terça-feira, 12 de agosto de 2014

O desperdício do trânsito

O livro Governança da nova TI: a Revolução abordou na página 420 [CASO TELETRABALHO (2002)] uma solução para as perdas do trânsito. Infelizmente nada foi feito e passados doze anos um novo estudo contabilizou que as perdas nos trinta e nove municípios da região metropolitana de São Paulo estão se aproximando da casa dos R$ 70 bilhões ao ano (Firjan: congestionamentos no Rio e em São Paulo custaram R$ 98,4 bi em 2013, http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2014/07/28/congestionamentos-no-rio-e-em-sao-paulo-custam-r-984-bilhoes-diz-firjan.htm, acessado em 07/08/2014).

A região metropolitana perdeu 7,8% do seu PIB em 2013 devido aos congestionamentos médios de 300 km por dia. Enquanto os políticos discutem sem embasamento algum o plano diretor da cidade e a ampliação do rodízio,  o município vem perdendo cada vez mais dinheiro. Não é a toa que falta dinheiro para a educação,  saúde e segurança. O desperdício segundo a pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) é enorme e crescente.
Como o óbvio não vem sendo, é o momento de falar novamente do trivial do trivial.  Antes de pintar centenas de quilômetros de faixas caras inúteis para o transito (velocidade média do ônibus passou de 15 km/hora para 16 km/hora no pico da tarde, Faixas elevam velocidade de ônibus, mas prejudicam carros em SP, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/06/1464713-faixas-elevam-velocidade-de-onibus-mas-prejudicam-carros-em-sp.shtml, acessado em 07/08/2014) ou gastar milhões em estudos para a ampliação do rodízio de carros é preciso fazer o elementar.  Ou seja, acabar com os carros estacionados nas ruas, avenidas e etc.

Todos os vultosos investimentos realizados no sistema viário devem ser direcionados para que os carros, ônibus, motos e etc. andem. O lugar de carro estacionado é no estacionamento. A péssima escolha do prefeito Fernando Haddad de aumentar a zona azul na cidade (Gestão Haddad acelera criação de vagas de Zona Azul, http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/178334-gestao-haddad-acelera-criacao-de-vagas-de-zona-azul.shtml, acessado em 07/07/2014) só aumentou o desperdício e as perdas causadas pelo trânsito.

O segundo aspecto obvio é a questão do deslocamento casa-trabalho-casa na cidade de São Paulo. Durante décadas a gestão municipal vem incentivando o deslocamento das sedes das empresas do bem servido (em termos de transporte público) centro da cidade para os caros bairros da zona sul. Como é muito caro morar perto dos centros empresariais,  a distância percorrida pelos trabalhadores vem aumentando cada vez mais e os carros, ônibus, motos e etc. ficam mais tempo nas ruas fazendo com que os congestionamentos sejam cada vez maiores. A solução óbvia de deslocar para o centro da cidade os centros empresariais foi completamente ignorada no novo plano diretor.

O sistema viário da cidade foi planejado assumindo os principais centros empresariais localizados no centro do município, por isto o transporte público tem grande investimento realizado no centro da cidade. O desenho de todo o investimento viário na cidade é o de deslocamento do bairro para o centro e não entre bairros. Este é o principal motivo do gigantesco desperdício de dinheiro público do deslocamento empresarial para a cara zona sul. O centro pode e deve ser utilizado para moradias, pois isto permite que a região tenha vida após o horário comercial. No entanto, é preciso que a região assuma o seu papel de centro empresarial e governamental para que a cidade sofra menos perdas com o transito.

Uma vez que o centro tenha consolidado o seu papel empresarial é possível criar nos bairros mais pobres centros empresariais regionais de menor porte que funcionariam como centrais de teletrabalho. Desta forma o centro é resgatado como região do trabalho,  família e lazer.  As pessoas que vão ocupar as casas e apartamentos novos ou reformados vão poder trabalhar perto e também vão gerar um novo ciclo econômico para a vida noturna da região.

A cidade pode neste modelo explorar todo o potencial do investimento realizado no sistema viário e de transporte público.  É possível não inflacionar o centro e atender as necessidades das pessoas e empresas com a criação das centrais compartilhadas regionais de teletrabalho onde as pessoas podem realizar as suas atividades profissionais e pessoais com o menor deslocamento físico possível.  A digitalização dos negócios já permite o desenvolvimento de inúmeras atividades de presença virtual.

