terça-feira, 27 de janeiro de 2015

2015 - O ano pós copa

No final de 2014 diversos veículos de comunicação fizeram a tradicional retrospectiva do ano. Me chamou muita atenção encontrar comentários exaltando o sucesso da realização da copa do mundo de futebol no Brasil em 2014. Um evento capitalista como a copa só é um sucesso quando gera lucro sustentável de longo prazo e cabe no bolso de curto prazo dos organizadores, ou em outras palavras sobra alguma bufunfa para quem trabalhou.

Diversas notícias revelam que a copa mais atrapalhou do que ajudou na geração de bufunfa. A seguir reproduzo algumas destas notícias. O balanço final revelado no artigo “Iniciativa privada bancou apenas 17% dos estádios da Copa do Mundo” (http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/01/1571494-iniciativa-privada-bancou-apenas-7-dos-estadios-da-copa-do-mundo.shtml, acessado em 27/01/2015) publicado pelo jornal Folha de São de Paulo em 07/01/2015 e 10/01/2015 revelou que apenas 17 por cento do dinheiro investido nos estádios ou arenas foi privado. A participação mínima do capital privado mostra que o projeto da copa do governo não foi comprado pelo setor privado.

Todo e qualquer investimento público focado nas classes A e B sem retorno de longo e com comprometimento do caixa de curto prazo é concentrador de renda e alavancador da desigualdade social. Projetos assim representam violações sociais graves. Infelizmente a copa de 2014 é um dos mais graves casos de desgoverno da história da humanidade. As notas “Endividado, DF terá que receber a F-Indy ou pagar multa milionária” (http://josecruz.blogosfera.uol.com.br/2015/01/endividado-df-tera-que-receber-a-f-indy-ou-pagar-multa-milionaria/, acessado em 27/01/2015) e “Torneio de ingenuidade” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/203614-torneio-de-ingenuidade.shtml, acessado em 27/01/2015) deixam claro que os bilhões gastos no estádio em Brasília sem retorno algum comprometeram o caixa do governo do Distrito Federal a ponto dele não ter dinheiro para pagar os seus funcionários e outras despesas importantes.

No caso do Rio de janeiro o caso é mais grave ainda. Os gastos no Maracanã comprometeram a capacidade do governo de colocar combustível nos veículos da polícia. A segurança do Rio de Janeiro ficou comprometida pela gastança irresponsável com a copa (PM confirma falta de abastecimento de combustível, e racionamento é criticado pela Associação de Praças: ‘É um risco’, http://extra.globo.com/casos-de-policia/pm-confirma-falta-de-abastecimento-de-combustivel-racionamento-criticado-pela-associacao-de-pracas-um-risco-14934391.html, acessado em 27/01/2015).


Claramente o planejamento pobre da copa no Brasil gerou perdas na economia. O ridículo PIB de 2014 que só com muita sorte será nulo, mostra o tamanho da oportunidade perdida. Os elogios para a organização da copa mostram que o Brasil está com os seus valores invertidos. O artigo “No ano da Copa, gasto de estrangeiro aumenta apenas 3%” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/205273-no-ano-da-copa-gasto-de-estrangeiro-aumenta-apenas-3.shtml, acessado em 27/01/2015) revelou que o Banco Central esperava um crescimento de 700 milhões de dólares  nos gastos dos estrangeiros no Brasil por causa  em razão da Copa e eles aumentaram apenas 210 milhões de dólares.

User eXperience (UX)

Recentemente estive conversando com um amigo que transita entre São Paulo e Rio de Janeiro. Estávamos conversando sobre os planos para 2015 e para a minha surpresa ele pretendia trabalhar com UX a partir do segundo semestre de 2015. Foi uma revelação surpreendente porque o assunto Experiência do Usuário que é bem conhecido nos países mais avançados está em estágio embrionário no Brasil.

A visão nacional do atendimento ao consumidor é muito parecida com a que foi apresentada no artigo “Por que o atendimento ao cliente continua ruim – parte 1” (http://www.4hd.com.br/blog/2015/01/07/por-que-o-atendimento-ao-cliente-continua-ruim-parte-1/, acessado em 26/01/1015). O Roberto Cohen traduziu e reproduziu partes do artigo “WHY IS CUSTOMER SERVICE SO BAD?” publicada na revista “A CROSS THE BOARD, JAN/ FEB 2006” que detalhou os motivos para o atendimento ruim (Inexistência de concorrência, Marca concorrida, Mini monopólios e Preço baixo).

