhões de visitantes estrangeiros no ano passado, a América do Sul teve um aumento de 6%, o dobro em relação a 2013.”. Fonte: “Turismo internacional cresceu 6% na América do Sul em 2014”, http://www.embratur.gov.br/piembratur/opencms/salaImprensa/noticias/arquivos/Turismo_internacional_cresceu_6_na_America_do_Sul_em_2014.html, acessado em 04/02/1015.

“Para a OMT, a realização da Copa do Mundo no Brasil contribuiu para os resultados positivos na América do Sul”. Fonte: idem.

As frases anteriores revelaram que o crescimento do turismo na América do Sul foi de 6% e que o Brasil ofereceu contribuição significativa segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT). Com base nestes números o presidente da presidente da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), afirmou que a Copa do Mundo 2014 foi um sucesso.

”Arrivals to Central America and South America (both +6%) grew at double the rate recorded in 2013 and well above the world average”. Fonte: “Over 1.1 billion tourists travelled abroad in 2014” http://media.unwto.org/press-release/2015-01-27/over-11-billion-tourists-travelled-abroad-201, acessado em 04/02/2015

“Among the other two main emerging markets, the Russian Federation (-6%) clearly lost strength in 2014, while Brazil still grew by 2%, despite the appreciation of the US dollar against the Brazilian real and slower economic growth.”. Fonte: idem.

O texto original revelou uma realidade bem diferente do sucesso. A OMT realmente afirmou que o turismo na América do sul cresceu 6% em 2014 (dobro do crescimento de 2013). No entanto, ela também afirmou que o turismo no Brasil cresceu 2%. Na matemática, as parcelas que estão abaixo do resultado final representam contribuições negativas, ou seja o crescimento de 2% bem abaixo do resultado geral da América do Sul de 6% é uma contribuição negativa. Em outras palavras, a América do Sul cresceu 6% apesar do Brasil e não por causa do Brasil.

O que foi chamado de sucesso pela Embratur é questionado pelo resultado alcançado. Países que não realizaram a copa cresceram muito mais que os 2% do Brasil. O texto afirmou que o crescimento global foi de 4,7%. O crescimento de destinos que não realizaram a copa do mundo como o México e Caribbean foi de 7%. O crescimento da América do Norte que também não realizou a copa do mundo foi de 8%. Uma enorme quantidade de destinos cresceu muito mais de 2% em 2014 e não foram sedes da copa do mundo. A afirmação do sitio da Embratur de que o resultado de 2% de crescimento do turismo do Brasil em 2014 é uma demonstração do sucesso da copa do mundo não tem contrapartida no sitio da OMT.


É muito importante que a regulamentação do MCI puna severamente as distorções do conteúdo e obrigue a indicação da fonte junto ao texto para que a liberdade de expressão do brasileiro seja preservada. Liberdade de expressão implica no direito ao acesso da informação precisa.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Economia dos aplicativos

O governo federal do Brasil iniciou o seu novo mandato em 2015 com mais uma proposta "genial". No artigo “Shoppings já acionam geradores em horário de pico de consumo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/206656-shoppings-ja-acionam-geradores-em-horario-de-pico-de-consumo.shtml, acessado em 04/02/2015) o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que quer que os shoppings centers usem mais energia de gerador e mudem horários de funcionamento.

O primeiro problema da “genialidade” proposta é que estes geradores foram dimensionados para suprir eventuais falta de energia. Eles não servem para operações rotineiras e prolongadas. O segundo aspecto é o agravamento do efeito estufa pela queima de combustível fóssil. A questão do horário é uma facada em uma economia que já está fortemente ferida. Considero impressionante que em apenas meio ano após a copa do mundo de futebol, o Brasil (que realizou a copa das copas. Será?) enfrente restrições de energia elétrica. O governo federal não declarou em 2014 para os “pessimistas de plantão” que a oferta de energia era abundante?

A única coisa com algum sentido do discurso do ministro foi o plano para lâmpada Led. Infelizmente ele é mais discurso do que fato. Seria bom o atual governo rever suas estratégias. Este preâmbulo permite destacar a importância da economia dos aplicativos no nosso estilo de vida atual. Para quem não sabe a economia dos aplicativos é definida como a utilização em larga escala de aplicativos móveis como canal de relacionamento entre as empresas e os consumidores ou entre empresas e funcionários, parceiros e fornecedores

Já existem exemplos concretos da presença dela no nosso dia a dia. Ao comprar uma televisão, estabilizador de energia, geladeira, carro e etc. os usuários recebem aplicativos que permitem configurar e monitorar o equipamento adquirido. Em pouco tempo os consumidores ficam dependentes destes aplicativos que controlam desde o consumo de energia elétrica até a rotina de manutenção dos equipamentos com agendamento automático. Neste caso, a economia dos aplicativos participa do processo de pós-venda dos fabricantes e fornecedores. Os aplicativos oferecem informações valiosas sobre o perfil de utilização e permitem explorar importantes oportunidades de negócio. As informações sobre utilização e manutenção geram dependências pela excelência e são extraordinárias ferramentas para a fidelização dos clientes.

Existem também os aplicativos que funcionam na etapa de pré-venda de alguns produtos como a lâmpada Led mencionada pelo ministro. A comparação da lâmpada led com a fluorescente e incandescente mostra que é preciso fazer cálculos bem acima do nível trivial para revelar as suas vantagens e benefícios para o consumidor. O preço de varejo mostra que ela é bem mais cara que a lâmpada incandescente, mas gasta muito menos energia e gera muito menos calor.

Nas altas temperaturas brasileiras a geração do calor das lâmpadas incandescentes é combatida pela refrigeração do ar condicionado, ventiladores e etc. Este consumo extra de energia elétrica só ocorre por causa do calor gerado pelas lâmpadas incandescentes, portanto este custo também deve entrar na comparação das lâmpadas. Vendedores e consumidores comuns tem muita dificuldade para calcular todos os fatores e o aplicativo é uma excelente solução como ferramenta de vendas e tomada de decisão. Existe uma enorme quantidade de equipamentos que tem a mesma característica de complexidade de avaliação do custo e benefício que a lâmpada led.

Como efeito de comparação é possível afirmar que uma lâmpada de 100 Watts incandescente produz a mesma quantidade de luz de uma de 23 Watts fluorescente compacta e de uma de 14Watts Led. Apenas a lâmpada led não produz calor. A lâmpada led converte 95% da energia consumida em luz e dura em média entre 30 e 50 mil horas e a lâmpada incandescente converte apenas 10% da energia consumida em luz e dura em média mil horas.

A grande quantidade de variáveis da equação do benefício é o principal motivo pelo qual a família de aplicativos de pré-venda de lâmpadas led vem crescendo tanto. A distorção das informações é tão intensa que existe uma enorme janela de oportunidades abertas para a economia dos aplicativos. Os aplicativos de chame táxi como “Easy Taxi” são exemplos de como as aplicações de pré-vendas já estão presentes no nosso dia a dia.

A sharing economy ou consumo colaborativo ou economia colaborativa é extremamente favorecida com a economia dos aplicativos na etapa de pré-venda. O consumo colaborativo ocorre quando as pessoas compartilham a utilização de um bem comum. O compartilhamento pode ocorrer por causa de horários de utilização diferenciados por causa da sazonalidade, por necessidades complementares e etc.

Um sério candidato para o consumo colaborativo no futuro é o carro particular. Em pouco tempo as pessoas estarão compartilhando carros e garagens através de aplicativos. Esta imensa base de informações poderá ser utilizada pelos governos para políticas públicas da ocupação do espaço nas cidades. A necessidade de otimização do consumo de energia no Brasil destacada pelo ministro de Minas e Energia do Brasil deve fazer parte do dia a dia porque a água é um recurso finito e escasso. Infelizmente apenas na crise o atual governo acordou para a ênfase de eliminar as perdas e desperdícios do consumo de energia elétrica.

A economia dos aplicativos é sem sombra de dúvida um elemento chave para direcionar a população para a otimização dos seus gastos energéticos.  A governança da TI verde pode ser facilitada pelos aplicativos de pré-venda, pós-venda, compartilhamento e otimização. É evidente que não tem sentido algum gastar bilhões de reais na iluminação pública por led se dentro das casas e empresas existe um gasto de energia elevado e desnecessário via televisores de tubo de raios catódicos, portais de Internet de cores claras e iluminadas, caixas eletrônicos que estão ligados e não funcionam, eletrodomésticos que produzem mais calor que o necessário, computadores com fontes de alimentação de baixa eficiência e etc.


Um exemplo da área de Tecnologia de Informações e Comunicações deixa bem claro o enorme espaço que existe para reduzir o consumo de energia sem racionamentos ou maiores sacrifícios da população brasileira. Um típico datacenter nacional tem Power Utilization Efficincy (PUE) de 2,4. Lembro que o PUE é a razão entre o consumo total do datacenter (inclui refrigeração, iluminação e etc.) pela energia consumida pelos equipamentos de tecnologia. O melhor PUE possível é 1,0. Um PUE de 2,4 significa que os datacenters que são centrais de computadores que consonem muita energia estão consumindo 2,4 Watts por hora para uma necessidade de apenas 1,0 Watt por hora. Elas estão transformando em calor inútil, ou seja, desperdiçando quase 60% da energia paga. Numa economia em ajuste como a brasileira em 2015 com crise de água e energia isto significa que estamos jogando no lixo muito dinheiro e energia elétrica. A economia dos aplicativos está ai para resolver vários desafios brasileiros. Seria bom ver o ministro Eduardo Braga acordar para ela e criar mecanismos para solucionar o grave problema nacional de energia elétrica.