Estas centrais são melhores no primeiro momento do que o deslocamento físico das empresas para a periferia, porque elas permitem o compartilhamento dos recursos entre diversas empresas minimizando assim os riscos e capital necessário.  A dinâmica destas centrais vai gerar na regional um fluxo adicional de negócios por conta das necessidades de alimentação,  transporte,  segurança e educação.  O volume envolvido do fluxo justifica o investimento na periferia em serviços públicos como telefonia, banda larga, saneamento e energia.  A região vai se desenvolver e com isto vai gerar um ciclo de atenção para sub-regionais. A cidade de São Paulo pode com este modelo de recuperação do centro da cidade resgatar um ciclo desenvolvimentista que beneficie toda a população do município sem exclusões, violências e conflitos.

TI IMPORTA?

O atual momento dos modelos de previsões é de baixa. Os erros recentes nas previsões do último Super Bowl e Copa do Mundo de Futebol de 2014 elevaram o tom dos questionamentos. O aumento do nível de desconfiança é muito saudável, mas não pode ser usado como argumento para desacreditar todas as previsões. Uma das previsões mais famosas para a área de TI foi a do Nicholas Carr publicada no artigo “IT Doesn’t Matter” em Maio de 2003.

Todos os novos artigos e livros do Carr apontaram que o futuro da TI estava na direção da sua transformação para commodity e utility tal qual a energia elétrica ou água. Após apenas uma década as previsões do Carr viraram realidade no formato que eu chamo de Serviço de Valor Agregado de TI. Em 2014 é possível comprar TI como utility ou serviço de valor agregado de TI nas lojas virtuais da Salesforce, Amazon, Google, Apple e etc. A realidade corporativa do que é chamado pelo mercado de Bring Your Own App (BYOA) é a prova material de que os serviços de valor agregado de TI vieram para ficar.

É bastante claro que os usuários estão adquirindo estes serviços conforme as suas necessidades. Eles não precisam entender a infraestrutura e software que suportam os serviços.  Basta conhecer e entender as funcionalidades e facilidades. Este é o motivo pelo qual os usuários não precisam da área técnica de TI para decidir pela compra. A chamada Shadow IT ou TI invisível é a principal consequência deste fenômeno.

É impossível não reconhecer o acerto do Carr em relação à velha e ultrapassada Tecnologia de Informações e Comunicações (TI ou TIC). O mundo como estamos vivendo em 2014 é baseado na nova TI. A Tecnologia de Informações e Comunicações de serviços de valor agregado adiciona conteúdo ao negócio.  É evidente que o perfil profissional do departamento de tecnologia mudou. A nova TIC exige capacitações que explorem os recursos de Tecnologia de Informações e Comunicações para transformar e habilitar negócios.

Os profissionais precisam trabalhar como engenheiros que desenvolvem inovações com base nas peças básicas do lego formado pelos serviços de valor agregado. Um perfil de saber profundo é necessário. É preciso avaliar os custos e benefícios para identificar a opção de mais valia. Em alguns momentos será melhor trabalhar com a elasticidade e custo variando conforme o uso e em outros será melhor escolher um modelo de custo fixo devido ao elevado nível de utilização.  Mais do que fazer meras contas, a engenharia de TIC precisa estabelecer modelos confiáveis para prever a demanda futura.

Quanto melhor for esta inteligência corporativa de TI, maior será a capacidade do negócio de operar no ponto de menor custo e máximo lucro. Os profissionais do Service Desk vão desempenhar neste contexto um papel fundamental na engenharia da nova Tecnologia de Informações e Comunicações. Eles vão capturar as informações deste Big data e estabelecer o contexto adequado. Esta ação é fundamental para o estabelecimento do modelo de previsão do uso de TI e escolha das peças do lego que vão formatar o negócio digital.

É evidente que a central de serviços vai ser formada por profissionais formados em escolas de qualidade com muita experiência de vida. É um perfil muito diferente do que vemos atualização nos Help Desks que insistem em serem chamados erradamente de Service Desks. Na central de serviços da nova TIC, os profissionais vão ser valorizados pela sua capacidade de comunicação, inteligência e experiência.  Eles vão ocupar posições com visão de longo prazo dando fim ao ciclo de contratações de iniciantes formandos em escolas duvidosas com elevada rotatividade. A nova TIC prevista pelo Nicholas Carr chegou em 2014 com os serviços de valor agregado.