Questões como monopólio, poder da marca e etc. foram citadas como motivos para a ausência de investimento no atendimento ao usuário. Naquela época em 2006 existia uma lógica racional por traz destas escolhas. No entanto, será que estas motivações ainda prevalecem em 2015?

Um dos setores que mais cresceram nos anos do pífio crescimento do PIB brasileiro do governo Dilma é o e-commerce. O maior desafio do comercio digital é conquistar a confiança dos consumidores. Muitos são arredios ao e-commerce pelos escândalos de segurança. Todos os dias os brasileiros são bombardeados de notícias ruins sobre invasões de sites e vazamento de informações sensíveis dos consumidores.

A conquista da confiança passa pela credibilidade do ponto de venda. E a credibilidade é consequência do pré-venda, da entrega e do pós-venda. Em outras palavras, a credibilidade do comércio digital está diretamente ligada com a experiência do usuário. Este é o real motivo deste tema ter alcançado a dimensão que alcançou nos Estados Unidos e Europa. Umas das consequências deste estratagema é o elevado faturamento das lojas de roupas destes países com os turistas brasileiros.

Uma experiência do usuário dentro do prometido gera tamanha satisfação para o consumidor que ele se sente compelido a compartilhar a experiência escrevendo um comentário sobre a empresa em sites ou redes sociais. Este é o caminho para a confiança. Os não consumidores leem os comentários compartilhados e passam a ter confiança nas promessas daquele ponto comercial.

Quando encontramos americanos e europeus investindo bilhões de dólares em experiência do usuário, eles não estão agindo feito loucos que queimam notas de 100 dólares. Eles estão na realidade encontrando novas formas de ganhar mais dinheiro.
Espero que tal qual o meu amigo muitos se juntem à onda da experiência do usuário e ganhem muito dinheiro com os novos negócios.

Como exemplo prático de experiência de usuário vou usar um caso que aconteceu comigo. Recentemente eu ganhei uma camisa de uma marca que eu não conhecia. Ao abrir a caixa tinha um enorme destaque para a mensagem que dizia que aquela camisa foi confeccionada com mão de obra legalizada e que em toda a cadeia produtiva existe um rigoroso controle para que não exista mão de obra escrava. Era apenas uma mensagem, mas diante dos escândalos de mão de obra do setor têxtil brasileiro eu me senti mais feliz e satisfeito ao saber que estarei usando uma camisa que não é o resultado da exploração humana. Isto é concretamente um caso de experiência do usuário. Eu já considero esta marca nas minhas compras de camisa e a recomendo. Este é o efeito cascata positivo da experiência do usuário.

A questão da Experiência do Usuário é tão intensa na indústria têxtil que ela está mudando o perfil de compras dos brasileiros. O artigo “Viajantes brasileiros compram no exterior R$ 12 bilhões em roupas” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/10/1530175-viajantes-brasileiros-compram-no-exterior-r-12-bilhoes-em-roupas.shtml, acessado em 26/01/2015) revelou que os brasileiros compraram 5 bilhões de dólares em roupas no exterior em 2014 (60 mil toneladas em roupas). Este valor foi praticamente o faturamento anual das quatro maiores redes de varejo têxtil (Riachuelo, Renner, C&A e Marisa) em 2014. Claramente as pessoas estão buscando um nível de experiência que não é oferecido no Brasil.

Como exemplo das barreiras criadas pela Experiência de Usuário negativa, eu vou usar novamente um caso que ocorreu comigo no dia 26/01/2015. Eu estava esperando para atravessar uma rua até a abertura do farol de pedestres. Neste instante um carro moderno e luxuoso parou em cima da faixa de pedestres me obrigando ao desvio. O motorista sem qualquer pedido de desculpas ou início de frase com “por favor” perguntou uma informação sobre qual direção deveria tomar para chegar em uma determinada rua. Eu respondi sem interesse algum de ajudar que era só seguir em frente e fui embora deixando ele falando sozinho. Não dei uma informação errada, mas sabia que a mesma não ajudaria em nada. A principal consequência da Experiência de Usuário negativa foi o meu total desinteresse na colaboração com ele.

Nas empresas temos nitidamente o caso da Experiência de Usuário negativa na organização de Tecnologia de Informações e Comunicações (TIC). Muitas vezes os jovens analistas que são nativos digitais nutrem tantos preconceitos sobre serem experts de TIC apenas porque nasceram na geração digital que ignoram o que está sendo dito pelos mais velhos de cabelos brancos que são nativos analógicos. Estas posturas geram experiências ruins e raramente as organizações de TIC das empresas recebem elogios espontâneos dos seus usuários.

Para quem quiser saber mais sobre User eXperience e Customer experience (CX) seguem-se alguns endereços interessantes: