segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

TI no petrolão da Petrobras

Até a sexta feira dia 12 de dezembro de 2014, o escândalo do petrolão da Petrobras estava do ponto de vista de Tecnologia de Informações e Comunicações (TI ou TIC) restrito as páginas policiais. A declaração da Venina Velosa da Fonseca sobre e-mails enviados para os executivos da Petrobras alertando sobre os desvios muda completamente este quadro. A existência da entrega e confirmação da leitura dos e-mails, pode invalidar a argumentação "do eu não sabia" utilizada pelos executivos da Petrobras.

Todos os e-mails e respectivas informações de controles estão registradas nos servidores de TIC da Petrobras. Os backups destas informações também devem estar corretamente armazenados e testados. Por ser uma empresa listada na bolsa de nova York a Petrobras deve atender todos os requisitos da lei Sarbanes-Oxley (Sarbox ou SOX) dos Estados Unidos e as suas auditorias devem ter realizado aa devidas verificações. Infrações geram punições e perda de confiança pelo mercado.

A lei Sarbanes-Oxley é muito clara sobre a obrigatoriedade do armazenamento das informações digitais. Ela também determina o que deve ser auditado. Em outras palavras se estes e-mails realmente existiram conforme foi declarado pela Venina Velosa da Fonseca ao jornal "Valor Econômico" (Diretoria da Petrobras foi alertada sobre desvios, diz jornal, http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1561415-diretoria-da-petrobras-foi-alertada-sobre-desvios-diz-jornal.shtml, acessado em 16/12/2014) eles estão nos backups. Eles não podem ter sido apagados ou modificados sem que o sistema de proteção das informações tenha detectado e alertado aos gestores.

Isto significa que ou a adulteração das informações ou a inexistência do backup do dia ou a impossibilidade de restauração das informações vai levar a Petrobras para a lei Sarbox. Pode ser um grave tiro no bolso, na credibilidade e na nota de crédito da empresa. Os danos podem ser severos. A organização de TIC da Petrobras precisa agir dentro dos princípios da ética profissional para não sair ferida neste escândalo.

Feitas estas considerações é muito fácil comprovar ou desmentir as declarações da Venina Velosa da Fonseca ao jornal "Valor Econômico". Seria muito importante que os e-mails fossem publicados na mídia o mais rápido possível para evitar maior dano para os acionistas da empresa. O valor das ações da Petrobras vem despencando desde 2008. Apenas como referência de comparação o valor de mercado da Petrobras em 2008 era maior que a Apple. Em 2014, apenas seis anos depois a Apple vale muito mais que a Petrobras. É preciso ter em mente que a Petrobras produz bens indispensáveis para a economia em regime de quase monopólio. A Apple produz bens importantes mas supérfluos em regime de alta competição.


Seria importante a publicação na integra dos e-mails e das respostas para que todos os interessados verifiquem a clareza das mensagens e das respostas. É muito fácil responder as acusações afirmando que não existiu entendimento do recado dado pela Venina Velosa da Fonseca nos e-mails. Um gestor zeloso teria respondido aos e-mails via solicitação de maiores informações e detalhes dos malfeitos. A ausência de posicionamento do executivo, após a leitura de uma mensagem com este teor de gravidade indica no mínimo a existência de graves falhas administrativas de governança. Esperamos que a organização de TIC da Petrobras enderece esta questão da sociedade e dos acionistas com sobriedade, ética e respeito.

A nova TI no Black Friday do Brasil

É muito preocupante a afirmação do CEO do Buscapé para América Latina, Rodrigo Borer, que só a rede americana Walmart estava realmente preparada para o Black Friday (Black Friday 2014 frustra quem esperava evolução do e-commerce brasileiro, http://idgnow.com.br/blog/circuito/2014/11/29/black-friday-2014-frustra-quem-esperava-evolucao-do-e-commerce-brasileiro/, acessado em 11/12/2014). O Procon de São Paulo revelou que as grandes empresas nacionais de e-commerce como a B2W (Americanas.com, Submarino e Shoptime), Nova Pontocom (Pontofrio.com.br, casasbahia.com.br e extra.com.br) e Saraiva apresentaram problemas graves nos horários de maior demanda.


É bastante claro que as companhias nacionais ficaram mais no discurso e menos nas ações na preparação para o Black Friday. O artigo “CNova: desafios e táticas para otimizar a TI durante a Black Friday” (http://computerworld.com.br/negocios/2014/11/28/cnova-desafios-e-taticas-para-otimizar-a-ti-durante-a-black-friday/, acessado em 11/12/2014) revelou como o Regis Borghi, Chief Information Officer (CIO) da Cnova Group (e-commerce do Extra, Ponto Frio, Casas Bahia, Barateiro e PartiuViagens) planejou o Black Friday de 2014. Como mais de 70% das reclamações registradas pelo Procon de São Paulo estavam relacionas com o e-commerce das lojas Americanas, Submarino, Shoptime, Ponto Frio, Casas Bahia, Extra e Saraiva ficou claro que o planejamento não foi bom o suficiente para tirar a empresa Cnova Group do grupo do G7 das piores do Black Friday.

Cinco das sete principais reclamações dos clientes estão relacionadas diretamente com Tecnologia de Informações e Comunicações (TIC). É preciso entender que não estamos falando de falhas de TIC, mas sim de perdas de dinheiro. Cada uma destas falhas gerou vendas perdidas para estas empresas e aumento de faturamento para a excelência do e-commerce da rede americana Walmart (bom resultado no Black Friday no Brasil foi o resultado de uma preparação adequada para o evento). Na maioria dos casos nacionais, as falhas ocorridas foram decorrentes de um planejamento pobre e de uma atuação medíocre do Service Desk.

A pergunta que não quer calar é de onde a rede Walmart conquistou tanta capacitação em TIC? Será que Tecnologia de Informações e Comunicações passou a fazer parte do core business da rede americana? Certamente a empresa buscou capacitações e não apenas certificações. Claramente, os profissionais gabaritados desta empresa escolherem as melhores soluções para endereçar os desafios da sazonalidade do Black Friday de 2014 e planejaram a operação da central de serviços para atuar em nível classe mundial. Soluções como a nuvem elástica não foram ignoradas. A estratégia do Regis Borghi CIO da Cnova Group revelada no artigo “CNova: desafios e táticas para otimizar a TI durante a Black Friday” de trabalhar a elasticidade através do crescimento orgânico sem perda do investimento mostrou um resultado final bastante pobre. As reclamações contra o desempenho ruim nos horários de pico dos sites geridos pela Cnova Group revelaram que é preciso cuidar da sazonalidade com uma ferramenta como a nuvem elástica.

A questão chave não está relacionada com a tecnologia utilizada. O real problema é que muito dinheiro e lucro foram perdidos. Enquanto a rede americana Walmart surfou com tranquilidade nas ondas do lucro do e-commerce do Black Friday, as empresas brasileiras brigaram com o consumidor. No médio e longo prazo, a capacitação superior da organização de TIC vai gerar diferencial competitivo forte e levará a rede americana para uma posição de supremacia. Claramente, existe o perigo que a superioridade intelectual atual da rede Walmart vire monopólio comercial no futuro breve.

Não é mero acaso que em 2014 que os Estados Unidos que foram os maiores impactados pela crise 2008 estão crescendo mais que o Brasil que afirmou que a grande crise era apenas uma marolinha. É fundamental que o Service Desk das empresas brasileiras evolua para que o Black Friday de 2015 não seja o último das empresas nacionais.