terça-feira, 25 de novembro de 2014

Eu não inovo então como eles inovam?

O desafio da inovação é um assunto recorrente na mídia brasileira. Em novembro tanto a revista Brasileiros abordou o tema no seminário “4ª Edição do Seminário Inovação: Metas e Desafios perante a concorrência Internacional” realizado em 06 de novembro de 2014, como no jornal Folha de São Paulo no caderno especial “O Brasil que dá certo – Inovação” publicado em 17 de novembro de 2014.

Ainda é comum a abordagem que falta dinheiro para a inovação no Brasil. A comparação apresentada no artigo “Gasto brasileiro com ciência é muito pouco eficiente, diz 'Nature'” (http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/11/1549183-gasto-brasileiro-com-ciencia-e-muito-pouco-eficiente-diz-nature.shtml, acessado em 17 de novembro de 2014) revela mais uma vez que o problema não é dinheiro. Existe uma boa disponibilidade de capital para investimento em inovação mas existem barreiras inibidoras. O artigo “Novos programas destravam recursos” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/195907-novos-programas-destravam-recursos.shtml, acessado em 17 de novembro de 2014) publicado pelo jornal folha de São Paulo em 17 de novembro de 2014 destaca os problemas de burocracia para a inovação.

Com toda a certeza, a burocracia dos programas governamentais de incentivos e subvenção vêm criando enormes barreiras contra a inovação brasileira. A primeira e mais óbvia barreira é a necessidade do solicitante ser uma empresa jurídica. Muitas pessoas com capacidade de inovação não querem criar uma empresa jurídica para desenvolver uma aplicação específica. Elas têm conhecimento do problema e sabem desenvolver uma solução. Num país financeiramente e culturalmente pobre como o Brasil, as pessoas precisam de recursos pequenos para resolver algo que as incomoda e pode ajudar milhões de outras pessoas. Criar uma empresa para disputar um recurso que pode ser recusado é uma burocracia inútil nos dias atuais.

Com a oferta de ferramentas poderosas de programação intuitiva como o MIT App Inventor 2 (http://appinventor.mit.edu/explore/) a exigência de pessoa jurídica fica cada vez mais fora realidade. Muitos jovens brasileiros em situação de carência social em que sequer tem um endereço de correio regular ficam completamente alijados dos programas de inovação porque não dispõem de recursos para abrir uma empresa jurídica e participar da submissão de trabalhos. Estas pessoas que vivem diariamente dificuldades que podem ser resolvidas com um simples aplicativo desenvolvido no MIT App Inventor 2 não podem apresentar projetos inovadores porque ou não tem um endereço de correio regular para sediar uma empresa jurídica ou não tem idade suficiente para serem empresários.

Será que existe sentido prático em incentivar na segunda década do século XXI apenas as inovações apresentadas por pessoas jurídicas?  Entendo que o país perde muito com esta limitação burocrática. Ela não tem sentido algum em termos de uma política nacional de incentivo à inovação. A segunda medida burocrática inibidora da inovação é a exigência de um pesquisador ligado a uma universidade nos projetos de inovação. Inovação não é necessariamente uma novidade. A mera digitalização de ações do dia a dia como é por exemplo caso das redes sociais pode gerar uma inovação revolucionária. O nascimento de redes como o Facebook, Twitter, Waze, Instagram e etc. não demandou a presença de um pesquisador de uma universidade. Jovens que enfrentavam problemas recorrentes diários resolveram criar uma solução. Eles sentiam e tinham pleno conhecimento da necessidade e de como ela poderia ser endereçada. A exigência de um pesquisador ligado a uma universidade deveria ser focada apenas para as novidades e não para todas as inovações.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Previsibilidade no Software

Quando pensamos que os falsos profetas de TI estão no ostracismo, eles aparecem com mais falácias para tentar enganar as empresas usuárias de Tecnologia de Informações e Comunicações (TIC). Em 2014, foi publicado no Brasil um artigo que afirmava que era impossível prever o custo e prazo do desenvolvimento de um software usando o Agile Software Development por causa de diversos aspectos. Uma das dificuldades apontadas era a comunicação na língua brasileira. Segundo o autor, a língua nacional dificulta o entendimento das regras de negócio pelo analista de desenvolvimento.

Em geral, escolas ruins formam e diplomam profissionais pobres. É um fato lamentável, mas faz parte da nossa realidade. No entanto, é preciso ter claro entendimento de que as dificuldades dos profissionais em comunicação e expressão não tem relacionamento algum com a falta de previsibilidade do custo e prazo do desenvolvimento de um software. Profissionais despreparados geram resultados pobres, por isto, a sua contratação significa na prática jogar dinheiro no lixo.

É muito comum a situação onde um profissional despreparado resolveu um problema e criou dois ou mais. Também é comum este perfil criar diversos problemas sem sequer arranhar a solução do desafio inicial. Infelizmente na área de TI no Brasil existem muitos profissionais totalmente despreparados para trabalhar em 2014. Estas pessoas trabalham como se ainda estivéssemos no ano 2000. Todo profissional qualificado e gabaritado de TI sabe que antes de escrever o código ele precisa traduzir em um fluxo todas as informações fornecidas pela empresa usuária. Este fluxo precisa ser testado em relação à realidade operacional do solicitante para identificar as falhas e esquecimentos. Não importa se as entregas serão feitas em módulos pequenos. É preciso que o fluxo esteja claro tanto para o desenvolvimento, como para os usuários do software.

É desta forma que os profissionais formados nas boas escolas de engenharia conseguem desenvolver aplicações com previsibilidade de custo, prazo e qualidade. Estas pessoas têm pleno conhecimento da operação do negócio e dos aspectos técnicos do desenvolvimento de software. Os mercadores de falácias querem iludir o mercado com a falta de previsibilidade, porque eles não conseguem entregar o que prometem nas propostas. Estes prestadores de serviços de desenvolvimento vivem em um mundo de ilusões e enganações.


O Agile Software Development permite a previsibilidade nas entregas do desenvolvimento de software pela modularização e reutilização de códigos. O uso da biblioteca de rotinas permite ao desenvolvedor trabalhar com as peças testadas e aprovadas para criar novas funcionalidades. É possível estimar com alta dose de acerto o custo e prazo das entregas. Também é possível repetir estes passos infinitas vezes com o mesmo resultado. Nunca na história de TI o desenvolvimento de aplicações de software foi tão previsível.

Inovação na TI brasileira

Os Chief Information Officer´s (CIOS) brasileiros já revelaram em reuniões, congressos, artigos que estão sendo pressionados para apresentar inovações nas organizações que trabalham. A maioria deles declarou que as restrições orçamentárias são a maior barreira para as inovações. Os CIOS alegam que tem dinheiro apenas para manter os sistemas atuais funcionando. Eu não tenho dúvida alguma que o orçamento de Tecnologia de Informações (TI) é curto. Em 2007 afirmei que isto iria ocorrer caso as práticas equivocadas na gestão da tecnologia continuassem. Infelizmente os livros de governança publicados não foram esclarecedores o suficiente para mudar a postura de fazer o mínimo possível. No entanto, será que os executivos de TI não estão mais uma vez usando a muleta da falta de dinheiro para justificar o fracasso da inovação da TI Nacional?

A regra básica para que os profissionais de TI consigam propor inovações é que eles entendam o negócio da empresa. As inovações não são meras trocas de tecnologia. Em outras palavras, elas não podem ser manifestadas em adoções primárias tecnológicas como por exemplo liberar o uso do iPhone ou trocar o Windows XP por Windows 8. O artigo “Autoatendimento com qualidade e relacionamento próximo do cliente” publicado na revista SupportWorld número 18 exemplifica mais um caso onde o entendimento do negócio inexiste. O texto mostra de forma destacada a seguinte afirmação: "O autosserviço reduz os custos, garante a disponibilidade a qualquer momento e em qualquer localização". Apenas no texto completo é apresentado de forma tímida que o autor está falando em redução significativa do custo com suporte técnico.  O artigo apresentou uma enorme gama de argumentos para justificar a hipótese favorável ao autosserviço. São justificações sem consistência alguma para o negócio. 

O texto abordou apenas a tecnologia pela tecnologia em todo o artigo. Todas as explicações foram baseadas em premissas sem sentido para o negócio. Existiu um claro despreparo empresarial, pois em nenhum momento foi feita a avaliação do custo total do autosserviço. A pergunta corporativa mais importante sobre o assunto (o que é melhor “reduzir o custo do suporte pelo autosserviço e aumentar o custo total do negócio” ou “manter o custo do suporte e reduzir o custo total do negócio”) não foi endereçada.

Em nenhum momento o artigo apresenta uma resposta para o desafio empresarial de reduzir o custo do negócio. A ausência da conta inteira do autosserviço revelou tanto o desconhecimento de importantes variáveis do negócio como a falta de disposição de sair da zona de conforto de tratar a tecnologia apenas pela tecnologia. O fracasso da inovação em um cenário onde o perfil profissional desconhece o negócio é inevitável.  Os CIOS que querem e precisam inovar precisam urgentemente ajustar o perfil profissional da sua equipe pela contratação de profissionais qualificados e experientes.


A formação de uma equipe de TI pela contratação de profissionais qualificados formados nas boas escolas de engenharia tem a vantagem adicional de contar com um time formado por seres humanos com valores éticos e morais elevados.  Pessoas honestas conseguem trabalhar facilmente em regime de colaboração e produzir inovações permanente. Inovar exige a inteligência coletiva multidisciplinar. Pessoas de confiança são capazes de trocar experiências em grupo e criar coisas novas. Não existe neste meio a pratica de furtar ideias. Um dos principais pilares da inovação é a confiança. Os CIOS nacionais que querem entrar no jogo da inovação precisam urgentemente revisitar as suas equipes. O salário pago para profissionais preparados gera elevado retorno em termos de inovações.